Êxodo 5.22-6.13
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· 2 viewsO autor divino/humano enfatiza a declaração da palavra de juramento solene empenhada pelo SENHOR, como base para a confiança do povo de Deus na salvação, mesmo em meio a intensa opressão infligida por seus inimigos.
Notes
Transcript
"São estes os nomes..." (Êx 1.1).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
Após a retomada da temática da situação de opressão que viviam os filhos de Israel na terra do Egito, e de como o SENHOR estava anunciando através de Moisés e Arão que haveria de os libertar, conduzindo-os à terra que sob juramento prometeu conceder como herança à descendência de Abraão, Isaque e Jacó (cf. 3.15; 4.5), Moisés registra a base da argumentação divina que novamente garante aos hebreus a concretização dos planos redentivos.
Além da teofania que alude ao conhecimento do SENHOR quanto à condição dos filhos de Israel (cf. 3.1-7), sua palavra de juramento é agora empenhada (cf. 6.6-8), apontando para o fato de que embora o coração endurecido de Faraó os esteja oprimindo, inclusive intensificando o sofrimento dos trabalhos que realizam, a formalização e oficialização do compromisso redentivo do Deus de Abraão sacramentam o resgate que será operado.
Como é demonstrado no texto, a partir da iniciativa divina de lembrar-se de sua aliança (v.5), o SENHOR, dando-se a conhecer mais intimamente aos filhos de Israel do que quando o fez em relação aos próprios patriarcas, chama a atenção de seu povo para o início da sua atividade resgatadora. Moisés, tendo exposto o fato de que Faraó passou a maltratar ainda mais os hebreus, questionou o SENHOR quanto ao porquê de até agora não ter sido liberto seu povo (cf. 5.22), recebendo como resposta a menção de que "agora, verás o que hei de fazer a Faraó, pois, por mão poderosa, os deixará ir" (cf. 6.1).
O conhecimento mais profundo desfrutado pelo povo quanto ao seu Deus, deve guiá-lo à compreensão de que as palavras ditas pelo próprio SENHOR não cairão por terra ou serão frustradas; a intensificação do sofrimento não impedirá que o Deus da Aliança cumpra seus desígnios, principalmente o de ser adorado por seu povo, habitando no meio dele.
À luz disso, o texto de Êxodo 5.22-6.13 sintetiza como ideia central a formalização do juramento redentivo.
Elucidação
Como introduzido, a retomada narrativa que registra a situação dos filhos de Israel sob opressão na terra do Egito, prepara o cenário para as ações portentosas que o SENHOR havia prometido realizaria em favor de seu povo. O questionamento de Moisés no versículo 22 do capítulo 5, ocorre justamente após Faraó ter intensificado os trabalhos dos hebreus, e ecoa a queixa destes em relação a tal agravamento.
Tal como percebido à luz da seção anterior, o objetivo de Faraó era fazer com que os filhos de Israel não atentassem "a palavras mentirosas" (v.5.9); palavras essas que eram na verdade o anúncio da obra redentiva a ser realizar. É apreendido disso que o elemento consumador da fé dos hebreus no Deus que se revelara a Moisés, deverá ser o juramento solene de que aquelas palavras não serão anuladas ou desfeitas, nem mesmo frente a dura opressão que Faraó estava impondo. Tal juramento é prestado a partir do vínculo relacional anterior que faz os filhos de Israel serem beneficiários do pacto firmado com Abraão, seu pai, como registra o versículo 2-3:
Falou mais Deus a Moisés e lhe disse: Eu sou o Senhor. Apareci a Abraão, a Isaque e a Jacó como Deus Todo-Poderoso; mas pelo meu nome, O Senhor, não lhes fui conhecido.
Já havia ficado claro que o demarcador relacional entre Deus e os hebreus no Egito, era exatamente o fato de eles serem a descendência dos patriarcas com os quais o SENHOR também havia se relacionado. Porém, um ponto é digno de destaque, segundo as palavras que Deus agora direciona a Moisés: a manifestação divina aos patriarcas, em certo sentido, era inferior a manifestação da identidade (e portanto da obra) divina que agora estava sendo desvelada aos filhos de Israel. Em termos comparativos, o povo que agora está sofrendo no Egito, está numa posição mais privilegiada no que tange ao conhecimento de Deus do que Abraão, Isaque e Jacó, o que implica num comprometimento ainda mais profundo da parte do SENHOR para com eles.
Isso não significa que a revelação divina exposta aos patriarcas foi pobre ou insuficiente; muito pelo contrário, o elo conectivo entre Deus e os pais de Israel foi suficiente para que tivessem a fé nutrida ao ponto de confiarem no Deus Redentor que lhes prometeu uma descendência (e nela, O Descendente (cf. Gn 12.7 - Gl 3.16)). Nada obstante, o vínculo pactual do qual o povo de Israel agora desfruta, é progredido ou aprofundado a partir de um conhecimento mais claro de Deus, que os permitirá obter do SENHOR a certeza e convicção de que em dado momento, ele cumprirá as palavras anunciadas através de seu servo Moisés. Esse avanço no plano histórico-redentivo da revelação divina gira em torno do nome divino que foi dado aos hebreus; nome que aponta para o seu caráter fidedigno, isto é, o SENHOR (cf. 3.15 "יְהוָ֔ה"
transl. = YHYH).
Ao ter afirmado isso, a clausula de juramento é proferida na sequência, conforme demonstra os versículos 4 à 8:
Também estabeleci a minha aliança com eles, para dar-lhes a terra de Canaã, a terra em que habitaram como peregrinos. Ainda ouvi os gemidos dos filhos de Israel, os quais os egípcios escravizam, e me lembrei da minha aliança. Portanto, dize aos filhos de Israel: eu sou o Senhor, e vos tirarei de debaixo das cargas do Egito, e vos livrarei da sua servidão, e vos resgatarei com braço estendido e com grandes manifestações de julgamento. Tomar-vos-ei por meu povo e serei vosso Deus; e sabereis que eu sou o Senhor, vosso Deus, que vos tiro de debaixo das cargas do Egito. E vos levarei à terra a qual jurei dar a Abraão, a Isaque e a Jacó; e vo-la darei como possessão. Eu sou o Senhor.
Os termos usados pelo SENHOR em seu juramento, como supra-afirmado, estabelecem uma relação direta entre Israel e os patriarcas, e em decorrência disso, a exposição do centro ou objetivo nevrálgico do pacto é revelado. ALIANÇA, TERRA, POSSESSÃO são as expressões que relembram os filhos de Israel no que consistiu a ratificação da promessa feita a Abraão. Em Gênesis 15 e 17, Moisés havia deixado claro que ao ter entrado em aliança com Abraão, o foco daquele pacto era a descendência do patriarca (chamada em Isaque) que culminaria com a entrega da terra por meio da qual peregrinava, como sua herança, e também do povo que dele haveria ser formado.
Todavia, o auge desse momento é agora exposto aos hebreus: o SENHOR firmou aquele compromisso com o patriarca, a fim de que sua descendência fosse tomada "por meu (do SENHOR) povo e serei vosso Deus" (v.7). O juramento divino agora declarado aos hebreus garante a libertação das cargas do Egito (vv. 6 - 7b) não como um fim em si mesmo, mas para que, como anunciado antes (cf. 5.1,3), a relação entre Deus e seus filhos fosse efetivada. Israel serviria não a Faraó, vivendo debaixo de opressão, mas a Deus, de quem desfrutariam a realização da promessa de herdarem uma terra (v.8), para que nela o SENHOR estivesse em seu meio, e a repetição da menção ao nome divino ao final do versículo 8, assina e conclui os termos do juramento/promessa agora ratificado à Moisés, e que deverá ser comunicado ao povo (v9).
Sem embargo, a ratificação mediante juramento da ação libertadora do SENHOR não foi crida pelos filhos de Israel, como apresenta o verso 9, mas o autor apresenta a razão para tal resistência: "(…) Eles não atenderam a Moisés, por causa da ânsia de espírito (hb. "מִקֹּ֣צֶר" trad. = "aflito"; "desanimado"; "encurtado") e da dura escravidão" (v.9). Ainda que o SENHOR lhes tenha jurado a libertação, o intento maligno de Faraó obstruía a fé dos filhos de Israel no SENHOR. Todavia, essa tensão, como afirmado, é usada pelo autor para criar o cenário de emergência que deflagrará os atos divinos a serem registrados a seguir, pois, novamente Moisés e Arão recebem uma ordem divina de comunicar "(a)os filhos de Israel e para Faraó, rei do Egito, (…) que tirassem os filhos de Israel da terra do Egito" (v.13).
Transição
Outra vez a ênfase de Moisés em registrar a presente passagem, consiste numa demonstração clara da ação poderosa do SENHOR em salvar seu povo da escravidão. Entretanto, a palavra de juramento empenhada por Deus, rememorando o pacto abraâmico, é o ponto exortativo para o qual o autor quer chamar a atenção de seu povo.
A confiança da descendência de Abraão deve repousar sobre o aprofundamento do conhecimento de Deus que receberam, como fruto da graça redentiva do SENHOR. Mais poderosa do que a investida de inimigos ou o calor de aflições, é a fidelidade divina em manter o pacto salvífico em vigor, o que por sua vez conclama a igreja de Deus a descansar segura debaixo da poderosa providência divina que os está guiando à herança prometida.
Se, à guisa do progresso histórico-redentivo da revelação, Israel (mesmo no Egito), desfrutou de um conhecimento mais aprofundado de Deus, baseado na promulgação do juramento pactual que o SENHOR lhes comunicou através de Moisés, superior ao conhecimento de Deus que teve os patriarcas (v. 3); muito maior motivo tem a igreja sob a nova aliança, que em Cristo Jesus, o Filho de Deus, recebe a revelação exata do resplendor de sua glória (cf. Hb 1.3).
Frente a essa noção, o texto de Êxodo 5.22 - 6.13 enfatiza dois princípios que conclamam o povo de Deus à confiança nele, tendo em vista 1) o conhecimento revelacional mais profundo que dele possui, e 2) a promulgação da palavra de juramento que lhes garante a salvação.
Aplicações
1. Nossa confiança no SENHOR, baseia-se, em primeiro lugar, em nosso conhecimento de seu ser e caráter, ainda que as aflições infligidas à nós pelos Faraó desse mundo, busquem obstruir nossa fé na redenção.
Ainda que vivendo sob o fogo da opressão, Israel teve em Moisés uma revelação mais clara do ser de Deus. Apesar de Abraão ter sido chamado de "amigo de Deus" (cf. 2Cr 20.7; Is 41.8), devido o avanço do enredo redentivo e das intenções do SENHOR de fundamentar a fé de seu povo sob uma base relacional mais íntima, foi Israel, no Egito, debaixo da carga da escravidão, que recebeu do SENHOR um nome, por meio do qual ele fez-se mais próximo de seus filhos, trazendo-os à confiança, ainda que esta tenha momentaneamente vacilado, dadas as circunstâncias.
Como supra-afirmado, tal como aconteceu entre Abraão e o povo de Israel, assim também ocorreu conosco, pois, tendo o Deus Soberano avançado a história até o momento da chegada de seu bendito Filho, Jesus Cristo, revelou-se nele mais claramente a nós do que ao povo de Israel no passado, e assim, se Israel, com a revelação que teve, foi chamado a confiar no Deus que com mão poderosa (v.1), haveria de os fazer marchar rumo à terra que prometera a Abraão (v. 8), muito mais nós, a partir da luz perene que temos do Pai em Cristo, podemos ter convicção de que o SENHOR está conosco, ouvindo nossa súplica (v.5), e nos conduzirá ao centro de sua vontade redentiva: nos tomará como seu povo, e habitará no nosso meio sendo nosso Deus, para sempre.
Ter conhecimento de Deus enfatiza que somos seus filhos, pois a estranhos o SENHOR não se revelou; pelo menos não a partir da demonstração de sua graça especial, e a intimidade oriunda de um conhecimento profundo com Deus, é a dádiva central da obra salvadora. Conhecendo o SENHOR, recebemos de sua parte o consolo de que precisamos nesse mundo, para esperar que cumpra com o que prometeu. O que nos leva ao segundo ponto.
2. Tendo recebido do SENHOR, tão mais profunda e clara revelação divina em Cristo Jesus, nossa fé é nutrida pelo juramento divino que nos garante a redenção.
Não obstante ter se revelado claramente em Cristo, dando-nos o conhecimento dele de que necessitamos para nele confiar, o SENHOR empenhou sua palavra, por meio da qual ratifica seu compromisso salvador com seu povo.
Diante disso, um desdobramento exortativo deve ser sintetizado. O que pode mover o SENHOR a jurar, se com seu conhecimento, temos acesso à seu caráter fiel e verdadeiro, que torna suas intenções de nos salvar confiáveis e firmes? certamente não pode ser qualquer variação ou volatilidade divina, pois o SENHOR não é homem para que minta (cf. Nm 23.19). Logo, a única conclusão tangível é alguma falha em nós; falha que temos de confiar nas palavras do SENHOR, ainda mais quando ao nosso redor as circunstâncias concorrem contra.
O espelho dessa verdade é o próprio Israel. Deus havia jurado e comunicado sua palavra pactual por meio de Moisés, ratificando o compromisso de salvar seu povo, como cumprimento à promessa abraâmica (vss 3-8). Mas a aflição sugou ou drenou do povo aquela confiança que antes tiveram no Deus que lhes falara por Moisés (cf. 4.31).
O Espírito radicou a promessa da aliança em nosso coração, de maneira que podemos ter confiança na obra salvadora que Deus já está realizando em nós, desde a morte e ressurreição de seu Filho. Mas, as aflições desse mundo e as angústias da opressão que sofremos por viver num ambiente avesso a Deus, às vezes podem nos levar a fraquejar na fé.
Como disse Jeremias, devemos "trazer à memória aquilo que nos dá esperança (Lm 3.21), e o fundamento de nossa esperança é o Deus que jurou que haveria de nos redimir e libertar da opressão, levando-nos à herança de Abraão.
Em Cristo, Deus revela-se, e cumpre sua palavra: não somos mais escravos do pecado; fomos libertos para sermos povo de Deus, e ele nosso senhor. O juramento uma vez feito; o pacto uma vez estabelecido, foi cumprido. O que resta, é a melhor parte da obra salvadora: que seu povo entre na possessão prometida, e desfrute da graça de pertencer a Deus.
Conclusão
O povo de Deus apreende, através do nome do SENHOR, que sua palavra é fiel e digna de confiança: ela resume o caráter gracioso daquele que com mão poderosa, tira seu povo da aflição, cumprindo a redenção.