Em meio a trangressão da aliança, as providências de Deus - Juízes 2.6-3.6

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Tema: Efeitos da transgressão da aliança

1. A transgressão da aliança provoca a decadência do povo
O primeiro efeito da transgressão da aliança é a decadência do povo. Na medida que o povo deixa o Senhor, segue uma tendência regressiva de ciclos em direção a decadência. Podemos ver isso através dos seguintes aspectos:
Primeiro, surge uma geração que não conhece o Senhor. Dos versículos 6 a 8 vemos que o povo serviu a Deus enquanto Josué e a geração dos anciãos que viveram na época dele estavam vivos. Porém, a partir do v. 10 é registrado que surgiu uma outra geração que não conhecia o SENHOR, nem tampouco as suas obras. Aqui podem estar incluído dois fatores: 1) Houve um erro da geração anterior no discipulado; 2) Houve um erro da geração seguinte em não obedecer ao Senhor.
A essência do discipulado em Israel é resumida no Shemá em Deuteronomy 6:4–9 “Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor.Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força.Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração;tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te.Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos.E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas.”
Conforme vemos nessa passagem, é função da geração atual sempre preparar a geração seguinte. Eles deveriam ensinar aos seus filhos quem era o SENHOR e o que ele fez por seu povo. O fato de surgir uma geração que não conhecia o Senhor e suas obras revela uma falha neste aspecto fundamental.
Contudo, isso não tira a responsabilidade da geração seguinte. Mesmo com a possível falha no discipulado cada um é responsável pelo seu próprio pecado. Talvez eles não tenham tido um discipulado adequado, mas isso não quer dizer que, em nenhum momento, tiveram acesso ao conhecimento do Senhor. É quase impossível pensar dessa forma. O que parece evidente no texto, é que a geração seguinte não se preocupou em considerar o seu passado, em ter um olhar adequado para a sua história. E ao não fazer isso, eles se tornaram presas fáceis para a idolatria.
Em suma, a soma desses dois fatores ocasionaram um afastamento do SENHOR. E a consequência da falta de conhecimento do Senhor e de suas obras é a aflição. Ao se prostarem perante outros deuses, o povo provocou a ira do Senhor (v. 12). No v. 13 temos a descrisção de deuses que o povo de Israel adorou. Fazendo isso, eles provocaram a ira do Senhor. Eles transgrediram a aliança. E assim, as bençãos da aliança começaram a se dissipar. Eles já não derrotavam seus inimigos. Nem mesmo conseguiam acordos para trabalhos forçados. Pior que tudo isso, eles forma entregue nas mãos dos seus inimigos (v. 14,15). O resultado é a aflição.
Deus, então, chega a levantar juízes para salvar o povo da aflição. Mas, apesar disso, o povo volta a pecar pior do que antes (v. 19). Cada vez que Deus levantava um juíz, o povo retardava sua prática pecaminosa, Deus dava vitória aos seus inimigos e a terra descansava. Porém, quando do juíz morria, o v. 19 mostra que o retorno ao pecado era pior do que antes. Trata-se, portanto, de uma decadência constante do povo.
O livro de Juízes termina com uma história que demonstra essa total personificação. Em Gibeá, na terra de Benjamin, os homens daquela queriam abusar de um levita que lá estava para passar a noite. Eles acabam abusando de sua concubina. Para demonstrar a malignidade dessa ação, o levita leva o corpo daquela mulher para a sua casa e a divide em 12 pedaços, levando cada um deles para as 12 tribos de Israel. O povo se escandaliza e se junta como um só homem para vingar-se destes homens. A consequência é uma guerra entre a tribo de Benjamin e as outras 11 tribos. E o resultado final é o quase desaparecimento da tribo de Benjamin. Toda essa história demonstra a decadência do povo por ter transgredido a aliança.
Se há algo que destrói o povo de Deus, é a transgressão da aliança. Nós, povo da nova aliança, firmados sobre o sangue do cordeiro, não podemos deixar essa verdade escapar das nossas mãos. É bem verdade que Deus é gracioso, ele nos salva pela graça, eles no mantém na aliança pela graça, mas isso não significa que podemos caminhar em direção a decadência pecaminosa. Na verdade deve ser o contrário: é por causa da sua graça que eu busco uma vida de obediência a aliança do Senhor.
O que faz uma igreja acabar? O que faz uma denominação outrora pujante sumir? O que faz com que um grupo de pessoas que se amavam em Jesus passem a se odiar? A resposta é o pecado. Quando o povo deixa de lado o conhecimento do Senhor, quando o povo de Deus se esquece dos termos da sua aliança, o resultado é a sua decadência.
2. A transgressão da aliança provoca a providência misericordiosa de Deus
O segundo efeito da transgressão da aliança é que ela provoca a providência misericordiosa de Deus. Mesmo em meio a decadência do povo, o Senhor manifestar a sua benevolência ao povo. Vamos aqui destacar alguns elementos que mostram a providência misericordiosa de Deus:
Primeiro que em meio a desobediência e aflição, Deus levanta juízes. Deus poderia, se assim o quisesse deixar o povo de Israel ser destruído. Mas ele não faz isso por amor ao seu nome. Ele não faz isso porque mesmo o povo transgredindo a sua aliança, Deus se mantém fiel a ela. Ele levantou juízes e estes foram seus instrumentos para trazer libertação ao povo de Israel.
Só que, como vimos no v. 19, o povo voltava a pecar pior do que antes a medida que um juíz morria. E aqui entra outro aspecto da providência misericordiosa de Deus: Mesmo em meio a decadência constante, o povo continuou a levantar a juízes. Deus não parou de demonstrar o seu amor e graça, embora o povo continuasse a cair nos mesmos erros.
Na parte final do texto que lemos, que vai do final do cap. 2 até o início do capítulo 3, somos informados que Deus resolve deixar os povos cananeus ao redor do povo de Israel. Também percebemos aqui as razões pelas quais Deus fez isso. Olhemos então:
a. Deus deixa as nações estrangeiras ao redor de Israel para Saber se iam guardar o camimnho do Senhor (Juízes 2.22). Elas passaram a ser um teste constante a aliança. Para aplicar os efeitos da aliança estabelecida em Deuteronônomio 28, o Senhor aprouve deixar estes povos. Já que Israel não queria expulsá-los, já que em alguns lugares estavam usando estes como servos, então Deus resolveu deixa-los e assim, com os contatos entre eles estabelecidos, provocar um ponto de tensão para saber se o povo se manteria fiel aos termos da aliança, fato que sabemos que não ocorreu.
b. Deus deixa as nações estrangeiras ao redor de Israel para ensinar sobre as guerras de Canaã (Jz 3.1). O grande problema da geração que surgiu é que eles não tinham consideração pela história de Deus no povo de Israel. Para corrigir isso, o Senhor então deixa as nações estrangeiras e assim, colocam ela como um fator concreto de lembrança daquilo que foi pactuado entre o povo e Deus.
O povo olharia para aqueles povos e para os problemas que eles estavam causando e então recordariam: “Por isso que o Senhor nos deu aquela ordem. Por isso que quando Josué e todo o povo de Israel destruíram Jericó e muitas outras cidades com seus reis.” Era por isso. Nada melhor do que um elemento concreto para nos dar uma boa lembrança. Mais do que saber, o povo iria experimentar a importância de nunca esquecer de sua históra.
c. Deus deixa as nações estrangeiras ao redor de Israel para Ensinar a guerrear (Jz 3.2). Não só para recordação, mas o povo também precisava entender novamente o que era guerra.
Assim como a execução de um instrumento musical, a execução militar se aperfeiçoa na prática. As pessoas sempre me perguntam do que precisa para tocar bateria, e uma coisa que eu sempre falo é determinação para repetir, repetir e repetir rudimentos. Você repete tanto aquela linha, aquela frase, aquele paradidle, que com o tempo aquilo começa a fazer parte de você e quando você não percebe aquilo se tornou algo natural pra ti.
Em termos semelhantes era disso que o povo precisava. Chegou um momento em que o povo de Israel simplesmente não guerreava mais. A desobediência que atingiu este ponto. E não só isso: da condição ofensiva que deveriam ter, eles passaram a sofrer ataques, e já não conseguiam mais se defender. Como instrumento da providência misericordiosa de Deus, o povo passou então ser treinado pelo Senhor com a permanência daquelas nações estrangeiras ao redor.
d. Deus deixa as nações estrangeiras ao redor de Israel para dar oportunidade de arrependimento (Jz 3.4). Deus é tão maravilhoso em sua misericórdia que não hesita em buscar meios de fazer o povo enxergar o seu erro. Mesmo em meio aos pecados, ele abre caminhos em direção ao arrependimento.
A palavra dar ouvidos tem o sentido de descobrir, como aparece em algumas versões em português. Ao deixar as nações estrangeiras, Deus não queria apenas trazer juízo sobre o povo, mas também ensina-lo e dar a ele uma oportunidade de retroceder da sua decadência. Deus estava demonstrando na prática a diferença entre servir a Ele e servir a deuses/povos estrangeiros. Até neste aspecto, o Senhor da aliança demonstra a sua providência misericordiosa.
Conclusão
Vimos, então, dois efeitos da violação da aliança: 1) A decadência do povo de Deus; 2) A providência misericordiosa de Deus.
Aplicação
Todo um ensinamento pode ser perdido quando não há um bom discipulado entre uma geração e outra. Nossa missão é fazer discípulos. Nosso objetivo é levar o Reino de Deus, tendo a preocupação de transmitir o evangelho a geração seguinte. Por isso, a igreja não pode ser para pais, mas para os filhos.
Eu lembro de um amigo pastor que me contou sobre uma igreja a qual ele foi se reunir com o conselho com vistas a pastoreá-la. Na conversa, ele percebeu que a sua filosofia de ministério não batia com aquilo que os presbíteros queriam. Foi então, que ele declarou a seguinte frase:
Vocês querem uma igreja para pais. Eu quero uma igreja para os filhos.
Um dos presbíteros retrucou:
Mas o certo é termos uma igreja para pais mesmo!
Então o pastor conta que passou a perguntar a cada um daqueles presbíteros se seus filhos estavam na igreja. Não foi surpresa saber que a maioria dos filhos dos presbíteros estavam fora da igreja.
Não, eu não estou dizendo que temos que ter uma igreja que agrade os nossos filhos. Não é isso. O que estou alertando é sobre o fato de que a nossa preocupação como geração atual é preparar a próxima geração. Isso é discipulado.
Lembram do que o missionário Nildo nos falou domingo passado sobre as ondas missionárias? A primeira onda são os missionários estrangeiros; a segunda onda são os missionários nacionais, mas que vem de outros locais; a terceira onda são missionários locais, que vem da própria localidade. No caso da realidade dele, são ribeirinhos. No caso da realidade do Acre, são pastores acreanos. Ocorre é que se houver uma falha entre a transição de uma onda e outra, o processo missionário pode retroceder e até mesmo acabar.
Foi o que aconteceu na Igreja Presbiteriana da Bolívia. Ela foi plantada por pastores brasileiros e depois de um tempo organizada como denominação nacional com pastores bolivianos. Mas algo deu errado e muitas igrejas até fecharam. O resultado é que hoje há missionários brasileiros que estão lá para revitalizar a Igreja Presbiteriana da Bolívia. Esse problema de formação de liderança é um problema de discipulado.
Essa questão também passa pela nossa realidade enquanto Acre. Quem estava no aniversário de 164 anos da nossa igreja viu que o trabalho presbiteriano simplesmente acabou no começo do século XX aqui no Acre, tanto em Sena Madureira quanto em Rio Branco. O missionário daquela época teve que ir embora. Ele plantou, a igreja batista regou, Deus deu o crescimento. Glória a Deus por isso! Mas talvez com a vinda de outro missionário, ou ainda com uma formação de liderança leiga local, talvez o caminho tivesse sido diferente.
Essa questão permanece pra nós hoje: nós queremos uma igreja para pais ou para filhos? Nossa preocupação é para que a próxima geração conheça o Senhor e as suas obras, ou estamos mais preocupados com a nossa satisfação. O desejo de ver o Reino de Deus crescendo passa pelo desejo de ver gerações seguintes sendo alcançadas pelo evangelho.
2. No povo de Deus, problemas diferentes tem a mesma causa.
Outra aplicação que eu queria destacar aqui, irmãos, é que como povo de Deus nós temos uma diversidade de problemas. Mas todos podem ser resumidos em uma só causa: pecado, transgressão da aliança.
Muito se fala sobre o que pode causar a queda ou o extermínio de uma igreja. Podem existir até estudos sobre isso. Mas o que a Bíblia mostra é muito claro: é o pecado que causa a decadência do povo de Deus.
O nome “presbiteriano” tem origem nos protestantes escosesses. A igreja presbiteriana da Escócia é, portanto, a grande representação do presbiterianismo mundial. Pois bem, um estudo demográfico mostra que, até 2050, a igreja presbiteriana da Escócia irá desaparecer.
Essa igreja já tinha sofrido uma forte divisão no século XIX por causa do liberalismo teológico. A igreja “livre” da Escócia surge nesse período. E é justamente esse abandono da missão de Deus, essa entrega constante para o pecado, essa perda de senso de propósito que está associado a decadência da nossa denominação.
Nós, aqui no Brasil, estamos bem longe desse cenário. Crescemos ainda, embora em proporção pequena. Mas não estranhemos se definharmos como comunidade local se abraçarmos o pecado. Por isso, é necessário essa palavra pra nós hoje. Precisamos parar com a decadência. Precisamos nos voltar para o Senhor.
3. Mesmo em meio a gerações desobedientes, Deus continua manifestando a sua misericórdia.
Por fim, irmãos, este texto não termina de forma triste, porque Deus continua perseverando em nós. Foi assim com o povo de Israel, é assim com o Israel de Deus hoje. Se fossemos olhar para nossas ações, não seríamos dignos de ainda continuarmos como igreja. Mas Deus, em sua providência misericordiosa, continua a nos abençoar.
E isso tem de fazer o meu e o seu coração pulsar. É debaixo da providencia misericordiosa de Deus que eu posso tomar a minha cruz e seguir. É debaixo da providência misericordiosa de Deus que eu posso construir a minha identidade em Cristo e no seu evangelho.
Por isso eu quero te convidar hoje a ser ensinado pelo Senhor. Você quer aprender a guerrear novamente? Você quer se recordado dos feitos do Senhor? Você deseja um arrependimento genuíno na sua vida para voltar aos caminhos do Senhor? Este é o dia. Este é o momento de estarmos na presença do Deus santo. Que Ele te abençoe e toque no seu coração!
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