Introdução das cartas de Paulo a Timóteo 1 e 2
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Teólogo Maurício Rafael Kriger
FACULDADE TEOLÓGICA CONGREGACIONAL - FACTECON
INTRODUÇÃO ÀS CARTAS DE 1 E 2 TIMÓTEO
INTRODUÇÃO
“Tu, pois, filho meu, fortifica-te na graça que está em Cristo Jesus.” (2Tm 2.1)
A graça e a paz de Jesus a todos, em especial aos cursistas do Curso Bíblico
Online, que a FACTECON tem promovido com o objetivo de edificar a nossa vida de
fé, e nos fortalecermos no conhecimento da Palavra de Deus.
Hoje, queremos refletir nas cartas de Paulo ao seu filho na fé, Timóteo. São
duas cartas excepcionais, com detalhes profundos, e como sempre - atual aos
nossos dias.
João Calvino, 500 anos atrás afirmava, “uma carta altamente relevante ao
nosso tempo”, e com a mesma precisão podemos afirmar, uma carta atual,
contemporânea aos nossos dias.
Em meio às muitas confusões em muitas igrejas, as cartas de Paulo a
Timóteo, em especial a primeira, oferecem claros ensinamentos sobre a
organização eclesial. Em meio ao pluralismo, onde cada pessoa é uma verdade,
Paulo nos convoca a defendermos uma única verdade, o Evangelho. Em meio ao
relativismo, onde tudo é relativo, na qual ninguém é dono da verdade, o apóstolo
nos convida a permanecermos na verdade de Cristo Jesus.
Num mundo onde tudo é tomado como relativo, e lamentavelmente muitas
igrejas tem descambado em tais inverdades, a carta de Paulo a Timóteo nos lembra
e exorta que a Igreja parte de princípios, valores, verdades e doutrinas que
promovem a obediência Deus, a ordem nas igrejas locais e a paz entre irmãos,
quando nos submetemos ao Senhor da igreja, Cristo Jesus.
Essa introdução visa ser um guia, esclarecendo e contribuindo para que a
leitura do texto se torne mais clara. Para isso começaremos por quem era Timóteo.
QUEM ERA TIMÓTEO?
A primeira referência a Timóteo encontramos em Atos 16.1-3, quando Paulo
na segunda viagem missionária (49-50 d.C), passando pelos lugares onde havia
pregado o evangelho na primeira viagem missionária (46-48 d.C), chegou a
Listra, encontrando ali a Timóteo, filho de uma Judia cristã e um pai grego, um
jovem com bom testemunho. Paulo, então, resolveu levá-lo consigo nas viagens
missionárias, e a partir desse momento iniciou-se uma relação de pai e filho.
Muito provavelmente, Timóteo foi fruto da primeira viagem missionária de
Paulo, quando passou pelas regiões da Galácia. Timóteo foi geração espiritual por
intermédio da pregação de Paulo, e por isso Paulo o tratava como verdadeiro filho
na fé (1Tm 1.2).
Teólogo Maurício Rafael Kriger
Paulo lembra que Timóteo, desde muito jovem (desde a infância 2Tm
3.15), já conhecia as sagradas letras, o qual tinha uma fé sem fingimento, a mesma
que também houvera na avó, Lóide, e na mãe, Eunice (2Tm 1.5).
Esse jovem, passou a ser um dos maiores colaboradores do Apóstolo
Paulo, seguindo-o de perto, pregando o Evangelho, confirmando a fé em pessoas e
comunidades, sendo então ordenado ao ministério com imposição de mãos (1Tm
4.14; 2Tm 1.6).
Timóteo cooperou, auxiliando o Apóstolo Paulo na igreja em Tessalônica,
“para confirmar e exortar a fé” (1Ts 3.2); na igreja em Corinto, “lembrando dos
caminhos de Cristo Jesus” (1Co 4.17); na Igreja em Filipos, “colhendo informações
da situação da igreja”; e por último em Éfeso, “para admoestar certas pessoas que
estavam ensinando outra doutrina” (1Tm 1.3).
Timóteo havia se tornado um grande líder da Igreja, alguém pelo qual o
apóstolo tinha um sentimento todo especial, pelo fato de Timóteo buscar os
interesses de Cristo sobre as igrejas e não os próprios interesses, e por esses
motivos tinha um caráter provado, pois serviu ao evangelho juntamente com o
apóstolo. (Fp 2.20-22).
Quando Paulo enviou as cartas para Timóteo, o mesmo estava em Éfeso.
Queremos agora entender o contexto dessas duas cartas, para compreendermos
as motivações do Apóstolo em enviar essas duas cartas.
AUTOR DAS CARTAS
“Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, pelo mandato de Deus, nosso salvador, e
de Cristo jesus, nossa Esperança, a Timóteo, verdadeiro filho na fé.” (1Tm 1.1,2)
Através da abertura de ambas as cartas encontramos o autor das cartas,
Paulo, Apóstolo de Cristo. Porém, desde 1935 muitos questionamentos foram
levantados sobre a autoria de Paulina em ambas as cartas. Schlaeirmacher foi um
dos primeiros a questionar, e logo após Ferdinand Baur Tübingen, rejeitou
totalmente a autoria Paulina, pelo fato do uso de muitos termos diferentes, não
encontrados nas demais cartas e pela falta de localização das menções
geográficas nas cartas de acordo com o livro de Atos, portanto o mesmo
atribuiu a escrita das cartas a um discípulo de Paulo e que o mesmo usou o nome
do apóstolo para inferir autoridade ao escrito.
No entanto, muitos teólogos se dedicaram em defesa da autoria de Paulo, e
destaco aqui as evidências que corroboram para autoria de Paulo.
1. Evidências internas
a. Paulo mesmo se denomina autor da carta;
b. A pessoalidade das cartas - são as duas mais pessoais do apóstolo
Paulo - Pai, verdadeiro filho, amado filho
c. Referência a ordenação de Timóteo (1Tm 1.18; 4.14; 2Tm 1.6)
d. Referência a fé da avó, mãe e da fé sem fingimento em Timóteo (2Tm
1.5)
e. Problemas gástricos que Timóteo tinha (1Tm 5.23)
Teólogo Maurício Rafael Kriger
f. Paulo lembra das lágrimas de Timóteo (2Tm 1.4)
Apenas essas evidências internas nos dão total amparo para a autenticidade
paulina nas duas cartas.
2. Evidência externas
a. Toda a igreja desde o primeiro século considerava genuína a autoria de Paulo
em 1 e 2 Timóteo.
A questão da diversidade do vocabulário, o que motivou a rejeição de
Ferdinand, dá-se pela pessoalidade de Paulo com Timóteo e as questões
geográficas, pela falta de informações em Atos, dá-se pelo fato de que Lucas não
poderia ter mencionado todas as informações das viagens missionárias do Apóstolo,
pois Lucas finaliza Atos com Paulo na prisão em Roma, e muitas fontes externas,
extra-bíblicas afirmam que Paulo havia sido solto, empenhado numa quarta viagem
missionária, sendo após isso novamente preso, julgado e sentenciado a morte.
O QUE MOTIVOU PAULO A ESCREVER AS CARTAS?
1 Timóteo
Podemos separar as motivações em duas partes: Timóteo e a igreja em
Éfeso.
Timóteo era um jovem missionário com aptidões pastorais (+/- 30 anos de
idade) que havia sido encarregado de permanecer em Éfeso, quando passava
pela Macedônia, juntamente com Paulo, com um propósito principal: “para
admoestar certas pessoas, a fim de que não ensinem outra doutrina, nem se
ocupem com fábulas e genealogias sem fim, antes, promovem discussões, do que o
serviço de Deus na fé” (1Tm 1.3,4)
Haviam sérios problemas com a liderança da igreja.
a. Falsos ensinos, os quais fugiam da verdade do Evangelho;
b. problemas de caráter com a liderança;
c. questões doutrinárias;
d. com a organização eclesial.
Paulo então deixa Timóteo encarregado da missão de colocar as coisas
em ordem.
Paulo deixou Timóteo em Éfeso e continuou sua jornada pela Macedônia,
e momentos depois enviou a carta para fortalecer a Timóteo. Paulo, estava
preocupado com o futuro do Evangelho. Paulo temia que o falso ensino
acabasse derrotando a fé nas pessoas.
Na carta mesmo Paulo menciona exemplos claros de muitas pessoas
que haviam abandonado evangelho (Himeneu, Alexandre, Fígelo, Hermógenes,
Demas, Alexandre - 1Tm 1.20; 2Tm 1.15;4.10,14)
Paulo, temia que o mesmo pudesse acontecer com Timóteo, por conta da
pressão dos falsos mestres e os grandes desafios.
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Timóteo, longe de ser um deus, um homem perfeito, estava sujeito a
fraquezas, desânimos, tentações da mocidade. E o apóstolo conhecia essa
realidade, e para isso envia a carta para exortá-lo a permanecer firme e fiel.
1. Timóteo era jovem (4.12)
Por ser jovem, Timóteo poderia ter problemas com a liderança. Os
gregos não aceitavam muito os conselhos dos jovens. Paulo insiste
em que ninguém desprezasse sua mocidade, e para isso Timóteo
deveria conquistar as pessoas pelo exemplo, caráter, amor,
palavra e a fé.
2. Timóteo era tímido, precisava de encorajamento (1.7)
Ao que tudo indica, Timóteo era tímido e retraído. E para isso Paulo o
exorta a não negligenciar o dom que havia nele que havia recebido
mediante profecia e imposição de mãos e por isso, deveria combater
firmado na Palavra de Deus, fortificando-se na graça de Cristo.
Mediante os desafios, Timóteo deveria manter acesa a chama do dom, não
se envergonhando do testemunho de Jesus, mantendo o padrão das sãs palavras,
fortificando-se na graça, evitando falatórios inúteis, apresentando-se aprovado
diante de Deus, permanecendo naquilo que havia sido ensinando e pregando a
Palavra de Deus em todo tempo.
A carta pode ser dividida em 6 partes, segundo John Sott:
a. A doutrina da igreja (1.3-20)
Preservá-la e mantê-la intacta dos falsos mestres.
b. Culto público na igreja (2.1-15)
Oração e a funções dos homens e mulheres .
c. Função pastoral (3.1-16)
Condições para a eleição dos pastores e diáconos.
d. Instruções morais para piedade na vida pessoal (4.1-10)
e. Responsabilidades sociais da igreja (5.3-6.2)
Viúvas, anciãos, escravos e senhores.
f. Sobre as questões da riqueza (6.3-10)
Resumindo são instruções sobre a doutrina na igreja, o governo da igreja
e o culto público. Aqui há sabedoria para todas as igrejas de todos os tempos. A
bíblia ainda fala hoje!
“Escrevo-te estas coisas, esperando ir ver-te em breve; para que, se eu
tardar, fiques ciente de como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do
Deus vivo, coluna e baluarte da verdade.” (1Tm 3.14,15)
2 Timóteo
A segunda carta de Paulo a Timóteo é o último escrito de Paulo, 64 d.C. É
a última carta do apóstolo, tanto que é uma das mais pessoais. O tom da carta é de
Teólogo Maurício Rafael Kriger
despedida. Em lugar de exortar Timóteo a colocar as coisas em ordem nas igrejas,
Paulo chama Timóteo para perto, rogando ao jovem a permanecer fiel! O
apóstolo estava frente a morte, preso em roma, aguardando apenas a sentença da
morte.
Haviam muitos desafios, muitos falsos ensinos, sincretismo religioso e o que
restava ao Apóstolo era deixar Timóteo preparado. Por isso as Palavras do apóstolo
são altas e claras para Timóteo.
a. Te admoesto, reavives o dom que há em ti 1.6
b. Não te envergonhes 1.8
c. Mantém o padrão 1.13
d. Fortifica-te na graça de Jesus 2.1
e. O que ouviste, transmite a homens fiéis 2.2
f. Procura apresentar-se a Deus aprovado 2.15
g. Evita falatórios inúteis 2.16
h. Foge das paixões da mocidade 2.22
i. Tu porém permanece naquilo que aprendeste 3.14
j. Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, prega a Palavra, insta, quer seja
oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda longanimidade e
doutrina. 4.1,2
Após isso, eu imagino Paulo escrevendo as palavras mais profundas e
emocionantes em sua vida. Com lágrimas nos olhos, mas com o coração
transbordante de alegria.
“Quanto a mim, estou sendo oferecido por libação, e o tempo da minha
partida é chegado. Combati o bom combate, completei a carreira, e guardei a
fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me
dará naquele dia; e não somente a mim, mas a todos quantos amam a sua vinda.”
2Tm 4.6-8)
Nada melhor do que terminar bem, com a certeza da missão cumprida!
Nada melhor do que vivermos com a certeza que estamos lutando um bom
combate. O combate pelo evangelho, é um bom combate, era essa a certeza no
Apóstolo Paulo. Nada foi em vão!
Um dos motivos de Paulo ter escrito a segunda carta, era pelo fato de Timóteo
ir depressa ter com o Apóstolo (4.9). Muitos já haviam abandonado o
Apóstolo, apenas Lucas estava com ele. Então rogava para que timóteo
preparasse homens fiéis para permanecer em Éfeso, cuidando da igreja e partisse
para se encontrar ainda com o apóstolo antes da execução, na certeza de que a
Palavra de Deus não está algemada (2.9).
São duas cartas excepcionais. Duas cartas profundas e com muitos
ensinamentos. Não eram cartas apenas para Timóteo. São cartas para todas as
igrejas em todos os tempos! Que Deus nos conceda a graça de vivermos a sua
pura Palavra. Nos dê graça para sermos achados fiéis no testemunho, na
doutrina e no governo da igreja.
Teólogo Maurício Rafael Kriger
QUAL A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DESSAS CARTAS? (Willian Hendriksen)
1. Administração eclesiástica;
2. Enfatiza a sã doutrina;
3. Exigem uma vida consagrada;
“Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repressão, para a
correção, para educação na justiça, a fim de que o homem de Deus eja perfeito e
perfeitamente habilitado para toda boa obra.” (2Tm 3.16,17)