Formação de novos líderes

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Introdução

Eu estou com uma grande responsabilidade, de falar sobre um tema muito importante para nós pastores e líderes. Além de importante, por vezes é desafiador.
2Timóteo 2.1–2 NAA
1 Quanto a você, meu filho, fortifique-se na graça que há em Cristo Jesus. 2 E o que você ouviu de mim na presença de muitas testemunhas, isso mesmo transmita a homens fiéis, idôneos para instruir a outros.
O contexto destas palavras do apóstolo Paulo a Timóteo ocorrem após ele ressaltar o afastamento coletivo dos crentes da Ásia e ilustrar o exemplo de Onesíforo e sua família, Paulo incentiva Timóteo a se fortalecer na graça. A jornada cristã é uma constante batalha. Não podemos engajar nessa luta confiando unicamente em nossa força ou respaldados por nosso próprio entendimento. Somos excessivamente frágeis para enfrentar adversários tão temíveis. Necessitamos de poder, e esse poder não reside na capacidade humana, mas na graça que está em Cristo Jesus. Concordo com John Stott quando afirma que nossa dependência da graça não se limita à salvação, mas se estende também ao serviço.
Timóteo, como filho na fé do apóstolo Paulo, tinha a missão de preservar o evangelho intacto e transmiti-lo com fidelidade. A história do Apóstolo Paulo é marcada pela pregação do evangelho, plantação de igrejas e formação de novos líderes. Nosso desafio aqui é aprender a partir deste ensino como nós devemos perseverar nessa missão tão desafiadora.
Em primeiro lugar, a prática ministerial requer uma força que vai além do natural. “Tu, pois, filho meu, fortifica-te na graça que está em Cristo Jesus”. Os tempos eram difíceis. Haviam perseguições políticas extremamente cruéis, o surgimento constante de falsos mestres e uma deserção massiva dos crentes. Diante de um cenário tão sombrio, Timóteo, que era jovem, era fortalecido através da graça. A graça não se encontra em Paulo nem na igreja, mas em Cristo Jesus. Não existe vida cristã triunfante sem o poder sobrenatural do Espírito Santo. Esse poder não tem origem terrena, mas celestial; não provém de habilidades humanas, mas da graça de Cristo Jesus.
Em segundo lugar, a força para a execução do ministério é providenciada pelo próprio Senhor Jesus. Jesus já havia afirmado claramente: “Sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15.5). Paulo também declarara: “A nossa suficiência vem de Deus” (2Co 3.5). O empoderamento não provém do conhecimento intelectual nem do prestígio eclesiástico; origina-se da graça em Cristo Jesus. Os recursos para a execução do ministério não estão em nós; residem em Cristo. Dele flui todo o poder. Ele é a fonte de toda habilitação.
Em terceiro lugar, somos mordomos, o mordomo não somente preserva, mas também propaga o evangelho. “E o que de minha parte ouviste através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros”. Não é suficiente manter o evangelho inalterado, livre da contaminação das heresias disseminadas pelos falsos mestres; o evangelho também necessita ser repassado com precisão. 9A melhor maneira de preservar o evangelho é transmiti-lo. O evangelho deve ser propagado sem alterações ou omissões.
O que Timóteo recebeu de Paulo, ele deve repassar a homens fiéis e capacitados, os quais, por sua vez, devem instruir outros igualmente fiéis e habilitados, formando assim uma cadeia ininterrupta. Isso representa a verdadeira sucessão apostólica. Não é uma sucessão de cargos, mas uma continuidade da mensagem apostólica. Duas qualidades são requisitadas aqui: fidelidade e habilidade para ensinar. Alguns são fiéis, mas não conseguem transmitir de maneira eficaz o que receberam. Outros possuem habilidade pedagógica, mas não são fiéis na fé e na missão.
William Barclay diz que “todo cristão deve ver em si mesmo um vínculo entre duas gerações. Ele não somente recebe a fé, mas também deve transmiti-la a outros. Receber a fé é um privilégio; transmiti-la é uma responsabilidade. A tocha do evangelho precisa ser passada de geração a geração sem se apagar”. Nessa transmissão da verdade de mão em mão, Paulo divisa quatro estágios.
1. A fé foi entregue a Paulo por Cristo.
2. O que foi confiado a Paulo por Cristo, por sua vez, foi confiado a Timóteo. A mesma verdade confiada a Paulo é, agora, confiada a Timóteo.
3. O que Timóteo ouviu de Paulo, deve agora ser confiado a homens fiéis. Devem ser indivíduos confiáveis, leais e íntegros tanto no caráter quanto na mensagem.
4. Tais indivíduos devem ser capacitados para instruir outros. Essa verdadeira sucessão apostólica, percorre quatro estágios na transmissão da verdade, atingindo este último: de Cristo a Paulo, de Paulo a Timóteo, de Timóteo a homens fiéis, e de homens fiéis a outros. Isso implica uma sucessão de tradição apostólica em vez de uma sucessão de autoridade, sequência ou ministério apostólico. Deve ser uma transmissão inalterada da doutrina dos apóstolos pelas gerações subsequentes, passada de mão em mão como a tocha olímpica.
Em quarto lugar, a mensagem e o mensageiro precisam estar em harmonia. O evangelho apostólico precisa ser transmitido a homens fiéis e capacitados. A igreja cristã depende desta cadeia ininterrupta de mestres. A vida de quem prega precisa estar em concordância com a mensagem pregada. A vida do pregador reflete a vida de sua mensagem. Homens infiéis e incapazes estão desqualificados para instruir outras pessoas. A integridade da vida do pregador é essencial para a eficácia de sua mensagem.
Baseado nisso eu gostaria de trabalhar algumas realidades que estão diante de nós sobre a formação de novos líderes:

I. A Formação de Novos Líderes é um Imperativo de Deus para a Igreja:

Formar líderes não é uma opção para a igreja; é um mandato divino, uma responsabilidade concedida por Deus à sua igreja. Logo, sendo para você difícil ou fácil, formar líderes é uma atribuição da igreja. Não é algo opcional, não é responsabilidade dos seminários, embora eles sejam importantes. Você pode delegar uma tarefa, e até uma autoridade, mas nunca uma responsabilidade. Quando você delega apenas a tarefa, você supervisiona.

II. A Formação de novos líderes está relacionada diretamente com a saúde da Igreja:

Atos dos Apóstolos 14.23 NAA
23 E, promovendo-lhes, em cada igreja, a eleição de presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomendaram ao Senhor, em quem haviam crido.
A Bíblia mostra que a pluralidade na liderança é o modelo bíblico para governança eclesiástica, demonstrando a sabedoria divina em distribuir a carga de liderança. A pluralidade de líderes equilibra as fraquezas, traz múltiplas perspectivas e dons à liderança da igreja, e retrata a unidade na diversidade do corpo de Cristo.
Os diferentes ofícios de Cristo refletem a necessidade de uma liderança equilibrada e plural. A liderança espiritual plural é vital para a saúde da igreja. Ela promove um equilíbrio de dons e uma reflexão mais completa dos ofícios de Cristo. É um compromisso com a unidade e a diversidade, um chamado a viver a mutualidade do corpo de Cristo. Olhando para o exemplo de Cristo, invista em identificar e formar líderes nessas três diferentes pespectivas: Profeta, sacerdote e rei.

III. A formação de novos líderes para a continuidade da Missão de Deus:

Agora, queria observar o papel crucial da igreja em formar novos líderes, enviar líderes para plantar novas igrejas. Plantar igrejas é uma expressão concreta da missão da igreja, um chamado a expandir o Reino de Deus e a espalhar o Evangelho. A Bíblia nos mostra que plantar igrejas é um meio essencial pelo qual o Evangelho é espalhado e as comunidades são transformadas. Plantar novas igrejas é uma consequência natural da saúde e do crescimento da igreja local. É uma expressão de nossa obediência à Grande Comissão.
Por exemplo, Paulo e Barnabé foram enviados pela igreja em Antioquia após um período de serviço, oração e jejum. Eles foram preparados e enviados com o apoio e as bênçãos da sua comunidade de fé.
Paulo depositou em Timóteo importantes responsabilidades, como cuidar da igreja em Éfeso e ordenar líderes qualificados (1 Timóteo 1:3; 3:1-7).
Os líderes enviados devem ser bem preparados, equipados e apoiados pela igreja local. O envio responsável inclui treinamento, mentoreamento e suporte contínuo.

Aplicações práticas

Agora que eu falei isso tudo, fica a pergunta, como fazer isso? Qual é a melhor forma? Eu gosto de pensar na idéia de uma tríade na formação de líderes que envolve três áreas na vida do líder: Conhecimento, competência e caráter.

Conhecimento

Paulo escrevendo a Timóteo e a Tito diz que o pastor precisa ser apto ao ensino. Ele enfatiza isso a Timóteo também no versículo 15 do texto que lemos no início:
2Timóteo 2.15 NAA
15 Procure apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.
Convicção, não é somente o que o líder sabe, mas o que ele sabe. Além disso, e se ele de fato acredita no que ele sabe. Convicção, passa pelo conhecimento, mas está relacionado a forma como ele acredita naquilo que ele conhece.
A tecnologia trouxe para nós muitas facilidades, hoje é possível ter acesso a muito conteúdo bom na internet, e por vezes a preços acessíveis. Entendo que essa é uma área que a igreja pode tercerizar em algum nível, o papel do seminário que falei anteriormente. Porém nunca delegue a responsabilidade para o seminário na formação daquele líder. Delegue a tarefa, e supervisione. Como?
Primeiramente, se o conhecimento, a convicção é responsabilidade minha como líder na formação dos novos líderes. Entendo que é papel da liderança local da igreja definir quais seminários e instituições que vão treinar seus líderes em todos níveis, não só futuros pastores. Hoje em dia existe uma oferta enorme de instituições oferecendo cursos sobre tudo na area teológica e eclesiológica, em diversos níveis, não só o bacharelado.
Além de indicar, entendo também que é necessário uma supervisão de como está esse futuro líder nos seus estudos, e como está a instituição, o que ele está aprendendo. E avaliar sempre se aquele curso está de fato ensinando o que a sua igreja acredita, se é necessário algum pequeno ajuste ou até mesmo rever o curso inteiro.
Ao mesmo tempo, entendo também que é importante que desenvolve algum programa local de ensino que visa também dar oportunidade a aqueles que estão se preparando em um seminário por exemplo, se desenvolverem como mestres. Por exemplo, se a sua igreja tem uma EBD, ou se é melhor um programa de ensino que não seja semanal, mas em outra peridiocidade que atenda uma determinada quantidade de horas que atenda a demanda de equipar todos os membros no exercício do ministério. Levando conhecimento, convicção. A exemplo da instrução de Paulo, vemos que a fidelidade doutrinária é essencial. Paulo encorajou e exortou Timóteo nesse aspecto:
Exortações e Encorajamentos:
Paulo exortou Timóteo a ser forte (2 Timóteo 2:1) e a não deixar que ninguém menosprezasse sua juventude (1 Timóteo 4:12). Ele também incentivou Timóteo a perseverar na fé e na sã doutrina, resistindo às falsas doutrinas (1 Timóteo 4:16; 2 Timóteo 3:14-16).

Competência

O líder em formação precisa conhecer, mas ele precisa saber o que fazer com o que ele conhece. Isso é competência, e isso vem pela prática. Mas a prática não pode jamais ser desassociada a convicção. Não adianta fazer, sem saber porque fazer, da mesma forma que não adianta saber algo, sem saber o que fazer com aquele conhecimento. Muitos definem sabedoria a isso. Você já se deparou com pessoas com um acúmulo enorme de conhecimento, mas que não conseguem produzir nada? (ex. meu avô). Como instruir para a competência? Mentoria e discipulado.
O relacionamento entre o Apóstolo Paulo e Timóteo é um exemplo proeminente nas Escrituras de mentoria e discipulado. Esse relacionamento foi marcado por ensinamentos, exortações e, sobretudo, pelo afeto e investimento pessoal. Abaixo estão alguns pontos importantes sobre como Paulo investiu na formação de Timóteo:
Paulo conheceu Timóteo durante sua segunda viagem missionária em Listra, e ele se tornou companheiro e aprendiz de Paulo em suas jornadas missionárias. A relação entre eles era tão próxima que Paulo se referia a Timóteo como seu filho na fé (1 Timóteo 1:2; 2 Timóteo 1:2).
Além do ensino formal, informativo, é necessário investir tempo. O caminhar junto vai ensinar o que nenhum seminário geralmente ensina (vídeo do Keller sobre isso - pastores formados em excelentes seminários mas "perdidos"ministerialmente). Talvez essa seja a sua realidade, a sua liderança foi forjada no ministério ao inves de você ser formado antes em suas competências.
A competência é essencial também na formação da igreja local, entendendo a necessidade de uma complementariedade de competências para uma liderança saudável.
Por vezes gastamos tempo demais focando em melhorar em uma área que não temos dom, ao invés de investir em aperfeiçoar o dom que temos e focar em uma liderança plural que complemente exatamente naquela área que não possuímos um dom.

Caráter

Nestas mesmas qualificações para o líder cristão que fala em ser apto ao ensino, fala uma lista enorme de questões relacionadas ao caráter. Essa é uma outra área, que seminário nenhum vai desenvolver, mas o discipulado da igreja local. Em uma sociedade que se mede pelo desempenho, por vezes a igreja é tentada a avaliar dessa mesma forma seus novos líderes, esquecem das qualificações bíblicas e valorizam o curriculo em áreas que por vezes nem estão relacionadas diretamente com o ministério.
Ensino e Discipulado:
Paulo constantemente ensinava Timóteo sobre a sã doutrina e o bom comportamento cristão. As cartas de Paulo a Timóteo (1 e 2 Timóteo) estão repletas de conselhos práticos, orientações doutrinárias, exortações sobre a vida e conduta cristãs, e encorajamentos na fé.
Exemplo de Vida e Conduta:
Paulo ofereceu sua própria vida como um modelo de conduta e fé (1 Coríntios 11:1; Filipenses 4:9). O exemplo de Paulo certamente foi um elemento vital na formação de Timóteo, mostrando a ele como viver de maneira digna do Evangelho.
Oração e Apoio Espiritual:
Paulo expressou frequentemente seu amor e suas orações por Timóteo (2 Timóteo 1:3), e buscou apoiá-lo espiritualmente, consciente dos desafios que Timóteo enfrentaria.
Enfrentando Dificuldades:
Paulo demonstrou cuidado e preocupação com Timóteo. Paulo também encorajou Timóteo a suportar sofrimentos e perseguições por amor ao Evangelho (2 Timóteo 2:3; 4:5), demonstrando a importância da resiliência e fidelidade na vida cristã.

Conclusão

O investimento de Paulo na formação de Timóteo foi multifacetado, combinando ensinamento doutrinário, exemplo de vida, encorajamento, oração e delegação de responsabilidades. Este relacionamento bíblico exemplifica a importância do discipulado pessoal, do investimento em relacionamentos e do compromisso mútuo na caminhada da fé cristã.
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