Marcos 9.49-50

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Notes
Transcript

Introdução

Contexto Imediato

A partir do v. 33 do capítulo 9, Jesus vai para Cafarnaum. Em casa (provavelmente a casa de Pedro) os discípulos estavam conversando sobre quem seria o maior.
Jesus já havia alguns versículos antes falado sobre a necessidade dele ser morto e ressurreto. Conforme o v. 32 eles não entendiam o que Jesus falava.
Tente se colocar na posição de um judeu daquela época:
. Eles tinham em mente que Deus fez uma aliança com o povo de Israel. Esta tinha elementos muito concretos: Uma terra (Israel); Um povo (descendência); O templo; e um Rei, descendente de Davi.
. O povo desobedece a aliança e a consequência vem: o rei é deposto, o templo é destruído, o povo é levado cativo para longe da sua terra.
. 70 anos se passam e o povo retorna do cativeiro. Depois de muitos anos. Eles tem a terra de volta e constroem um novo templo. Porém, tem algo faltando: O Rei. Para o judeu, o cativeiro não havia acabado, porque eles ainda estavam sob a tutela de um governo estrangeiro.
. A esperança de Israel, portanto, era a de que Deus mandaria o Messias. Este ajuntaria todo o povo de Deus e a partir de Jerusalém governaria sobre toda a terra.
Com isso em mente, fica mais fácil entender porque os judeus não estavam entendendo as palavras de Jesus.
“Como assim? Ele é o nosso rei mas vai ser morto? E o que ele quer dizer com ressurreição? Isso não faz sentido.”
Talvez por isso, Jesus tenha repetido 3 vezes a predição de sua morte e ressurreição. (8. 31-33; 9. 30-32; 10.32-34). E talvez por isso ele, após cada predição, ensinou sobre o discipulado.
Os discípulos tinham que ter a sua visão de reino trabalhada. É então que Jesus começa a falar sobre a diferença de servir ao Reino de Deus em relação aos outros reinos deste mundo.
É neste contexto, que Jesus fala acerca dos discípulos terem sal em si mesmos. Agora, quando olhamos para esta passagem, precisamos nos perguntar sobre o que isso significa. Afinal, o que é ter sal em nós mesmos?
É com base nesse tema, que gostaria de olhar para este texto:

Ter sal em vós mesmos significa:

1. Purificação
A ideia de ter sal está ligada a ideia de sacrifício. O sacrifício do AT apontava para a ideia de purificação dos pecados. E nessa ideia de purificação, dois elementos precisam ser ressaltados: o sal e o fogo. Comecemos pelo sal.
a. O sal
O sal fazia parte dos ofertas sacrificiais do AT.
Deixem-me citar as seguintes passagens:
Leviticus 2:13 “Toda oferta dos teus manjares temperarás com sal; à tua oferta de manjares não deixarás faltar o sal da aliança do teu Deus; em todas as tuas ofertas aplicarás sal.”
Ezekiel 43:24 “Oferecê-los-ás perante o Senhor; os sacerdotes deitarão sal sobre eles e os oferecerão em holocausto ao Senhor.”
Vemos, portanto, que o sal fazia parte do ritual de sacrifícios do AT.
Mas por que colocar sal nas ofertas sacrificiais? A razão seria porque, quando o sal passa pelo fogo, ele não se destrói. A durabilidade do sal, mesmo passada pelo fogo, demonstra a solidez da Aliança de Deus com o seu povo.
Assim, isso seria uma clara demonstração de que, mesmo diante de circunstâncias adversas, Deus se manteria fiel aos termos de sua aliança.
Jesus, então, usa essa imagem do sacrifício e aplica para a vida do seu discípulo. Jesus diz: Cada um será salgado com fogo. Ele estava falando isso para os seus discípulos.
b. O fogo
Agora precisamos entender melhor a ideia de fogo como elemento de purificação.
Observe que o versículo 49 começa com a conjunção “Porque”. Esta conjunção revela que o que está sendo dito aqui possui relação com a passagem imediatamente anterior.
Na passagem anterior, Jesus estava ensinando aos discípulos sobre o verdadeiro discipulado. E ele demonstra por meio de figuras muito fortes a ideia de sacrifício que um discípulo deve ter para seguir Jesus.
Um zelo por não fazer nenhum dos pequeninos (a multidão) tropeçar (v. 42)
Sacrificar a mão (v. 43) Sacrificar o pé (v. 45)
Sacrificar um dos olhos (v. 47)
E tudo isso porquê? Porque no inferno o verme não morre e o fogo não se apaga. (v. 48)
Vemos, então, a ideia do fogo como instrumento de Juízo de Deus. O fogo tem esse elemento purificador. A ideia do fogo não é causar mera destruição, mas a purificação.
Abrir mão de partes do corpo é um indicativo para abrir de coisas até lícitas, mas que podem nos prejudicar em nossa caminhada no reino de Deus. Os conceitos de sacrifício e purificação se unem diante da imagem de um fogo que não se apaga.
Por isso, que os sacrifícios eram passados pelo fogo, porque demonstravam o caráter purificador que uma oferta deveria ter para ser aceita perante o SENHOR.
Contudo, quando o SENHOR nos diz que cada um será salgado com fogo, ele demonstra que cada um de nós passará por esse processo de purificação. E agora?
Teremos nós uma atitude de medo perante o fogo?
Temeremos o fogo que há de vir?
A resposta de um discípulo de Cristo deve ser NÃO. O crente não tem medo do fogo do Juízo divino. Isso porque o fogo aperfeiçoa a nossa fé e também aponta para a consumação.
Vejamos mais dois textos da palavra do SENHOR
1 Peter 1:7 “para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo;”
Neste texto, o apóstolo Pedro nos chama a perceber que vamos passar por tribulações. O cristão terá provações nessa vida. Mas diante disso, o crente é convidado a: Bendizer o SENHOR pela sua salvação e; alegrar-se no SENHOR em meio as provações.
Mas com qual objetivo de nos alegramos em meio a provações? Aí entra o versículo 7. A provação faz com que a nossa fé se torne mais preciosa do que o ouro que passa pelo processo de fundição.
O ouro para se tornar a jóia preciosa que conhecemos passa pelo processo de fundição. Ele é “purificado”. O apóstolo usa essa ilustração para dizer que, com a nossa fé, é da mesma forma. Passamos pelas provações da vida cristã, e somos purificados pelo SENHOR e tudo para que redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo.
Logo, neste texto vemos que a figura do fogo não deve ser assustadora para o crente, porque ela purificará a nossa fé para a glória de Deus.
O segundo texto que quero citar é esse:
2 Peter 3:10–13 “Virá, entretanto, como ladrão, o Dia do Senhor, no qual os céus passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos se desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela existem serão atingidas.Visto que todas essas coisas hão de ser assim desfeitas, deveis ser tais como os que vivem em santo procedimento e piedade,esperando e apressando a vinda do Dia de Deus, por causa do qual os céus, incendiados, serão desfeitos, e os elementos abrasados se derreterão.Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça.”
Sendo o fogo o instrumento não de destruição total, mas de purificação, vemos portanto como ele se aplica a consumação de todas as coisas. O fogo do Juízo servirá não para acabar com tudo o que Deus criou, mas para purificar a sua criação.
Olhe que coisa interessante: o cristão não teme passar pelo fogo purificador, porque ele sabe que, quando esse fogo passar, um novo céu e uma nova terra surgirá. Um corpo incorruptível glorificado ele irá ter. Uma cidade única para habitar com o SENHOR. Isso traz para nós uma esperança única e viva!
Assim, meus irmãos, com base nestes dois elementos observamos que ter sal em nós mesmos significa purificação.
Aplicação
Purificação significa abrir mão de coisas até consideradas lícitas com o fim de proclamar o Reino de Deus.
Purificação Indica que a vida do discípulo é uma vida de sacrifício em prol do reino de Deus.
Purificação indica uma esperança viva de que não morreremos ao passar pelo fogo. Tendo sal em nós mesmos seremos aperfeiçoados e miraremos um novo céu e uma nova Terra.
2. Preservação
O segundo significado de ter sal em si mesmo é a preservação.
Pensemos na função do sal na época de Jesus. Para que servia o sal?
A resposta mais natural para nós é pensar o sal nos termos de hoje. O sal servia para salgar.
Embora isso seja verdade, a principal função do sal não era essa. A principal função do sal é preservar. O sal era usado para a preservação dos alimentos.
Pense comigo: na época de Jesus não tinha freezer ou geladeira. Então, para conservação de carnes, elas eram salgadas. Dessa forma, elas poderiam durar mais tempo.
Jesus usa essa aplicação para falar aos discípulos que eles são os agentes de preservação do mundo.
Importante lembrar que esta passagem aparece nos outros evangelhos conhecidos como sinóticos (Mateus e Lucas). Vejamos:
Matthew 5:13 “Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens.”
Luke 14:34 “O sal é certamente bom; caso, porém, se torne insípido, como restaurar-lhe o sabor?”
Cada uma dessas passagens está em um contexto distinto. Cada um dos evangelistas a colocou de forma a trazer uma mensagem. Então de cada uma delas podemos meditar e extrair vários ensinamentos.
Mas há um fator comum entre elas: ambas falam sobre a função de preservação do sal na vida dos discípulos.
Aqui também é interessante notar a pergunta retórica de Jesus: “Mas se vier a se tornar insípido, como lhe restaurar o sabor?”
O sal poderia ser recolhido do mar, e mesmo assim não ser bom para uso por estar misturado a impurezas. Quando ele ficava assim, não tinha como fazê-lo bom. Ele não servia pra nada e tinha que ser descartado.
Além disso, este sal imprestável podia ser um problema até para o descarte. No texto de Lucas 14.34,35 diz que o sal inssípido não serve nem para o monturo (entulho). Isso demonstra a inutilidade de um sal que não cumpre o seu propósito.
Assim, os discípulos deveriam cumprir seu papel de preservação da criação. Se eles não cumprissem tal papel, então não há sentido deles serem discípulos de Cristo. Se o povo de Deus perde seu objetivo de cuidar da terra, então ele perde tudo.
Logo, a função do sal nos ajuda a entender a função do discípulo de Cristo neste mundo: o discípulo tem a função de preservar a criação de Deus.
Aplicação:
Como sal que preserva a criação, devemos ter uma boa consideração pelo que Deus Criou.
Como sal que preserva a criação devemos ter um cuidado pelo ambiente onde nós estamos.
Como sal que preserva a terra não podemos ter uma atitude de fuga do mundo. Para ser sal devemos estar nele.
Como sal que preserva a terra não podemos achar que podemos redimir este mundo. Apenas Deus pode.
3. Paz
O terceiro significado de ter sal em nós mesmos é Paz. Após falar aos discípulos “Tende sal em vós mesmos” Jesus acrescenta e “paz uns com os outros”.
O que Jesus demonstra é que o relacionamento entre os crentes deve ser de tal forma harmonioso que isso resultará no exercício da própria função de sal da terra. Para ser sal é necessário ser um relacionamento “temperado” entre os da própria família da fé.
Em uma passagem próxima a esta podemos observar isso. Veja Marcos 10.45:
Mark 10:45 “Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.”
Jesus falou porque Tiago e João fizeram um pedido para Jesus. Eles queriam estar, na glória de Cristo, assentados a direita e a esquerda dele.
Jesus fala que eles não sabem do que estão pedindo. E não sabem mesmo. Afinal, eles como judeus esperavam que a glória de Jesus fosse num trono, reinando autoritativamente sobre todos os povos. Assim, um queria ser o primeiro ministro e o outro o chefe de gabinete.
Porém, Jesus era um Rei totalmente diferente do que eles esperavam. Qual foi a maior glória de Jesus? A cruz. E na sua direita e na sua esquerda, estiveram dois ladrões. De fato, Tiago e João não sabiam o que estavam pedindo.
É então que Jesus fala a respeito do cálice e do batismo que ele ia ser batizado. Estes elementos demonstram que Jesus passaria por um processo de castigo e juízo divino. O cálice demonstra a ira do Senhor, e o batismo uma imersão nela. Jesus experimentaria tudo isso.
Ao serem perguntados se poderiam participar disso, Tiago e João respondem que sim. Ok, Jesus concordam que eles passariam por isso (o que foi comprovado pelas suas vidas apostólicas), mas sobre o assentar a sua direita e esquerda somente ao pai caberia falar sobre isso.
A partir desse fato, os 10 ficam indignados contra Tiago e João. “Como assim? Vocês querem ser maior do que nós?” E por isso, Jesus começou algo sobre a liderança no Reino de Deus.
A liderança no Reino de Deus era diferente do mundo. No mundo a liderança é feita por meio do poder, controle e influência. Mas no Reino de Deus, a forma de liderar é servindo. Aquele que quiser ser grande entre vós, seja o que sirva.
E porque que a liderança deve ser baseada em servir aos outros? Aí entra o v. 45. Porque Jesus não veio para ser servido mas para servir e dar a sua vida em resgate por muios.
Ora, se o Filho de Deus, o Rei de Israel, não veio para ser servido, mas para servir, o que nós como seus discípulos devemos fazer? Servir uns aos outros.
Este ato de serviço deve começar em nós como igreja do Senhor. E a paz é a palavra que resume como deve ser a relação entre os membros do corpo de Cristo para que possamos viver contando com a simpatia do povo (At 2.47).
Portanto, ter paz uns com os outros é ter um relacionamento harmonioso de serviço em prol do nosso próximo.
O que acontecerá com isso é que o povo de Deus manifestará aspectos dessa paz não somente para um ambiente de igreja, mas todos os não-crentes que estão ao redor notarão isso. Talvez não haja conversão, mas certamente haverá a glórificação a Deus nisso.
Existe um texto no Antigo Testamento que nos ajuda nesse propósito.
Jeremiah 29:7 “Procurai a paz da cidade para onde vos desterrei e orai por ela ao Senhor; porque na sua paz vós tereis paz.”
Aqui estava o povo de Judá no cativeiro babilônico. A Babilônia não era o lugar deles. Mas eles não iam sair de lá tão cedo. Como eles deveriam se portar diante dessa circunstância? A resposta é dada neste versículo.
O povo de Deus deveria procurar a paz da cidade. Com isso, Deus estava falando para o povo habitar onde estavam e contribuir para a melhora daquele lugar. Se aquele lugar melhorasse, eles melhorariam. É no desenvolvimento da paz do ambiente que o povo de Deus teria paz.
Agora aplique isso para a nossa vida enquanto igreja. Nós sabemos que o nosso lugar não é aqui neste mundo. Mas nós também não sabemos quando o Senhor irá nos buscar. Pode ser que seja breve, pode ser que demore um pouco mais. Sendo assim, o que devemos fazer?
Devemos ter uma atitude semelhante a do povo judeu no cativeiro. Devemos amar o lugar em que nós estamos e contribuir para a melhora dele. Devemos orar pelo local onde habitamos na certeza de que este lugar é o nosso lugar também. E mesmo se não houver conversões, Deus será glorificado.
Foi o que Daniel e seus amigos fizeram. No livro de Daniel, observamos em vários momentos Deus demonstrando o seu poder:
. dando força a Daniel e seus amigos por meio de uma dieta apenas de legumes (Cap.1);
. Dando a Daniel a interpretação de sonhos (Cap. 2)
. Livrando Sadraque, Mesaque e Abede-Nego da fornalha (Cap. 3)
Mas em todos estes casos, nós notamos que não houve uma conversão de Nabucodonosor, nem da corte babilônica. Mesmo com manifestações espantosas do poder de Deus, não houve conversão.
Mas uma coisa houve: Deus foi glorificado. O nome de Deus foi anunciado. E isso é tudo que importa.
Irmãos, ter sal em nós mesmos significa ter paz uns com os outros. E viver como família da fé, unida no propósito de proclamar o Reino é um fator fundamental para ser sal neste mundo.
Conclusão:
Vemos então, que ter sal em nós mesmos significa: 1) Purificação; 2) Preservação e; 3) Paz.
Aplicações:
Ter sal em nós mesmos significa viver em santidade. E isso muitas requer o sacrifício de coisas lícitas para que o nome de Deus seja glorificado. O que você está disposto a abrir mão para a purificação?
Ter sal em nós mesmos significa um olhar mais positivo para a criação divina, ainda que ela seja danificada pelo pecado. Como você tem cuidado da criação de Deus? Você tem apreciado aquilo que é resultado da imagem de Deus em nós?
Ter sal em nós mesmos significa ter paz uns com os outros. Como tem sido a nossa vida como igreja? Temos orado pela nossa cidade? Temos contribuído para a melhora do lugar onde nós estamos?
Que Deus nos ajude que o sal que purifica, que preserva e traz paz seja abundante sobre as nossas vidas.
Que Deus nos abençoe!
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