Sempre crescendo em Cristo - Efésios 1.15-23
Série: O Mistério da Igreja
Sermão: Efésios 1:15-23
Pregador: Pr. Rodrigo Serrão
Sempre crescendo em Cristo
Introdução
Vimos semana passada a explosão de louvor do apóstolo Paulo ao escrever para os Éfesios acerca do que é a igreja. Em linhas gerais Paulo mostra que a Trindade inteira participa deste processo (cada qual com a Sua função). O Pai planeja, o Filho executa, e o Espírito sela. A partir desta revelação, o louvor de Paulo se torna uma grande oração onde ele vai orar especificamente pela igreja para que esta também possa entender os mistérios de Deus e da igreja.
Irmãos, o que Paulo está mostrando aqui é que existe um mundo para ser explorado em nossa busca a Deus. O nosso relacionamento com o Senhor não pode se estagnar após a nossa conversão ou então estaremos fadados ao engessamento da religião.
A nossa relação com ele após a conversão é basicamente como a nossa relação com nossos cônjuges após o casamento. Antes de casarmos, temos uma idéia de quem será nossa futura esposa ou esposo. Não conhecemos como eles de fato são. A verdade é que muitos se casam no auge da paixão onde todos os defeitos são ignorados e relevados. Quando a paixão diminui e o amor amadurece, os defeitos que sempre estiveram ali vão aparecer como se fosse a primeira vez. Outros se casam com mais maturidade como eu que casei com 30 anos. Neste caso, tudo o que veio depois do dia do casamento tem sido uma grande experiência de descoberta que espero nunca cesse. Há coisas que eu conheço sobre Adriana que eu nunca iria saber se eu não tivesse que viver com ela. Existem características de Adriana que apenas a convivência, o dia-a-dia me ensinam. E eu sei que o inverso também é verdadeiro para ela. Quando ela casou comigo, tenho certeza que ela tinha uma idéia de quem eu era, mas que muito do que faço hoje tem acrescentado à sua primeira noção sobre mim. Algumas confirmando o que ela desconfiava outras desconfirmando.
Tenho certeza que ela imaginava que eu era um pouco relaxado com minhas coisas, mas não tanto. Ou que eu não fosse ajudá-la na cozinha (lavando os pratos) e eu ajudo. Não somente estas coisas, mas coisas mais profundas também devem ser descobertas e compartilhadas juntos. Por exemplo, existem traços da personalidade de Adriana que eu não conhecia e que hoje eu conheço e tento me adaptar. A tal da TPM não nos afeta quando moramos em dois endereços diferentes, mas a partir do momento que dividimos a mesma cama, vocês não têm idéia do que é isso. Mas é a partir do conhecimento que apenas cresce após meu casamento, eu posso melhorar como marido e ajudar mais minha esposa em momentos de TPM.
Irmãos, não há nada mais triste que um casamento onde o marido e a mulher apenas se toleram e dividem as contas e compartilham o carro. Não foi para isto que Deus criou o casamento. O casamento é para ser uma fonte de vida e de conhecimento mútuo, pois além de trazer benefícios para o casal, o casamento é um reflexo de Deus e Sua igreja.
Essa idéia do casamento como uma fonte crescente de conhecimento entre o marido e a esposa é uma pintura do que Deus faz com Sua igreja, do que Ele faz com você e comigo. Assim como o conhecimento mútuo entre um casal recém casado não para no momento da cerimônia de casamento, nosso conhecimento de Deus não pode parar no momento da nossa conversão. Há muito para se conhecer de Deus e Paulo aqui está orando por três coisas que são de vital importância para a igreja no conhecimento de Seu Deus.
1. Paulo ora para que conheçamos mais o nosso Deus (vs 15-17)
Vimos a importância da sabedoria do alto para a vida do cristão quando Tiago diz “Quem é sábio e tem entendimento entre vocês? Que o demonstre por seu bom procedimento, mediante obras praticas com a humildade que provem da sabedoria” (Tiago 3:13)
Agora, Paulo mais especificamente pede a sabedoria associada à revelação no conhecimento de Deus.
A igreja precisa conhecer melhor o seu Deus. A igreja precisa da revelação divina acerca de quem é o Deus a quem ela serve. Contudo, o que Deus está falando para nós não é algo que devemos buscar apenas para termos um conhecimento técnico de Deus. Deus não é um ratinho de laboratório ao qual você vai tentar abrir sua barriga e conhecer o que tem dentro dele. Deus não é um objeto de estudo ainda que muitos queiram conhecê-lo de forma cientifica.
Não é este conhecimento que Paulo está orando aqui para a igreja em Éfeso. O que Paulo tem em mente é o que Deus diz através do profeta Oséias “Pois desejo misericórdia, e não sacrifícios; conhecimento de Deus em vez de holocausto.”
Holocausto era um sacrifício queimado ao Senhor em pagamento de algum pecado. Era uma forma de se “consertar” diante de Deus, contudo, o próprio Senhor diz que Ele prefere que os holocaustos cessem e que o povo busque conhecê-Lo.
Neste mesmo capítulo 6 Oséias diz no versículo 3 “Conheçamos o Senhor, esforcemo-nos por conhecê-lo. Tão certo como nasce o sol, ele aparecerá; virá para nós como as chuvas de inverno, como as chuvas de primavera que regam a terra.”
Para que eu e você conheçamos o Senhor como Ele quer ser conhecido é preciso esforço. Nós não o conheceremos apenas freqüentando cultos nos finais-de-semana.
Para que eu e você queiramos conhecer o Senhor, em primeiro lugar o Senhor tem que ser importante para nós. A verdade é que muitos que lotam as igrejas não estão nem aí para o Senhor. Não querem intimidade com Deus porque sabem o tipo de vida que levam. Quanto mais religioso for a pessoa mais distante ela vai querer estar de Deus. Porque a religião apenas impõe uma moralidade externa, mas não demanda relacionamento. Com isso, o religioso pode aprender todas as regras morais, saber o que dizer e não dizer, comer e não comer, estar e não estar, olhar e não olhar, mas nada disso transforma o seu coração. Quando ele fizer isto, ele julgará os que não fazem, quando ele não fizer, ele esconderá de todos e julgará ainda mais os que não são como eles.
Este tipo de conhecimento religioso nos afasta de Deus, pois Deus não quer regras (holocausto), mas intimidade e relacionamento.
Estou cada vez mais convencidos que não precisamos conhecer ao Senhor para debatermos a nossa fé, ou para argumentar as nossas doutrinas Batistas com os escribas e fariseus da religião, mas precisamos conhecer ao Senhor para sermos de fato dignos de ser chamados filhos de Deus. Precisamos conhecer a Deus para sermos íntimos do Pai, achegados do Pai, amados do Pai. Toda esta proximidade vai trazer mudanças radicais em nossas vidas ao ponto de as pessoas notarem sem que precisemos abrir nossa boca. Iremos nos assemelhar mais a Jesus, iremos andar no Espírito, seremos o sal e a luz não porque estudamos a Palavra apenas, mais porque nos esforçamos para conhecer ao Senhor. Lutamos para que Ele se revele a nós.
Contudo a oração de Paulo não termina no conhecimento da pessoa de Deus. Ele também ora...
2. Paulo ora para que conheçamos a esperança do nosso chamado (18)
Dois pontos merecem a nossa atenção aqui. Primeiro, a oração de Paulo tem a ver com a iluminação dos corações, ou seja, a iluminação interior dos homens. Irmãos, como iremos conhecer o nosso chamado se o nosso ser permanecer em escuridão? Não é possível. A obra do Senhor em nossas vidas é de trazer luz onde há trevas. Sem a iluminação do Espírito em nossos corações, não viveremos à altura do chamado de Deus para nossas vidas.
Em segundo lugar, a razão da iluminação é justamente para que conheçamos a esperança do nosso chamado e as riquezas de nossa herança.
Esta linguagem de Paulo de esperança e herança com certeza nos remete ao futuro. Contudo, o que Paulo quer é que o nosso interior seja iluminado para que possamos ter uma gloriosa visão do futuro.
A esperança do nosso chamado é que ao cumprirmos ele mais e mais pessoas irão conhecer a Cristo, mais e mais pessoas irão ser salvas, mais e mais pessoas irão encontrar o Rei dos Reis e o Senhor dos Senhores. Meus irmãos, eu não sei exatamente qual é o chamado de cada um de vocês, mas uma coisa eu posso dizer com certeza é que Deus não nos chamou para virmos aqui todo domingo e talvez outro dia da semana, cantar algumas músicas e depois voltarmos para casa elogiando ou criticando o pregador e depois voltar novamente na semana seguinte e manter um ciclo que se repete por toda a vida e nada, além disto, é feito.
Este não é o nosso chamado. Não fomos chamados para sermos membros de igreja, mas sim para nos juntarmos ao Senhor na grande aventura cósmica que é Ele se fazendo conhecido para o maior número de pessoas. Deus está agindo e se revelando às pessoas e o que Ele quer é que eu e você nos juntemos a Ele através do chamado que Ele mesmo nos dá. Pode ser um chamado específico, pode ser sua profissão, pode ser os dois. Deus está agindo neste mundo quebrado e nós somos chamados por Ele para sairmos de nossa zona de conforto e nos juntarmos a Ele na grande tarefa de salvação da humanidade.
E porque precisamos de igreja? A igreja é para nos reunirmos como povo de Deus, adorarmos a Deus em comunidade, orarmos e confessarmos nossos pecados uns aos outros, para recarregarmos nossas baterias espirituais e depois sair e por nosso chamado em ação.
Uma vez que nossos corações são iluminados, colocamos em prática o nosso chamado e podemos contemplar a gloriosa herança dele para nós. Você consegue entender isto? Somos movidos pela esperança e pela herança. Tudo o que fazemos hoje tem seu combustível na fé, na esperança e no amor. Paulo, contudo diz que o maior destes é o amor. E por quê? Porque um dia a esperança e a fé não mais precisarão existir. Você não precisará da fé para saber que Deus existe, Ele estará lá face-a-face com você. Você o verá com é visto. Você não mais precisará de esperança, pois tudo o que você esperava já chegou. Contudo, você precisará de amor para sempre.
E o qual será a nossa herança? A nossa herança será ver Jesus face-a-face, a nossa herança será ter o caráter de Jesus, a nossa herança será ter harmonia com todas as pessoas, a nossa herança será uma vida eterna sem dor e tristeza. Mas acima de tudo a nossa herança é o próprio Deus. Teremos mais e mais de Deus de uma forma que nossa imaginação não consegue alcançar. Em 1 Coríntios 2:9 Paulo diz “Olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu, mente nenhuma imaginou o que Deus preparou para aqueles que o amam”
Paulo não ora apenas para que conheçamos ao Senhor e a esperança de nosso chamado, ele também ora para que...
3. Paulo ora para que conheçamos o poder de Deus em nossas vidas e em Cristo (19-23)
Para Paulo, tudo o que ele falou até agora precisa de um elemento vindo da parte de Deus para nos assegurar que cumpramos o nosso chamado e que herdemos a nossa herança. Este elemento é o poder de Deus.
Neste contexto ao qual o apóstolo escreve, falar de poder é desafiar a deusa dos efésios Diana. Segundo um dos comentários que eu li Diana “era tida como a deusa dos poderes celestiais, dos poderes do zodíaco, e dos deuses do submundo caído.” Ou seja, exaltar o poder de Deus era ao mesmo tempo diminuir o poder de Diana.
Por isso, Paulo primeiro descreve o poder de Deus como incomparável. Não tinham como comparar o poder de Deus com nenhuma outra entidade. E era este poder que estava à disposição da igreja do Senhor. Não estava à disposição para os adoradores de Diana, mas apenas para os adoradores de Jesus Cristo.
Paulo define o poder de Deus aqui com as expressões “incomparável grandeza de poder” e “poderosa força.” É este poder que está disponível para nós. Este poder que Paulo diz que foi capaz de ressuscitar a Cristo dentre os mortos. Este poder que colocou a Cristo sentado à direita de Deus Pai.
Este poder está disponível, este poder que um dia ressuscitou a Cristo irá nos ressuscitar como está escrito em 1 Coríntios 6:14 “Por seu poder, Deus ressuscitou o Senhor e também nos ressuscitará.”
O salmos 110:1 diz, “O Senhor disse ao meu Senhor, “Senta-te à minha direita até que eu faça dos teus inimigos um estrado para os teus pés.”
Portanto, o poder de Deus em Jesus ressuscitando-o dos mortos e exaltando-o sobre todo domínio e poder mostra que Deus em Cristo venceu a morte e mal. Com a Sua incomparável grandeza de poder e sua poderosa força, Deus em Cristo venceu a morte e o mal.
Claro que tudo isto é um prelúdio que irá acontecer em uma escala global no fim dos tempos, contudo, hoje temos a certeza que o maior poder do universo, capaz de vencer a morte e mal está à nossa disposição.
O poder de Deus colocou Jesus acima de todo governo e autoridade, poder e domínio, e de todo nome que se possa mencionar, não apenas nesta era, mas também na que há de vir.
O poder de Deus também colocou todas as coisas debaixo dos seus pés. Ou seja, Jesus tem domínio sobre todas as coisas, tanto no céu quanto na terra.
É este poder que está a nossa disposição. O poder que venceu a morte e que venceu o mal.
E a minha pergunta é: Você tem usado deste poder? Ou melhor, você acredita que exista este poder e que está disponível para nós?
Você sabe qual é muitas vezes o nosso problema? É que vivemos como se não precisássemos do poder de Deus. Buscamos ser auto-suficientes e fazer as coisas do nosso jeito. Ou então, vivemos sem fazer uso deste poder porque de fato não estamos interessados nas coisas do Senhor em nossas vidas. Queremos ver sim o poder de Deus manifesto para curar uma doença de algum familiar, mas dificilmente vamos orar pelos doentes nos hospitais. Queremos sim ver o poder de Deus salvar algum parente, mas dificilmente testemunhamos de Cristo a um amigo. Ou pior, para alguns, Jesus e igreja é um assunto para o domingo de manhã e domingo à noite e nada mais além disto. E quando se vive assim, não se faz uso deste poder, pois não há risco não há ousadia para testemunhar do evangelho.
Cristo está vivo e está exaltado sobre todas as coisas pelo poder de Deus. Este poder está disponível para nós. Que acordemos para esta realidade e façamos uso deste poder em nossas vidas para a glória de Deus.
Conclusão
Essa foi a oração de Paulo, que a igreja não cesse em buscar a Deus e conhecê-lo mais e mais. Que a igreja conheça o seu chamado. Que ela saiba que não foi chamada para esquentar banco, mas para ser testemunha viva de um Deus vivo. E que a igreja conheça o poder disponível a ela para viver o seu chamado plenamente. Este poder é tão real quanto a ressurreição de Cristo e a Sua exaltação sobre todas as coisas. Assim como Deus não criou o casamento para estagnar depois da sua celebração, Ele também não criou a igreja para estagnar após a conversão de Seu povo. Devemos continuar em um processo crescente de busca, intimidade, relacionamento, e experiências constantes com o Pai, o Filho, e o Espírito Santo de Deus.
Oremos.