Atos 2.37-41

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O autor apresenta o efeito do testemunho do evangelho propagado pela igreja, mediante a operação do Espírito Santo revelando Cristo Jesus, o Filho do SENHOR e Rei sobre a casa de Deus.

Notes
Transcript
"(…) E sereis minhas testemunhas (…) até aos confins da terra" (Atos 1.8).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
Após terem tecido uma apologia na qual expuseram a natureza do que ocorrera no cenáculo aos 120 discípulos (vs. 14-15), Pedro e os demais apóstolos interpretaram o acontecimento à luz da profecia de Joel e demais escritos (cf. 2Sm 7.12-16; Sl 16.8-11; Sl 89,3-4; 132.11, 110.1), salientando que tal fato era o derramamento do Espírito Santo, que por seu turno, evidenciava a glorificação de Jesus como "Senhor e Cristo" (cf. v. 36).
A promessa do Espírito Santo, referida por Lucas nos versículos 4 e 8 do capítulo 1 do presente texto, tendo sido finalmente cumprida, trazia à lume a grandeza da redenção executada por Cristo Jesus, que sendo o executor de tamanha obra, assentou-se à direita da Majestade, recebendo do Pai o cumprimento da promessa. Num primeiro plano, segundo indica Pedro, essa promessa (cf. v. 39 "ἡ ἐπαγγελία") não se referia aos discípulos, mas a Cristo; detentor de toda a glória. A partir da efetivação da palavra do Pai, nEle, o Espírito foi enviado a fim de trazer à salvação todos "quantos o Senhor, nosso Deus, chamar"; uma outra referência às palavras proféticas de Joel 2.32.
Essa segunda ênfase, isto é, o chamado à salvação — o qual seria exercido pela igreja, agora capacitada pelo Espírito Santo —, é enfatizada por Lucas como efeito do cumprimento de tal promessa. O ministério do Espírito ao ser derramado sobre sua igreja, em primeiro lugar, consistia na demonstração da glória de Cristo; e, como fator resultante, o anúncio de sua glória exortaria a todos quantos fosse testemunhada tal verdade, a se arrependerem; efeito demonstrado na presente seção (vs.37-41).
Frente à tais compreensões, o texto de Atos 2.37-41 salienta o efeito do testemunho da igreja mediante o poder do Espírito Santo: o chamado ao arrependimento.
Elucidação
No início do registro do discurso apostólico, Lucas destacou que a iniciativa de Pedro foi de advertir às multidões (cf. v. 14 "(…) erguendo a voz, advertiu-os (gr. "ἀπεφθέγξατο") nesses termos..."). A razão para essa advertência torna-se clara a partir das palavras finais do sermão, no qual ele informou às multidões que o derramamento do Espírito indicava a glorificação do Senhor (como introduzido), e portanto, a efetivação da promessa do Pai. Isso por sua vez, implicava numa ameaça a todos quantos o tinham crucificado, pois assentado a direita da Majestade, Cristo estava apenas aguardando o momento em que seus inimigos seriam postos "por estrado de seus pés" (cf. vs. 34-35 (cf. Sl 110.1)).
A compreensão do teor dessa mensagem é enfatizada por Lucas como primeiro demonstrativo da efetividade do poder concedido à igreja para testemunhar do evangelho de Cristo aos confins da terra. Como narra o autor:
Atos dos Apóstolos 2.37 ARA
Ouvindo eles estas coisas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos?
O termo usado por Lucas para descrever a reação das multidões é "κατενύγησαν" (transl. “katenýgêsan”) que pode ser traduzido por "Ser profundamente afetado"; "perfurado"; "abalado emocionalmente". O aviso de Pedro transtornou seus ouvintes, tendo eles agora recebido o testemunho de que o Senhor Jesus não havia sido derrotado em sua morte — como julgavam muitos judeus (cf. Mt. 28.11-15) —, e passaram a compreender que na verdade ele não somente estava vivo, como também glorificado, esperando o momento em que triunfaria sobre todos os seus inimigos, e neste ponto, a identificação das multidões como opositores do Reino de Deus é inevitável, pois foram eles, segundo Pedro, que haviam consentido com a morte do Messias, Filho de Davi (cf. vs. 23, 36).
Não obstante, Lucas, por meio do registro dessa parte da narrativa, enfatiza a seu(s) leitor(es) a natureza do ministério do Espírito Santo. Se o derramamento do Espírito é o cumprimento da promessa que testifica a glorificação do SENHOR, mediante a capacitação da igreja para testificar dessa verdade, o efeito (como já aludido) dessa obra é o chamamento de pecadores ao arrependimento e salvação mediante a profissão de fé no Filho de Deus; Jesus Cristo. A única possibilidade de salvação ofertada pelo Espírito Santo através da igreja, só pode ser efetivada mediante a operação do mesmo Espírito no coração daqueles que ouviram ou ouvirão o testemunho dos discípulos do próprio Senhor.
Eis, então, o teor do testemunho da igreja: o chamado do SENHOR à salvação, como passa a explicar Pedro, em resposta ao clamor das multidões:
Atos dos Apóstolos 2.38–39 ARA
Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar.
Pedro confirma a apreensão dos ouvintes de sua prédica aludindo que somente em Cristo eles poderiam ser salvos de seus pecados, principalmente porque tais pecados eram demonstrativos de rebelião contra o Cristo glorificado que eles crucificaram, tendo dado vazão a essa natureza corrupta. Todavia, a grande notícia que os apóstolos transmitem é a de que a porta da graça verdadeiramente está aberta aos que se arrependerem e crerem em Cristo Jesus, pois ao ter o Senhor recebido a promessa, obteve do Pai o poder de ser aquele através do qual condenados são perdoados, sendo a estes concedido “o dom do Espírito Santo” (v.38).
Ao ter usado essa expressão (Gr. “τὴν δωρεὰν τοῦ ἁγίου πνεύματος” = trad. “o dom do Espírito Santo”) o apóstolo faz referência à própria ocorrência sobrenatural que acabara de acontecer (cf. vs. 1-13), como prova de que suas palavras são verdadeiras. A salvação é tão real quanto o foi ouvir os 120 falarem novas línguas, e, assim como o Espírito demonstrou que a promessa foi cumprida, dando tal capacidade aos discípulos, da mesma forma ele pode comunicar a salvação de Cristo, através do arrependimento e fé que gera no coração do pecador.
A realidade benevolente de que o Espírito comunica o dom da salvação em Cristo é a prova concedida por Lucas em seu texto, de que o ministério da igreja é verdadeiro e sua efetividade é real, principalmente diante da ratificação da obra redentiva comunicada pelas palavras de Pedro, que afirma que a salvação verdadeiramente foi endereçada “para vós, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe”.
Pais e filhos, judeus e gentios, escravos ou livres, ricos ou pobres, homens ou mulheres, crianças ou anciãos; assim como Joel havia dito, o Espírito seria derramado sobre absolutamente todos os que foram chamados por Deus, o Espírito, a desfrutarem da glória do evangelho em Cristo, o Filho de Davi, o Rei prometido.
O ministério do arrependimento é a principal obra do Espírito Santo, como é reiterado pelo registro lucano na sequência: “Com muitas outras palavras deu testemunho e exortava-os, dizendo: salvai-vos desta geração perversa” (cf. v. 40), e seus efeitos demonstram a igreja que o fortalecimento prometido realmente foi concedido, pois “os que lhe aceitaram (gr. “ἀποδεξάμενοι”; que pode ser traduzida por “receberam”) a palavra foram batizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas” (v.41).
Transição
A grande obra executada por Cristo (segundo narrado por Lucas neste capítulo de seu texto) foi ter subido ao céus, donde enviou o seu Espírito, como prova de que recebera do Pai a promessa de assentar-se à sua destra, governando seu Reino e aguardando apenas o momento em que verá todos os seus inimigos serem postos sob seus pés. Frente a isso, à luz da seção anterior, contempla-se o centro nevrálgico do evangelho: a glória do Pai exposta em seu Filho, Jesus Cristo, através do poder do Espírito Santo.
Entretanto, Lucas direciona aos leitores de seu texto, a noção de que tal obra possui um efeito que se desencadeará a partir do testemunho da igreja: o SENHOR, tal como referido pelo profeta Joel, está chamando pecadores ao arrependimento através do Espírito Santo, ao compungir este o coração daqueles que ouvem tal convocação.
Compreendendo esses princípios, o texto de Atos 2.37-41, sintetiza as seguintes verdades a serem compreendidas pelas igreja contemporânea:
Aplicações.
1. O objetivo do anúncio do evangelho propagado pela igreja, é trazer pecadores ao conhecimento da glória de Cristo, e com isso, ao arrependimento para crerem nele como único meio de salvação.
Infelizmente, atualmente, o evangelho foi reduzido meramente à uma filosofia de auto-ajuda, ou amparo emocional fornecido às pessoas. O que se prega por muitas comunidades ditas cristãs, é uma mensagem desprovida de confronto genuíno com a situação real do pecador, e no lugar, foi posta uma mensagem acalentadora, que agrada aos ouvidos do público.
Pedro e os demais apóstolos, ao exporem o evangelho, testificando da mensagem concedida pelo poder do Espírito, em primeiro lugar, adverte às multidões quanto ao fato de que, por terem a entregue Cristo para ser crucificado, estavam na posição de inimigos de Deus, e portanto, prontos a serem postos sob os pés daquele que assumiu o trono de glória, governando a tudo e a todos, ao lado de Sua Majestade, o Pai.
O foco central do que fazemos como testemunhas da ressurreição de Cristo, é anunciar que, por essa razão, (isto é, por ter o Senhor Jesus cumprido sua obra e ter vencido a morte), ele se encontra glorificado junto ao Pai, exercendo desde já seu papel como Rei, conquistando todos aqueles que se rebelam contra seu Reino, e somente mediante o reconhecimento dele como Senhor e Cristo (cf. v.36), o pecador pode ser salvo, sendo concedido o poder (pelo Espírito) de atender ao chamado do SENHOR.
A mensagem do evangelho não é “venha a igreja para se sentir melhor!”, ou “receba aqui a sua benção”, ou ainda “você já é, mesmo em sua condição de pecador miserável, muito amado pelo Pai”. Muito pelo contrário; a mensagem evangélica é: “o pecado é a manifestação da rebelião contra Cristo, o Filho de Deus, e por isso, tal condição é passível de morte; morte pelas mãos do próprio SENHOR, que porá os inimigos de seu Filho, sob seus pés. Fuja para Cristo enquanto ainda há tempo; reconheça-o como Senhor e Rei, e receba o dom do Espírito Santo: a salvação”. Este é o evangelho; e é isso que buscamos anunciar.
2. O arrependimento só é gerado no coração do pecador, exclusivamente pelo poder do Espírito Santo; aquele responsável por fazer cegos contemplarem a Cristo Jesus.
A aflição que o pecador sente diante do anúncio do verdadeiro evangelho, é a marca de que o Espírito está operando em seu coração o reconhecimento de seus pecados. Isso não é uma obra nossa.
Pedro não convenceu a multidão, tampouco quaisquer dos apóstolos; todas aquelas pessoas tiveram seus corações compungidos (i.e. “feridos”) pelo poder do Espírito, que naquele momento os habilitou a ver que o que lhes fora anunciado era a verdade: elas eram pecadores miseráveis, carentes da graça do SENHOR.
O verdadeiro arrependimento não pode ser gerado por qualquer tipo de artifício humano. Podemos pregar da maneira mais simples ou mais complexa possível; usar todo tipo de recursos ou estratégias, mas todas essas coisas de nada servirão nem produzirão qualquer resultado, pois a engenhosidade humana não reflete o evangelho. Se o Espírito Santo não agir, ninguém será salvo.
É o Espírito Santo agindo no coração de homens e mulheres, filhos e filhas, servos e servas, jovens e anciãos, ricos e pobres, judeus e gentios, quem garante a recepção dessas pessoas nos braços do Pai, onde são acolhidos não mais como inimigos, pois a promessa cumprida a Cristo, lhes garante adoção como filhos de Deus.
Conclusão
Contemplar a Cristo é um misto de terror e alegria. Quando o Espírito Santo abre nossos olhos para vê-lo, somos imediatamente expostos ao nosso pecado, a justiça de Deus e seu juízo. Mas no mesmo instante, somos trazidos à fé, que nos faz crer nEle como único salvador de pecadores, para a glória do Pai.
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