O cristão e a sua vocação

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Efésios 4.1–14 NAA
1 Por isso eu, o prisioneiro no Senhor, peço que vocês vivam de maneira digna da vocação a que foram chamados, 2 com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando uns aos outros em amor, 3 fazendo tudo para preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz. 4 Há somente um corpo e um só Espírito, como também é uma só a esperança para a qual vocês foram chamados. 5 Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, 6 um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos. 7 E a graça foi concedida a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo. 8 Por isso diz: “Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e concedeu dons aos homens.” 9 Ora, o que quer dizer “ele subiu”, senão que também havia descido até as regiões inferiores da terra? 10 Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para encher todas as coisas. 11 E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, 12 com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, 13 até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de pessoa madura, à medida da estatura da plenitude de Cristo, 14 para que não mais sejamos como crianças, arrastados pelas ondas e levados de um lado para outro por qualquer vento de doutrina, pela artimanha das pessoas, pela astúcia com que induzem ao erro.
Meus irmãos, o Pr. Ribeiro me convidou a estar trazendo uma mensagem a vocês a respeito do tema “o jovem e a sua vocação”. E é um tema desafiador, logo veremos a razão. Mas é importante que aprendamos a pensar sobre esse assunto biblicamente. Muitas vezes, ao tratar o tema da vocação, somos influenciados pela nossa cultura, pela cosmovisão das pessoas ao nosso redor e como o secularismo pensa o assunto da vocação.
Para o mundo, o trabalho é aquilo que traz um senso de realização, de felicidade, de cumprir um propósito. Mas para que isso aconteça, você deve encontrar o trabalho que se encaixe com você. Aquele trabalho em que você se sente feliz, satisfeito. Alguns fazem até mesmo “teste vocacional” para descobrir qual profissão deverá seguir. Podemos definir a visão secular de vocação assim: “uma tendência ou aptidão para uma determinada profissão que, ao exercê-la, me trará realização”. É assim que muita gente pensa a respeito de vocação. Mas será que essa visão é bíblica? Eu acredito que não, e por algumas razões.
A primeira é que o trabalho não foi dado ao homem com o propósito de trazer-lhe satisfação. Deus ordenou que Adão cultivasse e guardasse o jardim, e esse era o seu trabalho. É claro que ao fazer o que Deus ordenou, Adão estaria cumprindo a vontade de Deus. Logo, faz sentido que ele se sinta feliz ao realizar o seu trabalho. Contudo, a satisfação, a alegria, a felicidade última não provém do trabalho em si, mas do fato de se estar servindo a Deus. Isso independe do tipo de trabalho que será feito. A profissão que Adão exerceu seria hoje em dia considerado de baixo valor. Mas era um trabalho digno, pois era feito para Deus.
Algo curioso que o Rev. Héber Jr. nos chama atenção no seu livro “Amando a Deus no mundo” é que os testes vocacionais sempre resultam em profissões honrosas com nome bonito, como “arquiteto paisagista” ou “engenheiro ambiental”. Mas nunca resultam em profissões mais simplórias, como “jardineiro”. Isso mostra como queremos uma vocação que coadune com nossos interesses, nosso desejo de prestígio, e não de servir.
Outra razão para rejeitarmos a visão secular da vocação é que vivemos num mundo caído, e nesse nesse mundo amaldiçoado nem sempre iremos gostar do nosso trabalho. Afinal, Deus disse a Adão que ele colheria o fruto da terra com muito esforço e suor. Esperar que o trabalho traga a todos realização e satisfação neste mundo de trevas é esperar demais.
Tem muito jovem e muito adulto frustrado porque considera o seu trabalho tedioso e sem valor, e fica pensando se a sua vida seria melhor se escolhesse uma outra profissão.
Será que estou na vocação errada? Será que é isso mesmo que eu deveria estar fazendo? Talvez eu devesse, sei lá, fazer Marketing. Talvez assim eu fosse mais feliz.
Mal sabe ele que lá no curso de Marketing tem alguém pensando a mesma coisa.
É claro que não é ruim trabalhar com o que se gosta. É bom quando gostamos do nosso emprego. Quando se tem essa oportunidade, glória a Deus! Mas se não for o seu caso, mas o seu o seu trabalho paga os seus boletos, glória a Deus também! O que importa é trabalhar para a glória de Deus, porque o propósito do trabalho, antes de trazer satisfação e realização, é servir. Não é a toa que um sinônimo para trabalho é serviço. Devemos recuperar essa visão.
A definição secular de vocação também é ruim porque traz uma visão fatalista da realidade. Traz aquela ideia de que há uma profissão que é o meu destino, o meu propósito, a tampa da minha panela. E se eu escolher a vocação errada, ai de mim, ficarei frustrado pelo resto da vida. Em última instância, tudo depende de mim!
E se eu escolher errado? E se eu não conseguir passar no vestibular? Essa é a crise dos jovens na época do Enem. E os jovens que vivem trocando de faculdade! É uma pressão enorme, a felicidade e a realização última parecem depender desse momento crucial.
E se eu sofrer um acidente que me deixe impedido de atuar numa determinada profissão? E se uma doença degenerativa me obrigar a abandonar o emprego dos meus sonhos? Aí já era, né. Viverei frustrado para sempre, é isso? Nem parece que Deus é que governa a história, e todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus!
Em suma, meus irmãos, essa visão secular de vocação não é bíblica. Em nenhum lugar da Bíblia, o termo “vocação” é usado nesse sentido secular. O termo grego para vocação, que aparece neste texto algumas vezes, nunca traz esse sentido.
Sabe o que a Bíblia diz sobre vocação profissional? Nada. Vocação na Bíblia é outra coisa, completamente diferente. Na Escritura, a profissão que você exerce é algo um tanto secundário. Paulo fabricava tendas e, OK, isso ajudava a pagar as contas. Pedro era pescador e largou pra seguir Jesus. O profeta Amós era boiadeiro. Jesus era carpinteiro. A Bíblia não está muito preocupada com isso. Os autores bíblicos tinham outra coisa em mente. E é sobre isso que quero falar com você hoje. Temos nesse texto duas verdades a respeito da vocação.

Todos são vocacionados (v. 1-6)

A primeira verdade é a seguinte: todos são vocacionados (v. 1-6). Não existe duas classes de cristãos: vocacionados e não-vocacionados, chamados e não-chamados. Todos são chamados a servir a Cristo.
Como uma decorrência de tudo que fora ensinado até aqui, Paulo insta os cristãos de Éfeso que vivam de modo digno da vocação a que foram chamados (v. 1).
Quando Paulo diz “pois”, é como se dissesse “por isso”, se referindo a algo que fora dito antes. A que Paulo está se referindo? Paulo se refere a tudo o que fora ensinado nos capítulos 1 a 3, que é uma exposição magnífica do evangelho e do mistério que é a igreja formada por judeus e gentios.
A carta aos Efésios pode ser dividida em duas partes. Nos capítulos 1 a 3, Paulo expõe o evangelho. Nos capítulos 4 a 6, Paulo nos traz as implicações do evangelho para a vida cristã. E é isso que ele quer dizer com “andar de modo digno”. Isto é, viver continuamente de um modo que expressa as implicações do evangelho na vida.

O que é vocação?

Então quando Paulo fala de vocação aqui, não está falando de vocação profissional. Aliás, o termo grego que temos aqui klesis, que significa “chamado, convite”, e kaleo, que significa “aquele que é chamado”, nunca é usado no sentido de vocação profissional, e em momento algum da Bíblia vemos isso. Paulo está falando do chamado a ser cristão, do chamado a seguir a Jesus Cristo, do chamado das trevas para a luz, que é um privilégio, uma bênção que recebemos no evangelho, conforme Efésios 1.18.
Desde o Antigo Testamento, “chamado” ou “vocação” tem apenas esse sentido: um chamado para servir a Deus, estando em aliança com ele. Em Isaías 51.2, nos é dito que Deus chamou Abraão para segui-lo, e Deus o abençoou. Em Os 11.1, Israel foi chamado por Deus para sair do Egito e servi-lo. O mesmo vemos em Isaías 42.6; 45.4; 48.15.
A mesma ideia encontramos no Novo Testamento: 1Co 1.26, fala que foram chamados a servir a Cristo pessoas que não eram poderosas e de nobre nascimento. Fp 3.14 fala do nosso alvo, o prêmio da soberana vocação em Cristo Jesus. 2Tm 1.9, fala da vocação como sendo a salvação e a graça nos dada em Cristo Jesus. Em Hb 3.1, o autor fala aos seus leitores como sendo todos participantes da vocação celestial. E em 2Pe 1.10, Pedro nos exorta a confirmar a nossa vocação e eleição, sendo as duas coisas equivalentes. Até mesmo em 1Co 7.20, que diz: “Cada um permaneça na vocação em que foi chamado”, a ideia é que devemos servir a Deus independente da situação em que estamos, se livres ou escravos. A vocação permanece sendo uma só: é responder o chamado do evangelho, se arrepender dos pecados, crer em Jesus Cristo e servir o Reino de Deus.
Em suma, se você é cristão, se você um dia ouviu o evangelho, se arrependeu de seus pecados e creu no Senhor Jesus Cristo, é porque você é um vocacionado. Você recebeu o convite do evangelho. E o Espírito Santo iluminou o seu coração. Jesus Cristo te chamou e, como ovelha, você ouviu a sua voz e o seguiu. Essa é a sua vocação. Somos chamados a servir em qualquer lugar, e não a servir numa profissão específica. E quem decide onde serviremos é o próprio Deus. E se Deus te chamou para servi-lo como gari? Amém! Sirva-o como gari. É o que Paulo nos ensina em 1Coríntios 7.20: o chamado é para servir, não interessa aonde. Pode ser no Brasil ou na África. Pode ser como pastor ou como estudante. Você é chamado, e o chamado é um só.

Todos os cristãos são vocacionados

Muitas vezes enxergamos apenas o pastor como sendo alguém chamado por Deus, como tendo um ministério, não é? O pastor, o missionário, o evangelista… eles sim receberam o “chamado” de Deus. E eu? Eu sou só um funcionário público, um profissional liberal, um pequeno empresário, um esquentador de banco de igreja. Eu não sou chamado! Meus irmãos, essa visão é um grande engano.
Algo que os reformadores como Martinho Lutero e João Calvino nos ensinaram é o sacerdócio universal dos crentes. Não exstem duas classes de crentes: clero e laicato. Todos são sacerdotes. Todos estão diante de Deus. Todos são vocacionados e têm responsabilidades perante Deus. Não interessa se você é pastor, médico, advogado, dentista, faxineiro, metalúrgico, pedreiro. Você é chamado por Deus. Você foi separado para servi-lo. E você pode servi-lo até mesmo exercendo a sua profissão. Você não é menos santo ou menos consagrado a Deus por não ser um pastor ou missionário.

O que fazer com meu chamado?

Mas o que fazer com esse chamado? Bem, depois de ter exposto o evangelho e sua implicação na unidade da igreja nos capítulos 1 a 3, Paulo convoca cada cristão a lutar pela unidade da igreja. Os cristãos devem exercer humildade, mansidão, paciência, suportar uns aos outros e se esforçar por preservar a unidade da igreja. Fomos unidos por Deus, num só Espírito, numa só fé e batismo, mas agora precisamos nos esforçar para manter e exibir essa unidade ao mundo. E é papel de cada um lutar por essa unidade.
Poderíamos passar horas analisando cada aspecto desse texto, mas eu quero focar com você numa coisa apenas: todo cristão têm responsabilidade para com a igreja de Jesus Cristo. Não apenas o pastor ou a liderança. Todo cristão deve se esforçar pela unidade da igreja. Todo cristão deve lutar para que não haja divisão. Todo cristão deve ter paciência com os pecadores e aqueles que lutam contra pecados, e dar apoio a eles. Isso reforça o fato de que todos são chamados.
Tem muito crente que gosta de terceirizar coisa pro pastor. Eu vi um irmãozinho aqui pecando, ou ele me ofendeu, ou alguém que precisa de consolo e exortação. O que eu deveria fazer? Eu deveria até ele e buscar exortá-lo, aconselhá-lo, animá-lo, consolá-lo, como é papel de todo cristão. Mas o que é o mais comum? É as pessoas irem até o pastor dizendo: “Pastor, você precisa falar com o irmãozinho Fulano de tal, ele está fazendo isso, isso e isso”.
Meus irmãos, todos têm responsabilidade para com a igreja. Todos os irmãos devem zelar pela pureza doutrinária e moral da igreja. Todos os irmãos devem crescer e amadurecer a fim de que possam aconselhar e ajudar os mais fracos na fé. Você não precisa de um chamado para isso. Você já tem esse chamado!
Isso se aplica a outras áreas da igreja. Aqui Paulo trata da unidade, porque é o tema da carta. Mas se aplica, por exemplo, ao chamado missionário. Tem muita gente pensando assim: “Poxa, queria tanto ter um chamado missionário! Já pensou, ir pra outro continente pregar o evangelho?!”. Olha, não precisa esperar o chamado chegar não, viu? Você já foi chamado pra isso. Jesus já mandou você ir e fazer discípulos. Você já é de Cristo, e já trabalha pra ele. Está esperando o quê? Pregue o evangelho! Convide o seu vizinho! Anuncie aos quatro cantos que Cristo é Senhor! Isso é viver de modo digno do seu chamado!
Meus irmãos, como bem sabem, a igreja que pastoreio é ainda uma igreja recém-plantada. Ela foi organizada recentemente. E tenho conhecido e conversado com pastores envolvidos em plantação. E sabe qual é um dos maiores desafios em plantação de igreja? Não é achar o obreiro. É achar pessoas, cristãos, dispostos a arregaçar as mangas. Porque igreja não precisa só de obreiro. Precisa de músico, de professor, de superintendente, precisa de tudo! Mas muitos cristãos preferem permanecer no conforto de suas igrejas já estabelecidas, esquentando banco, ao invés de ir para um lugar para servir. Mas irmãos, isso é negar o nosso chamado!
E esse chamado podemos exercer independente de qual seja a nossa profissão. Aliás, podemos exercer o chamado por meio da nossa profissão. Afinal, devemos glorificar a Deus com o nosso serviço, como Paulo mesmo ensinará em Efésios 6.5-9. Se você é advogado, advogue para a glória de Deus, lutando pelo que é certo e justo, fazendo o bem, defendendo a causa do Reino. Se você é estudante, estude para a glória de Deus, a fim de conhecer o mundo que Deus criou, produzindo para a academia conhecimento que reflete uma cosmovisão cristã. Porque antes de você ser advogado, médico, dentista, músico, você é cristão. Esse é o seu chamado, sua vocação, a coisa mais importante em sua vida.

Todos têm um dom (v. 7-14)

A segunda verdade a respeito de chamado que vemos aqui é esta: todos têm um dom (v. 7-11). Todos os cristãos, vocacionados, chamados a servirem a Cristo, receberam dele um dom espiritual.
Nos versículos 1 a 6, Paulo enfatizou a unidade da igreja. Todos têm um só chamado, uma só fé, um só Senhor, um só batismo, um só Deus e Pai. Ou seja, somos todos um só, unidos, iguais em nossa vocação. Mas agora, Paulo vai enfatizar aquilo em que somos diferentes. Há diversos dons, talentos e maneiras de servir a Deus.

Cristo concede dons à igreja

Paulo diz no versículo 7 e 8 que Cristo concedeu dons à igreja. Ele faz aqui uma citação do Salmo 68. Esse Salmo enfatiza que ainda que o povo de Deus seja ameaçado e tenha muitos inimigos, Deus não apenas derrotará todos eles, mas colocará a sua Lei e o seu Templo no centro do mundo, e atrairá pessoas de todas as nações até o lugar onde ele habita.
O versículo que ele cita está no centro do salmo, e diz que Deus levará "cativo o cativeiro e receberá os homens por dádivas". Parece com aquilo que vemos ao longo da carta: somos troféus da graça de Deus. Deus trouxe para si pessoas de todos os povos, para serem suas dádivas.
Paulo interpreta o salmo como se referindo à ascensão de Cristo. Cristo sobe aos céus, e de lá ele reina sobre a igreja e dá dons à igreja. Só que algo curioso aqui é que Paulo muda a linguagem do salmo, encaixando-o no seu argumento. Paulo diz que Deus concede dons aos homens. Isto é: Cristo dá a igreja diversos dons, para manifestar ainda mais a sua glória neste mundo.
Jesus Cristo é o rei da igreja. Embora a nossa igreja tenha um sistema de governo, e entre vocês batistas o governo é congregacional, em última instância é Jesus quem governa a igreja. Pois é ele quem distribui os dons.
E Cristo concedeu à igreja diversos dons (v. 11). Paulo cita alguns, embora não esgote a lista de dons espirituais. Ele fala dos apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres. Nós sabemos que na igreja há diversos dons. Há diversidade. Há muitas maneiras de servir. E todos esses dons são dádivas do Espírito Santo. Se você é cristão, se você é parte da igreja, então você tem um dom espiritual. Não existe algo como cristão sem dom. Você foi chamado por Deus para servi-lo, e Deus equipou você com poder espiritual para isso.

O propósito dos dons espirituais

Mas quais é o propósito dos dons espirituais? Por que Cristo os deu? Aqui temos quatro propósitos.
Os dons são dados para equipar os crentes para o serviço (v. 12). Ele diz: “para o aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço”. Se todos os crentes tem dons espirituais, isso quer dizer que todos devem servir com seus dons. Não há exceção para isso. O Espírito Santo não deu a ninguém o dom de “esquentar banco”. Alguém disse certa vez que existem dois tipos de crente: o que trabalha e o que dá trabalho. Existe verdade nessa afirmação. Crente que não trabalha, que não serve o Reino, é porque não está amadurecido, e precisa desenvolver.
Os dons são dados para a edificação do corpo de Cristo, isto é, da igreja (v. 12). O dom espiritual não deve ser exercido de modo egoísta, individualista, buscando promoção pessoal. Na verdade, os dons são presentes de Deus para a igreja. Deus concede dons a um crente numa determinada igreja local porque aquela igreja precisa daquele serviço. Se você negligencia o exercício de seus dons, você está roubando de sua igreja.
Os dons são dados promover a maturidade cristã (v. 13). Devemos exercer os nossos dons a fim de ajudar os nossos irmãos a chegarem à maturidade espiritual. Não é só o pastor que deve se ocupar de promover a maturidade dos irmãos da igreja. Todos os membros da igreja têm temos esse papel. E todos os dons (ensino, exortação, serviço, misericórdia) servem ao propósito do discipulado.
Por fim, os dons são dados para a proteção da igreja (v. 14). . Irmãos, há muita gente na igreja que tem pouco conhecimento para se defender de heresias e filosofias mundanas. As nossas crianças e nossos adolescentes são alvos dessas ameaças. E cada membro da igreja tem um papel crucial em impedir tais armadilhas e vacinar os imaturos e fracos na fé.

Como descobrir onde servir?

Certo, talvez você pense agora: “eu tenho um chamado e um dom espiritual, ok, mas como eu descubro onde devo servir? Qual o meu dom?”. Há algumas coisas que você deve levar em consideração.
Antes de tudo, que você deve servir a igreja mesmo que não saiba qual o seu dom espiritual. Sirva a igreja. Olhe quais são as necessidades ao seu redor e faça de tudo para supri-las. Não espere descobrir o seu dom espiritual para então servir. Porque é no meio do serviço que o seu dom se sobressairá. Então, se você não sabe qual o seu lugar no serviço do corpo de Cristo, simplesmente vá e faça tudo o que estiver a seu alcance.
Limpe o chão. Seja o carinha do slide. Receba as pessoas na entrada. Leve água pro pastor. Faça alguma coisa! Sirva, e em algum momento você descobrirá onde se encaixa.
Outra coisa que você deve levar em conta é que o dom costuma ser confirmado de duas maneiras: interna e externamente. Em algum momento, você se sentirá impelido e alegre em servir em determinada área. Assim como Paulo se sentia impelido a pregar o evangelho e dizia “Ai de mim se não pregar o evangelho” (1Co 9.16). Mas, principalmente, o seu dom será reconhecido por outros. Outras pessoas verão em você tal aptidão e se sentirão abençoadas pelo seu serviço.
Vemos isso na Escritura, na história de Barnabé. Barnabé era um homem generoso, que doou o valor obtido com a venda de um campo aos apóstolos (At 4.37). Quando a igreja de Antioquia recebeu o Espírito Santo, a igreja de Jerusalém enviou Barnabé a Antioquia (At 11.22). E a igreja crescia, pois viam que Barnabé era homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé (At 11.24). Talvez você já tenha ouvido aquela música de Guilherme Kerr a respeito desse grande homem. A igreja reconheceu o dom que Barnabé tinha, e ele acabou tornando-se um dos pastores daquela igreja.
Há outros exemplos na Escritura. Em Atos 6, a igreja elege homens ao diaconato. Em Atos 9, uma irmã chamada Dorcas e reconhecida pelas suas boas obras de misericórdia. Em suma, o dom é confirmado pelo testemunho de outros. Não acredite em quem diz ter um dom, em quem diz ter sido chamado ao pastorado ou coisa do tipo, mas não tem o reconhecimento da igreja. Eu já conheci seminaristas que foram para o seminário por conta própria, e não porque uma igreja acreditou nele e o enviou. E na maioria das vezes, tais indivíduos não se tornam pastores. Porque foram enganados pelo próprio coração.
Por fim, há vezes em que o exercício de um dom exigirá de você dedicação em tempo integral. É o caso do pastorado. Nem todos que têm dons receberão cargos e ofícios. Você não precisa receber o ofício de presbítero ou diácono para ser alguém que aconselha, que prega, que ensina. Mas a igreja precisa de alguém que se dedique à Palavra e à oração, alguém que gaste suas horas na presença de Deus e que se dedique a estudar com afinco as Escrituras. Então, um cristão, sentindo-se impelido por Deus e tendo os seus dons reconhecidos por outros, abre mão de sua profissão e passa a ser sustentado pela igreja a fim de se dedicar ao exercício dos dons.
Há algumas coisas importantes que devem ser ditas. Veja, o pastor não é mais santo ou superior aos demais crentes que têm suas profissões seculares. Todos os crentes são vocacionados e todos têm dons. Você pode exercer o seu dom e permanecer em sua profissão, e tudo bem. Muitos pastores inclusive fazem isso em igrejas que não têm condições de sustentá-lo. Mas a maioria dos pastores serve em tempo integral.
Outra coisa: o pastor poderia se dar bem em qualquer outra coisa. Já ouvi falar de pessoas que pensavam assim: “poxa, eu não gosto do meu trabalho, vou mal em tudo o que faço, acho que vou tentar ser pastor”. Ih, esse vai se dar mal! Pois o pastorado requer qualidades que seriam úteis em qualquer profissão. Conheço pastores que abandonaram um futuro promissor, ou até mesmo uma profissão rentável para exercer o seu ministério.
Posso dar a vocês um exemplo pessoal. Para quem não sabe, antes do pastorado, eu era desenvolvedor de software. Me formei em Sistemas de Informação pela Universidade Federal de Mato Grosso, e programei em Java por quatro anos. Eu tinha um bom salário para a minha idade.
Mas eu também servia na minha igreja e no movimento cristão universitário. Eu ensinava, pregava, era músico, operava o datashow, dava estudos bíblicos, liderava a juventude, fui presidente e secretário regional da ABU. E com o tempo, as pessoas passaram a me procurar para tirar dúvidas e receber conselhos. E eu admito que passava mais tempo fazendo essas coisas que estudando pra faculdade.
Até que um dia um pastor mais velho me perguntou se eu não queria me candidatar ao pastorado e ser enviado ao Seminário. À princípio, fui relutante à ideia. Eu sabia que a vida de pastor poderia ser incerta e sofrida. Mas depois eu percebi que isso significava poder me dedicar integralmente a fazer aquelas coisas que me traziam tanta alegria.
Eu poderia continuar servindo a Deus como desenvolvedor. Eu provavelmente seria bem-sucedido. Mas sou grato pelo ministério pastoral, que me possibilita ver a mão de Deus agindo na vida das pessoas por meio da Palavra de Deus.
Em suma, se você é cristão, você tem um dom. Pode ser o dom de serviço, de misericórdia, de liderança, de ensino. E, quem sabe, não tenhamos aqui também futuros pastores, evangelistas, missionários. Só há um jeito de descobrir: servindo.

Como cumprir fielmente o meu chamado? (v. 15-16)

Para concluir, irmãos, quero chamar atenção aos versículos 15 e 16, que nos mostra a respeito de como cumprir o nosso chamado.
Efésios 4.15–16 NAA
15 Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, 16 de quem todo o corpo, bem-ajustado e consolidado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio crescimento para a edificação de si mesmo em amor.
Vimos até aqui que a nossa vocação é mais do que exercer uma profissão que eu gosto, a fim de obter realização pessoal. Trata-se de servir a Cristo, onde ele nos mandar, na situação que estivermos, exercendo nossos dons a serviço do Reino. É mais difícil. É mais desafiador. Exige de cada um de nós um senso de chamado e dever que não fomos treinados a ter. Fomos ensinados a pensar que apenas o pastor e o missionário têm chamado, não nós. E agora, como cumprir esse chamado?
Paulo nos mostra que é necessário estar firmado em Cristo. É impossível ser um servo útil do Reino de Deus sem conhecer a verdade e o amor de Cristo, por isso devemos “seguir a verdade em amor”. Não adianta, não há como servir sem piedade pessoal, sem amar a Deus.
É impossível servir a Cristo sem estar firmado nele, crescendo nele, sob sua direção. A igreja é como um corpo. Cristo é o cabeça, é quem comanda o corpo. E cada parte do corpo tem sua função e trabalha em cooperação, à medida em que estão ligados à cabeça.
Já pensou se as suas pernas e braços resolvessem desobedecer as ordens de seu cérebro? Ou já pensou se na hora de andar, as suas pernas parassem de trabalhar em sincronia? O nosso corpo, ligado ao cabeça, funciona em total cooperação.
Assim, devemos estar firmados em Cristo. E para isso, é necessário conhecê-lo. Cristo é o Deus que se fez carne, se entregou por nós, morreu na cruz para expiar o nosso pecado e nos reconciliar com Deus. Se você se arrependeu crê no Senhor Jesus, é justificado de seus pecados e vive sob sua direção, caminhando para a glória. Se apegue, se aproprie dessas promessas!
Um grande perigo, meus irmãos, é exercer o ministério sem conhecer a Cristo. Paulo alertou Timóteo quanto a esse perigo quando disse (1Tm 4.16):
1Timóteo 4.16 ARA
16 Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes.
Onde há unidade dos membros com o cabeça, num só propósito e cooperação, onde cada um exerce seu ministério e trabalha pelo bem do irmão e a serviço de Deus, a igreja cresce e o evangelho prospera. Que assim seja! Que Deus nos abençoe!
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