A oração dominical

Rev. Weinne Santos
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Transcript

Introdução

Abram suas bíblias em Mateus 6.7-13.
Matthew 6:7–13 ARA
7 E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos. 8 Não vos assemelheis, pois, a eles; porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais. 9 Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; 10 venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu; 11 o pão nosso de cada dia dá-nos hoje; 12 e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; 13 e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal [pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém]!
Já teve algum momento em que você simplesmente não sabia como orar? Sabe, simplesmente, não sabe o que dizer. Não sabe por onde começar. Falta-lhe a vontade, a concentração. Faltam-lhe as palavras, a intimidade, o compromisso. Já se sentiu assim?
isso não é surpresa na vida do cristãos. Ainda que saibamos que Deus escuta nossas orações, que ela é alimento para nós, que sem ela seremos desnutridos espiritualmente, por vezes nos afastamos, e quando voltamos, nem sabemos por onde começar.
Felizmente, Deus nos deu modelos de oração. A Bíblia nos ensina a orar. Ao conhecer a espiritualidade dos personagens bíblicos como os profetas, percebemos que a oração deles está cheia de citações dos salmos.
Pegue por exemplo a história de Jonas. Jonas era um profeta que fugiu de seu chamado repetidas e repetidas vezes. Ele não queria saber do que Deus havia proposto a ele, não queria ouvir nem falar com Deus.
Porém, quando engolido pelo grande peixe, encurralado por Deus, ele orou. E algo que percebemos em sua oração é que ela era repleta dos Salmos. Ela ecoa a linguagem bíblica, a linguagem dos salmos.
“Na minha angústia clame ao SENHOR, e ele me respondeu” é uma citação de Salmo 18.6. Em toda a oração de Jonas temos alusões e referências aos Salmos 3, 5, 16, 18, 31, 42, 50, 65, 88, 120.
Quando você estiver na situação de Jonas, orando em meio a profundezas e buscando palavras para conversar com Deus, você pode recorrer à linguagem que o próprio Deus nos revelou na Escritura.
No sermão do Monte, temos Jesus pregando a um povo que perdeu o seu norte em muita coisa relacionada a espiritualidade. Jesus está pregando a um povo que, seguindo os fariseus, estava confuso espiritualmente. Eles não jejuavam para buscar a Deus, mas para ganhar recompensa terrena. Não davam esmolas para demonstrar amor e misericórdia, mas para serem visto. Não oravam para serem ouvidos em secreto por Deus, mas para terem o seu ego afagado por outros.
Por isso ele nos ensina a não exercer justiça como os fariseus (v. 1), não dar esmolas como os fariseus (v. 2-4), não orar como os fariseus (v. 5-6) e não jejuar como os fariseus (v. 16-18). Nesse meio tempo, ele abre um parênteses, entre os versículos 9 até o versículo 15, para nos dar um modelo de como devemos orar.
Vejamos os versículos 7 e 8. Depois de nos dizer para não orar como os fariseus, Jesus nos diz também que não devemos orar como os gentios. Veja, o fato dos fariseus não serem um bom modelo não quer dizer que não haja modelo algum. Certo, os religiosos da época não eram um bom parâmetro, mas os gentios também não são, muito embora sejam sinceros em suas práticas religiosas. Há quem pense que para uma oração ser boa, basta ela ser sincera. Você já deve ter ouvido alguém dizer assim: “O que importa para Deus é que sejamos sinceros em nosso coração…”. Isso pode ser até bonito, mas não é bíblico. Deus não aceita toda devoção sincera, porque é possível estar sinceramente errado. Deus aceita a adoração, a oração, a devoção que é feita segundo o que ele mesmo ordenou em sua Palavra. Não apenas sinceridade, Deus requer de nós fidelidade.
Os gentios, conforme Jesus nos ensina, oram com vãs repetições. Eles enchem sua oração com palavreado inútil, vão, sem sentido. E fazem isto pensando que se orarem por muito tempo, serão ouvidos por sua divindade.
Se você cresceu num lar católico, como eu, sabe bem como é isso. Dez ave-maria, um Pai Nosso. Mais dez ave-maria, um Pai nosso. E vai contando nas bolinhas do terço.
Não devemos orar assim. A nossa oração não deve ter por objetivo manipular a Deus, como se pudéssemos obrigá-lo a fazer nossa vontade. Hoje em dia muita gente tem orado dessa maneira. Fazendo campanhas de oração. Se você abrir o YouTube, tem falsos pastores, falsos mestres por aí ensinando “oração para ganhar a bênção, oração para obter vitória, oração para isto ou aquilo”, como se fossem fórmulas prontas, métodos de controlar a Deus. Outros tem determinado a Deus que se faça isto ou aquilo. Os gentios é que adoram assim. Eles levam para lá e para cá seus ídolos, suas esculturas, como se pudessem manipular o divino.
Nós não, meus irmãos. Nós cremos num Deus que já conhece nossas necessidades, num Deus soberano que não pode ser domesticado. A oração não tem por objetivo mudar a Deus. Sim, Deus responde a nossa oração. Ele muitas vezes nos dá aquilo que pedimos. Mas o faz como um Pai que concede a seus filhos o que eles de fato precisam, e que fazem da oração uma expressão de sua dependência. Nós oramos para nos aproximar de Deus, para ter intimidade com Deus, como um meio de graça, uma expressão da nossa devoção a Deus. E quando oramos, expressamos nossa confiança em Deus, lançamos sobre Deus nossas preocupações. Ou seja, ao contrário de querer controlar a Deus, somos dirigidos por Ele.
Aqui, meus irmãos, temos a oração modelo. Ela serve como parâmetro para nós, para avaliar nossas devoções. Isso não significa que devemos repetir o tempo todo exatamente essas palavras. Por vezes, fazemos isso, quando oramos juntos a oração dominical. Devemos tomar cuidado para não cair num formalismo. Mas as características dessa oração de Jesus deve estar presentes nas nossas orações. Que características são essas?

Em nossa oração, nos dirigimos ao nosso Pai celeste

Em primeiro lugar, devemos saber a quem oramos. A nossa oração deve ser dirigida ao nosso Pai Celestial. Jesus começa a oração com uma invocação, ele diz "Pai nosso" (v. 9). Jesus nos mostra que podemos chamar Deus de "Pai". Ele não está apenas dizendo que ele é o Filho de Deus, mas que esse Deus também é nosso Pai, por isso ele diz "Pai nosso". A obra de Jesus Cristo nos insere na família de Deus.
Chamar Deus de Pai é um divisor de águas na espiritualidade cristã. No Antigo Testamento em alguns momentos o próprio Deus se referiu a Israel como um filho, e ele é chamado de Pai da Criação, e é dito que ele é como um pai para Israel. Contudo, é no Novo Testamento que esse termo nos diz muito mais a respeito de Deus e de como nos relacionar com ele.
Quando Jesus apresenta Deus como o nosso Pai, isso nos diz muita coisa a respeito de como Deus se relaciona conosco. Ele cuida de seus filhos, sustentando e suprindo todas as necessidades. Ele protege seus filhos, livra-os do mal. Ele ensina seus filhos, e até mesmo disciplina quando necessário. Em tudo ele ama seus filhos.
Jesus também diz que ele é o pai "que está nos céus". Isso mostra que existem algumas diferenças entre o nosso Deus e um pai terreno. Ele é um pai perfeito. Pode ser que a sua imagem do que é um pai seja manchada, por causa do pecado que há no mundo. Mas em Deus temos um pai perfeito. Ele nunca peca e nunca nos abandona. Ele também é um Pai ilimitado. Ele sempre será capaz de cuidar de seus filhos. Ele é o Criador, Senhor do Universo, e por isso é capaz de dar qualquer coisa que seus filhos precisem.
Além disso, apesar de ser nosso Pai, ele ainda está sobre nós, é nosso Senhor, e a ele devemos reverência. O relacionamento com Deus deve envolver tanto intimidade quanto reverência.
Assim como é o relacionamento que costumamos ter com nosso pai terreno. Veja, eu cresci numa cultura onde você deve tomar bênção de seus pais, você deve chamar seu pai de “Senhor” e não deve se referir a ele de maneira desrespeitosa. Afinal, ele é seu pai, e não seu amigo da escola. Infelizmente, esse senso de respeito tem se perdido em nossa geração. Há muitos pais hoje em dia que não querem exercer autoridade sobre seus filhos, mas buscam ser amigos de seus filhos. Isso é um grande perigo. Corremos o risco de perder esse senso de reverência, que aponta para como devemos nos relacionar com o próprio Deus.
Porque veja, há cristãos hoje em dia que enfatizam tanto a intimidade com Deus que deixam de lado a reverência. Há um tempo atrás virou moda iniciar a oração chamando Deus de “paizinho”, coisa que não tem base bíblica. E há quem se refira a Deus como “você”. Imagina só, chamar Deus de “você”! Vai lá, experimenta chamar o juiz de “você”. Chame o ministro do Supremo de “você”, e veja o que acontece. Por que deveríamos tratar ao nosso Pai Celeste com menor respeito?
Um adendo, meus irmãos, mas não menos importante: a nossa oração é comumente dirigida ao Pai. Não ao Filho, nem ao Espírito, mas sim ao Pai. É claro, as três pessoas da Trindade são igualmente importantes, igualmente dignas de louvor e glória. Contudo, há uma ordem, uma economia na trindade. O Pai é quem tudo decreta, tudo decide, tudo governa. O Filho é quem executa seus decretos, quem realiza a obra redentora. E o Espírito é quem nos vivifica, aplica em nós a salvação. Na oração, isso funciona assim: oramos ao Pai, pela mediação de seu Filho, Jesus Cristo (e é por isso que dizemos: “em nome de Jesus”), pelo poder do Espírito Santo que opera em nós.
Então, meus irmãos, a quem oramos? Oramos a nosso Pai celestial, o Pai perfeito, que nos sustenta, nos supre; e também é nosso Senhor, está sobre nós e é digno de toda reverência.

Em nossa oração, priorizamos o Reino de Deus

Em segundo lugar, vemos aqui qual deve ser a nossa prioridade em nossas orações. A nossa oração deve priorizar o Reino de Deus. Veja que na oração dominical nós temos seis pedidos, seis petições. E podemos dividi-los em duas seções. As três primeiras petições tem a ver com a glória, o Reino, a vontade de Deus. As três últimas tem a ver com nossas necessidades: o pão diário, o perdão e a vitória sobre o mal.
Isso nos mostra que a glória de Deus deve vir primeiro em nossas orações, antes das nossas necessidades.
Às vezes oramos tão rápido, em tão pouco tempo, em nossas vidas tão corridas, que podemos passar pela oração como se estivéssemos fazendo um checklist para Deus: "Deus, abençoa minha família, sustenta minha casa, paga minhas contas, faça isto, faça aquilo, faça aquilo outro". Estamos tão atolados de preocupações que nos esquecemos do que deve tomar o primeiro lugar em nossa oração.
Na nossa oração deve vir primeiro o reino de Deus, e só depois as nossas necessidades.
A primeira petição diz: "santificado seja o seu nome" (v. 9). Pode parecer estranho para nós a ideia de "santificar" o nome dele, mas a ideia é de que devemos reverenciar, honrar, glorificar e exaltar o nome de Deus, e também desejamos que esse nome seja reverenciado, honrado e exaltado em toda a Terra.
Nos tempos antigos, o nome tinha um significado que se perdeu hoje. Hoje em dia, várias pessoas levam o mesmo nome, com algumas exceções, mas naquele tempo nome de uma pessoa trazia consigo uma característica de quem levava o nome. O nome referenciava a própria essência do indivíduo.
É por isso que o terceiro mandamento diz que não devemos usar o nome de Deus em vão. Ridicularizar o nome de Deus, usar esse nome para coisas vãs, para brincadeiras fúteis, é algo que desconsidera totalmente a reverência que esse nome merece. Quem ama a Deus deve ter zelo pelo nome de Deus, deve desejar que seja honrado, e sempre vai defender quando esse nome estiver em conversas fúteis.
A oração não deve ser uma conversa inútil com Deus. Jesus nos alerta para os que oram dizendo palavras inúteis, como se pelo muito orar agradassem a Deus. Algo notável nessa oração é que, diferente das orações dos pagãos, ela é concisa, curta. As orações que vemos na Bíblia raramente são longas.
A oração deve levar em conta a honra que o nome de Deus merece. Sabe quando deixamos pra orar antes de dormir, e estamos com tanto sono que nem sabemos mais o que estamos falando... Deveríamos dedicar o melhor tempo do nosso dia para Deus.
Dizer “santificado seja o teu nome” significa que aquele que tem uma comunhão com o Pai deseja que o nome dele seja reconhecido, reverenciado, exaltado em toda a terra. Isso significa desejar que o nome dele seja conhecido em toda a terra, o que nos leva para a próxima petição.
A segunda petição diz: "Venha o teu Reino" (v. 10). Isso significa que desejamos que Cristo exerça a sua soberania, o seu senhorio, em minha vida e sobre toda a Criação. Esse pedido significa que eu desejo me submeter cada vez mais ao senhorio de Cristo. Eu desejo reconhecer cada vez mais Cristo como meu Senhor e Rei, e desejo que a sua vontade seja obedecida sobre toda a terra.
Veja, o Reino de Deus é onde Cristo exerce o seu reinado. É claro, Deus reina sobre toda a terra, em seu reinado cósmico. Mas Cristo vem para cumprir aquele mandato criacional, que Adão falhou em cumprir, de dominar sobre toda a Criação. Cristo veio inaugurar o reinado messiânico. E embora Cristo já reine nos céus e sobre a sua igreja na terra, a Bíblia diz que ainda não vemos tudo a ele sujeito, conforme Hebreus 2.8. O reino de Deus já é uma realidade, mas ainda vivemos num mundo que não se sujeita a Cristo. Aguardamos o dia da consumação, em que tudo será, por fim, colocado sob os pés de Cristo.
Quando vemos a corrupção na política, a violência nas ruas, quando percebemos que nenhum modelo socioeconômico pode resolver os problemas que são causados, em última instância, pelo pecado, isso deve nos levar a clamar: “Venha o teu Reino!”. Quando olhamos o nosso próprio pecado, a rebelião em nosso coração, a nossa falha em cumprir a Lei de Deus e viver segundo os seus preceitos, isso deve nos levar a pedir: “Venha o teu Reino!”. Queremos o justo governo de Deus.
Esse pedido também significa que desejamos que mais pessoas reconheçam o senhorio de Deus. Devemos desejar que mais corações experimentem o poder transformador de Deus. Isso deve nos mover para a evangelização. Se desejamos que o Reino cresça, então precisamos anunciar o evangelho. Em nossa oração, podemos orar pela justiça, orar pela igreja, pela evangelização, pela conversão de amigos e familiares que ainda não conhecem a Cristo.
A terceira petição diz "faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu". Quando falamos de vontade de Deus, há duas coisas as quais podemos estar nos referindo. Podemos estar nos referindo aos decretos de Deus, à forma com a qual ele conduz a história. Nesse aspecto, a "vontade de Deus" está sempre sendo realizada, no céu e na terra. Nada acontece fora dos planos de Deus. Mas não é a esse tipo de vontade que a oração está se referindo.
A oração se refere à vontade prescrita, revelada de Deus. Ele se refere à lei de Deus, à vontade de Deus que deve ser obedecida por nós. Quando dizemos "seja feita tua vontade, assim na terra como no céu", queremos que a vontade revelada do Pai seja obedecida na terra como ela já é obedecida no céu. No céu, os anjos o louvam, as criaturas celestiais veem a sua glória, e elas não caíram em pecado. Quando oramos assim, desejamos que nossas vidas reflitam mais e mais a santidade de Deus. Desejamos ser parecidos com Cristo, ser submissos como Cristo é.
Quando pensamos que todas as coisas já foram decretadas por Deus, talvez tenhamos a seguinte dúvida: por que então orar, se está tudo determinado? Uma resposta é que a Bíblia garante que Deus responde nossas orações. Ainda que tudo esteja decretado, ele pode usar nossa oração para cumprir os seus propósitos.
Outra resposta é que a oração não muda Deus, mas muda a nós mesmos. Quanto mais oramos, mais íntimos ficamos de Deus, e mais conformados à sua vontade. Quando oramos dizendo "seja feita tua vontade", nos rendemos perante a soberania dele.
Como Jonas, que ali na barriga do peixe grande decidiu seguir o que Deus estabeleceu para ele. Como o próprio Jesus, que no Getsêmani, suando sangue, orou: "Pai, se possível afasta de mim esse cálice. Contudo, seja feita tua vontade."
Em nossa oração, devemos nos render diante da vontade de Deus. Devemos nos submeter. Se há algum conflito entre o que eu quero e o que Deus quer, então que prevaleça a vontade dele. Devemos pedir para que ele trabalhe em nós, para que vivamos cada dia mais sua boa e perfeita vontade.

Em nossa oração, expressamos nossa dependência

Em terceiro lugar, meus irmãos, a oração deve ser expressão de nossa dependência. As últimas três petições dizem respeito às nossas necessidades pessoais e diárias.
A próxima petição diz "o pão nosso de cada dia dá-nos hoje". E a primeira coisa que deve vir à nossa mente ao fazer essa petição é a realidade de que é Deus que nos sustenta, assim como sustentou o povo israelita no deserto. É interessante que Jesus diz "o pão nosso de cada dia". Primeiro, é pão, é o alimento básico, diário, aquilo que sustenta. É o nosso feijão com arroz. Segundo, é o pão diário, é o pão necessário para cada dia, nem mais, nem menos. É uma oração que demonstra uma confiança em Deus, sabendo que até hoje ele tem nos sustentado dia após dia, e amanhã vai continuar nos sustentando.
Isso nos mostra que devemos ser moderados em nossos desejos e solicitações. O que Jesus pede é pão, não é caviar. Deus não tem a mínima obrigação de sustentar os seus luxos, seus sonhos de grandeza. É um mal terrível que a teologia da prosperidade faz, quando inventa um falso deus, a quem podemos determinar que nos dê o que quisermos. Deus nos sustenta conforme a vontade dele, naquilo que é o realmente necessário para nós no momento presente. No livro de Provérbios, temos um pedido muito parecido (Pv 30.8-9).
Proverbs 30:8–9 RA
afasta de mim a falsidade e a mentira; não me dês nem a pobreza nem a riqueza; dá-me o pão que me for necessário; para não suceder que, estando eu farto, te negue e diga: Quem é o SENHOR? Ou que, empobrecido, venha a furtar e profane o nome de Deus.
Nem mais, nem menos. Basta o alimento de hoje para mim, para que eu continue confiando que é Deus que me sustentou hoje e continuará me sustentando amanhã.
Devemos confiar em Deus como uma criança confia no seu pai. Toda criança sabe que seus pais farão de tudo para que tenha comida na mesa. Criança nem sabe o que é boleto. Ela não se importa com crises econômicas. Ela só sabe que, não importa o que aconteça, seu pai vai dar um jeito. Assim devemos ser com nosso Deus. Não devemos andar ansiosos. Basta pedir, e Deus nos sustentará, ainda que isso não signifique viver em fartura o tempo todo.
Você depende de Deus. Você não depende da sua capacidade de obter dinheiro, do seu diploma, da sua produtividade, ou da estabilidade de seu cargo público. Também não depende do governo, da economia, do preço do dólar ou do índice inflacionário. Não confie nessas coisas. Em última análise, nós dependemos mesmo é de Deus.
Por isso, devemos ter humildade para pedir a Deus. Quando pedimos "Dá-nos", aceitamos o sustento como dádiva de Deus. Como ter esse tipo de humildade pode ser difícil! Há pessoas que detestam depender, recusam com todas as forças qualquer tipo de ajuda, por causa de seu orgulho. Mas, perante Deus, todos somos carentes, nada temos. Não há espaço para orgulho.
Essa petição também mostra que devemos ser generosos. Nós não pedimos só por nós. Nós dizemos "Dá-nos o pão de cada dia", e não "Dá-me o pão". Pedimos por nós e por toda a igreja. Isso deve nos mover também em olhar para a necessidade de outros, e a interceder pela necessidade dos irmãos.
A próxima petição diz: "perdoa-nos as nossas dívidas". Os judeus tratam o pecado como dívida. Ainda no evangelho de Mateus (Mt. 18:23-35), temos uma parábola que traz essa correlação entre um pecado e uma dívida. Quando pecamos, roubamos a Deus. Temos uma dívida, que é paga definitivamente por Jesus.
Devemos orar pedindo perdão. Sabemos que pecamos diariamente. Devemos orar pedindo perdão pelos pecados, mesmo que Cristo já tenha pago por eles. Deus perdoa pecados ainda que nunca peçamos perdão por eles, até porque há pecados que não conhecemos, que nem nos damos conta. No entanto, só desfrutamos desse perdão de Deus quando colocamos o pecado diante dele, com humilhação, com espírito de contrição.
Devemos pedir perdão porque não há menor chance de pagarmos nossa dívida. Quando devemos um dinheiro a alguém, nossa primeira reação é dizer algo como "me dê mais uma semana, e eu te pago!" Mas essa dívida é tão alta, que não há a menor chance de pagar. Por isso devemos pedir. Perdoa-nos as nossas dívidas é o pedido de alguém que sabe que precisa ser perdoado. É uma atitude de total humilhação, total rendição. "Não há nada que eu possa fazer".
O versículo ainda diz "assim como temos perdoado os nossos devedores" (v. 12). Quem é perdoado, perdoa. Perdoamos porque sabemos que não somos superiores a quem nos ofendeu. É impossível perdoar uma pessoa, quando nos achamos superiores a ela. Se você se sente magoado, incapaz de perdoar alguém que peco contra você, precisa perceber que qualquer ofensa, qualquer dívida, é minúscula em comparação com a dívida que temos para com Deus.
Quem não perdoa, está se colocando no lugar de Deus. Como na parábola do Filho Pródigo, em Lucas 15, o filho mais velho diz ao pai: "Como o senhor pode perdoar esse seu filho, que andou com meretrizes, que gastou todo seu dinheiro!" Ele se acha melhor juiz que o pai. Ele acha o julgamento do pai injusto. Ele quer ser mais justo que Deus.
Por isso devemos perdoar, generosamente, com disposição de coração, como Deus faz conosco. Ele não só perdoa, mas restaura seu relacionamento conosco, caminha conosco, e nos guia para que não caiamos mais no mesmo erro. Quando orar, peça perdão pelos seus pecados. Fale de cada um deles. Vá além, e fale daquilo que há em seu coração, dos maus desejos que te levam a pecar. Se humilhe perante Deus.
A última petição diz: "e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal" (v. 13). Nós somos frágeis, e inclinados ao pecado. Nós nos colocamos constantemente em situações que levam a tentações. A nossa cobiça, o nosso coração enganoso, por si só, já pode nos levar a pecar. Então o pedido é que Deus, sabendo de nossa fraqueza, nos ajude na luta contra o pecado.
Além disso, a palavra "mal" aqui pode traduzir tanto a ideia do "mal" como do "Maligno". Tanto pensamentos maus, acontecimentos maus, atitudes más, como também aquele que nos tenta para o mal. Nós somos inclinados ao pecado por natureza, e ainda estamos expostos à ação daquele que nos tenta para o mal.
O mesmo Deus que nos perdoa os pecados também habita em nós, nos constrange, se entristece com o pecado e trabalha pela nossa santificação. Por isso podemos pedir a ele que nos livre do mal e das tentações. Deus não nos tenta, mas nós mesmos, pela nossa cobiça, nos colocamos em situações em que somos tentados. Por isso, precisamos da graça de Deus para estar vigilantes, para não amar as coisas do mundo, para mortificar a carne e buscar as coisas do alto.

A nossa oração deve redundar em doxologia

Por fim, meus irmãos, a nossa oração deve redundar em doxologia, em adoração a Deus. Ele é o centro, ele é a razão de orarmos. Podemos perder isso de vista, tal qual os fariseus. A oração dominical é encerrada com uma doxologia: "pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre" (v. 13).
Em algumas traduções, esse trecho vem entre colchetes. Isso quer dizer que em alguns manuscritos mais antigos, esse trecho não aparece. Isso quer dizer que esse trecho não está na versão original, escrita por Mateus? Sinceramente, é difícil bater o martelo a esse respeito. É possível que os manuscritos mais recentes (que também são a maioria) estejam corretos, como também pode ser que os mais antigos estejam corretos. Mas isso não muda em nada a doutrina, a mensagem do texto em questão. Uma possibilidade é que esse trecho seja um encerramento, um “Amém”, usado pela igreja primitiva no culto público. Uma pessoa orava todo o Pai nosso, e no final a comunidade respondia com essa adoração a Deus.
Isso não significa que esse trecho não seja importante, ou que deva ser retirado de nossas bíblias. Pelo contrário, ela complementa a oração. Cada parte dessa doxologia atribui a Deus a glória por cada petição feita na oração.
Teu é o Reino: ele tem o domínio sobre todas as coisas. Por isso seu nome deve ser santificado. Por isso sua vontade deve ser feita. Por isso ele pode nos suprir de todas as coisas. Por isso ele tem autoridade para perdoar.
Teu é o Poder: ele tem poder para realizar cada um dos pedidos feitos. Ele tem poder para implantar seu Reino. Tem poder pra cuidar de nós. Tem poder para nos salvar.
Tua é a Glória: Todas as virtudes de Deus são refletidas nas suas obras. Sua bondade, amor, santidade, misericórdia, justiça, tudo isso é refletido no seu reinado, seu cuidado, seu perdão. Tudo isso é motivo para nos alegrarmos nele e o adorarmos para sempre.
Que assim seja nossa oração. Reconhecendo a santidade, o reinado, a soberania, o cuidado, a misericórdia e o livramento de Deus. Que nosso culto, tanto privado quanto público, seja guiado pela revelação de Deus. Que em tudo, ele seja glorificado para todo o sempre.
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