Onde Está o Seu Tesouro?
Série: A FÉ QUE AGE
Sermão: Tiago 5:1-6
Pregador: Pr. Rodrigo Serrão
Onde Está o Seu Tesouro?
Introdução:
Chegamos ao último capítulo do livro de Tiago. Tiago nos mostrou a realidade da vida cristã. Ele foi direto ao ponto e nos mostrou que ainda que fossemos salvos, a jornada cristã é longa e não vem pavimentada. Ou seja, no processo de santificação teremos que passar por tribulações, dores, lutas, seremos provados por Deus e tentados pela nossa própria carne. Também teremos que nos submeter à Palavra praticando-a. Um dos temas principais dele é acerca de fé e obras (o versículo chave é “mostre-me a sua fé sem obras, e eu lhe mostrarei a minha fé pelas obras). É melhor não dizer nada e fazer do que falar muito e não fazer.
Outro grande tema em Tiago é a questão do controle da língua. E aqui Tiago descreve com detalhes a natureza carnal e pecaminosa que existe em pessoas dentro da igreja (Tiago diz: “com a língua bendizemos o Senhor e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus). Tiago aqui nos mostra a importância que Deus dá aos relacionamentos inter-pessoais, principalmente dentro da comunidade de fé. Para Deus tudo em nós deve servir para a glória de Deus e para a edificação do próximo. Se a nossa vida não servir para isso, estamos andando em engano. Se a língua não serve para edificar o irmão, então devemos nos calar e só abrir a boca novamente se pudermos edificar o próximo.
Tiago fala sobre os dois tipos de sabedoria, a do alto e a terrena. A do alto que vem de Deus e é a que devemos buscar, pois quem anda de acordo com a sabedoria do alto anda como Jesus andou na terra. Também vimos a sabedoria da terra, que provém do mundo e seu sistema caído, do homem e sua natureza pecaminosa e do próprio diabo e suas hostes malignas.
Semana passada, Pr. Luiz falou sobre submissão a Deus, falou sobre os dez verbos: submeter (a Deus), resistir (ao diabo), aproximar (de Deus), limpar (as mãos), purificar (o coração), entristecer, lamentar, e chorar, trocar (riso por lamento), e humilhar (diante de Deus).
Hoje vamos focar nos primeiros 6 versículos do capítulo 5. Com certeza este capítulo é tão importante quanto os demais e nos dará alguns domingos para conseguir vê-lo mais profundamente.
Este capítulo mostra quem são os últimos grupos de pessoas a quem Tiago endereça suas últimas palavras.
Tiago começa apontando sua metralhadora giratória para os ricos da comunidade de fé (provavelmente aqueles que sabiam o bem que deviam fazer e não faziam).
Tiago não está se importando se eles têm o maior dízimo da igreja ou se eles são os homens mais influentes da sociedade, Tiago cansou de suas hipocrisias.
Tiago vai dizer, sob inspiração do Espírito Santo, qual será o lugar daquelas pessoas que insistem em viver servindo a dois senhores.
A primeira palavra de Deus através de Tiago aqui é uma palavra de condenação para aqueles que pensam que são salvos. É uma palavra de condenação para os ricos.
As palavras duras de Tiago aqui nos mostra como o dinheiro pode levar pessoas a um estado de corrupção generalizada. Esta corrupção é traduzida em frutos podres que revelam se são ou não salvas.
Eu não posso julgar quem é ou quem não é salvo apenas baseado em aparências. Contudo, a partir do momento que eu observo como esta pessoa gasta seu dinheiro, isto me dá indicações de onde está o coração desta pessoa.
Tiago é claro em dizer aos que são ricos opressores que eles chorem e lamentem pela desgraça (literalmente misérias) que sobrevirá sobre suas vidas.
Quantos ricos vivem pensando que nunca irão ser julgados?
Quantos ricos dentro da igreja vivem dando sobras para o reino e gastando milhões em coisas que a traça vai corroer?
Quantos ricos estão na igreja apenas para passar uma imagem de boa pessoa, quando na verdade eles enriqueceram às custas de malandragem, roubalheira, sonegação, opressão, injustiças, etc. E o pior, não apenas chegaram a fazer fortunas desta forma, como também continuam fazendo isto para manter suas fortunas.
Não somente os que chegaram de forma errada a ter fortuna são corrompidos pelo dinheiro. Os que também ganham honestamente suas rendas não são desculpáveis diante de Deus se na hora de usar, eles fazem mau uso do dinheiro. Ou se eles não derem a Deus a glória pela riqueza alcançada achando que conseguiram por esforços próprios. Em Dt 8:17-18 diz “Não digam, pois, em seu coração “a minha capacidade e a força das minhas mãos ajuntaram para mim toda esta riqueza.” Mas lembrem-se do Senhor, o seu Deus, pois é ele que lhes dá a capacidade de produzir riqueza...”
E claro, nós também não somos desculpáveis, uma vez que também somos ricos à vista da maioria da população mundial. Não somos os cristãos mais ricos do mundo, mas também não somos os mais pobres. Isto nos responsabiliza diante de Deus no sentido de como usamos nosso dinheiro.
Quais são as causas que Tiago aponta para a condenação dos ricos?
- Os ricos se importavam mais com as coisas da terra do que com as do céu (vs 2-3)
Tiago 5:2-3 diz: “As vossas riquezas estão apodrecidas, e as vossas vestes estão roídas pela traça. O vosso ouro e a vossa prata estão enferrujados; e a sua ferrugem dará testemunho contra vós, e devorará as vossas carnes como fogo. Entesourastes para os últimos dias.”
Este texto mostra em primeiro lugar que os ricos ignoraram totalmente o que Jesus nos fala em Mateus 6 acerca do acumulo de riquezas. Jesus diz, “Não ajunteis para vós tesouros na terra; onde a traça e a ferrugem os consomem, e onde os ladrões minam e roubam mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem os consumem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração.”
Percebam que as riquezas acumuladas foram destruídas de varias formas porque as pessoas que as possuíam não as usavam. Ou seja, as pessoas consumiam mais do que precisavam.
A linguagem de Tiago é muito parecida com a de Jesus. Ele diz:
A riqueza apodreceu – aqui podemos dizer que Tiago esta falando sobre uma riqueza perecível, como alimentos por exemplo. A idéia é a de que a pessoa tenha comprado mais alimentos do que necessitava e sem conseguir consumir tudo chegou a sua data de validade e a comida tenha apodrecido.
As traças corroeram as roupas – aqui a pessoa compra mais roupas do que as pode usar. Como é o seu guarda-roupa? Você compra roupas para usá-las como uma necessidade do momento, ou você gasta seu dinheiro comprando roupas que não precisa apenas para ter um guarda-roupa cheios de roupas?
Nos EUA, eu vi como pessoas acumulam roupas e quantas vezes vi pessoas doando roupas ainda com etiquetas (não que haviam comprado para doar, mas que compraram e nunca usaram).
O ouro e a prata enferrujaram – aqui a idéia é de alguém que deu valor a coisas perecíveis pensando que iriam durar para sempre. Deus mostra que por mais que confiança que as pessoas tenham em metais de longa durabilidade eles um dia irão enferrujar. Por mais que você confie em suas riquezas, elas não compraram a sua salvação. Elas serão queimadas e enferrujadas e não servirão de nada.
E em que sentido ter mais do que se precisa é pecado?
- Ter mais do que se precisa é pecado porque mostra um mau uso do dinheiro.
Alguém já disse que “Deus me prospera não para eu aumentar o meu padrão de vida, mas para eu aumentar o meu padrão de doação. Deus nos dá mais do que precisamos para eu poder doar mais generosamente.”
E aqui eu não estou dizendo que não existem ricos assim. Existem, e essa palavra de Tiago não é para eles, eles são minoria. Esta palavra de Tiago é para a maioria dos ricos que vivem apenas para ter mais e mais e quando doam, doam sem sacrifício, doam por interesse.
Ter mais do que se precisa não é somente pecado por que demonstra um mau uso do dinheiro, mas também por que:
- Mostra que a pessoa tem mais satisfação nas coisas do que em Deus.
Dificilmente se verá um rico de verdade obedecendo ao mandamento de Jesus de vender tudo, doar aos pobres e segui-lo.
Porque a teologia da prosperidade é demoníaca? Porque ela instiga no ser humano uma satisfação maior nas coisas do que nEle próprio. É uma forma de aceitar o pecado da ganância, contudo dando uma capa de piedade.
E em terceiro lugar...
- Ter mais do que se precisa é pecado porque mostra um desdém acerca de todos os ensinamentos bíblicos sobre dinheiro e posses.
A bíblia tem 258 versículos com a palavra posses.
Tem 122 versículos com a palavra dinheiro
Tem 158 versículos com a palavra riquezas
Tem 78 versículos para fortuna
Tem 74 versículos para prosperidade
Estes versículos não estão na Bíblia por acaso. A história de Israel, a história da igreja já mostrou claramente como o homem se corrompe facilmente com riquezas e prosperidade material.
Conta-se que um dos papas estava andando com um jovem cardeal e os dois andavam pelas ruas de Roma e observavam as grandes basílicas e foram até o vaticano observando os portões de ouro e os jardins riquíssimos. O papa estava maravilhado com toda aquela riqueza e disse ao padre, “veja quanta riqueza a igreja tem hoje, a igreja não precisa mais dizer como São Pedro disse ao paralítico que estava à porta do Templo, não tenho prata e nem tenho ouro.” Então o cardeal respondeu, “realmente não podemos dizer que não temos mais prata e ouro, mas também é verdade que não podemos mais dizer como Pedro disse, em nome de Jesus o nazareno, levanta e anda.”
E isso não é só verdade na igreja Católica, mas para qualquer instituição ou pessoa que se deixa corromper pelo dinheiro.
Quando esquecemos os versículos que dizem que:
- O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males.
- Não podemos servir a dois senhores, porque iremos nos dedicar mais a um e aborrecer ao outro
Agimos como se o dinheiro fosse um deus, ou melhor, o nosso Deus.
O autor de Hebreus diz:
“Seja a vossa vida isenta de ganância, contentando-vos com o que tendes; porque ele mesmo disse: Não te deixarei, nem te desampararei.”
Algumas versões diz, “seja a vossa vida isenta do amor ao dinheiro”
Precisamos levar a sério o que diz as Escrituras acerca de dinheiro e do seu uso.
Essas pessoas que vivem sem escravos do materialismo, servindo ao dinheiro sofrerão as conseqüências no dia do Juízo Final.
Em seguida, Tiago nos mostra o segundo motivo pelo qual estes ricos serão condenados.
O segundo motivo da condenação daqueles ricos era:
- Os ricos eram injustos com os seus trabalhadores (vs 4-6)
O tema injustiça é algo latente em toda a Bíblia, mas principalmente com os profetas Ezekiel, Amos, e partes de Isaías.
Deus abomina injustiça, porque isto vai de encontro à Sua natureza. Deus é justo e aqueles que dizem que O conhecem devem buscar ser justo também.
Como se deu a injustiça neste caso.
Em primeiro lugar
- Os patrões não pagaram o salário que era devido
A lei de Moisés diz em Levítico 19 que o judeu não podia oprimir o próximo, nem roubá-lo; e nem ficar com o pagamento do trabalhador...
Veja o que Deus fala acerca daqueles que oprimiam os seus trabalhadores em Israel.
Jeremias 22:13, “Ai daquele que edifica a sua casa com iniqüidade, e os seus aposentos com injustiça; que se serve do trabalho do seu próximo sem remunerá-lo, e não lhe dá o salário”
O grande problema era que os ricos se beneficiavam do trabalho de seus empregados, mas não os pagavam no fim do trabalho.
Imaginem a situação. Homens ricos e poderosos, donos de fazenda e de várias terras. Pessoas muito ricas que tem em suas riquezas o seu deus. Estas pessoas fizeram fortuna explorando o pobre. Eles se beneficiavam do trabalho, mas não pagavam o salário dos trabalhadores. Ou seja, trabalho escravo. Estas pessoas iam aos templos, as sinagogas e se diziam cristãs. Elas queriam se passar por piedosas, mas eram apenas lobos em pele de cordeiro.
Além de explorar os trabalhadores, eles viviam estilos de vida extravagantes. Muito luxo, muitos prazeres, muita comida. As suas vidas eram totalmente mundanas. Não havia espiritualidade alguma. Eles exploravam os pobres e gastavam de forma extravagante para sustentar suas carnalidades.
O nível de opressão era tão grande que os trabalhadores passaram a lamentar, a gritar por ajuda. E o Senhor dos Exércitos ouviu o lamento dos opressos e injustiçados. E ainda que estes ricos morram oprimindo e explorando os pobres e trabalhadores, o seu futuro está reservado na condenação eterna.
E a minha pergunta para você esta tarde, quem é você? Você é rico que pratica injustiça. Você é o trabalhador injustiçado, trabalhando de graça para bancar as luxurias das classes dominantes?
Você é o pobre, mas se tivesse a chance de ser o rico agiria da mesma forma (a questão do nepotismo, todo mundo é contra, a todos admitem que faria o mesmo se tivesse no lugar do político corrupto).
A grande questão aqui que Tiago quer nos mostrar é que homens e mulheres descem o nível para ter bens e riquezas. Para se ter mais eu vou precisar puxar o tapete daquela pessoa? Tudo bem puxa-se. Para se ter mais eu vou precisar omitir documentos, falsificar assinaturas, não pagar os meus funcionários, sonegar impostos, explorar trabalho infantil? Faça-se tudo isto.
Você pode não ser o rico dono de fazendas que Tiago esta denunciando aqui, mas você pode ter o mesmo coração que ele tem. Você pode não ter riquezas, ou pode não viver luxuosamente desfrutando de prazeres à custa do suor de outros, mas talvez você possa não ter força suficiente para negar uma proposta de trabalho em uma empresa que descaradamente oprime e explora seus funcionários mais baixos.
Até que ponto estamos vivendo nesta terra apenas para acumular bens? Qual o verdadeiro propósito de nossas vidas? Quem é o nosso Deus?
O último versículo mostra até que ponto pode chegar o homem ganancioso. Ele pode matar por dinheiro.
Um ótimo exemplo aqui seria o próprio Judas, que por tão pouco, traiu Jesus. Por dinheiro ele entregou um homem à morte. Se Jesus não fosse morto pelos Romanos, com certeza Ele seria pelos Judeus.
A grande pergunta aqui é, onde está o seu tesouro? Se o seu tesouro estiver nas riquezas, você matará para consegui-la, mas se estiver em Deus, você buscará satisfação nEle e buscará viver uma vida justa independente de quanto você ganha.
Em nenhum lugar aqui, Tiago está condenando a riqueza em si, mas o mau uso dela. Ele condena o efeito que isto pode gerar no coração humano. Mas dinheiro em si mesmo não é pecado.
Pecado neste caso se traduz de três formas:
- De que forma você ganhou seu dinheiro? Através da exploração do próximo?
- Como é minha atitude em relação ao dinheiro? Eu sou controlado pelo dinheiro?
- Como eu gasto o meu dinheiro? Eu sou generoso? Eu faço doações? Sou um fiel dizimista e ofertante?
Que o Senhor nos ajude a viver nossa vida em equilíbrio e sempre tendo Jesus como o nosso maior tesouro.
Oremos.