Êxodo 3.10-22
Série expositiva no Livro do Êxodo • Sermon • Submitted • Presented
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· 7 viewsO autor divino/humano registra o chamamento do Ente Libertador do povo de Deus, e o anúncio da ação salvadora a ser executada pelo SENHOR.
Notes
Transcript
"São estes os nomes..." (Êx 1.1).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
Seguindo a narrativa da teofania através da qual Deus revela-se a Moisés, demonstrando que ouvira a aflição de seu povo e descera a fim de livrá-los da opressão egípcia, em cumprimento à aliança abraâmica (cf. 2.24; 3.9), o autor bíblico enfatiza o anúncio formal do plano redentivo do SENHOR para a Israel, novamente mediante uma apresentação íntima que aponta para a relação especial desfrutada pelo povo com Deus; apresentação que também enseja o chamado público de Moisés para ser o instrumento divino na execução dos propósitos do SENHOR.
A ratificação do envio divino de Moisés é reiterada diversas vezes no texto (cf. vs. 10, 12, 14,15). Levando em consideração que será porta-voz não somente à faraó mas diante do próprio povo, o SENHOR concede a Moisés as credenciais necessárias para que seja reconhecido como o mensageiro do Deus de seus pais (v.15). Todavia, por ocasião desse chamamento, Israel também é avisado que "o rei do Egito não vos deixará ir se não for obrigado por mão forte" (v.19).
A libertação de Israel acontecerá através de uma batalha: o braço do SENHOR (v.19b) se voltará contra o braço de faraó, que intenta rebelar-se contra os planos redentivos do Altíssimo. Novamente, o autor retoma a tensão introduzida em 1.13, quando mencionou que "os egípcios, com tirania, 'faziam servir' os filhos de Israel". Quem Israel deveria servir é a pergunta que o SENHOR responderá, demonstrando que é Deus não somente sobre seu povo, mas também o único Rei sobre toda a terra; único digno de adoração e serviço. Por isso a redenção a ser executada terá como finalidade fazer com que os filhos de Israel saiam "caminho de três para o deserto, a fim de que sacrifiquemos ao SENHOR, nosso Deus" (v.18), e isso por meio do despojamento dos egípcios (v.22).
Notando tais contornos textuais, o texto de Êxodo 3.10-22 sintetiza a formalização do chamado do Ente Libertador e a publicação dos planos redentivos do povo de Deus.
Elucidação
Até este ponto da narrativa do Êxodo, a identidade de Moisés como ferramenta do SENHOR na execução de seus planos, permanecia implícita; sublimada através dos eventos relacionados ao seu nascimento. Porém, como analisado à luz da seção anterior, a revelação da identidade do SENHOR também enseja o momento em que os planos redentivos divinos são descortinados, mediante a encenação teofânica que apontava para a condição dos hebreus sob a aflição no Egito (cf. v. 2 "a sarça ardia no fogo e a sarça não se consumia").
Segundo a presente seção, a continuação do diálogo entre o SENHOR e Moisés salienta um aprofundamento da compreensão da identidade divina, ratificando exatamente o seu chamado à Moisés para ser aquele através do qual a prodigiosa operação salvadora ocorrerá.
A partir do versículo 10, o autor explicita a fala divina que centraliza a vocação do filho de Anrão: "Vem, agora, e eu te enviarei a Faraó, para que tires o meu povo, os filhos de Israel, do Egito".
O questionamento seguinte inicia uma série confirmações de que o SENHOR estaria com Moisés nesse percurso, como adiantado introdutoriamente. À princípio (como se repetirá no capítulo 4), Moisés não se acha capaz de realizar tal feito, mas essa percepção do profeta é usada por Deus para enfatizar que o que chancela a condição de Moisés como seu arauto, é a certeza de que ele operará segundo a vontade do SENHOR, conforme registra os versículos 11-12:
Então, disse Moisés a Deus: Quem sou eu para ir a Faraó e tirar do Egito os filhos de Israel? Deus lhe respondeu: Eu serei contigo; e este será o sinal de que eu te enviei: depois de haveres tirado o povo do Egito, servireis a Deus neste monte.
Um aspecto destaca-se na resposta do SENHOR: a verificação da ação divina por intermédio da execução de sinais (hb. "אוֹת" = "milagres", "prodígios") acompanhará o ministério de Moisés também como demonstração da veracidade da vontade do SENHOR em cumprir a aliança estabelecida com os patriarcas, a quem fora prometido a libertação e salvação de toda a descendência deles; o povo de Israel. Esse credenciamento é repetido nos versos seguintes (vs. 13-15), quando Deus novamente retoma o argumento pactual como fundamento da obra que está para realizar em favor de seu povo, com um adendo: os filhos de Israel conhecerão a Deus de uma maneira mais profunda do que os próprios patriarcas, pois é concedido aos hebreus um nome que lhes indica o caráter fiel daquele que os está redimindo:
Disse Moisés a Deus: Eis que, quando eu vier aos filhos de Israel e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós outros; e eles me perguntarem: Qual é o seu nome? Que lhes direi? Disse Deus a Moisés: Eu Sou o Que Sou. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: Eu Sou me enviou a vós outros.
O tetragrama sagrado (i.e. YHWH) aparece na narrativa como um nome-verbo. Numa tradução literal , a expressão significaria "sou o sendo", ou, noutras palavras; “aquele que não permanece, não muda ou se altera”. O que o SENHOR estava indicando por meio da concessão de seu nome é que os filhos de Israel desfrutam de um relacionamento que os precede (remontando à Abraão, Isaque e Jacó (cf. v.15), e o ato salvador que estava prestes a empreender é o grande sinal que atestaria isso. O amor do SENHOR por seu nome, aliança e povo, o fez ouvir a aflição de seu povo no Egito (cf. v.16), e havia chegado o momento (segundo exposto anteriormente) em que aliança abraâmica seria cumprida, isto é, o povo seria encaminhado à terra prometida. (cf. v. 17). A fidelidade do SENHOR aos pais de Israel, quando com aqueles fez um pacto, agora o fez revelar-se anunciando a salvação.
Nada obstante, embora todo presente diálogo expresse o chamamento de Moisés como arauto da libertação do SENHOR para o seu povo, o Deus da Aliança demonstra que tal ação ocorrerá por meio da realização de milagres através dos quais sua glória será manifesta não somente a Israel, mas também aos egípcios e a todos os povos da terra (cf. Js 2.8-10); clarificando a realidade de que somente o SENHOR é o Deus Todo-poderoso, cujo o braço não pode ser impedido ou obstruído:
Eu sei, porém, que o rei do Egito não vos deixará ir se não for obrigado por mão forte. Portanto, estenderei a mão e ferirei o Egito com todos os meus prodígios que farei no meio dele; depois, vos deixará ir. Eu darei mercê a este povo aos olhos dos egípcios; e, quando sairdes, não será de mãos vazias. Cada mulher pedirá à sua vizinha e à sua hóspeda joias de prata, e joias de ouro, e vestimentas; as quais poreis sobre vossos filhos e sobre vossas filhas; e despojareis os egípcios.
Ao comunicar sua ação miraculosa, o SENHOR usa uma expressão peculiar a Moisés e aos próprios egípcios, pois a menção à uma poderosa mão ou braço, era geralmente empregada em referência ao faraó e seu poder sobre o Egito (WALTON, 2018, p. 100). Tal como supracitado, a tensão entre o SENHOR e faraó é retomada na presente seção; o braço do Deus dos hebreus se estenderá provando que mão é realmente poderosa para dobrar inimigos, isto é, a saída dos filhos de Israel do Egito não será amistosa, mas será executada mediante o ferimento do opressor por meio de prodígios realizados. A mão do SENHOR obrigará faraó a deixa ir os filhos de Israel, e assim o julgamento divino contra a gente a quem Israel teve de sujeitar-se (cf. Gn 15.14) ocorrerá, como prometido a Abraão. Peculiarmente, outra referência aos patriarcas é feita pelo SENHOR, nesta última fala a Moisés: o Altíssimo indica que não fará apenas com que Israel seja livre, mas que, “quando sairdes, não será de mãos vazias” (v.21).
Assim como é registrado em Gênesis 20; 26.1-25; 30.25-43, em que os patriarcas, estando em terras estranhas e oprimidos por adversários, acham graça diante do SENHOR e prosperam em detrimento de seus inimigos, da mesma forma acontecerá com Israel: mediante sua libertação, ao saírem do Egito, “despojarão do egípcios” (v.22).
Transição
Não sem razão o chamado de Moisés e o anúncio dos planos redentivos do SENHOR à Israel são jungidos numa mesma revelação divina. Os atos redentivos do SENHOR favorecerão seu povo, por lembrar-se e ser fiel à aliança feita com os patriarcas no passado, e por meio de tais ações, o Deus de Israel declarará sua glória sobre toda a terra mediante o julgamento dos opressores de seu povo, e isso com a realização de sinais e prodígios operados pelo braço do SENHOR.
Tal como tem sido observado à luz da revelação canônica total, Êxodo 3.10-22 é o paradigma demonstrativo de que a obra redentiva é operada finalmente em Cristo Jesus, principalmente quando analisamos as próprias palavras do Senhor Jesus em relações ao porquê de suas obras.
Ao chegarmos aos Evangelhos, deparamo-nos com as seguintes assertivas da parte de Cristo:
Mateus 1.21
Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles.
Marcos 10.45
Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.
João 4.34
Disse-lhes Jesus: A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra.
João 6.38
Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou.
João 5.30
Eu nada posso fazer de mim mesmo; na forma por que ouço, julgo. O meu juízo é justo, porque não procuro a minha própria vontade, e sim a daquele que me enviou.
Em síntese, o que essas (e tantas outras de mesmo teor) palavras aludem, é que as ações do Senhor Jesus são chanceladas totalmente pelo Pai; aquele que o enviou para operar a salvação prometida.
Moisés, ao argumentar que não é capaz de ir a Faraó, recebe como consolo e embasamento para seu chamado, não a afirmação de alguma capacidade sua, mas unicamente a convicção de que tudo que operaria seria por ordem divina (cf. vs. 12, 14, 15), donde procede seu chamado como libertador de Israel. O arcabouço tácito de tal passagem consiste na observação de que Cristo é o enviado da parte do Pai para realizar sua obra; isto é, a salvação do povo eleito de Deus, além da relação de correspondência tipológica, o próprio modus operandi divino interliga o texto de Êxodo 3.10-22 com a apoteose histórico-redentiva em Cristo.
Após revelar o chamado do filho de Anrão como libertador de Israel, o SENHOR transmite ao seu servo, que a libertação ocorrerá num contexto de julgamento através do qual seus prodígios serão operados (cf v.22). Não há maior prodígio operado por Deus do que a encarnação-vida-morte-ressurreição de seu Filho Bendito, Jesus Cristo; fato que é confirmado a partir dos efeitos gerados devido essa ação divina, quais sejam: salvação e julgamento. No Senhor, muitos são salvos; através da obra executada por ele, ao passo que, concomitantemente, nEle, também muito são condenados, visto serem julgados pelo Senhor por sua inimizade contra Deus.
A revelação do SENHOR a Moisés é um vislumbre do que aconteceria no clímax da história redentiva. Cristo, o enviado da parte do Pai, operaria o maior dos prodígios já realizados por Deus: executaria a libertação do seu povo, que simultaneamente julga e condena os inimigos e opressores da igreja.
Frente a essas concepções, o texto de Êxodo 3.10-22 demonstra a seguinte verdade:
Aplicação
Em Cristo, o enviado da parte do Pai, chamado para libertar sua igreja da opressão, obtemos o cumprimento da revelação anterior, e nele vemos o braço do SENHOR ser estendido, nos libertando da aflição e julgando seus inimigos.
A revelação do SENHOR consiste em mostrar-se ao seu povo, e nessa demonstração, descortina diante de sua igreja sua vontade inexorável de liberta-la da opressão, fazendo isso por meio de um Ente, enviado de sua parte para fazer sua vontade, o qual, por seu turno, declararia a extensão do potente braço do SENHOR sobre aqueles que ameaçam o povo eleito de Deus.
Cristo é este enviado, prefigurado anteriormente por Moisés. Jesus foi destacado na eternidade como sendo nosso libertador; aquele que anunciaria os planos divinos que apontariam para a fidelidade do SENHOR em cumprir sua aliança.
Ao dar um nome a Moisés, o SENHOR revela sua misericórdia pactual em descer para, com mão poderosa e braço estendido, libertá-los do opressor, é isso que faz Cristo. Além de sua própria divindade, que aponta para sua propriedade como salvador, o Senhor ter sido enviado da parte do Pai, também é o atestado sobre o qual depositamos nossa fé, pois ele já executou a obra que nos redime de nossos pecados; o que estamos aguardando, é que seu braço poderoso revele-se assim a seus adversários, fazendo-nos triunfar e despojar aqueles que um dia ousaram oprimir o povo de Deus.
Conclusão
Moisés conheceu a Deus, e na sarça, ouviu a voz do SENHOR chamá-lo para ser o libertador de Israel. Porém Cristo é maior do que Moisés, pois sendo o próprio Filho de Deus (aquele que eternamente conhece o Pai) foi enviado — sendo este o maior prodígio divino — como salvador não somente um povo, mas de todos os eleitos de todos os povos da terra.