Mateus 28.16-20
Série expositiva no Evangelho de Mateus • Sermon • Submitted • Presented
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· 18 viewsO autor divino/humano sintetiza como conclusão do presente evangelho, a ordem testemunhal recebida pela igreja, tendo como arcabouço e base, a condição glorificada do Senhor, que assegura o sucesso da missão publicadora do Reino, que culminará com a consumação do século no retorno de Cristo Jesus, o Rei.
Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
Após o anúncio da apoteótica ressurreição do Senhor Jesus, declarando sua vitória sobre os poderes da morte e sobre a rebelião dos homens contra o Reino, Mateus encerra seu evangelho sintetizando nesta última seção, os princípios que agora guiarão a igreja em sua tarefa de testemunhar do evangelho ao mundo, declarando com isso a publicação do Reino dos céus.
Como visto no trecho de 1 à 15, apesar da gloriosa ressurreição do Senhor ter sido vivenciada de maneira a que não restasse dúvidas quanto a sua veracidade, uma narrativa paralela é criada a fim de descredibilizar a mensagem evangélica. Os anciãos do povo, tendo subornado os guardas, tramaram uma forma de que a notícia sobre a ressurreição de Jesus não ganhasse lastro entre os próprios judeus. Todavia, o registro dessa artimanha serve ao autor como reforço distintivo quanto ao caráter vivificador da mensagem evangélica: somente os irmãos de Jesus crerão na boa-nova da ressurreição, tal como era a vontade do próprio Senhor, ao lhes anunciar por meio de seus discípulos, que os aguardava, indo adiante deles (cf. vs. 9-10).
Entretanto, os alvos dessa grandiosa noticia não serão apenas os judeus: o Reino dos céus, cumprido e publicado pelo Senhor Jesus em sua encarnação, vida, morte e ressurreição, deverá ser testificado à todas as nações (cf. v. 19; 24.14), e isso será feito não mais sob os auspícios do Cristo humilhado, mas sob as ordens daquele que recebeu toda a autoridade no céu e na terra (cf. v. 18).
A despeito das forças hostis que tentarão solapar o avanço do Reino, que cumpre as promessas feitas a Abraão e Davi (cf. Mt 1.1) quanto a benção sobre todas as famílias da terra (Gn 12.3) e de um herdeiro real que governaria todo o povo de Deus (cf. 2Sm 7.8-16), a igreja (através do evangelho e sob a direção dos apóstolos) deverá atender a tríplice ordem do Senhor: fazer discípulos; batizá-los e ensiná-los a guardar as ordens de Cristo, será o ministério da igreja até que todos os eleitos sejam alcançados e o Reino de Deus seja plenamente publicado ao mundo.
Compreendendo esses pontos, o texto de Mateus 28.16-20, sintetiza como ideia central o comissionamento testemunhal da igreja como meio de publicação do Reino dos céus.
Elucidação
Como introduzido, a ênfase principal de Mateus nesta última seção de seu evangelho, é promover a percepção de que a efetivação do Reino a partir da ressurreição de Cristo, consistirá na publicação à todas as nações da vitória do Senhor sobre a morte e, consequentemente, sobre todos os inimigos e forças rebeldes, consumando assim o Reino do céu e a obra redentiva prometida pelo Deus Triuno.
A narrativa inicia-se com a movimentação dos discípulos em obediência a ordem dada pelo Senhor no versículo 15, de que deveriam dirigir-se à Galileia para lá encontrarem-se com Cristo (v.16). O contorno escatológico daquela expressão direciona a exortação do autor, fazendo seus leitores participarem da mesma situação em que se encontravam os discípulos: todos aqueles que foram alcançados pelo anúncio do evangelho, sendo feitos irmãos de Jesus, agora rumam através desse mundo para o encontro com seu Redentor. Logo, ao registrar a partida dos discípulos em direção à Galileia, Mateus confirma o "êxodo" realizado por toda a igreja desde então.
No momento do encontro, a reação dos discípulos de espanto, alegria e certo ceticismo ao verem Jesus, é narrada nos quatro evangelhos. Não obstante, descrevendo essa cena, João e Lucas concentram-se no diálogo que Cristo inicia com seus discípulos, provando ser ele aquele que de fato havia padecido na cruz (cf. Lc 24.36-43; Jo 20.19-29). Mateus, por outro lado, ratificando a temática da publicação do Reino, contrasta a tensão entre o aparecimento de Cristo e o espanto dos discípulos, com a declaração de que efetivamente Cristo assumiu o posto devido como Rei-Messias:
E, quando o viram, o adoraram; mas alguns duvidaram.
Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra.
Diferente do Cristo abatido e maltratado que subira à cruz, Mateus narra a supresa dos discípulos ao contemplarem o Senhor glorificado que, detendo todo o poder, lhes envia como arautos do Reino dos céus. Escrevendo à uma igreja que experimenta perseguição e sofrimentos por parte de um mundo hostil ao evangelho, Mateus salienta que a ordem de testemunho à todas as nações, tem como fundamento a autoridade que Cristo recebeu ao completar seu ministério terreno, e com sua ascensão à direita da Majestade, nenhum tipo de barreira será capaz de limitar o alcance da boa-nova, a qual todos os discípulos do Senhor estão encarregados de publicar.
Embora hajam no texto aspectos particulares da tarefa testemunhal cabidos apenas aos apóstolos, como por exemplo o batismo daqueles que seriam introduzidos no Reino mediante a pregação pública do evangelho, o "ide" alcança todos aqueles que, assim como os primeiros discípulos, creem na entronização de Cristo como o Rei designado pelo Pai para assentar-se sobre o trono do mundo.
Diante da contemplação e confirmação da condição exaltada do Senhor, Cristo especifica a tarefa testemunhal a ser desempenhada:
Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.
Como dito, uma ordem tríplice é sintetizada. Porém essa ordem é jungida à uma promessa escatológica, tornando o cumprimento das ordens recebidas pela igreja ainda mais claras. Os discípulos do Senhor, ao saírem pelo mundo, testificando à todas as nações da glorificação de Cristo e chegada do Reino dos céus, deverão: 1) discipular, isto é, tornar os que receberam o poder de crerem no Senhor, em seus seguidores; 2) batizá-los, a fim de que publiquem seu pertencimento ao Reino dos céus por meio da nova aliança inaugurada por Jesus; e 3) ensiná-los as palavras legadas pelo Senhor através de seus apóstolos. Essa será a incumbência da igreja, até que Cristo retorne, na consumação do século (cf. v. 20b).
Transição
A igreja avançará por esse mundo, testemunhando que Cristo Jesus, o Filho de Deus, está assentado à direita de Deus Pai, donde governa a tudo e a todos, e de onde virá para publicar seu reino de maneira a fazer todo joelho e dobrar e toda língua confessar que ele é o Senhor para a glória do Pai (Fp 2.8-11).
Como explica Jesse Johnson:
Esse era o plano de Deus desde o começo (1Pedro 1.20). Desde a promessa inicial no jardim, de que Adão e Eva teriam uma descendência que esmagaria Satanás, passando pela dispersão das nações em Babel, pelo chamado de Abraão e pela odisseia de Israel, Deus estava direcionando a história redentora para o momento em que enviaria seu Filho como a luz do mundo. Agora, seu povo deve tomar tal luz e levá-la a todos os incrédulos do planeta (JOHNSON, org. MACARTHUR, 2017, p. 43).
A ênfase do evangelho de Mateus no Reino é completada de maneira a deixar em aberto o prosseguimento da igreja na publicação do evangelho. Mateus conclui seu texto, enfatizando a obra redentora que iniciou-se com a gloriosa manifestação do cumprimento profético-messiânico da vinda do Salvador, e perpassou por toda a saga redentiva trilhada por Cristo em seu combate contra as forças hostis que se avessaram contra o Reino, o que culminou com sua prometida crucificação e ressurreição, sendo esta última o demonstrativo de que toda a obra do Filho foi aceita pela o Pai, que o exalta sobre todo o nome para ser o Rei do cosmo.
Deste ponto em diante, tendo registrado todo percurso de publicação do Reino, Mateus agora, na conclusão dos versículos 18-20, comissiona a igreja — tal como feito pelo próprio Cristo — a continuar com a tarefa de anúncio do evangelho: o autor redigiu para a igreja todo o percurso salvífico no qual cada discípulo deve crer, e agora, cada crente deve reproduzi-lo, a fim de que eleitos de todas as nações também sejam trazidos ao Reino de Deus em seu Cristo.
Em vista disso, as aplicações do texto de Mateus 28.16-20, podem ser sintetizadas a partir dos seguintes pontos:
Aplicações
1. A igreja deve compreender que o estabelecimento do Reino dos céus ocorre mediante as ordens e operação poderosa daquele que recebeu toda autoridade no céu e na terra, garantindo assim o sucesso da igreja em sua missão testemunhal perante o mundo.
Mateus (tal como alguns dos evangelistas) registra a confusão que muitos discípulos sentiram ao contemplar o Cristo ressuscitado, como já exposto. A visão do Cristo humilhado é rapidamente substituída pelo Senhor glorificado, que, detendo todo o poder, assegura aos filhos do Reino a consumação vitoriosa de toda a obra redentiva.
Apesar de a obra de Cristo incluir um estágio de humilhação, como sua encarnação na forma de servo (cf. Fp 2.7), vida e morte, a igreja repousa tranquila sobre a base firme que é a honra dado pelo Pai a seu Filho, o qual foi coroado como Senhor sobre tudo e todos, a quem o universo se subordina.
Os agentes rebeldes que tentarão contrapor-se à igreja, certamente verão seus planos frustrados pelo resplendor da glória que o Senhor reflete através do testemunho fiel que sua igreja presta à todas as nações. O teor desse testemunho é um e o mesmo: o Reino dos céus é chegado; arrependam-se e creiam no Filho de Deus, o Messias: Cristo Jesus.
O período de humilhação foi acabado. Os homens não mais verão o Cordeiro de Deus pendurado no madeiro, sendo alvo de escárnio e vilipêndio. Pelo contrário, o que os separa da visão aterradora do Trono Branco, é a nossa marcha: a marcha da igreja que anuncia os termos de paz oferecidos pelo Senhor do universo. O evangelho é o anúncio das boa-novas de salvação; isto é, a igreja testemunha de que o Rei que está a caminho, pode perdoar rebeldes transgressores mediante a confissão pública e o reconhecimento sincero (gerado pelo Espírito Santo) de que só Jesus Cristo é o Senhor.
Pregamos a Cristo, e este crucificado (cf ) para declarar inequivocamente que tudo o que é necessário para que alguém seja redimido foi feito, mas Cristo não está mais crucificado; ele agora está assentado a direita de Vossa Majestade, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos.
Esse é o anúncio a ser feito ao mundo, e que nos leva a segunda verdade a ser compreendida à luz do presente texto.
2. É incumbência incondicional da igreja o testemunho fiel de que o Reino de Deus é chegado. Todos os discípulos do Senhor Jesus Cristo — todos os que creem em sua obra — deverão propagar o relato evangélico, até a consumação dos séculos, sob o poder e presença de Cristo em seu Espírito Santo.
A ordem do Senhor é clara: "saiam pelo mundo; façam discípulos; batize-os no nome do Deus Triuno, e os ensinem a guardar minhas palavras!". Cada um dos aspectos particulares dessa ordem, gira em torno da missão principal da qual a igreja foi incumbida. Os agentes do Reino foram responsabilizados de testemunhar ao mundo a grandeza da obra salvadora.
O discipulado cristão não consiste na transmissão de um estilo de vida, ou de uma filosofia positiva, mas na comunicação poderosa de uma verdade eficaz para trazer mortos à vida: Cristo Jesus é o Filho de Deus, o Messias Prometido.
A comunicação dessa verdade deve ser feita de maneira pessoal e direta. O ensino do evangelho, que culmina com uma confirmação credal que habilita o indivíduo a receber o selo da nova aliança (i.e. batismo), e a partir de então, a vivência a partir da vontade do Senhor, deve ser o objetivo da igreja, que converge, por sua vez, na glorificação do nome do SENHOR.
De contra partida, a promessa de sucesso nessa missão está ratificada nas palavras finais de Cristo: "E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século" (v.20). Cristo já está do outro lado da carreira cristã; ele já trilhou o percurso histórico que culmina com a glorificação, e porque ele já está lá, nos aguardamos, temos a certeza que um dia também chegaremos, quando tivermos logrado êxito, pelo poder do Espírito, em ter levado ao Senhor pessoas de todo povo, língua, tribo e nação; discípulos do Rei, que creram no evangelho.
Conclusão
Mateus começa seu evangelho descrevendo a genealogia de Cristo, tendo como referência Abraão (a quem foi prometido um povo) e a Davi (a quem foi prometido um Rei). A conclusão do evangelho exibe claramente o cumprimento dessas promessas: o Rei prometido recebeu autoridade sobre céu e terra, e comissiona seus discípulos a saírem pelo mundo, abençoando todas as famílias, com a mensagem que torna os eleitos, povo de Deus. Um Rei e um povo. Abraão e Davi, em Cristo, tem suas promessas cumpridas; o Reino dos céus é publicado.
Cristo triunfa!