A tristeza dos servos de Deus
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· 22 viewsA tristeza/abatimento ou depressão muitas vezes assola a vida dos servos de Deus, por vários motivos. A Palavra de Deus, porém, ensina os cristãos como vivenciarem estes momentos: aproximando-se do Senhor em oração e pela Palavra, para serem fortalecidos e renovados.
Notes
Transcript
“A minha alma, de tristeza, verte lágrimas; fortalece-me segundo a tua palavra.” – Sl 119.28
A minha alma se consome de tristeza;
fortalece-me segundo a tua palavra.
Os irmãos aqui presentes creem que esta é a Palavra de Deus? Que ela foi inspirada pelo próprio Deus? Que o foi o Espírito de Deus, o Espírito Santo que guiou os homens santos e profetas do passado a escrevê-la? Que ela transmite os pensamentos e a vontade de Deus aos homens? Creem que ela é mesmo santa, sem erros, e totalmente suficiente para a nossa vida? Há alguma instância da experiência humana que a Palavra de Deus não contemple, ou não esteja apta para dar aos homens instrução, entendimento e sabedoria? Ou há algo em nossas vidas que a Bíblia não seja suficiente para tratar? Há algum momento de nossas vidas em que nós podemos dizer: “A Palavra de Deus só consegue ir até aqui, a partir daqui precisamos de outras coisas, precisamos dos conselhos dos homens, precisamos de outros caminhos que nos guiem, que nos deem luz, e iluminem o meu caminho, pois a Palavra de Deus não é suficiente para isso”. Existe alguma situação em que o nosso Senhor não nos ensine em Sua Palavra? Existiria tal coisa como algo que o Senhor se esqueceu de escrever em Suas Santas Escrituras? Existiria alguma coisa que nós necessitamos de saber para viver uma vida bem-aventurada, que o Senhor não nos tenha deixado escrito em Sua Santa Palavra? Existiria algo que o Senhor deixou de contemplar e que nós precisamos agora “nos virar” sozinhos para saber/descobrir por nossa conta? Ou será que para tudo a Palavra do Senhor pode nos dar instrução? Ou será que nós não deveríamos procurar com mais afinco, mais aprofundadamente naquilo que já nos foi revelado para descobrirmos o direcionamento de Deus para as nossas vidas? Será que nós não devemos recorrer aos velhos (porém atuais!) ensinamentos e extrair deles o seu infindável sumo de vida para nossa caminhada, para nos nutrir, ensinar e guiar nos caminhos santos e benditos, bem-aventurados de Deus? Não nos diz a própria Escritura: “Toda Escritura divinamente inspirada é útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente habilitado para toda boa obra.“ Se a próprio Palavra de Deus tem como objetivo tratar-nos, moldar-nos, transformar-nos para que sejamos perfeitos, de que mais, além dela, necessitamos? Se existe algo que realmente necessitamos saber para nossas vidas, que guie-nos e nos dê uma vida mais bendita, mais confiante, mais alegre, mais satisfeita em Deus, isto está escrito na Palavra de Deus. Ele é quem nos guia em toda a verdade. É a Sua Palavra que é a lâmpada para os nossos pés e luz para o nosso caminho. Não necessitamos de procurar os sábios deste mundo, oráculos, gurus, provérbios e sabedorias mundanas, ditados mundanos para sabermos como devemos proceder, e em que acreditar, mas sim a Palavra de Deus, que é viva e eficaz, mais cortante que qualquer espada de dois gumes, que penetra até a divisão da alma e do Espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e motivações (ou propósitos) do coração. A Palavra de Deus segue, dizendo: “e não há criatura alguma que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas”. Devemos estar confiantes de que a Palavra de Deus é o suprimento necessário para nossa vida. É o mapa que o Senhor nos deu para que nos guiássemos aqui em nossa vida. Se desejamos direcionamento, retornemos à Sua Palavra, pois tudo já está ali, Ele já nos deixou seus oráculos revelados, sua vontade. O que devemos fazer é examinar atentamente às Escrituras, meditar nelas, extrair delas o seu sumo de vida, o seu néctar divino, que vai trazer vida às nossas almas sedentas. Devemos nos aproximar sempre das Escrituras com esta expectativa, humildemente clamando a Deus que Ele abra os nossos olhos para que possamos contemplar as maravilhas de Sua lei, perseverando em meditar em seus caminhos, em guardá-la em nosso coração, pois esta Palavra será aquilo que irá nos prevenir de cair na hora da tentação, será ela que irá nos dar consolo e conforto na hora da mais dura provação. Nós necessitamos da Palavra de Deus. E o Senhor nos dá Sua Palavra para que diligentemente atentemos a ela. Se formos irresponsáveis para com a Palavra de Deus, não dando ouvidos a ela, mas preferindo seguir nossos próprios conselhos e vontades, o nosso fim será o mesmo do povo de Israel, que, mesmo recebendo a lei de Deus, rebelou-se em seu coração, e resolveu persistir em seguir seus pecados, e as consequências disto na vida do povo foi somente tristeza, aflição, dor e morte. E assim é na igreja de Deus, quanto se esquece da Palavra de Deus e segue seus próprios caminhos. Só há tristeza, aflição, desunião, angústia, dor e morte. Que o Senhor nos previna de incorrermos neste mesmo erro, mas que, com alegria e gratidão venhamos a atentar diligentemente à Palavra de Deus e aos seus mandamentos, aprendendo dela e meditando nela diariamente, sabendo que assim nosso viver há de ser bem-aventurado e seguro em Deus!
Eu creio que, se não todos, pelo menos muitos, ou a maioria já se viu na batalha desta vida lutando, pelejando contra uma terrível e impiedosa inimiga chamada depressão, contra um sentimento profundo de tristeza e abatimento de alma que o levou, senão a ficar prostrado numa cama, pelo menos a um viver que o mundo chamaria de “miserável”, um andar cabisbaixo, um sentimento de solidão, desesperança, angústia, desamparo, até mesmo o fel da amargura da alma, um enfraquecimento... “Não, senhor meu! Eu sou mulher atribulada de espírito... Não tenhas, pois, a tua serva por filha de Belial; porque pelo excesso da minha ansiedade e da minha aflição é que tenho falado até agora.” Foi assim que a Ana, mulher de Elcana se referiu ao sacerdote Eli. Ela diria, “não é que eu não sou crente, não é que eu não sirvo a Deus, mas é que meu espírito está profundamente abatido, aflito, triste, amargurado!” Da mesma forma aconteceu com Noemi: “Não me chameis Noemi; chamai-me Mara, porque grande amargura me tem dado o Todo-Poderoso”. Paulo também disse: “lutas por fora, temores por dentro”, “até mesmo da própria vida desesperamos”, e também afirmou que ele e os demais apóstolos também eram muitas vezes “entristecidos”. Neste momento compartilhamos aquela experiência de tantos e tantos servos de Deus do passado, que se defrontaram com situação a tal ponto angustiantes e que causavam tamanha tristeza a eles, que eles não poderiam fazer outra coisa, senão lamentar: “Estou cansado de tanto gemer; todas as noites faço nadar o meu leito, de minhas lágrimas o alago.”(Sl 6.6); “As minhas lágrimas tem sido o meu alimento dia e noite” (Sl 42.3); “Com lágrimas se consumiram os meus olhos, turbada está a minha alma, e o meu coração se derramou de angústia...” (Lm 2.11). De fato, irmãos, tanto isto é uma realidade que por vezes ocorre na vida do povo de Deus, que em meio aos livros inspirados da Palavra do Senhor encontra-se o livro das lamentações.
Lamentations 2:11 (NAA)
Com lágrimas
se consumiram os meus olhos,
a minha alma se agita;
o meu coração se derramou de angústia
As minhas lágrimas têm sido o meu alimento dia e noite,
enquanto me dizem continuamente:
“E o seu Deus, onde está?”
“Eu sou o homem que viu a aflição pela vara do furor de Deus. Ele me levou e me fez andar em trevas e não na luz. Deveras ele volveu contra mim a mão, de contínuo, todo o dia. Fez envelhecer a minha carne e a minha pele, despedaçou os meus ossos. Edificou contra mim e me cercou de veneno e de dor. Fez-me habitar em lugares tenebrosos, como os que estão mortos para sempre. Cercou-me de um muro, e já não posso sair; agravou-me com grilhões de bronze. Ainda quando clamo e grito, ele não admite a minha oração. Fechou os meus caminhos com pedras lavradas, fez tortuosas as minhas veredas. Fez-se-me como urso à espreita, um leão de emboscada. Desviou os meus caminhos e me fez em pedaços; deixou-me assolado. Entesou o seu arco e me pôs como alvo à flecha. Fez que me entrassem no coração as flechas da sua aljava. Fui feito objeto de escárnio para todo o meu povo e a sua canção, todo o dia. Fartou-me de amarguras, saciou-me de absinto. Fez-me quebrar com pedrinhas de areia os meus dentes, cobriu-me de cinza. Afastou a paz de minha alma; esqueci-me do bem. Então, disse eu: já pereceu a minha glória, como também a minha esperança no SENHOR. Lembra-te da minha aflição e do meu pranto, do absinto e do veneno. Minha alma, continuamente, os recorda e se abate dentro de mim. Quero trazer à memória o que me pode dar esperança.
O próprio salmista, em vários momentos de aflição e dor escreve vários salmos de lamento, entre eles o Salmo 88:
“Pois a minha alma está farta de males, e a minha vida já se abeira da morte. Sou contado com os que baixam à cova; sou como um homem sem força,
atirado entre os mortos; como os feridos de morte que jazem na sepultura, dos quais já não te lembras; são desamparados de tuas mãos. Puseste-me na mais profunda cova, nos lugares tenebrosos, nos abismos. Sobre mim pesa a tua ira; tu me abates com todas as tuas ondas. Apartaste de mim os meus conhecidos e me fizeste objeto de abominação para com eles; estou preso e não vejo como sair. Os meus olhos desfalecem de aflição;(...)”
Davi, um homem segundo o coração de Deus disse: “estou aflito e necessitado”. Tudo isto, irmãos, deve ser dito, todos estes exemplos trazidos à tona para que rejeitemos esta miséria de pregação e teologia rasa e inconsistente, que não encontra base nem apoio na Bíblia que diz que o cristão não pode entristecer-se, que não pode passar por momentos de aflição, angústia, dor nem sofrimento, mas que deve “ser vitorioso em tudo, ‘não pode aceitar em sua vida’ a tristeza, ou nenhum tipo de angústia, pois ele é ‘mais que vencedor’, pois ‘é filho do Rei’”, e assim por diante. É o chamado “evangelho triunfalista”, que faz mais mal do que bem entre o povo de Deus. Que faz um terrível estrago no meio das igrejas, disseminando falsas doutrinas e falsos ensinamentos, gerando falsas expectativas nas pessoas, frustração, desespero, insegurança, confusão, sofrimento, culpas desnecessárias e mais toda uma multidão de males. Neguemos esta mentira com toda a veemência e com todo o nosso vigor! Não foi nosso Mestre e Senhor Jesus Cristo, o Rei dos Reis, o Senhor dos Senhores, aquele em quem não foi achada nenhuma mentira, nenhuma culpa, não foi Ele que disse: “Minha alma está angustiada até a morte!”? Pois se o próprio Cristo, aquele a quem nós seguimos, passou por lutas e tristezas, não haveríamos nós, reles pecadores, haver de passar também? Não estamos seguindo os seus passos? Ou só seguimos seus passos no que diz respeito à alegria, e não em relação às tristezas e sofrimentos? Não compartilhamos a comunhão de seus sofrimentos? Não foi o próprio Davi que disse: “ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte”? Pois muitas vezes o crente de fato anda pelo vale da sombra da morte, quando, por vezes, sussurros diabólicos se fazem ouvir em seus ouvidos, quando a alegria se faz esquecer, o beleza e as cores da vida se esmaecem para o homem, ou quando a morte parece mais desejável do que a vida, quando o homem diz como Elias: “Basta; toma agora, ó SENHOR, a minha alma, pois não sou melhor do que meus pais”, quando já pereceu quase toda a sua esperança! A Bíblia diz que Elias “pediu para si a morte”. Sua tristeza, sua amargura, sua desesperança e sofrimento eram tamanhos que ele preferiu a morte a continuar vivendo naquela situação! E quantas vezes, meus irmãos, não é isto que acontece conosco? Quantas vezes nós não nos encontramos em situações nas quais nós preferimos a morte a permanecer no grande sofrimento que nos cerca, que se nos inflige? E assim como Elias, pedimos a Deus a morte, ou a desejamos, ainda que não cheguemos a atentar contra a nossa própria vida. E na história de Elias este sentimento não veio por nada que ele mesmo houvesse pecado, agindo contra a Palavra de Deus, mas por causa da perseguição que se seguiu a ele, justamente por causa de sua fidelidade a Deus. O Senhor, então, falando-lhe através de um anjo dizia-lhe “levanta-te homem, e come! Muito longa será ainda a tua viagem”. O Senhor providenciou-lhe ali, em sua depressão, em seu abatimento, uma Palavra, que lhe proveu de força, que deu a Elias ânimo, que fortaleceu-lhe para continuar a sua caminhada. Apesar de os sentimentos de Elias se encontrarem como num turbilhão (“procuram a minha morte”, “viverei fugindo, a partir de agora”, “estou só, agora”, “não há mais ninguém que sirva a Deus”), o Senhor era quem sabia o que havia reservado para a vida de Elias. Com sua visão limitada, Elias não conseguia ver muito além, nem o que Deus tinha planejado para Ele. Mas o Senhor dá-lhe uma Palavra que lhe infunde ânimo, e dá-lhe o alimento que era necessário para continuar caminhando e fazer o que era necessário fazer. Ele então, fortalecido pelo Senhor, continua sua missão até o fim. E ainda, vemos que o fim que ele talvez estivesse temendo, sua morte, nem chegou, de fato, a acontecer! O Senhor o tomou para si num redemoinho! Quão limitada é a nossa visão! Quanto faremos bem em tão-somente confiar no Senhor e descansar nEle!
Pois bem, o texto bíblico nos diz: “a minha alma, de tristeza, verte lágrimas”. Nós vimos, meus irmãos, já por inúmeros e variados exemplos diferentes na Bíblia, que momentos de intensa depressão e abatimento por vezes acometem o crente, às vezes perpassam a vivência do cristão, falando ainda mesmo do verdadeiro crente. Não é porque somos crentes que não iremos passar por vales sombrios, nos quais nos veremos mais uma vez na batalha contra a tristeza e o abatimento. Mas este versículo de Salmos, sendo uma oração ao Senhor, nos ensina uma importante lição: o salmista, em sua tristeza, abatimento e dor, em sua aflição, ele vai ao Rei dos Reis expor sua aflição, sua tristeza, seu sofrimento. Este salmo vem nos trazer a verdade, mostrando um servo fiel de Deus, alguém que foi inspirado pelo próprio Santo Espírito de Deus, escrevendo “minha alma, de tristeza, verte lágrimas”, ou, como em outras versões “minha alma consome-se de tristeza”. Um servo fiel de Cristo derrama sinceramente o seu coração em seu quarto e diz: “Senhor, meu coração está abatido, a tristeza tomou conta da minha alma. O desânimo ou a depressão bateu à minha porta, e eu fui tomado. Estou triste, abatido.” O Senhor se importou em colocar este verso no meio do livro santo dos cânticos e orações para mostrar ao seu povo e exortá-lo a ser sincero em seus sentimentos de tristeza diante de Deus, expondo-os humildemente e sinceramente perante Ele, colocando-os em Suas poderosas mãos. De quê adianta a nós querermos negar a realidade, ou então, seguindo o que muitos dizem, querer só falar em “vitória e vitória”, quando nosso coração está amargurado e abatido, deprimido e desesperançoso? Pois o Senhor nos diz que, quando nos encontrarmos assim, a primeira coisa que devemos, como cristãos fazer, é expor diante do Senhor nossa aflição! Corramos para o Senhor! Reconheçamos a nossa tristeza, bem como nossa pequenez e nossa total dependência do Senhor, e então corramos para Ele, buscando nEle o nosso alento, nEle o nosso cuidado e nosso conforto, nEle Aquele que irá nos ouvir e que é Poderoso para nos consolar. Devemos, sim, meus irmãos, e é saudável e recomendável, nos momentos de tristeza e de desalento, buscarmos ajuda, aconselhamento e fortalecimento com nossos irmãos, porém, antes de tudo, que nossa tristeza, nossas orações e angústias sejam derramadas perante o nosso Senhor, que nos ouve e tudo pode! O Senhor nos ensina que nossas aflições devem ser postas perante Ele. Seu coração está amargo e entristecido, parece já não haver mais esperança e o desânimo fez esvairem-se suas forças? As lágrimas continuamente tem molhado o teu travesseiro, e você tem comido o pão de lágrimas, tem bebido copioso pranto? Pois exponha isto perante o Senhor! Vá ao teu quarto e derrame o teu coração perante o Senhor! Ele quer isto de nós nestes momentos! Ele nos ensina a fazer isso, e requer que sejamos sinceros com Ele, que venhamos a Ele em oração e exponhamos nossa tristeza! Estamos abatidos? Pois oremos: “Senhor, tu vês, que minha alma está abatida". Estamos tristes? “Senhor, minha alma se apega ao pó”. “Senhor, tu me conheces, sabes de tudo, sabes do meu abatimento, assim estou eu aqui agora. Vem, contempla a minha situação”. Seja qual for a razão de nosso abatimento, irmãos, seja em decorrência de alguma perseguição, ou por causa de uma aflição causada por alguém, ou pelas preocupações que temos neste mundo, ou o cuidado com algum familiar, pela situação de alguma enfermidade, morte, ou ainda mesmo por causa de nossos pecados ou suas consequências, digamos “minha alma está triste, e verte lágrimas, Senhor”, que exponhamos nossa tristeza perante o Senhor, pois Ele assim nos ensina. Que assim, meus irmãos, venhamos a nos prevenir de cair no terrível abismo da solidão de nós mesmos, na miséria de cairmos no buraco que é voltarmo-nos para dentro de nós mesmos e nos perdermos em nossos pensamentos deprimidos e angustiantes, num labirinto em que não há saída, nesta terrível prisão que é o homem, quanto afasta-se do mundo, afasta-se dos outros em amargura, tristeza e abatimento, e volta-se para si mesmo, sendo consumido por dentro e definhando em sua alma. Os seus sentimentos se secam, sua esperança se vai, seus pensamentos dão voltas e voltas, sem nunca achar alguma solução ou ver alguma esperança, alguma luz. Contempla-se a situação angustiante e parece um gigante a nos açoitar, a nos moer e nos fazer sofrer, e parece que este gigante por fim há de prevalecer sobre nós. Nestes momentos é que surgem os questionamentos: “Por quê isto está acontecendo?”, ou “Onde Deus está? Por quê se afastou de mim?”, “Por quê será que Ele não me ouve, por quê minhas orações não estão sendo ouvidas?”, “Por quê Ele deixou que isso acontecesse?”, entre outras amargas perguntas que surgem em nosso coração. Talvez alguns nem cheguem a externalizar essas dúvidas e questionamentos, mas por dentro, essas perguntas corroem sua alma, fazendo suas forças se esvaírem, e golpeando com força a sua confiança em Deus. É este o seu sentimento, meu irmão? São essas as suas dúvidas? É esta a sua angústia hoje, perante o Senhor? Pois, irmão, exponha esta angústia perante o Senhor! Abra o teu coração, exponha a tua aflição perante o Senhor! Derrame perante Ele a tua alma! Vá a Ele com sinceridade de coração “expor a tua queixa”! Davi mesmo disse, num momento de grande aflição, no Salmo 142: “Ao SENHOR ergo a minha voz e clamo, com a minha voz suplico ao SENHOR. Derramo perante ele a minha queixa, à sua presença exponho a minha tribulação”. Clame a Deus, vá a Ele quebrantado e abatido, mas não caia no abismo sem fim de voltar-se totalmente para dentro de si mesmo em sua tristeza! Exponha a sua tristeza perante o Senhor! Exponha diante dele sua tristeza! “Deus meu, Deus meu, por quê me desamparaste?” “Digo a Deus, minha Rocha: por que te esqueceste de mim? Por que hei de andar lamentando sob a pressão dos meus inimigos?” (Sl 42.9), “Desperta! Por que dormes, Senhor? Desperta! Não nos rejeites para sempre! Por que escondes a face e te esqueces da nossa miséria e da nossa opressão? Pois a nossa alma está abatida até ao pó, e o nosso corpo, como que pegado no chão.” (Sl 44.23-25)
Exponha perante o Senhor o teu coração, não carregue este fardo consigo, mas vá ao Senhor em oração. Olhemos novamente o exemplo de Ana, depois de ter exposto o seu coração aflito e amargurado: “Assim, a mulher se foi seu caminho e comeu, e o seu semblante já não era triste.” A exposição da nossa amargura, do nosso abatimento perante o Senhor, faz parte do processo pelo qual Ele quer nos tratar, e inclusive curar nossa dor! Nossa alma se encontra desta maneira, e não encontra alívio? Já expusemos nosso coração perante tantas e tantas pessoas, e nada melhorou? O Senhor hoje nos ensina: Exponhamos diante dele nossas aflições, nossa tristeza, nosso abatimento! “Senhor, minha alma consome-se de tristeza”, “minha alma, de tristeza, verte lágrimas”!
Se prosseguirmos no texto vemos que o salmista, após expor perante o Senhor a tristeza da sua alma, a sua condição de abatimento, faz a Ele um pedido: “Fortalece-me”. Meus irmãos, antes de mais nada, este pedido revela um dos modos de Deus de tratar o orgulho e a arrogância, a soberba, a autossuficiência entre o seu povo. Muitas vezes o Senhor deixa que seu povo passe por tais situações para que reconheçam que são fracos, que não tem forças, que dependem não de si mesmos, não de suas próprias mãos, mas de Deus. Para que o Seu povo saiba que a força deles não está neles mesmos, mas sim no Senhor. Para que não confiem em si mesmos, em seu vigor, inteligência, sabedoria e força, mas no Senhor que é Poderoso e que “dá força ao Seu povo”. Se um homem confia em Sua própria força, sabedoria ou destreza para guiar-se ou conduzir-se em sua vida, logo o Senhor o abate e deixa-o passar por um período sombrio de depressão e trevas em sua vida, para que, por fim, reconheça que ele mesmo é, em si, limitado, e que ele mesmo nada é sem Cristo. Vendo-se aterrado por um terrível momento de depressão e angústia, sem encontrar forças em si mesmo para ultrapassar ou vencer essa situação, o homem, por fim, humilhado, venha a reconhecer que sua força vem mesmo do Senhor e venha a pedir, humildemente: “Senhor, fortalece-me”, “descobri, Senhor, que minha força nada é, preciso da Tua força, necessito da força que vem do Senhor” “É a tua força que irá me fazer valer, é a Tua força que irá realmente me fortalecer e me sustentar”. Se confiarmos em nós mesmos, logo seremos abatidos, porque “somos pó e cinza”, e “o Senhor resiste aos soberbos” e “pode humilhar aos que andam na soberba”. Como o salmista disse: “O Senhor é a minha força, e a minha canção, porque Ele me salvou”.
Neste ponto, irmãos, o texto bíblico nos ensina também que não devemos somente expor nossa aflição diante de Deus, mas que também devemos buscar nEle o nosso fortalecimento. O salmista primeiramente expõe a sua tristeza e seu estado deprimido diante do Senhor, para logo depois reconhecer que somente o Senhor poderia fortalecê-lo naquela hora, que a sua maior necessidade agora era da força que somente o Senhor poderia provê-lo. Ele recorre a quem realmente poderia ajudá-lo, e faz um pedido sincero para que o Senhor o ajudasse naquele momento. Ele não somente expõe a sua tristeza, mas logo em seguida pede: “Senhor, estou desta maneira, logo, Senhor, fortalece-me. Necessito do teu fortalecimento, nesta hora de trevas e escuridão”. E é digno de nota que neste momento o salmista não tenha pedido livramento, nem que a tal prova que ele estivesse passando se retirasse de sua vida, mas ele tão somente pediu o fortalecimento que vinha do Senhor. Ele não pediu que se lhe tirasse aquela situação, mas que, em meio a essa angústia, que o Senhor o fortalecesse. O salmista não “determinou” que aquela situação se acabasse, ou “decretou” que aquilo fosse embora, ou “não aceitou” aquela tristeza. Pelo contrário, ele encarou a situação amarga e difícil, dura e entristecedora. “Recebemos do Senhor o bem, e não receberemos porventura o mal?”. Mas pediu ao Senhor o fortalecimento para batalhar, para continuar lutando, para continuar seguindo o seu caminho. É como se ele dissesse “Senhor, antes mesmo de pedir que o Senhor me tire daqui, eu peço que o Senhor me fortaleça, para que eu possa passar por tudo isto!” Uma luta intensa com um filho rebelde, ou afastado do evangelho “Senhor, na minha tristeza, me fortaleça nesta batalha”. Quando um cônjuge quer separar-se ou então a relação fica gasta, ou mesmo quando ocorre a infidelidade, “Senhor, fortaleça-me”. Não há muitas vezes, irmãos, como sairmos da situação, muitas vezes estamos intimamente implicados em situações que nos trazem tristeza. Mas o Senhor nos ensina a orar: “nesta tristeza, fortalece-me, Senhor!”.
Meus irmãos, ainda nesta oração o Senhor nos vem dizer a fonte a qual o Senhor irá usar para nos fortalecer: Sua Santa Palavra! Dela, desta fonte de vida é que o Senhor irá se utilizar para nos fortalecer nos momentos de intensa tristeza, e depressão da alma, e de depressão espiritual, quando nossos ânimos e forças se esvaírem, quando nos acharmos desanimados, angustiados, tristes e aflitos. É essa a arma que Deus irá usar para nos fortalecer. Isto quer dizer, irmãos, que quando nós nos encontramos nestes estágios de depressão e profunda tristeza, a pior coisa que fazemos é deixar de lado a leitura e estudo da Palavra, bem como deixarmos de congregar, de frequentar os cultos públicos da igreja. O nosso desânimo nos leva muitas vezes a desanimar de congregar, mas se assim procedermos, estaremos caindo em um poço ainda mais profundo, descendo como num redemoinho para um buraco sem fim. É até compreensível que não queiramos estar perto de outras pessoas, talvez com medo de “levá-las para baixo” conosco, mas devemos nos expor à Palavra de Deus. Além do mais, “o solitário busca o seu próprio interesse e insurge-se contra a verdadeira sabedoria”. A nossa tristeza nos puxa para baixo, e trabalhamos para nos afundar ainda mais quando nos afastamos da Bíblia, de sua leitura e estudo, bem como da pregação da Palavra de Deus. Se nossa alma se encontra triste, “vertendo lágrimas”, nos entreguemos, à Palavra, disciplinando-nos mesmo, em atitude humilde e submissa ao Senhor, na esperança e expectativa de que Ele use Sua Palavra para nos fortalecer e nos encher. Olhemos no exemplo de Daniel 10.17-19: “Porque, quanto a mim, não me resta já força alguma, nem fôlego ficou em mim. Então, me tornou a tocar aquele semelhante a um homem e me fortaleceu; e disse: Não temas, homem muito amado! Paz seja contigo! Sê forte, sê forte. Ao falar ele comigo, fiquei fortalecido e disse: fala, meu senhor, pois me fortaleceste. Pela palavra celestial de ânimo ele foi fortalecido, revigorado, reanimado. (testemunho). O Senhor usa sua Palavra para nos fortalecer. E eu gostaria que nós pensássemos neste versículo à luz de Apocalipse 19.13. Lá diz que o Senhor Jesus é aquele que é chamado “Verbo de Deus” ou “Palavra de Deus”, o Verbo divino. Então, irmãos, saibamos que o Senhor nos fortalece, sim, e nos fortalece, em nossa amargura, tristeza e dor, mas Ele nos fortalece em Cristo. É ele a fonte da nossa força, é nEle, em Cristo, que devemos buscar nossas forças, é com Ele que devemos aprender como devemos andar aqui nesta vida, e não agir de acordo com nossas vontades e impulsos. É nEle que no momento da depressão e da tristeza seremos fortalecidos. Então busquemos sua face! Não desistamos! Não demos trégua nesta luta! Fortaleçamo-nos para buscá-lo e não deixemos que Ele vá! Façamos como Jacó quando lutou contra o anjo, não deixemo-lo ir, sem que antes nos dê de sua Graça, de Sua força a nós! Ainda que demore, perseveremos! Davi orou, “Deus meu, clamo de dia, e não me respondes; também de noite, porém não tenho sossego!” (Sl 22.2). E foi este o seu sofrimento durante um tempo. Porém, depois no final da vida, olhando para trás pôde reconhecer: “Vive o senhor, que remiu minha alma de toda angústia” (I Rs 1.29). Clamemos a Cristo, e esperemos a sua salvação! “Como os olhos dos servos estão fitos nas mãos dos seus senhores, e os olhos da serva,na mão de sua senhora,assim os nossos olhos estão fitos no SENHOR, nosso Deus, até que se compadeça de nós.” (Sl 123.2)
E, por fim, irmãos, para encerrar, essas lágrimas, as quais muitas vezes correm de nossos rostos como um rio, servem para nos lembrar, como um terrível aguilhão, das consequências do pecado na vida humana. Na perfeição do jardim, nunca haveria espaço para tal sentimento ou para tal vivência. Mas, uma vez que a rebeldia tomou lugar na vida humana, toda sorte de males envolveu nossa existência. Isto serve, sim, para humilhar-nos, ou para deixar-nos humildes, e para lembrar-nos das amargas consequências que o pecado trouxe à vida humana, dando-nos um lembrete do quão terrível é desobedecer a Deus, e quão sombrias, danosas e infelizes são as consequências da desobediência em nossas vidas! Porém, irmãos, também podemos nos lembrar, ao chorarmos lágrimas amargas, das promessas de Cristo para nossas vidas! Se, por um lado, nesta vida derramamos lágrimas em abundância, para o povo de Deus, por causa da obra de Cristo na Cruz por eles, há a promessa de uma cidade, na qual “Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima”. Se aqui somos afligidos pela morte, sofrendo as dores e tristezas da perda, o Senhor nos diz que lá “a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor”. A dor que temos aqui, nossas tristezas, como que apontam para o futuro, nos lembrando que haverá um tempo, para o povo de Deus, para aqueles que confiam em Cristo, em que não haverá mais tristeza nem dor, nem choro, nem lágrimas, nem morte, pois o Senhor mesmo há de vir e restaurar todas as coisas! Que bendita esperança! O Senhor prometeu! E sabemos que aquele que prometeu é verdadeiro e não pode mentir. Ele prometeu para o seu povo um descanso! Alegria eterna para aqueles que, aqui nesta terra, andam tristes. Ele prometeu consolar-nos de maneira final e definitiva! “Bem aventurados os que choram, porque serão consolados”. Assim diz o SENHOR! Perseveremos então, irmãos, não nos deixemos levar por nossos sentimentos desta vida, que porventura queiram nos tirar esta bendita esperança! Fortaleçamo-nos nela! Alegremo-nos e regozijemo-nos nela, mesmo em meio à dor, pois este dom, este presente, ninguém pode tirar de nós! Tirem nossa saúde, nosso emprego, nossos bens, ou até mesmo nossa família e filhos, mas esta esperança permanecerá! Pois está reservada àqueles que creem em Cristo, que se arrependeram e puseram nEle a sua confiança, a sua fé! Glória seja dada a Deus!