Devo praticar o Jejum? - Mateus 6.16-18
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16 — Quando vocês jejuarem, não fiquem com uma aparência triste, como os hipócritas; porque desfiguram o rosto a fim de parecer aos outros que estão jejuando. Em verdade lhes digo que eles já receberam a sua recompensa.
17 Mas você, quando jejuar, unja a cabeça e lave o rosto,
18 a fim de não parecer aos outros que você está jejuando, e sim ao seu Pai, em secreto. E o seu Pai, que vê em secreto, lhe dará a recompensa.
A palavra Jejuar é o ato voluntário de abster de todo alimento, muitas vezes, de bebida, por um período limitado, por razões morais ou religiosas. No Antigo Testamento, o jejum era sinal de luto, a saber, 1 Samuel 31.13; 2 Samuel 1.12 e outros textos, de arrependimento, Joel 2.12–13; Neemias 9.1–2, de preocupação sincera diante de Deus, conforme encontramos em Salmos 35.13; 69.10; 109.24; Daniel 9.3. O Jejum está ligado em muitos momentos à oração, embora existissem ocasiões para o jejum exigido pela lei, ou seja, o dia de expiação com em Levítico 16.23; Números 29.7, havia sempre o perigo de o jejum se tornar uma observância legal, neste sentido encontramos os profetas em protesto, conforme descrito em Isaías 58; Jeremias 14.12.
O Novo Testamento também trata sobre o assunto, a título de lembrete, é muito provável que Jesus jejuasse em certas ocasiões, o registro do evangelista Mateus 4.1–2; Lucas 4.1–2, porém não é mencionado como um costume. Jesus Cristo se refere à prática do jejum, registrado em Mateus 6.16–18; 9.14–15; Marcos 2.18–20; Lucas 5.33–35.
Observe a recomendação de Jesus Cristo, a simples e sincera devoção a Deus e sua glória, isso era esperado dos discípulos, não era para ser feito com a ostentação e com o desejo de se obter louvor humano, prática comum entre os religiosos exibicionistas. Jesus Cristo não estabeleceu regras definidas para os discípulos, como o fez João Batista e os fariseus em relação aos seus discípulos.
O jejum tornou-se costume mais regulamentado na igreja por volta do final do segundo século e, especialmente, do quarto século em diante. Embora, na igreja primitiva, o jejum fosse, simplesmente, símbolo de uma atitude interior, tornou-se cada vez mais ligado a uma teologia ascética ou legalista e ao conceito de obras meritórias. Observe que estava andando na contramão dos ensinamentos de Jesus Cristo. Por essa razão, os jejuns tradicionais foram rejeitados pelos reformadores, embora o costume em si não fosse desaprovado.
Vamos entender a prática do Jejum olhado os costumes dos povos, a visão do Antigo e Novo testamento e finalizaremos entendendo como o Jejum é aplicado em nossos dias e como o cristão se posiciona quanto a essa prática.
1. Jejum no antigo Oriente Próximo
1. Jejum no antigo Oriente Próximo
Antigo Oriente Próximo é o nome do período considerado das primeiras civilizações complexas, marcadas pela existência de uma série de características específicas, como instituições políticas, hierarquização e diversificação social. Não é possível apontar um local específico onde teria surgido a primeira civilização do Mundo Antigo. Tendo isso em vista, é a partir desse Oriente imaginado que estudamos a civilização egípcia e os diversos povos que dominaram a região da Mesopotâmia, nas proximidades dos rios Tigre e Eufrates, como os sumérios, amoritas, assírios e caldeus, conforme estudamos em no livro de Moisés o Gênesis. Observe alguns aspectos sobre o jejum encontrado neste tempo.
Na Mesopotâmia, o jejum fazia parte dos rituais de luto, ou seja, uma demonstração pública do sofrimento que contrastava fortemente com a celebração.
No antigo Oriente Próximo, o jejum tinha um significado social semelhante ao banquete. Ambas as práticas poderia criar ou renovar um vínculo social e exibir o estado atual de um indivíduo ou até mesmo do grupo. O escritor Pollock, em seu livro Festas, Funerais e Fast Food, descreve que enquanto o banquete era frequentemente uma demonstração pública de riqueza e sucesso, o jejum era uma demonstração de humildade e tristeza, note que é uma demonstração para todos, para que os outros os notassem.
O jejum era praticado como um sinal de luto pelo rei de um país pela morte da contraparte de um país aliado. O jejum de pessoas no mundo antigo também poderia indicar um espírito perturbado. Encontramos na literatura egípcia tardia, a recusa do faraó em comer ou beber, isso expressava seu estado emocional conturbado, para os outros, e uma vez que o faraó era consolado, ele voltava a comer.
O Egito antigo era um país agrícola, onde a vida estava centrada na produção de alimentos. A produção de alimentos dependia da fertilidade da terra, que era controlada pelos cultos de fertilidade de Osíris e Apis. Essas divindades eram responsáveis pelo sucesso ou fracasso do solo em produzir colheitas, o jejum pode ter sido usado como uma forma de conquistar o favor dos deuses. A importância da comida também ficou evidente nas crenças sobre a vida após a morte. As pessoas faziam refeições nos funerárias como meio de comunicação com os antepassados mortos. Assim, a comida tinha um papel na vida religiosa e social da comunidade. Ao jejuar, os indivíduos poderiam se dissociar de outras pessoas e da sociedade, talvez isso era usado para se aproximar do divino.
2. Jejum no Antigo Testamento
2. Jejum no Antigo Testamento
No Pentateuco não encontramos o jejum, mas no Dia da Expiação e no restante do Antigo Testamento, encontramos com frequências. O jejum é frequentemente realizado junto com outras práticas de luto, lamentação ou penitência, e muitas vezes é acompanhado pela oração. Às vezes, o jejum funciona como uma medida preventiva antes de se envolver em atividades perigosas, como uma jornada ou batalha.
No Antigo Testamento, as pessoas frequentemente rasgavam suas roupas e usavam vestes de saco e cinza enquanto jejuavam, a saber, 2 Samuel 1.11–12, Daniel 9.3, Ester 4.3. Tais atividades marcam os participantes como estando em um estado humilde e indicam fraqueza, neste sentido, o jejum é um meio de humilhar-se fisicamente.
A lei mosaica contém apenas um comando para jejuar, relacionado ao Dia da Expiação, conforme encontramos em Levítico 16.29–31; 23.26–33; Números 29.7-11. O texto hebraico não usa a palavra jejum (צוֹם, tsom), mas usa עָנָה (anah), que é frequentemente traduzido como "negar a si mesmo". O termo עָנָה (anah) também significa "afligir", "enfraquecer", "ser humilde" ou "ser abatido". Num dia em que os pecados do povo deviam ser expiados, afligir-se ou negar-se a si próprio pelo jejum serviria como um sinal externo de arrependimento interno por violar a lei de Deus. O jejum é a suspensão temporária de atividades normais, como comer, para permitir que alguém se concentrasse em Deus e reconhecesse dependência dele.
Em Isaías 58:3–6, o termo para jejuar (ֹםוֹם, tsom) é paralelo עָנָה (anah), expressa o jejum como humilhação ou negação de si mesmo, é exatamente o que Jesus Cristo ensina, a negar-se a si, tomar a nossa cruz e segui-lo, olhando também para o próximo, o Salmos 35.13, o orador diz que se afligiu ou se humilhou através do jejum.
Além do jejum no Dia da Expiação, o Antigo Testamento menciona jejuns gerais e individuais realizados para uma variedade de propósitos, incluindo luto, arrependimento e busca de libertação divina. O jejum era um meio de pedir a Deus que tivesse pena e deixasse de infligir punição à pessoa ou pessoas que oravam.
Davi esperava ver a compaixão divina pela vida de seu filho recém-nascido em jejum, talvez imitando as condições que cercam a morte, observe o registro em 2 Samuel 12.17–23. Os israelitas também praticavam o jejum após a perda de entes queridos, de seus filhos, Arão se recusou a comer a refeição sacerdotal prescrita, conforme encontramos em Levítico 10.16–20.
Outras passagens ensinam que o jejum servia como auxílio para a oração, em Neemias 1.4–10; Salmo 35.13; 109.21–24; Daniel 6.18; 9.3; 10.1–3). Os líderes israelitas oraram e jejuaram durante a guerra para pedir a orientação e a intervenção de Deus e fazer pedidos de sucesso na batalha. Também acompanhava a oração ao solicitar alívio da fome.
O jejum em observância a Purim é frequentemente atribuído ao livro de Ester. Purim é um festival de dois dias, neste sentido, um jejum seguido de um banquete para celebrar a libertação dos judeus da destruição e sua vitória sobre seus inimigos. O jejum e o banquete são mencionados em Ester 9.25–32.
Quais são os exemplos que encontramos de jejuns no Antigo Testamento: Jejum associado ao arrependimento e à confissão, Jejum em associação ao luto e Jejum em associação ao perigo.
Quais são os exemplos que encontramos de jejuns no Antigo Testamento: Jejum associado ao arrependimento e à confissão, Jejum em associação ao luto e Jejum em associação ao perigo.
Jejum associado ao arrependimento e à confissão:
Jejum associado ao arrependimento e à confissão:
1 Samuel 7.6, os israelitas jejuam como uma maneira de se afastar dos deuses estrangeiros e voltar ao Senhor.
Neemias 1.4, ele jejua quando ouve que os portões de Jerusalém foram destruídos e os cativos estão em perigo.
Neemias 9.1–2, os israelitas jejuam e confessam seus pecados quando todos os estrangeiros são removidos de sua comunidade.
Jonas 3.4–9, os ninivitas jejuam quando descobrem que a cidade será derrubada em 40 dias.
Jejum em associação ao luto
Jejum em associação ao luto
1 Samuel 31.12, Saul e seus filhos são mortos em batalha, os homens de Jabes-Gileade jejuam.
2 Samuel 1.12, Davi e seus homens jejuam quando descobrem a morte de Saul.
Jejum em associação ao perigo
Jejum em associação ao perigo
Juízes 20.26, os israelitas lutam contra a tribo de Benjamin, eles tinham mais soldados e estavam perdendo, então retornam ao acampamento e jejuam e choram. O resultado é que o Senhor derrota os benjamitas.
2 Crônicas 20.1–3, os moabitas e os amonitas enfrentam Josafá em batalha, Jeosafá proclama um jejum em Judá. O Senhor traz a vitória.
Esdras 8.21–23, é proclamado um jejum antes da viagem de volta da Babilônia para a Judéia.
Ester 4.3, o decreto de Hamã de matar os judeus chega às províncias do rei, há luto e jejum pelos judeus.
Ester 4.16, ela está prestes a arriscar sua vida buscando uma audiência com o rei, proclama um jejum de três dias para todos os judeus em Susã.
O jejum acompanhado de oração é um ato de devoção, dependência de Deus, suplicando a sua misericórdia e reconhecendo que somente Ele pode conceder vitória, paz, ajudar-nos a morrer para nós mesmo, viver em total dependência do Senhor. O jejum está associado a experimentar a dependência de Deus.
Jejum no Novo Testamento
Jejum no Novo Testamento
No Novo Testamento, o jejum ocorre principalmente nos Evangelhos, onde é uma prática regular de João, seus discípulos e os Fariseus. Jesus jejua por 40 dias durante sua tentação no deserto. Lucas 2.37 e Atos 14.23, retratam o jejum como parte do culto.
Os Evangelhos registram Jesus em jejum, isso expressa a confiança no Pai, confiança em Deus em tempos de tentação ou guerra espiritual. No Sermão da Montanha, Jesus critica aqueles que jejuam hipocritamente para atrair atenção. Ele diz às pessoas para dar esmolas, orar e jejuar de maneiras que são visíveis apenas para Deus. Eles não devem marcar o rosto ou parecer sombrios, em vez disso, devem lavar o rosto e colocar óleo na cabeça, para que somente Deus saiba que estão jejuando.
Os fariseus jejuavam, assim como os discípulos de João Batista, os discípulos de Jesus eram incomuns por não jejuarem. Jesus defende esse comportamento usando a parábola de um noivo, indica que sua presença, como a do noivo, era motivo de comemoração, tornando o jejum inadequado. De acordo com Jesus, seria conveniente um tempo de luto e jejum, quando o noivo fosse levado, conforme registro em Mateus 9.15, Marcos 2.20 e Lucas 5.34.
Os primeiros jejuns cristãos parecem ter sido voluntários e foram realizados por uma variedade de razões, como autodisciplina e reforço durante a oração. Pedindo a bênção de Deus sobre a missão da igreja, a igreja de Antioquia se envolveu em jejum antes de enviar os missionários e em conexão com a nomeação de presbíteros.
Observe a importância do jejum bíblico, não é para mostra-se para os outros, mas o fazer em secreto, ou seja, o faça para reconhecer a dependência do Senhor, os momentos do jejum são bem específicos, para suplicar, morrer para nós mesmo, sabendo que em tudo o Senhor está no controle. O jejum é uma forma de expressar ao Deus que está nos céus a Jesus Cristo no Salvador a nossa dependência total do Senhor.
Conclusão
Conclusão
Observamos no Antigo Testamento e no Novo Testamento a forma de jejuar e sua importância na vida do cristão. No catecismo Maior de Westminster na pergunta 108, encontramos:
108. Quais são os deveres exigidos no segundo mandamento?
Os deveres exigidos no segundo mandamento são - o receber, observar e guardar, puros e inalterados, todo o culto e todas as ordenanças religiosas que Deus instituiu na sua Palavra, especialmente a oração e ações de graças em nome de Cristo, a leitura, a prédica, e o ouvir da Palavra. A administração e a recepção dos sacramentos, o governo e a disciplina da igreja, o ministério e a sua manutenção. O jejum religioso, o jurar em nome de Deus e o fazer os votos a Ele. Bem como o desaprovar, detestar e opor-nos a todo o culto falso, e, segundo a posição e vocação de um, o remover tal culto e todos os símbolos de idolatria.
Na Confissão de Fé de Westminster no XXI, trata do culto religioso e no inciso V encontramos que a leitura das Escrituras, com santo temor, a sã pregação da Palavra e a consciente atenção a ela, em obediência a Deus, com entendimento, fé e reverência, o cântico de salmo, com gratidão no coração, bem como a devida administração e digna recepção dos sacramentos instituídos por Cristo, são partes do culto comum oferecidos a Deus, além dos juramentos religiosos, votos, jejuns solenes e ações de graça em ocasião especial, os quais, em seus vários tempos e ocasiões próprias, devem ser usados de um modo santo e religioso.
O Jejum é um ato importante na vida do cristão, mas devemos lembrar-nos que é feito para o Senhor, e não para que os outros observem o que está sendo feito. Devemos entender que o benefício do Jejum não provém de ficar sem comida por um período, mas da auto-negação que é parte do jejum. Jejuamos com o objetivo de negar a carne, e nos entregar totalmente às coisas espirituais. Jejuar no momento de grandes decisões, e em momentos de tribulação, suplicando a misericórdia do nosso Senhor.
O jejum não é ficar com a barriga vazia e achar que isso é bênção, mas é entender que nosso abnegar do alimento lembra-nos que devemos, acima de tudo, ter fome e sede de justiça, que não podemos viver somente de pão, mas devemos viver de toda a palavra que procede da boca de Deus.
Aplicação
Aplicação
Sabemos que o jejum é uma prática importante na vida do cristão e também é um ensinamento bíblico, qual o fazemos para reconhecer que somos dependentes totalmente do Senhor. Neste sentido, quando tiver que tomar alguma decisão, passar por um momento de tribulação, feche a porta do seu quarto, tire um tempo para jejuar, ler a palavra e orar. Espere no Senhor, clame ao Senhor, busque ao Senhor.
Entendemos que o jejum não é o ato de passar fome, nem mesmo um forma de ostentar aos outros como se é santo, mas buscar a justiça, confiando em Deus, ela se cumprirá conforme a vontade do Senhor. Que o Senhor conceda a graça de não negligenciarmos esse ato importante, esse exercício espiritual. Que atentemos ao mandamento para se voltar ao Senhor com jejum.
O que devemos fazer com esse ensino, sabe aquele momento em que suplicamos ao Senhor para parecer-se com Cristo, use o jejum para suplicar ao Senhor um coração como a do nosso Senhor e Salvador Cristo Jesus. Santifique sua vida, para entender que somos totalmente amados pelo Pai, demonstrando que nossas atitudes evidencia ao Senhor.