O LIMITE DA DOR HUMANA (2)

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Lamentações de Jeremias 3.1 (RA)
Eu sou o homem que viu a aflição
pela vara do furor de Deus.

Introdução

O ser humano é susceptivo à dor. Ela pode ser de natureza física ou emocional. Ambas abrem as portas do sofrimento, da angústia e do desespero.
Mas até que ponto o ser humano pode suportá-la? Qual é o limite da dor humana.
Todos os dias, pessoas entram em estado de depressão que conduz ao isolamento social voluntário. Para alguns essa dor é tão intensa, que a morte seria a única solução, uma vez que não encontram solução capaz de anestesiá-los de tão grande sofrimento na alma. A morte, pois, para essas pessoas não é uma atitude de covardia, mas a morfina capaz de por fim a dor que é viver.
Os profissionais da psiquiatria e da psicologia, em nossa geração, têm experimentado uma avalanche de pacientes. O número de farmacodependentes cresce em proporções geométrica.
Na bíblia, encontramos alguns casos:
(1) Judas Iscariotes, que, não suportando o peso da culpa, tirou a própria vida;
(2) Elias, temendo a vingança de Jezabel, isolou-se no deserto e pediu para si a morte (1Rs 19.4);
(3) Jonas, por não aceitar que Deus usasse de misericórdia com Nínive, nação inimiga de seu povo, também suplicou pela morte (Jn 4.8);
(4) Pedro, após trair Jesus, chorou amargamente e, no julgamento que impôs a si mesmo, sentenciou-se como não merecedor de ser incluído entre os discípulos;
(5) No Getsêmani, horas antes de seu martírio, Jesus revela a seus discípulos que sua “alma está profundamente triste até à morte” (Mc 14.34);
(6) Salomão, no livro de Eclesiastes, após refletir sobre a vida humana, declara:
Eclesiastes 4.1–3 (RA)
Vi ainda todas as opressões que se fazem debaixo do sol: vi as lágrimas dos que foram oprimidos, sem que ninguém os consolasse; vi a violência na mão dos opressores, sem que ninguém consolasse os oprimidos. Pelo que tenho por mais felizes os que já morreram, mais do que os que ainda vivem; porém mais que uns e outros tenho por feliz aquele que ainda não nasceu e não viu as más obras que se fazem debaixo do sol.
Lamentações de Jeremias descreve o cerco e a invasão do reino de Judá pelo exército babilônico, narrando com riqueza de detalhes a dor e o desespero de milhares de vidas, dentre elas crianças, mulheres e idosos, causados pelos atos brutais e animalescos de seus adversários.
Jeremias é a testemunha ocular das cenas de morticínio (Lm 3.1). As cenas fortes de violência e barbárie traumatizarão Jeremias. As impressões deixaram marcas profundas em sua alma. Seu emocional desestabilizou-se. Ele descreve com estas palavras o seu estado mental:
Lamentações de Jeremias 3.17,19-20 (RA)
Afastou a paz de minha alma;
esqueci-me do bem.
Lembra-te da minha aflição e do meu pranto,
do absinto e do veneno.
Minha alma, continuamente, OS recorda
e se abate dentro de mim.
Lamentações de Jeremias 1.12 (ARA)
12 Não vos comove isto, a todos vós que passais pelo caminho?
Considerai e vede
se há dor igual à minha,
que veio sobre mim,
com que o Senhor me afligiu
no dia do furor da sua ira.

Objetivo

Analisar o contexto das declarações do profeta Jeremias 3.22-29, que, naquela ocasião, estava no limite da dor humana, a fim de encontrar os princípios bíblicos sólidos por meio dos quais o profeta pôde superar esse estado depressivo e encontrar razão para sua existência além da agonia da alma.

A Estrutura do Livro

O livro tem cinco capítulo.
Cada capítulo é um poema.
Os capítulos 1, 2, 4 e 5 possuem 22 versículos cada.
Os capítulos 1, 2, 3 e 4 são acrósticos das 22 letras do alfabeto hebraico.
O Capítulo 3 repete cada letra três vezes, razão por que tem exatos 66 versículos (3 x 22).
O Capítulo 5, apesar de conter 22 versículos, não é acróstico.
Aqui já podemos observar que a estrutura ordenada e linear dos 4 capítulos contrata com a dor desordenada e luto confuso, como ocorre na desestruturação do capítulo 5.

Primeiro Poema

Jerusalém é retratada como uma viúva que não encontra consolo para sua dor:
Lamentações de Jeremias 1.1 (ARA)
1 Como jaz solitária a cidade outrora populosa!
Tornou-se como viúva
a que foi grande entre as nações;
princesa entre as províncias,
ficou sujeita a trabalhos forçados!
Vem daí o nome do livro: Lamentações (São as lágrimas e o lamento típicos de uma velório)

Segundo Poema

A queda de Jerusalém e a ira de Deus:
Lamentações de Jeremias 2.1 (ARA)
1 Como o Senhor cobriu de nuvens,
na sua ira, a filha de Sião!
Precipitou do céu à terra
a glória de Israel
e não se lembrou do estrado de seus pés,
no dia da sua ira.

Terceiro Poema

O profeta sofredor, que descreve com riquezas de detalhes sua dor e sofrimento:
Lamentações de Jeremias 3.1 (ARA)
1 Eu sou o homem que viu a aflição
pela vara do furor de Deus.
É o poema mais longo do livro, fato condizente com a enormidade da dor vivenciada pelo profeta.

Quarto Poema

Representação vívida do que ocorreu durante o cerco de Jerusalém. O profeta faz isso em forma de contraste entre o antes e o depois:
A título exemplificativo, cito o estilo de vida principesca antes e depois:
Lamentações de Jeremias 4.7–8 (ARA)
7 Os seus príncipes eram mais alvos do que a neve,
mais brancos do que o leite;
eram mais ruivos de corpo do que os corais
e tinham a formosura da safira.
8 Mas, agora, escureceu-se-lhes o aspecto mais do que a fuligem;
não são conhecidos nas ruas;
a sua pele se lhes pegou aos ossos,
secou-se como uma madeira.

Quinto Poema

Oração comunitária pela misericórdia de Deus:
Lamentações de Jeremias 5.1 (ARA)
1 Lembra-te, Senhor, do que nos tem sucedido;
considera e olha para o nosso opróbrio.

I - O Estado da Cidade antes, durante e pós-exílio

1. Escravização em massa da população de Judá

Lamentações de Jeremias 1.1 (RA)
Como jaz solitária a cidade outrora populosa!
Tornou-se como viúva
a que foi grande entre as nações;
princesa entre as províncias,
ficou sujeita a trabalhos forçados!

2. Comércio e Turismo em franco declínio

Lamentações de Jeremias 1.4 (RA)
Os caminhos de Sião estão de luto,
porque não há quem venha à reunião solene;
todas as suas portas estão desoladas;
os seus sacerdotes gemem;
as suas virgens estão tristes,
e ela mesma se acha em amargura.

3. Segurança nacional não existe mais

Lamentações de Jeremias 1.4 (RA)
Os caminhos de Sião estão de luto,
porque não há quem venha à reunião solene;
todas as suas portas estão desoladas;
os seus sacerdotes gemem;
as suas virgens estão tristes,
e ela mesma se acha em amargura.
Lamentações de Jeremias 2.2 (RA)
Devorou o Senhor todas as moradas de Jacó
e não se apiedou;
derribou no seu furor
as fortalezas da filha de Judá;
lançou por terra e profanou
o reino e os seus príncipes.
Lamentações de Jeremias 2.5 (RA)
Tornou-se o Senhor como inimigo,
devorando Israel;
devorou todos os seus palácios,
destruiu as suas fortalezas
e multiplicou na filha de Judá
o pranto e a lamentação.

4. Os locais oficiais de culto foram destruídos

Lamentações de Jeremias 1.10 (RA)
Estendeu o adversário a mão
a todas as coisas mais estimadas dela;
pois ela viu entrar as nações
no seu santuário,
acerca das quais proibiste
que entrassem na tua congregação.
Lamentações de Jeremias 2.6 (RA)
Demoliu com violência o seu tabernáculo, como se fosse uma horta;
destruiu o lugar da sua congregação;
o Senhor, em Sião, pôs em esquecimento
as festas e o sábado
e, na indignação da sua ira, rejeitou com desprezo
o rei e o sacerdote.
Lamentações de Jeremias 2.7 (RA)
Rejeitou o Senhor o seu altar
e detestou o seu santuário;
entregou nas mãos do inimigo
os muros dos seus castelos;
deram gritos na Casa do Senhor,
como em dia de festa.

5. Exílio de reis, sacerdotes e do povo

Lamentações de Jeremias 1.6 (RA)
Da filha de Sião já se passou
todo o esplendor;
os seus príncipes ficaram sendo
como corços que não acham pasto
e caminham exaustos
na frente do perseguidor.
Lamentações de Jeremias 4.2 (RA)
Os nobres filhos de Sião,
comparáveis a puro ouro,
como são agora reputados por objetos de barro,
obra das mãos de oleiro!
Lamentações de Jeremias 4.7–8 (RA)
Os seus príncipes eram mais alvos do que a neve,
mais brancos do que o leite;
eram mais ruivos de corpo do que os corais
e tinham a formosura da safira.
Mas, agora, escureceu-se-lhes o aspecto mais do que a fuligem;
não são conhecidos nas ruas;
a sua pele se lhes pegou aos ossos,
secou-se como uma madeira.
Lamentações de Jeremias 5.11–13 (RA)
Forçaram as mulheres em Sião; (estupros)
as virgens, nas cidades de Judá.
Os príncipes foram por eles enforcados, (assassinatos)
as faces dos velhos não foram reverenciadas. (Desprezo pelo ser humano)
Os jovens levaram a mó, (trabalhos forçados)
os meninos tropeçaram debaixo das cargas de lenha; (exploração infantil)

6. Inflação galopante

Lamentações de Jeremias 5.4 (RA)
A nossa água, por dinheiro a bebemos, (Escassez de insumos básicos)
por preço vem a nossa lenha. (energia)
Lamentações de Jeremias 5.6 (RA)
Submetemo-nos aos egípcios e aos assírios, (importação de produtos básicos)
para nos fartarem de pão.
Lamentações de Jeremias 5.9 (RA)
Com perigo de nossa vida, providenciamos o nosso pão,
por causa da espada do deserto.

7. A escassez de produtos básicos e a inflação levou à fome sem proporções

Lm 5.10 “Nossa pele se esbraseia como um forno, por causa do ardor da fome.”
Lm 1.11Todo o seu povo anda gemendo e à procura de pão; deram eles as suas coisas mais estimadas a troco de mantimento para restaurar as forças; vê, Senhor, e contempla, pois me tornei desprezível.”
LM 1.19 “Chamei os meus amigos, mas eles me enganaram; os meus sacerdotes e os meus anciãos expiraram na cidade, quando estavam à procura de mantimento para restaurarem as suas forças.”
Lm 2.12 “Dizem às mães: Onde há pão e vinho (crianças falando)?, quando desfalecem como o ferido pelas ruas da cidade ou quando exalam a alma nos braços de sua mãe.”
Lm 2.19-20 “Levanta-te, clama de noite no princípio das vigílias; derrama, como água, o coração perante o Senhor; levanta a ele as mãos, pela vida de teus filhinhos, que desfalecem de fome à entrada de todas as ruas. Vê, ó Senhor, e considera a quem fizeste assim! Hão de as mulheres comer o fruto de si mesmas, as crianças do seu carinho? Ou se matará no santuário do Senhor o sacerdote e o profeta?”
Lm 4.4-5 “A língua da criança que mama fica pegada, pela sede, ao céu da boca; os meninos pedem pão, e ninguém há que lho dê. Os que se alimentavam de comidas finas desfalecem nas ruas; os que se criaram entre escarlata se apegam aos monturos.”
Lm 4.9-10 “Mais felizes foram as vítimas da espada do que as vítimas da fome; porque estas se definham atingidas mortalmente pela falta do produto dos campos. As mãos das mulheres outrora compassivas cozeram seus próprios filhos; estes lhes serviram de alimento na destruição da filha do meu povo.”

8. O estado emocional da nação era de perda e desesperança

Lamentações de Jeremias 5.2 (RA)
A nossa herança passou a estranhos,
e as nossas casas, a estrangeiros;
Lamentações de Jeremias 5.14–16 (RA)
os anciãos já não se assentam na porta,
os jovens já não cantam.
Cessou o júbilo de nosso coração,
converteu-se em lamentações a nossa dança.
Caiu a coroa da nossa cabeça;
ai de nós, porque pecamos!

II - O Impacto Emocional em Jeremias

1. Via-se perseguido por Deus, sem trégua.

Lamentações de Jeremias 3.3 (RA)
Deveras ele volveu contra mim a mão,
de contínuo, todo o dia.

2. Entendia a situação como insolúvel

Lamentações de Jeremias 3.2 (RA)
Ele me levou e me fez andar
em trevas e não na luz.
Lamentações de Jeremias 3.7–8 (RA)
Cercou-me de um muro, e já não posso sair;
agravou-me com grilhões de bronze.
Ainda quando clamo e grito,
ele não admite a minha oração.
Lamentações de Jeremias 3.9 (RA)
Fechou os meus caminhos com pedras lavradas,
fez tortuosas as minhas veredas.

3. Sua vida devocional parecia não ter sentido

Lamentações de Jeremias 3.8 (RA)
Ainda quando clamo e grito,
ele não admite a minha oração.

4. A vida tornou-se amarga (ausência de prazer)

Lamentações de Jeremias 3.15 (RA)
Fartou-me de amarguras,
saciou-me de absinto.
Lamentações de Jeremias 3.17 (RA)
Afastou a paz de minha alma; (Alma perturbada)
esqueci-me do bem. (vida sem significado)

5. Desesperança

Lamentações de Jeremias 3.18 (RA)
Então, disse eu: já pereceu a minha glória,
como também a minha esperança no Senhor.

6. Sua mente estava fixada nos problemas

Lamentações de Jeremias 3.19–20 (RA)
Lembra-te da minha aflição e do meu pranto,
do absinto e do veneno.
Minha alma, continuamente, os recorda
e se abate dentro de mim.

III - Como sair desse quadro depressivo? Chegamos ao clímax do livro.

Mudança de atitude que gera renovação de mente

Lamentações de Jeremias 3.21 (RA)
Quero trazer à memória
o que me pode dar esperança.

O que foi capaz de trazer esperança ao professor que se encontrava mergulhado na mais profunda depressão em decorrência de todo o quadro de dor, violência, sofrimento e morte que ele havia presenciado?

1. As misericórdias do Senhor

Lamentações de Jeremias 3.22–23 (RA)
As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos,
porque as suas misericórdias não têm fim;
renovam-se cada manhã.
Grande é a tua fidelidade.
Lamentações de Jeremias 3.32–33 (ARA)
32 pois, ainda que entristeça a alguém,
usará de compaixão segundo a grandeza das suas misericórdias;
33 porque não aflige, nem entristece de bom grado
os filhos dos homens.

2. A fidelidade de Deus

Lamentações de Jeremias 3.23 (RA)
renovam-se cada manhã.
Grande é a tua fidelidade.

3. A bondade do Senhor

Lamentações de Jeremias 3.25 (RA)
Bom é o Senhor para os que esperam por ele,
para a alma que o busca.

4. Arrependimento

Lamentações de Jeremias 3.40–41 (RA)
Esquadrinhemos os nossos caminhos,
provemo-los e voltemos para o Senhor.
Levantemos o coração,
juntamente com as mãos, para Deus nos céus, dizendo:

5. A consciência de que o Senhor está no controle de todas as situações, até nas mais avassaladoras

Observe quantas vezes aparece o pronome ELE (expresso ou subtendido)
Lamentações de Jeremias 3.2–17 (RA)
Ele me levou e me fez andar
em trevas e não na luz.
Deveras ele volveu contra mim a mão,
de contínuo, todo o dia.
(Ele) Fez envelhecer a minha carne e a minha pele,
(Ele) despedaçou os meus ossos.
(Ele) Edificou contra mim
e (Ele) me cercou de veneno e de dor.
(Ele) Fez-me habitar em lugares tenebrosos,
como os que estão mortos para sempre.
(Ele) Cercou-me de um muro, e já não posso sair;
(Ele) agravou-me com grilhões de bronze.
Ainda quando clamo e grito,
ele não admite a minha oração.
(Ele) Fechou os meus caminhos com pedras lavradas,
(Ele) fez tortuosas as minhas veredas.
(Ele) Fez-se-me como urso à espreita,
um leão de emboscada.
(Ele) Desviou os meus caminhos e me fez em pedaços;
(Ele) deixou-me assolado.
(Ele) Entesou o seu arco
e me pôs como alvo à flecha.
(Ele) Fez que me entrassem no coração
as flechas da sua aljava.
Fui feito objeto de escárnio para todo o meu povo
e a sua canção, todo o dia.
(Ele) Fartou-me de amarguras,
saciou-me de absinto.
(Ele) Fez-me quebrar com pedrinhas de areia os meus dentes,
(Ele) cobriu-me de cinza.
(Ele) Afastou a paz de minha alma;
esqueci-me do bem.

Conclusão

A dor humana não é parcial. Todos estão sujeitas as intemperes da vida, inclusive os crentes.
Nesses momentos de dor e desesperança, nos quais perdemos o significado, o prazer e uma causa para continuar vivo, precisamos:
Tirar a mente do problema e fixá-la naquilo que pode trazer esperança:
misericórdia, fidelidade e bondade de Deus;
arrepender-se;
reconhecer que Deus está no controle de todas as coisas.
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