O Toque da Esperança - Lc 8.40-48

Introdução

O texto começa com a indicação de que Jesus havia retornado para Cafarnaum, após uma passagem pela terra dos Gerasenos, onde Ele havia curado um homem endemoniado que vivia mal vestido e perambulando pelos sepulcros. A notícia da cura daquele homem deixou a cidade bastante perplexa, que exigiram a saída imediata de Jesus e de seus discípulos da região. Ao retornar para Cafarnaum, uma outra multidão recepciona o Mestre, essa um pouco mais convidativa e curiosa pelos milagres que Jesus havia realizado. Dessa multidão destacam-se duas pessoas: Jairo, o chefe da Sinagoga de Cafarnaum, e uma mulher anônima, que sofria de uma doença crônica. O texto irá se ocupar com o fato ocorrido na vida dessas duas pessoas.

O mesmo acontecimento narrado pelo Evangelista Lucas, é repetido de uma forma mais breve por Mateus (Mt 9.18-19), e pelo Evangelista Marcos (Mc 5.21-24). Todos eles narram o contato especial que Jesus teve com essas duas pessoas. A Escritura traz nesse ponto o domínio de Jesus sobre a morte e sobre a enfermidade. Jesus nesse ponto demonstra que ele não faz acepção de pessoas.

A multidão lhe cercava, lhe espremia, mas apenas duas pessoas chamaram sua atenção em meio àquela gente toda: um homem de classe social elevada, e uma mulher marginalizada. O Senhor não faz polaridades, ele não causa divisão social, ele não escolhe por classe social, etnia, cor da pele, sobrenome. Ele olha para o interior do ser humano, De toda a multidão ajuntada, apenas duas pessoas tocaram o senhor de uma forma especial, e nesta noite não será diferente. Ele convida você para tocá-lo, para conhecer e desfrutar do seu amor e de sua salvação. Saia da multidão que te oprime, que te impede de tocar no Senhor nesta noite, e dê o primeiro passo.

1. Após o desembarque, Jesus recebe um pedido de socorro(verso 40/41).

Não importa nossa posição social, nosso status no Instagram, nossos diplomas acadêmicos, nossa carreira, por mais que tudo isso seja importante para gente, sem Deus e sem Jesus, são conquistas vazias. Jairo entendeu isso de forma rápida. Ao constatar que sua filhinha de 12 anos de idade iria falecer, ele não se preocupou com o que iriam pensar dele na Sinagoga, o que seus alunos e estudantes achariam de sua atitude, ou o que os outros rabinos falariam dele pelas costas. Jairo ao saber do retorno de Jesus para Cafarnaum, ele correu desesperadamente para os pés do Senhor, onde encontrou abrigo e segurança. Jairo, um homem de autoridade, chefe da Sinagoga, que era o encarregado da organização do culto, das finanças, da leitura pública da Torá na Sinagoga, estava quebrantado, e jogado aos pés do Senhor Jesus. Jairo reconheceu que toda a sua posição social, dinheiro, não foram suficientes para dar saúde para sua filha, porém, a esperança de Jairo estava Naquele que as multidões diziam ser o FILHO DE DAVI! Jesus consentiu com o pedido de Jairo e foram para sua casa. A caminhada foi com muita dificuldade, pois a multidão estava cercando Jesus e impedia Ele de ir mais rápido para a casa de Jairo.

2. O pedido inicial de socorro é interrompido momentaneamente por outro pedido de socorro: um pedido mais reprimido. (versos 43/44)

Repentinamente, o texto é quebrado para inserir a história de uma mulher anônima, sem posses, sem nome, sem família, sem qualquer prestígio. É nessa história que seguiremos adiante. No meio da multidão estava uma mulher marginalizada, agonizada pela enfermidade que há mais de doze anos a consumia por inteiro. Essa mulher havia perdido todas as esperanças de cura, bem como havia perdido todas as suas economias com tratamentos médicos. Lucas registra que ninguém pode curar sua enfermidade. Doze anos de sofrimento, angustia e marginalização.

O fluxo de sangue, ou menstruação, faz parte da anatomia feminina. É um ciclo comum para as mulheres durante certo período de vida. Porém, no caso dessa mulher apontada pela narrativa bíblica, o fluxo de sangue que jorrava do seu interior era contínuo, não havia interrupção. Desta feita, por causa da violência e intensidade dessa doença, essa mulher se viu completamente prejudicada, senão vejamos:

a) não estava mais saudável: sua saúde já não era mais a mesma; estava fraca, debilitada; talvez, não se alimentava direito; não recebia ajuda de ninguém; estava sozinha no meio da multidão; perdia sangue havia doze anos; talvez a beleza tenha ido juntamente; a estima estava baixa, era uma reclusa, não podia ser tocada.

b) era rejeitada pela sociedade: porque ela tinha uma doença crônica - fluxo de sangue– um tipo de hemorragia menstrual que a deixava fraca e debilitada. A sua doença não permitia que ela frequentasse a sociedade, não casasse e nem prestasse culto, seja nas Sinagogas ou no próprio TEMPLO. Não era apenas seu físico que a doença destruía, mas também sua saúde mental. Essa mulher não podia socializar de maneira nenhuma, sua doença a tornava cerimonialmente impura, e quem tivesse contato com ela estaria impuro, conforme Lv 15.25-31, in verbis:

25 Também a mulher, quando manar fluxo do seu sangue, por muitos dias fora do tempo da sua menstruação ou quando tiver fluxo do sangue por mais tempo do que o costumado, todos os dias do fluxo será imunda, como nos dias da sua menstruação. 26 Toda cama sobre que se deitar durante os dias do seu fluxo ser-lhe-á como a cama da sua menstruação; e toda coisa sobre que se assentar será imunda, conforme a impureza da sua menstruação. 27 Quem tocar estas será imundo; portanto, lavará as suas vestes, banhar-se-á em água e será imundo até à tarde. 28 Porém, quando lhe cessar o fluxo, então, se contarão sete dias, e depois será limpa. 29 Ao oitavo dia, tomará duas rolas ou dois pombinhos e os trará ao sacerdote à porta da tenda da congregação. 30 Então, o sacerdote oferecerá um, para oferta pelo pecado, e o outro, para holocausto; o sacerdote fará, por ela, expiação do fluxo da sua impureza perante o SENHOR. 31 Assim, separareis os filhos de Israel das suas impurezas, para que não morram nelas, ao contaminarem o meu tabernáculo, que está no meio deles.

Assim, ela não podia mais manter qualquer relação social com seu povo.

c) não podia prestar culto ou adorar a Deus: uma mulher com fluxo contínuo de sangue deveria ser excluída da sociedade, por trazer grandes riscos à saúde pública, senão vejamos: 1)naquela época não havia água encanada, não havia sabonete líquido ou álcool em gel, tampouco havia absorvente íntimo, e os cuidados com a higiene pessoal eram de difícil acesso; 2) é sabido que o sangue é um dos maiores veículos transmissores de doenças. Uma pessoa que apresentava hemorragia menstrual era considerada potencialmente perigosa, e o risco de proliferar doenças na aldeia ou na cidade era imediato; 3) a Torá (Pentateuco) previa que tal pessoa devesse ser separada da congregação por motivos de segurança, dela mesma e das demais pessoas de seu convívio social (Lv 15.25-32).

Assim sendo, não podia frequentar as escolas sabáticas nas Sinagogas, tampouco adorar no Templo em Jerusalém. Não tinha acesso à Palavra de Deus, e o perdão estava distante. Sua doença a consumia dia após dia, noite após noite. A vida dessa mulher não foi nada fácil. Noites sem dormir devido ao mau cheiro de seu fluxo, e da contínua dor em seu abdômen. Não havia parentes e amigos, e os religiosos da época temiam chegar perto dela.

A esperança por uma vida melhor tinha minguado. Talvez você nesta noite esteja que nem essa mulher, não doente por causa de uma enfermidade em seu útero, mas por causa do pecado que tem destruído sua vida, te afastando da família, te afastando de seu casamento, te afastando da comunhão com o próprio Deus. Hoje eu te convido a tocar no Senhor Jesus de uma maneira especial que sua vida irá mudar completamente! Para isso, você precisa de fé, a mesma fé que essa mulher teve, e quero te convidar a desenvolvê-la com temor no Senhor, sabendo que a fé vem pelo ouvir a pregação da Palavra de Deus (Rm 10.17).

3. Ela ouviu falar de Jesus e sua esperança se renovou.

Lucas não dá esse detalhe para nós, mas o Evangelista Marcos sim, e ele enfatiza que essa mulher ouviu falar de Jesus (Mc 5.27). Ouviu falar dos milagres que o Senhor estava realizando, bem como da transformação de vida que Ele estava fazendo nas pessoas. O Evangelho de Lucas relata os seguintes milagres que Jesus realizou antes de conhecê-la:

1. Cura de um endemoniado (4.31)

2. Cura da sogra de Pedro (4.38)

3. Várias curas realizadas (4.40)

4. Pesca Maravilhosa (5.1 ss)

5. Cura de um leproso (5.12 ss)

6. Cura de um paralítico (5.17 ss)

7. Cura de um homem com a mão ressequida (6.6 ss)

8. Cura do servo de um Centurião Romano (7.1 ss)

9. Ressurreição do filho de uma viúva em Naim (7.11 ss)

10. Jesus acalma uma tempestade (8.22 ss)

11. Cura do endemoniado na terra dos gerasenos (8.26 ss).

Neste sentido, a fé dessa mulher foi despertada, foi ativada. Ela ouviu falar de um certo JESUS, filho de José e de Maria, da aldeia de Nazaré que tinha fama de Profeta e estava vindo em sua própria direção. A fama desse profeta era diferente, pois parecia que ele tinha saído das páginas dos Livros de Isaías e Jeremias. A Palavra de Deus frutificou em seu coração. Uma vez que a Palavra encontrou um bom solo para fecundar, nasce a fé que agrada a Deus (Hb 11.6).

Assim, eu pergunto nesta noite: qual Jesus você tem ouvido, lido e crido? O Jesus apontado pelas Escrituras, profetizado pelos profetas, e anunciado pelos apóstolos, ou o Jesus criado em seu coração, à sua imagem e à sua própria semelhança, que existe apenas para satisfazer seus desejos e caprichos?

4. o pedido de socorro manifesto num simples toque (verso 44).

A proposta que essa mulher colocou em seu coração, foi um enorme ato de fé, mas também um ato arriscado. Ela por estar cerimonialmente impura, poderia ter causado um grande incidente. Alguém da multidão poderia denunciá-la, e as autoridades rabínicas a condenariam sumariamente. Mas nada disso a impediu de ter um encontro marcante com o Senhor Jesus Cristo.

O Dr. Warren Wiersbe aponta que os homens judeus usavam franjas ou borlas de cordão azul presas às vestes para lembrá-los de que deviam obedecer aos Mandamentos de Deus, conforme Nm 15.37-40 e Dt 22.12. Os fariseus levavam essa regra ao extremo, ao ponto de alargaram as franjas de suas vestes para impressionar o povo, ensejando que eles eram pessoas mais santas do que as outras. Jesus condenou essa prática (Mt 23.5)

Posto isto, Jesus, como um bom judeu seguidor da Torá, usava sua túnica com as franjas nas bordas, cujo nome em hebraico é TZIT TZIT, ou seja, franjas brancas enroladas com um cordão azul, As franjas das vestes de Jesus simbolizavam a PALAVRA de Deus em pleno cumprimento.

Essa mulher resolveu sair do lugar que era determinado às pessoas imundas e impuras. Essa mulher resolveu sair da zona de conforto! Propôs em seu coração encontrar com o profeta que trazia consigo A PALAVRA DE DEUS. Quebrou todos os paradigmas daquela época e foi ter com Jesus, mesmo sabendo que se ela tocasse em alguém tornaria aquela pessoa cerimonialmente impura. O ato impensado dessa mulher poderia ser punido com violência. Contudo, mesmo estando fraca e debilitada, ela se projetou no meio da multidão.

Em meio a apertos e empurrões, essa mulher lançou-se por detrás de Jesus e tocou seu tzit tzit, ou como consta do original grego, tocou seu κράσπεδον, que significa orla, bainha ou borla de uma vestidura.

A Bíblia afirma categoricamente que o fluxo de sangue imediatamente estancou. A hemorragia parou! A vergonha sumiu! A vida retornou! A mulher estava totalmente curada de sua enfermidade.

5. A leveza do toque realizado com fé (versos 45/46)

Ela havia tocado a parte mais sagrada das vestes de um judeu homem, as franjas da túnica. É de se admirar que ela se aproximou por detrás de Jesus, pois tinha medo da sua atitude de tornar o mestre cerimonialmente impuro, por isso ela hesita em responder à pergunta de Jesus: “Quem me tocou?”

O Dr. Daniel H. Stern comenta que normalmente, os impuros contaminam os puros, mas neste caso ocorreu o oposto, ou seja, a pureza de Jesus, o Messias, e de suas franjas permaneceram intocadas, ao passo que a causa da impureza da mulher foi instantaneamente removida.

Essa atitude de Jesus de anunciar publicamente o fato ocorrido era justamente para que a própria mulher proclamasse sua cura e fosse reintegrada à sociedade – NÃO HAVIA MAIS VERGONHA! Jesus não apenas curou seu corpo, mas curou a sua alma e a sua dignidade. Tristeza, vergonha e culpa não seria mais parte da vida daquela mulher.

Jesus afirma que o toque que ele sentiu fez poder sair dele. Os discípulos ficaram atônitos com a pergunta do Mestre, pois ele estava mantendo contato o tempo inteiro com a multidão. No verso 43, Lucas relata que as multidões o apertavam, mas poder não saia dele por causa disso. Foi o mais simples e leve toque de uma mulher aflita que fez PODER sair de dentro do Senhor. A palavra poder no original é δυναμις, segundo o Léxico de Strong, significa poder para realizar milagres

O Eterno Deus de Israel tem o propósito não de apenas nos salvar por meio de seu Filho, mas também de nos dar uma nova vida, uma vida transformada onde o pecado não tenha mais poder sobre nossas ações.

6. A sentença proclamada: a tua fé te salvou (verso 48).

Jesus em vez de condená-la, a libertou; em vez de repreendê-la, a animou; em vez de rejeitá-la, a amou. A fé daquela mulher a libertou de um cativeiro que durava doze anos. Jesus veio para libertar os cativos. A situação que você esteja enfrentando talvez não seja tão drástica como a dessa mulher, ou, talvez você esteja passando por coisas muito piores. Deixa-me te falar uma coisa nesta noite: não vou te prometer curas, milagres, a resolução total dos seus problemas, mas uma coisa posso te prometer: Jesus está com os braços abertos para te receber, Ele está com os ouvidos abertos para o seu clamor, não hesite nesta noite. Tome uma atitude de fé: rompa as barreiras da vergonha, atravesse a multidão dos pecados que te impede de se achegar até ao Senhor. Ele não vai te rejeitar! Dê o toque de fé nesta noite. O Senhor mudará completamente sua vida é só pedir a Ele.

Não sei qual o fluxo impeditivo que tem te afastado da presença de Deus (pecado, vícios, pornografia, adultério, corrupção, etc.), porém, eu te convido a tocar nas franjas das vestes do PROFETA DE NAZARÉ, em Jesus, o Messias, filho de Davi, para que ele traga cura à sua vida, restauração e regeneração. Proclame hoje o que Jesus fez na sua vida! Não deixe que Jesus passe despercebido por você, amanhã, talvez, você não terá mais a oportunidade de TOCÁ-LO.

Aplicação:

1. a multidão vai tentar de todas as formas deixar você longe do Senhor: a multidão apertava e espremia o Senhor, deixando muito difícil a empreitada daquela mulher. Mas ela não parou, e por isso não pare, até que você o tenha o tocado por inteiro, e que o poder do Senhor o tenha curado/libertado definitivamente.

2. não perca tempo buscando soluções onde não há respostas: assim como aquela mulher procurou ser curada de todas as formas possíveis, gastando todo seu dinheiro, não procure soluções em crendices que não irão te ajudar em nada; apenas o Profeta de Nazaré, o Filho de Davi, O Messias de Israel é capaz de salvar sua vida com perfeição.

3. tocar o senhor não será nada fácil: nossos pecados e a nossa carne militarão contra nossa devoção diária, e tentará de todas as formas nos afastar do Senhor. Não pare até que você ouça da boca de Jesus: “alguém me tocou, porque senti que de mim saiu poder.

4. por fim, a recompensa virá: “vai em paz, a tua fé te salvou” foi a palavra que a mulher ouviu da boca do Senhor, é isso que Ele tem pra você nesta noite. Jesus tem paz (Shalom/Eirene) para encher seu coração nesta noite, apenas creia em nome de Jesus Cristo, amém!

“Mas para vós, os que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, e cura trará nas suas asas (...).”Malaquias 4:2.

BIBLIOGRAFIA:

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SHULAM, Joseph. Plantados na Casa do Senhor: Deus, Israel e a Igreja. 2. ed. Belo Horizonte: Ames, 2015.

GUIMARÃES, Matheus Zandona. Entendendo a restauração das raízes da fé. Belo Horizonte: Ames, 2016.

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STERN, David H. Comentário Judaico do Novo Testamento. 2. ed. Belo Horizonte: Atos, 2014, pág. 62/63.

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