Atos 4.1-22

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O autor apresenta a oposição e perseguição a serem enfrentadas pela igreja, mediante a fidelidade ao comissionamento testemunhal para a qual foi chamada a prestar.

Notes
Transcript
"(…) E sereis minhas testemunhas (…) até aos confins da terra" (Atos 1.8).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
Na sequência da seção em que Lucas demonstrou um exemplo da atuação do poder do Espírito Santo que operava através da igreja, testificando de Cristo Jesus e sua glória a partir da cura de um coxo à porta do Templo (cf 3.1-26), o autor introduz outro tópico ao seu enredo: a reação de oposição sofrida pela igreja.
Ao longo de toda a narrativa, Lucas demonstra obstáculos enfrentados pelos discípulos de Cristo, enquanto avançam o testemunho evangélico até aos confins do mundo. Ao passo que a comunidade dos discípulos difunde o evangelho e cresce (como é declarado na presente seção (cf. v. 4)), a igreja precisa também ecoar o convite à salvação direcionado pelo SENHOR a todos quantos ele chamar (cf. At 2.39c - Jl 2.32), diante de autoridades (e.g. Sinédrio, governadores, procônsules etc.).
O autor se vale da antagonia enfrentada pela igreja, tal como registrada no presente parágrafo) como ponto exortativo direcionado aos seus próprios leitores: uma vez que Cristo já havia adiantado que isso aconteceria (cf. Lc 21.12-19), a firmeza e fidelidade da igreja diante das perseguições também mostra-se uma capacidade concedida pelo Espírito Santo, a fim de que os discípulos mantenham-se resolutos em obedecer antes a Deus do que a homens (v.19).
Levando em consideração o público-alvo do presente texto (i.e. Teófilo (cf. Lc 1.1-4; At 1.1-4) Lucas enfatiza que a sustentação do testemunho deverá ocorrer não somente diante do povo, ou das pessoas com quem comumente a igreja (dos quais o(s) leitor(es) agora fazem parte) lida, mas também diante de autoridades que podem apresentar resistência ou mesmo oposição a mensagem evangélica. Todavia, a fidelidade e intrepidez necessárias para tal, fazem parte (segundo já aludido) da operação poderosa do Espírito Santo na comunidade dos discípulos do Senhor Jesus.
Notando essas considerações, o texto de Atos 4.1-22 sintetiza a proclamação do testemunho evangélico frente a oposição.
Elucidação
A frequência com que discursos são registrados por Lucas no livro de Atos, solidifica a intenção de expor o caráter testemunhal da missão da igreja. Novamente Pedro é destacado como sendo o personagem principal do enredo; aquele que proferirá não apenas um discurso no qual reapresentará a centralidade de Cristo nos últimos acontecimentos (i.e. a cura de um coxo), bem como a resolução da comunidade dos discípulos do Senhor em transmitir e propagar a mensagem evangélica.
A contiguidade entre a narrativa anterior e a presente é estabelecida no início do versículo 1: “Falavam eles ainda ao povo”, e nesse ínterim, Lucas de pronto registra a inserção de outros personagens à cena; no caso
Atos dos Apóstolos 4.1–2
(…) Os sacerdotes, o capitão do templo e os saduceus, ressentidos por ensinarem eles o povo e anunciarem, em Jesus, a ressurreição dentre os mortos;
Conforme a identificação encontrada nos evangelhos, os anciãos de Israel foram os principais antagonistas à Cristo e sua mensagem (cf. Mt 16.5-12, 21; Mc 7.1-13; Lc 11.45-12.1; Jo 11.47), dentre eles, os saduceus, que segundo a narrativa de Mateus “dizem não haver ressurreição” (Mt 22.23). Lucas identifica uma das facções que agora apresenta contestação contra os discípulos, a fim de relembrar seus leitores que essa resistência não é nova: tal como ocorreu com o próprio Senhor Jesus, assim estava ocorrendo também com seus discípulos, o que novamente atesta a veracidade das palavras proferidas por Pedro, João e os demais discípulos, como vindas de fato da parte do Senhor, refletindo fielmente seu testemunho.
O ensino apostólico em relação à ressurreição, principalmente a partir do ressurgimento do próprio Cristo (v.2), culmina com a prisão de Pedro e João. Nesse ponto, a menção específica feita por Lucas quanto ao fato de este ponto do ensino ter provocado “ressentimento” nos anciãos de Israel, salienta a antagonia que o testemunho da igreja representa contra a mentalidade obscurecida dos homens.
O encarceramento dos apóstolos não ocorre por uma diferença de ensino ou simplesmente por causa da inveja dos anciãos do povo — embora, como é visto à luz dos evangelho, tais pontos também façam parte dos motivos da resistência —. A afirmação de que o Senhor Jesus Cristo havia verdadeiramente ressuscitado dos mortos (v.3), e que isso tinha implicação direta com a obra salvadora, pois nele, todo o pecador que o reconhecer como o Senhor glorificado pelo Pai, receberá a promessa de redenção/ressurreição. A confirmação do poder contido nesse testemunho é o registro de que embora os apóstolos tenham sido presos “muitos dos que ouviram a palavra creram, subindo o número desses homens a quase cinco mil” (v.4).
Nesse ponto, uma nova leva de personagens é inserida, pela mesma razão da anterior, porém, a ênfase se intensifica, pois nomes conhecidos são propositalmente citados por Lucas, fazendo seus leitores compreenderem que a rivalidade e perseguição enfrentada pelos discípulos não era repentina, mas uma continuação, como já exposto, da mesma tensão sofrida por Cristo em seu ministério:
Atos dos Apóstolos 4.5–7 ARA
No dia seguinte, reuniram-se em Jerusalém as autoridades, os anciãos e os escribas com o sumo sacerdote Anás, Caifás, João, Alexandre e todos os que eram da linhagem do sumo sacerdote; e, pondo-os perante eles, os arguiram: Com que poder ou em nome de quem fizestes isto?
Dentre os listados, pelo menos um possui identidade significativamente marcante: Caifás, sendo este o mesmo que julgou Jesus juntamente com o Sinédrio (Mt 26.57). A corte que antes reuniu-se contra Cristo, forma novamente maioria no intento de inquirir Pedro e João.
Do versículo 8 ao versículo 12, Pedro centraliza que “em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, (…,) é que este está curado na presença de vocês (cf. v.10). O Cristo ressuscitado segundo a vontade de Deus, e que dele recebeu um nome que está acima de todos, sendo o único “pelo qual importa que sejamos salvos” (v.12); este que foi a pedra rejeitada, mas que era na verdade a pedra angular, outorgou poder a ambos para realizarem a cura do coxo.
A designação de Pedro quanto a Cristo ser “a pedra rejeitada pelos construtores” (v.11), é uma referência ao Salmo 118.22, no qual o salmista apresenta o SENHOR como seu salvador (cf. Sl 118.21), principalmente por ter enviado aquele que operaria o seu livramento (cf. 118.26). Pedro traça tal referência a fim de deixar claro que, o Jesus no nome de quem pregavam e haviam curado o coxo, era o mesmo que fora crucificado por aqueles homens que agora o questionavam.
A menção feita pelo apóstolo é compreendida pelos anciãos, como Lucas assinala no versículo 13:
Atos dos Apóstolos 4.13 ARA
Ao verem a intrepidez de Pedro e João, sabendo que eram homens iletrados e incultos, admiraram-se; e reconheceram que haviam eles estado com Jesus.
Embora o padrão de exibição da situação de antagonia, adicionado a declaração da glória de Cristo como Senhor e Salvador dos homens, tenha sido novamente trazido ao centro do texto, os efeitos diferem, ao serem comparadas seções anteriores com a presente. Como é visto nos capítulos 2 e 3, Pedro e João, ao terem tecido sua prédica a partir da declaração de que as multidões que testemunharam os milagres (o falar dos 120 em novos idiomas, e a cura do coxo), haviam crucificado a Cristo, colocando-se como seus rivais, veem que a reação dos ouvintes foi de arrependimento e contrição: muitos dos que ouviram os dois primeiros sermões, creram em Cristo Jesus (cf. 2.41; 4.4).
Por outro lado, embora tenham de igual forma testemunhado que fora pelo poder de Cristo Jesus que fizeram tais milagres, ao ponto de os próprios anciãos do povo reconhecerem que “um sinal notório foi feito por eles (i.e. pelos apóstolos), e não o podemos negar” (v.16), os tais não reagiram em arrependimento e fé no Messias testemunhado pelos discípulo; ao contrário:
Atos dos Apóstolos 4.18 ARA
Chamando-os, ordenaram-lhes que absolutamente não falassem, nem ensinassem em o nome de Jesus.
A reação inusitada e adversa é focada por Lucas como ponto demonstrativo de que o testemunho evangélico poderá despertar, naqueles que o ouvirem, reações distintas, e a igreja deverá compreender que a perseguição oriunda da resistência dos homens para com Cristo e sua obra, também é parte do chamado que a igreja foi convocada a cumprir, como é exposto pela própria resposta de Pedro e João às autoridades judaicas:
Atos dos Apóstolos 4.19–20 ARA
Mas Pedro e João lhes responderam: Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos antes a vós outros do que a Deus; pois nós não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos.
A igreja não poderá recuar em sua jornada de testemunho do evangelho aos confins do mundo. Embora não se valha de nenhuma forma impositiva no intento de trazer pecadores à fé no Cristo de Deus, poderá ela mesma sofrer o dano por estar anunciando em um mundo rival ao Reino do céu, que somente em Cristo Jesus, o ressurreto, há salvação. Todavia, a ameaça mundana (prefigurada pelos anciãos de Israel) não acovardará os discípulos; Pedro e João salientam que não poderiam deixar de falar das coisas que “vimos e ouvimos”, outra referência direta ao próprio Cristo. O Senhor Jesus é o tema do testemunho da igreja, e sendo ele a realidade fundante de toda a experiência redentiva desfrutada por eles, os discípulos afirmam que não poderiam deixar de pregá-lo.
Em sua conclusão, Lucas afirma que após terem sido ainda mais ameaçados, Pedro e João são soltos devido a influência do testemunho que prestaram a partir da cura do coxo, “porque todos glorificavam a Deus pelo que acontecera” (v.21). Noutras palavras, ao final do relato em que as autoridades, perseguindo os discípulos, tentaram barrar o avanço da igreja e testemunho evangélico, é declarado que a mensagem apostólica por ela comunicada triunfará.
Transição
O testemunho apostólico pregado pela igreja, não surtirá apenas o efeito regenerador para a vida, como desde o capítulo 2 vem sendo descrito por Lucas. Os discípulos de Jesus deparar-se-ão como adversário; pessoas que, obscurecidas pela corrupção de seus corações e ação maligna do diabo, buscarão solapar o avanço da igreja até aos confins do mundo.
Cada cristão deverá então julgar, como questiona Pedro, se é justo ouvir o grunhido dos homens ou as ordens do Espírito Santo, que ordena ao seu povo, falar das coisas que viram e ouviram, isto é, o próprio Cristo.
Compreendendo esses contornos textuais, o texto de Atos 4.1-22, centraliza como aplicações, as seguintes verdades:
Aplicações
1. A perseguição, até a volta de Cristo, deverá ser um fator presente na vida da igreja, no cumprimento de sua missão testemunhal ao mundo.
Tertuliano, antigo pai da igreja, certa vez afirmou: “Nós crescemos em maior número quanto mais somos abatidos (…); o sangue dos cristãos é semente”. Os anciãos de Israel tentaram parar a Pedro e João, ameaçando-os, para que não mais falassem no nome de Jesus Cristo, o Nazareno, e Lucas redige o relato que registra esse momento, a fim de que toda a igreja esteja atenta ao fato de que, pode chegar a nossa hora de irmos às autoridades, prestar esclarecimentos quanto a nossa fé.
Até este ponto do livro, o autor destacou o poder do Espírito presente na igreja, dando-lhe a graça de chamar pecadores ao arrependimento e à salvação. Todavia, Lucas (e acima dele, o Espírito Santo) também faz questão que a igreja tome conhecimento de que essa não é a única consequência advinda do testemunho evangélico.
Os mesmos homens vis que entregaram Cristo para ser crucificado, perseguiram Pedro e João, e outros haverão que lançarão mão da mesma estratégia para obstruir o caminho da igreja. Nada obstante, embora invariavelmente os discípulos de Cristo precisem lidar, em algum momento de suas vidas, com algum tipo de antagonia ou perseguição, a igreja, no poder do Espírito, manter-se-á firme em seu propósito. O que nos leva ao segundo ponto.
2. O Espírito fornecerá a igreja a intrepidez necessária para que mantenha-se firme, mesmo diante de autoridades, ao testemunho do evangelho.
Tendo alertado seus discípulos acerca do que aconteceria com eles, quando fosse assunto aos céus, Cristo enfatizou:
Lucas 21.14–15 ARA
Assentai, pois, em vosso coração de não vos preocupardes com o que haveis de responder; porque eu vos darei boca e sabedoria a que não poderão resistir, nem contradizer todos quantos se vos opuserem.
O Espírito Santo, dado a igreja como marca da glorificação de Cristo, anunciará a vitória do Senhor através da vitória da igreja sobre seus perseguidores. Arrastar discípulos de Cristo às autoridades; expô-los ao ridículo nas praças; nos humilhar acusando-nos falsamente de pregarmos discurso de ódio, intolerância etc, não poderão parar a marcha incansável do povo de Deus que leva o testemunho do evangelho aos perdidos.
Precisamos ter coragem para cumprir o chamado que recebemos do Senhor. Não podemos nos omitir de agir como cristãos onde quer que estejamos. Os ímpios não se constrangem em agir como avessos ao Reino de Deus, promovendo todo tipo de pecaminosidade e corrupção no mundo; não seremos nós, a igreja, que teremos vergonha de falar do que vimos e ouvimos; de testemunhar de Jesus Cristo; Aquele a quem Deus ressuscitou para sua glória.
Conclusão
O crescimento da igreja não foi o único efeito da pregação e testemunho do evangelho. A perseguição também revelou-se como obstáculo ao avanço da igreja. Contudo, o povo de Deus obedecerá aquele que, ressuscitando a Cristo, demonstrou que nada há que temer nesse mundo:o evangelho triunfará.
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