Êxodo 4.1-17

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O autor ratifica o quadro histórico-redentivo referencial que traça a concessão de sinais como prenuncio da obra redentiva operada através do Ente Libertador.

Notes
Transcript
"São estes os nomes..." (Êx 1.1).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
O diálogo iniciado em 3.4 com a auto-apresentação do SENHOR a Moisés, por meio da qual também revela seus planos redentivos para com o povo de Israel, continua ao longo desta seção. O intento de Deus de fazer com que através de Moisés torne-se conhecido do povo, principalmente tomando por base de suas ações o cumprimento da aliança abraâmica (cf. 3.6, 15, 16; 4.5), é intensificado; porém, nesse ponto, Moisés interpela o SENHOR alegando ser incapaz de comunicar ao povo tamanho prodígio de maneira fazê-los crer que o Deus de seus pais verdadeiramente lhe apareceu (v. 1 "(...) não crerão, nem acudirão à minha voz...").
Diante do possível ceticismo do povo, o SENHOR concede a Moisés sinais que, num primeiro nível, servem também ao seu credenciamento como arauto divino. Todavia, o ponto principal da concessão dos sinais descritos na narrativa, é fornecerem ao povo um prenúncio dos portentos a serem realizados por Deus em favor deles, libertando-os da terra do Egito. Os milagres concedidos a Moisés visam ratificar e solidificar a fé dos filhos de Israel, para que creiam que o SENHOR o havia enviado a fim guiá-los à terra prometida a seus pais.
Os três sinais (a transformação do bordão em serpente, da mão sã em leprosa e o contrário, e da água do rio em sangue) servem como indicativo de que com grande poder o YHWH haverá de libertá-los, tal como já havia dito a Moisés em 3.19. Assim, a realização de sinais e milagres que antecedem a obra da redenção, formam o arcabouço histórico-redentivo delineado aos filhos de Israel, para que se lembrem quem foi seu Salvador: o Deus da aliança; o Deus de seus pais.
Essa estrutura, como já vastamente reiterado ao longo das análises anteriores, serve como base da operação posterior do SENHOR no clímax da história da salvação: tendo enviado o Ente Libertador prefigurado por Moisés (i.e. Cristo Jesus), a etapa final do enredo salvífico projeta o mesmo modus operandi: sinais são concedidos a igreja para que creiam que a redenção se aproxima (cf. Lc 21.28); redenção essa que também terá o efeito de julgamento sobre seus opositores, tais como as pragas sobre o Egito no passado.
Diante dessas considerações, o texto de Êxodo 4.1-17 enfatiza a concessão de sinais como ratificação e prenúncio da vontade divina na redenção de seu povo.
Elucidação
Como introduzido, o receio de Moisés consiste em encontrar alguma resistência por parte do povo em acreditar que YHWH (cf. v.14 "EU SOU O QUE SOU") ouviu seu clamor e desceu a fim de livrá-los dos fardos na casa da servidão do Egito, aparecendo primeiramente a ele para anunciar esse plano (v.1).
A resposta divina enquadrada nos versículo de 2 à 9, ressalta o aparato revelacional concedido por Deus, que serviria de evidência diante do povo quanto às intenções do SENHOR. Novamente, o ponto em questão não é apenas o crédito a ser posto sobre Moisés, sendo reconhecido como o enviado da parte do SENHOR para libertar o povo, como foi a ênfase da seção anterior (cf. 3.10-22), mas tal reconhecimento apontaria para a fé dos filhos de Israel no Deus que a eles estava se revelando.
A sequência de sinais dispostos à Moisés servem ao propósito de identificar a ação de julgamento que será desencadeada pela mão do SENHOR contra os egípcios. A finalidade dos sinais é declarada, por exemplo, no versículo 5: "(...) para que creiam que te apareceu o SENHOR, Deus de seus pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó". Tal como já referido antes, esse "trinômio" funcionará como um lembrete que remeterá a mente dos hebreus ao pacto firmado com seus pais, principalmente com Abraão, a quem foi publicado o julgamento da gente a quem sua descendência deveria sujeitar-se (cf. Gn 15.14).
No versículo 2, Deus aquiesce à preocupação de Moisés, concedendo-lhe os seguinte sinais:
1. Que seu cajado transforme-se numa serpente, tendo o efeito revertido mediante a tomada de Moisés da serpente pela cauda (vs.2-4).
2. Que sua mão fique leprosa ao ser recolhida ao peito sob as vestes, e torne a ficar sã da mesma maneira (vs. 6-8).
3. Que as águas do rio Nilo sejam transformadas em sangue ao serem derramadas sobre a terra (vs. 9-10).
Alguns comentaristas enfatizam a possibilidade de esses sinais possuirem algum simbolismo em si mesmos (WALTON, 2018, p. 100). Todavia, segundo já supracitado, o foco desses sinais é a prefiguração da mão forte do SENHOR que obrigará faraó a deixa ir os filhos de Israel (cf. 3.19). Embora alguns desses milagres sejam replicados na presença do monarca egípcio, a fim de demonstrar o poder de Deus (cf. 7.8-13), eles servem primordialmente ao povo de Israel, como reforço da informação de que as circunstâncias envolvendo sua libertação do Egito, envolverão realmente a demonstração de que o SENHOR, seu Deus, o fará através de prodígios que proclamarão sua glória sobre o faraó e o Egito, servindo assim de ratificação da ação salvadora.
Israel estaria, mediante tais milagres, servido com evidências claras de que o mensageiro que realiza tais feitos, de fato falava em nome do Deus de seus pais que agora os estava visitando com libertação mediante o juízo que derramaria sobre seus exatores.
Nada obstante, a partir do versículo 10, a perspectiva de Moisés torna não mais para o transmissor da mensagem (i.e. o SENHOR), ou para o conteúdo dela (os sinais que apontavam para a redenção por vir), mas para o próprio mensageiro; no caso, ele mesmo.
Alegando incapacidade comunicativa (cf.Atos 7.22), Moisés insiste com o SENHOR, afirmando que não está qualificado para aquela obra, como narra o versículo:
Êxodo 4.10 ARA
Então, disse Moisés ao Senhor: Ah! Senhor! Eu nunca fui eloquente, nem outrora, nem depois que falaste a teu servo; pois sou pesado de boca e pesado de língua.
Levando em consideração a opinião de diversos teólogos, boa parte desses primeiros capítulos da narrativa do Êxodo (se não todo o livro), servem como confirmação do ministério mosaico, isto é, Moisés busca legitimar seu ministério sobre o povo de Deus, mostrando-lhes que fora realmente o SENHOR quem o comissionou (PRATT, 2004, p. 317). Assim, embora no momento em que dialogou com Deus, Moisés tenha realmente alegado ser incapaz de realizar a tarefa, dada a intenção de legitimação de sua liderança sobre o povo, a argumentação do versículo 10 só reforça aquilo que foi desenvolvido até este ponto da narrativa. Noutras palavras, Moisés usa sua própria contestação diante de Deus para demonstrar ao povo de Israel que verdadeiramente o SENHOR guiou tanto a ele (como ferramenta de libertação/redenção em favor do povo), quanto o próprio povo, pelo caminho gracioso que culminaria com sua chegada à terra prometida.
O que confirma essa noção é a resposta do SENHOR ao profeta, como consta nos versículos 11-12:
Êxodo 4.11–12 ARA
Respondeu-lhe o Senhor: Quem fez a boca do homem? Ou quem faz o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego? Não sou eu, o Senhor? Vai, pois, agora, e eu serei com a tua boca e te ensinarei o que hás de falar.
Ao demonstrar sua soberania sobre as circunstâncias (numa das quais Moisés se encontra), Deus enfatiza sua centralidade na execução do plano libertador. O mensageiro não comprometerá (a despeito de suas incapacidades) a fruição dos objetivos divinos na salvação de seu povo. Não será Moisés quem libertará o povo, mas aquele que o está enviando; mesmo porque, dada a natureza dos sinais que Moisés está encarregado de demonstrar diante dos filhos de Israel, Deus é o detentor de todo poder, e portanto, aquele que obrigará faraó a deixá-los ir. O protagonismo da obra de libertação é do SENHOR, e por isso as incapacidades de Moisés são irrelevantes.
Porém, Moisés, numa tréplica, reforça sua negação em atender ao chamado divino, ao que é respondido mediante o acender da ira divina, que lhe providencia um porta-voz:
Êxodo 4.13–17 ARA
Ele, porém, respondeu: Ah! Senhor! Envia aquele que hás de enviar, menos a mim. Então, se acendeu a ira do Senhor contra Moisés, e disse: Não é Arão, o levita, teu irmão? Eu sei que ele fala fluentemente; e eis que ele sai ao teu encontro e, vendo-te, se alegrará em seu coração. Tu, pois, lhe falarás e lhe porás na boca as palavras; eu serei com a tua boca e com a dele e vos ensinarei o que deveis fazer. Ele falará por ti ao povo; ele te será por boca, e tu lhe serás por Deus. Toma, pois, este bordão na mão, com o qual hás de fazer os sinais.
A confirmação ministerial estende-se, nesse ponto, a Arão; aquele que futuramente seria escolhido como o primeiro sumo-sacerdotes de Israel. No entanto, a ênfase sintética do trecho ratifica a tese apresentada ao longo da seção: a insistência de Moisés aliada aos sinais concedidos, exibem a grandeza da ação poderosa do SENHOR em fazer com que seu povo creia nele como seu libertador. Deus verdadeiramente apareceu a Moisés anunciando a obra poderosa que os poria em liberdade para, rumar para lugar onde adorariam e serviriam ao Deus de seus pais, recebendo a herança do pacto.
Transição
A concessão de sinais com a finalidade de ratificar a fé do povo prenunciando a redenção por vir, que concomitantemente acarretaria o julgamento dos inimigos dos filhos de Israel, traça o paradigma histórico-redentivo por meio do qual todo o povo de Deus ao longo das eras até a consumação dos tempos, pode identificar-se.
O autor da presente narrativa demonstra aos hebreus que agora estão prestes a adentrar a terra de Canaã para dela tomar posse, que aqueles sinais concedidos particularmente por Deus ao povo, realizados através de Moisés, eram formavam um aviso divino que apontavam para o modo como a libertação aconteceria.
Embora já tenha ratificado isso de acordo com o que disse em 3.19, afirmando que seu (do SENHOR) braço seria contra faraó, realizando prodígios que feririam a terra do Egito, Deus mostra ao povo seu poder a fim de que percebam que toda a história sempre esteve sob seu controle, incluindo o sentenciamento daqueles que os oprimiram por 430 anos.
A igreja de Deus ao longo da história, deve identificar em Cristo o sinal que precede sua completa libertação. O Senhor Jesus é o pilar da obra redentiva, pois nele, a salvação foi executada. Entretanto, embora esta obra tenha sido executada, ela ainda aguarda consumação, que ocorrerá por ocasião de seu retorno em glória.
Compreendendo essas noções, o texto de Êxodo 4.1-17, sintetiza o seguinte princípio a ser apreendido pela igreja contemporânea:
Aplicação
Cristo é o maior prodígio de Deus. Entretanto para que seu povo possa estar apercebido quanto a aproximação do momento da libertação, Cristo (tal como Deus através de Moisés) concedeu ao seu povo sinais que antecedem a redenção.
Como analisado, o arcabouço histórico-redentivo da revelação registrada no Êxodo de Israel, traça um paradigma por meio do qual todo o povo de Deus ao longo dos tempos pode compreender o ato salvífico final do SENHOR, que se realizou através de seu enviado (i.e. Cristo Jesus).
Nada obstante, o desfecho do enredo salvador ainda está por ser efetivado, o que sugere que a própria compreensão do Êxodo de Israel continua valendo como referência à redenção.
Ao ter Deus dado a Moisés sinais que confirmavam sua aparição ao profeta, tais milagres significavam que o SENHOR estava para derramar sobre o Egito seu poder de julgamento, por meio do qual também libertaria seu povo.
Essa compreensão enfatiza para nós o princípio elucidado por Cristo aos seu discípulos no Novo Testamento, também com relação aos sinais que são solicitados pelos próprios, que serviriam para que estivessem vigilantes quanto ao retorno do Senhor.
De acordo com o texto supracitado de Lucas 21.28, Cristo entregou a sua igreja sinais (cf. Lc 21.7) que apontariam para o tempo do seu retorno, tal como consta no texto: "Ora, ao começarem essas coisas (i.e. os sinais) a suceder, exultai e erguei a vossa cabeça; porque a vossa redenção se aproxima".
A igreja recebeu (tal como Israel no passado) sinais que apontam para a vontade de Cristo de julgar o mundo e libertar seu povo. Olhando para os acontecimento do tempo presente, o que vemos é a mão poderosa do SENHOR organizar o cenário mundial para que sua glória brilhe sobre o mundo rebelde que se avessa contra ele e seu Ungido.
A cada dia, vemos que verdadeiramente o SENHOR enviou seu Filho, Jesus Cristo, o profeta superior a Moisés, para nos avisar de que ele operará nossa libertação. Moisés alegou dificuldades comunicativas, e ainda que tais dificuldades não comprometeram o anúncio da mensagem à Israel, o Senhor Jesus transmite o anúncio da libertação a partir de uma linguagem ainda mais clara: ele é o enviado do SENHOR, que, sendo superior a Moisés, efetiva a libertação do povo de Deus, não do Egito (i.e. uma nação ou lugar), mas do pecado e da morte, conduzindo-nos à herança prometida.
Conclusão
Deus entregou a Moisés sinais de que ele realmente lhe havia aparecido, e portanto, comunicado a iminência da libertação dos hebreus. Em Cristo, a igreja recebe do SENHOR o maior sinal de que a redenção veio e virá: o próprio Cristo, e nele, acompanhamos aquelas evidências históricas que sinalizam que o tempo da salvação está chegando.
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