Juízes 3. 7-11

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Introdução

Há uma tendência no ser humano em que nós ansiamos por alguém que nos liberte. Existe um anseio para que um herói nos salve sempre em que estamos em perigo. E, geralmente, tal anseio surje em momentos de aflição.
Quando pensamos em como a Alemanha deixou Hitler ascender ao poder é só pararmos para pensar na situação do país após a primeira guerra mundial. A Alemanha estava devastada e enfraquecida quanto a sua identidade. Hitler surge como alguém que procura resgatar a glória da nação. O seu discurso associado a melhora econômica foram mais que suficientes para que ele alavancasse rumo ao III Reich.
Mas não é só na Alemanha. Exemplos não faltam em que outros países também caíram neste anseio, geralmente vestido sob a forma de populismo. E em níveis mais específicos, grupos populacionais e religiosos muitas vezes acabaram por depositar a sua esperança em um libertador humano.
No livro de Juízes, vemos a figura de 12 libertadores, 12 juízes que são levantados por Deus para trazer livramento ao povo de Israel em uma situação difícil.
Eles seguem um padrão que foi estabelecido no capítulo 2: o povo transgrediu a aliança e se esqueceu do Senhor;
Deus suscita a ira sobre o povo;
o povo é afligido por uma servidão estrangeira; o povo clama ao SENHOR; Deus levanta um juíz (libertador).
E quando este Juíz morre, o povo volta a pecar pior do que antes em uma dramática sequência de eventos.
A partir do capítulo 3, versículo 7 começamos falar sobre os juízes propriamente ditos. Como mencionei, tratam-se de 12 juízes, cada um deles representando as 12 tribos de Israel. Eles são colocados de maneira tal que apresentam um padrão decadente da espiritualidade do povo de Deus.
Nos versículos que acabamos de ler, temos a figura de Otniel. Mas antes um fato importante:
Mesmo tendo julgado Israel, os juízes não são chamados de Juízes mas de libertadores/salvadores. É o que acontece com Otniel no v. 9. É o que acontece com todos os outros juízes. Nenhum é chamado propriamente de juíz, embora seja assim que o v. 16 do capítulo 2 se refira a eles.
O substantivo aqui escolhido é libertador (v. 9). Isso traz tanto um apontamento para trás (Josué=Yahweh salva), quanto um apontamento para frente (Jesus, variante de Josué).
Por fim, irmãos, temos que saber também o conceito de juízes aqui. Não se tratam de juízes ou desembargadores como temos hoje, mas eles são melhores descritos como magistrados guerreiros. Eles lideravam o povo na batalha assim como o Rei deveria fazer.
Sendo assim, vemos o primeiro Juíz descrito ser Otniel. E por que Otniel? Ele era da tribo de Judá. E como vimos no capítulo 1, a primazia é um elemento da continuidade da aliança não apenas mostrada no sinai, mas idealizada nas benção de Jacó (Gn 49)
Aqui, Otniel é representado como o libertador ideal. A narrativa não aponta nenhuma falha a ele. Isso é bem diferente dos outros juízes como Gideão, Jefté e Sansão. Em uma dramática sequência de eventos, Otniel apresenta uma narrativa nada dramática. Tudo é muito certo, muito ideal.
Sendo, assim, podemos nos perguntar: Quais as características do libertador ideal?
Vejamos algumas dessas características:

Características do Libertador ideal

1. O libertador ideal vem no tempo certo
Otniel significa tempo de Deus. Ele veio na hora certa, de fato.
Os versículos 7 e 8 nos mostram aquilo que seria o padrão do povo de Israel durante todo o período dos Juízes:
O povo deixa de ter um relacionamento com o SENHOR e passa a adorar os deuses cananeus.
Isso suscita a ira do SENHOR sobre o povo.
O povo sofre com isso e, então, passa a clamar ao SENHOR.
Otniel aparece no momento certo. Na hora exata. Quando o povo mais precisava, ele então surge.
Até então, no livro de Juízes as figuras de conquistas estão voltadas para aspectos mais coletivos (como as tribos). Mas em Otniel, o foco recai sobre uma figura individual.
Assim como em Jz 1.11-15, em que Otniel aparece no momento certo para conquistar Debir, assim ele aparece em 3.1-7 no tempo de Deus, no tempo certo, para libertar o povo de Judá nas mãos do Rei da Mesopotâmia. Por isso, podemos dizer que ele é o libertador ideal.
Mas ainda há outras características do libertador ideal
2. O libertador ideal é um rejeitado incluído pela aliança da graça
Otniel: um queneu, povo de origem midianita (Jetro - Ex. 18.5-12). Otniel não era um Israelita de sangue, mas foi incluído na tribo de Judá pela graça de Deus.
Calebe, seu irmão havia conquistado Hebrom. Esta cidade ficou conhecida depois como a primeira capital do reinado de Davi.
Calebe não apenas foi incluído juntamente com seu irmão, mas liderou a tribo de Judá, sendo um dos 12 espias que representavam as 12 tribos na inspeção a terra.
O fato de um estrangeiro ser incluído na aliança da graça não nos surpreende, quando vemos outros exemplos na Escritura: a cananita Raabe, a moabita Rute, o hitita Urias. Todos eles mostram claros exemplos do plano missional da aliança. Ela não deveria alcançar apenas uma raça, mas todos os povos.
Sendo Otniel de origem estrangeira, isso o qualifica para ser o libertador ideal. Ele mostra com sua vida que a salvação deve ser oferecida não só uma nação, mas a todas as nações.
Outra característica do libertador ideal é que:
3. O libertador ideal tem a família ideal
Otniel se casou com a filha de Calebe, Acsa, como prêmio por ter conquistado Debir. O casamento como prêmio ao guerreiro vitorioso lembra o casamento entre Davi e Mical.
Otniel é um guerreiro forte que possui uma mulher forte ao seu lado. Acsa, ao conquistar as fontes superiores e inferiores, é a auxiliadora ideal para o libertador ideal.
Comparando Otniel e Acsa com
a. Gideão e seu Harém
b. Jefté e sua descendência
c. Sansão e suas mulheres
Nota-se o contraste entre o juíz ideal e os demais.
Os demais juízes foram usados por Deus, mas foram péssimos em seus tratos familiares. Otniel não. Ele foi um líder dentro e fora de casa. Ele é o padrão de libertador ideal.
Mais uma característica do libertador ideal
4. O libertador ideal tem o Espírito do SENHOR
Os 12 juízes podem ser subdivididos em dois grupos: maiores e menores.
Os maiores são aqueles que foram mais citados, que chegam a ter mais versículos a respeitos deles. Os menores são os menos citados.
Dos 6 maiores, vemos que o primeiro deles é Otniel. Ele possui o Espírito do SENHOR (v. 10).
Outros 3 grandes juízes também possuem o Espírito do SENHOR (Gideão, Jefté e Sansão).
Débora, que era profetisa, tem o ofício espiritual por si, então por inferência ela também tinha o Espírito do SENHOR.
Portanto, dos 6 grandes somente 1 não possui referência ao Espírito do SENHOR. Este é Eúde. Mas vamos falar dele mais a frente.
Aqui o importante é vermos em Otniel a referência a alguém que tem o Espírito do SENHOR assim como outros personagens da Escritura, que foram capacitados por Deus para fins militares.
Exemplos homens capacitados pelo Espírito para fins militares antes de Juízes: Josué.
Exemplos de capacitados pelo Espírito para fins militares após Juízes: Saul e Davi.
Porém, um fator que chama a atenção é que Otniel não possui um “mas”. Ele não tem uma mancha na descrição da sua história como juíz. Justamente para mostrar como ele tem o padrão ideal de libertador. Ele tem o Espírito do SENHOR e anda em total retidão perante Ele.
A quinta característica do libertador ideal é:
5. O libertador ideal derrota o mal duplo
Cusã-Risataim, Rei da Mesopotâmia: Risataim significa “mal duplo”. Da mesopotâmia que vieram a Assíria e a Babilônia. O mal duplo que gerou problemas a Israel de norte a sul.
Otniel é representado como o libertador ideal porque derrota o mal duplo com facilidade. Essa vitória é facilitada porque o SENHOR entregou Cusã-Risataim em suas mãos. Como libertador ideal ele derrota os inimigos de Israel debaixo da providência de Yahweh.
Ao derrotar o duplo mal completamente, a paz reina na terra. O período de 40 anos pode soar como um período de plenitude. Este número é emblemático e aparece muitas vezes na Escritura (A vida de Moisés dividida em 3 períodos de 40 anos; os 40 anos do deserto; a tentação de Jesus que durou 40 dias e 40 noites). Aqui 40 anos de paz reforçam a ideia de que, sob a liderança de Otniel, o povo obteve completa derrota dos seus inimigos.
Aplicação:
Quem é o libertador ideal?
Quem é o libertador ideal que veio na plenitude dos tempos? No tempo de Deus? No tempo certo?
Quem é o libertador ideal que veio e foi rejeitado pelos homens? Quem é aquele que não davam valor pela sua aparência?
Quem é o libertador ideal que não possuia mancha alguma, e que passou por todas as provações sem pecado?
Quem é o libertador ideal que, peregrinando nesta terra, possuía o Espírito do SENHOR na sua forma mais plena possível, porque era o próprio Deus encarnado?
Quem é o libertador ideal que venceu os inimigos de Deus e publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz?
Quem é o libertador ideal que nos trouxe a PAZ! Mas não a paz de 40 anos, mas a paz eterna com Deus!
Jesus é o libertador ideal!
Diante disso,
Sirva ao juíz ideal e obtenha libertação
Seja ungido por Ele para levar libertação a este mundo! A unção do Espírito não abrange apenas uma pessoa, mas todo o povo de Deus é ungido, é batizado com o Espírito Santo para pregar libertação!
Você não é o libertador ideal! É Ele! E é muito bom saber disso.
A paz de Otniel foi plena mas durou apenas um certo período. A paz que o principe da Paz nos traz pela justificação pela fé é eterna. E nesta paz que experimentamos hoje, teremos plenitude em um novo céu e nova terra! Aleluia!
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