As aparências e a Oração
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Mateus 6
Mateus 6
Mateus 6 5-8 “E, quando orardes, não sereis como os hipócritas; porque gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças, para serem vistos dos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa. Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos. Não vos assemelheis, pois, a eles; porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais.”
Segundo o ensinamento dos rabinos, o judeu demonstra seu amor a Deus através de três desempenhos: beneficência, oração e jejum.
Essas três realizações são acrescentadas às obrigações cultuais judaicas.
Trazendo para a linguagem de hoje, poderíamos dizer: Estão sendo caracterizadas aqui três manifestações da “nova vida”.
Os efeitos da nova vida caracterizam-se por três perspectivas.
1ª perspectiva: Olhar para fora gera o serviço (“esmola”) de nossa mão perante o próximo.
2ª perspectiva: Olhar para cima gera o serviço (“oração”) de nossa boca perante Deus.
3ª perspectiva: Olhar para dentro gera o serviço (“jejum”) de nossa alma perante suas lutas interiores.
Temos uma tríade! Para fora, para cima e para dentro.
Jesus não está dizendo: “Não pratiquem a beneficência, não orem, não jejuem”, mas: Quando exercerem a misericórdia, quando orarem, quando jejuarem, não procedam como os fariseus costumam proceder.
Pois o modo como eles o fazem é condenável!
De que modo, afinal, agiam os fariseus? Eles queriam ser admirados pelas pessoas. Pelas mesmas pessoas que eles no geral desprezavam, queriam agora ser admiradas.
Um tratado rabínico diz: havia as orações matutinas, do meio-dia e vespertinas.
Salmos 55.17 “À tarde, pela manhã e ao meio-dia, farei as minhas queixas e lamentarei; e ele ouvirá a minha voz.”
“A oração matinal é singularmente importante. Deve durar 4 horas.
Quando não se pode, por qualquer motivo, proferir a oração matinal na sinagoga, é preciso orá-la no local em que a pessoa se encontra naquela hora.
Por isso há prescrições de como se deve orar quando se está montado sobre um jumento, quando se viaja num navio ou se anda numa carroça”.
Ele afirma no v. 6: Quando orares, entra no teu quarto, teu tameion, e, fechada a porta, orarás a teu pai que está em secreto (crypta).
O que é um tameion? O tameion (= câmara) é o quarto dos suprimentos, é o recinto escondido, secreto, a peça mais íntima da casa, porque os suprimentos precisam estar seguros de ladrões e animais selvagens.
Essa câmara de suprimentos é a única peça na casa do agricultor palestino que pode ser trancada. Tampouco possui janelas.
O que o Senhor condena aqui é a oração ostentosa, ou seja, praticar as devoções no lugar mais público, com a intenção de ser visto e honrado pelo povo. Contudo, era exatamente isso o que os hipócritas estavam habituados a fazer.
Quantas vezes o próprio Jesus procurou a solidão da noite para orar.
A pequena câmara de oração, da qual Jesus fala, também pode estar localizada no meio da alvoroço do mundo e no meio das pessoas.
Mas estará lá somente quando primeiro temos o sagrado costume de nos retirarmos ao quarto secreto como Jesus aconselhou.
Lutero diz: “Um cristão não está amarrado a nenhum local e pode muito bem orar em toda parte, quer na rua, no campo, ou na casa de Deus. Pois um cristão traz sempre consigo o espírito da oração, para que seu coração se situe nesse incessante suspirar e suplicar a Deus, não importa se está comendo, bebendo. trabalhando etc.
O sermão está estruturado de uma maneira muito ordenada, sistemática e lógica.
Mateus 6.6 “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.”
O sentido é o seguinte: se há um cômodo privativo, então usa-o para a tua oração particular; se não, escolhe um canto bem discreto. Não procures ser notado. Entretanto, a ênfase principal nem mesmo é o lugar de oração, e, sim, a atitude de mente e coração.
O pensamento subjacente real não é o secreto, e, sim, a sinceridade. A razão de mencionar o lugar secreto é que o adorador sincero e humilde, alguém que não está interessado em mostrar-se publicamente com o fim de realçar o seu prestígio.
Além do perigo de “querer aparecer em público com a prática religiosa da oração”
O mau costume de amontoar irrefletidamente palavras de oração.
O mau costume de amontoar irrefletidamente palavras de oração.
Mateus 6.7 “E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos.”
A expressão grega me battalogesete, traduzida por “vãs repetições”, traz a ideia de mero palavrório ou tagarelice, palavreado oco, conversa tola, repetição vazia. Traduz a expressão popular “blá-blá-blá”.
Os exercícios de oração dos judeus naquele tempo estavam num nível tão exagerado, que a incessante repetição das palavras prescritas transformou-se em “tagarelice”: Exigia-se diariamente:
Recitar três vezes a oração das 18 petições, às 9 da manhã, às 3 da tarde e à noite (Essa oração era dez vezes mais extensa que o Pai Nosso: tinha 970 palavras).
Deuteronômio 6.7 “tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te.”
O shemá (confissão de fé), que devia ser proferido pela manhã em pé e à noite deitado.
A recompensa de orar o shemá era que ele servia como um meio de proteção contra os maus espíritos, prolongava a vida da pessoa, garantia para a pessoa o mundo vindouro…
Que diremos diante disso? Como neste caso a vida de oração tornou-se algo externo, igual a uma produção realizada!
Não significa que fazer uma oração extensa é sempre errado.
Deve-se ter em mente o motivo.
Os pagãos repetiam e repetiam suas orações porque imaginavam que quanto mais longa e mais estridentemente eles orassem, maior também seria sua chance de sucesso, recebendo o que desejavam.
A oração dos sacerdotes de Baal (1Rs 18.25–29) fornece um notável exemplo: “Eles clamaram ao nome de Baal desde manhã até ao meio-dia”.
O rosário, usado, por exemplo, para conservar a conta de cinco dezenas de Ave Marias, cada uma antecedida de um Pai Nosso e seguida de um Glória, não é outra boa ilustração?
Como se a aceitabilidade de nossas orações dependesse, ao menos em parte, do número de palavras que usamos ou do número de orações que disparamos!
Esta é a abordagem do movimento Nova Era, o qual acredita que é possível fazer as coisas acontecerem com o poder da mente.
As orações são usadas como fórmulas mágicas para tentar alterar o ambiente ou as circunstâncias.
Muitas das orações mais notáveis e fervorosas registradas na Escritura são breves e concisas, tais como a de Moisés (Êx 32.31,32);
Êxodo 32. 31-32 “Tornou Moisés ao Senhor e disse: Ora, o povo cometeu grande pecado, fazendo para si deuses de ouro. Agora, pois, perdoa-lhe o pecado; ou, se não, risca-me, peço-te, do livro que escreveste.”
Salomão (por um coração sábio, 1Rs 3.6–9);
Oração do Senhor, por meio da qual ele ensinou seus discípulos a orar, é sem dúvida caracterizada como breve (Mt 6.9–13; Lc 11.2–4).
O Senhor condena plena e cabalmente a oração vazia, irrefletida, verborrágica, supersticiosa.
Por outro lado, não pensa de modo algum em interditar uma oração longa, fervorosa e confiante, a luta de oração que, em certas circunstâncias, pode durar até uma noite toda (cf. a oração de Jacó até o nascer do sol).
O apóstolo Paulo diz: “Orai cem cessar”. Nisso ele está bem de acordo com o seu Mestre, para que essa oração persistente não seja desvirtuada em religiosidade mística, em fanatismo, mas permaneça sob a constante disciplina do Espírito e aconteça sempre na sobriedade bíblica.
Apesar disso, continua válido que a “oração incessante” é e permanecerá sendo o ofício do cristão autêntico.
Pois “orar” não significa apenas dedicar de manhã e à noite alguns minutos à oração, mas traduz que se encontrou uma nova existência, um novo modo de ser, mais precisamente um modo que controla a vida toda.
Orar significa que a vida toda tornou-se um diálogo com Deus, um diálogo que perdura até as eternidades e que não sofre nem um segundo de interrupção pela morte.
Charles Spurgeon diz que as orações cristãs são medidas pela sinceridade, e não pela duração.
Quem não ora sempre vê o lado avesso do tapete e do vitral da igreja, vê tudo incerto e confuso.
Mas quem ora vê a estampa maravilhosa do tapete e a figura esplendorosa do vitral. Até no fato incompreensível vê a marca de Deus.
Mateus 6.8 “Não vos assemelheis, pois, a eles; porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais.”
Eis o que Jesus quis dizer: “Não deveis aproximar-vos de vosso Pai com a ideia de que ele está desinformado, completamente ignorante das vossas necessidades, e que tendes de explicar-lhe detalhadamente a vossa situação para que ele entenda.
Ao contrário, antes mesmo que comeceis a orar, vosso Pai já conhece as vossas necessidades”.
Alguém poderia objetar: “Então, por que fazer oração?” Todavia, quem faz tal objeção não compreende o sentido real.
Jesus não estava condenando o derramar o coração diante de Deus, nem mesmo quando esse ato contém uma breve declaração de certos fatos já conhecidos de Deus (ver, por exemplo, muitos dos salmos).
Salmos 81.10 “Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito. Abre bem a boca, e ta encherei.”
Mateus 7.7 “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á.”
O que Cristo condena é o espírito de medo e desconfiança que faz com que os pagãos, que não reconhecem o Pai celestial, balbuciem mais e mais, na crença de que de outro modo seus deuses não estariam completamente informados nem suficientemente aplacados, e assim pudessem conceder o que seus adoradores lhes pediam.
Um cristão não imita os hipócritas fazendo cócegas em sua vaidade espiritual, mas ele se deleita em Deus, seu Pai (6.6).
A oração é uma conversa íntima com o Pai.
Orar é deleitar-se em Deus, mais do que rogar as bênçãos de Deus.
A dádiva, por mais excelente, não serve como substituto do doador.
Deus é melhor do que suas bênçãos.
O que podemos concluir!
O que podemos concluir!
1. Quando uma pessoa tem o real desejo de encontrar um lugar no qual possa estar em secreto com Deus, geralmente acabará por encontrá-lo.
Em todos os nossos deveres, seja dar, seja orar, a questão fundamental que nunca deveríamos esquecer é que estamos tratando com um Deus que perscruta o coração e sabe todas as coisas.
Tudo que seja mera formalidade, afetação ou que não provenha do coração é abominável e sem valor aos olhos de Deus.
2. Ele não leva em conta com quanto dinheiro contribuímos, ou o número de palavras que usamos.
O que realmente importa aos olhos de Deus é a natureza dos motivos e o estado do coração.
Nosso Pai celeste “vê em secreto”.Que todos nós lembremos essas coisas! Eis aqui uma pedra que é a causa de naufrágio espiritual de muitas pessoas.
Elas bajulam a si mesmas com o pensamento de que tudo deve estar certo com suas almas se ao menos desempenharem certa quantidade de deveres religiosos.
Esquecem-se de que Deus não presta atenção à quantidade, mas, sim, à qualidade de nosso serviço. O favor divino não pode ser comprado, conforme alguns parecem supor, pela repetição formal de certo número de palavras, ou por justiça própria, pagando alguma quantia em dinheiro a uma instituição de caridade.
No que temos posto o coração?
No que temos posto o coração?
Estamos fazendo tudo, seja dar ou orar, “como ao Senhor, e não como a homens” (Ef 6.7)?
Será que compreendemos o que realmente importa aos olhos do Senhor?
Será que apenas e simplesmente desejamos agradar àquele que “vê em secreto”, àquele que “pesa todos os feitos na balança” (1Sm 2.3)?
Estamos agindo com sinceridade?
Com perguntas desse tipo é que deveríamos sondar diariamente nossas almas.
Deus a recompensará, diz o texto bíblico. No grego o verbo “recompensar” significa “devolver o que se recebeu”, “saldar uma dívida”. Portanto, Deus considera a oração como nosso presente a ele, o qual ele nos devolve, como dívida que ele tem conosco e que ele salda a nós à maneira divina.
Com a palavra da oração em local oculto, porém, Jesus jamais quis dizer que seus discípulos somente poderiam orar num quartinho. Jesus não interditou a oração comunitária na sinagoga. Ele próprio costumava ir à sinagoga.