Êxodo 7.14-25
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· 8 viewsO autor divino/humano retrata o início das ações portentosas do SENHOR na salvação de seu povo e julgamento de seus adversário, também usando-as como demonstrativos de sua soberania absoluta sobre tudo.
Notes
Transcript
"São estes os nomes..." (Êx 1.1).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
Após toda uma preparação conceitual encarregada de interpretar os fatos ocorridos no Egito por ocasião do êxodo dos filhos de Israel, realizada nas seções anteriores, como atos redentivos do SENHOR através do qual favorece seu povo, cumpre a aliança com seus pais e proclama seu nome como soberano sobre toda a terra, Moisés adentrar o registro da execução das dez pragas propriamente ditas.
Tendo evidenciado que na verdade o juízo divino já havia sido iniciado de modo latente no coração do monarca egípcio, mantendo-o na obscuridade rebelde de seu coração, o autor narra a realização dos prodígios que obrigarão Faraó a tornar de sua decisão impenitente.
Nada obstante, a narrativa das dez pragas enleva em si uma perspectiva peculiar que torna cada evento uma progressão de atos voltados a estabelecer, como dito, o senhorio do SENHOR sobre toda terra, e como Redentor de seu povo. Em 3.19-20, o SENHOR já havia adiantado a Moisés que "Faraó não vos deixará ir se não for obrigado por mão forte", o que, segundo o autor, apontava para a compreensão de que a realização de milagres e portentos no Egito seria como o travar de uma batalhar, na qual Deus demonstraria todo seu poderio, fazendo prevalecer seu braço contra e sobre o braço do Faraó, que seria obrigado a amargar uma vexatória derrota.
A humilhação do rei egípcio ocorreria por meio de uma série de sinais que demonstrariam o governo absoluto do SENHOR sobre tudo e todos, como é o caso da presente seção em que a primeira praga ratifica a soberania do Deus dos hebreus sobre a vida: o Nilo, símbolo da vitalidade egípcia, por sete dias, sob as ordens do SENHOR, será transformado num "cadáver": suas águas se tornarão em sangue, a vida deixará de existir e ele cheirará mal (cf. vv. 17-18, 21).
Somente Deus é o senhor da vida; somente ele a concede, e, no caso, somente ele a tira. A opressão de Faraó aos filhos de Israel é respondida com a declaração de que todas as vidas estão debaixo da vontade do SENHOR, incluindo as vidas egípcias.
Diante disso, o texto de Êxodo 7.14-25, sintetiza como tema central a declaração da soberania do SENHOR na Redenção do seu povo: a primeira praga - YHWH, o senhor da vida.
Elucidação
Segundo introduzido, a execução do juízo divino conceituado por Moisés nas seções anteriores de seu registro, a partir de perspectivas que dão ao povo a noção de que tal ato é a manifestação da graça divina em cumprir sua aliança redentiva feita com os patriarcas no passado, chega ao ápice agora, quando os portentos serão finalmente realizados.
Em que pese a noção de que cada praga de alguma forma estaria ligada a uma divindade egípcia, como propõem alguns teólogos, uma ótica mais simples, porém mais abrangente, sugere um entendimento mais claro quanto ao modus operandi progressivo escolhido por Deus, para revelar sua soberania absoluta por ocasião da redenção de seu povo; ótica baseada, como supracitado, no embate entre os braços dos monarcas envolvidos (i.e. Deus e Faraó).
É mister compreender que ao estruturar sua narrativa da forma como está, Moisés não pretende estabelecer uma equivalência entre Deus e o rei egípcio, como uma forma de dualidade. Porém, tendo em vista o objetivo divino e a resistência do Faraó, o cenário de conflito entre as duas vontades em relação ao povo de Israel, cria o ambiente pretendido por Deus para que sua glória seja publicada sobre toda terra, sendo o Faraó usado como instrumento demonstrativo do total controle divino, o que inclui o próprio coração do mandatário, como tematizado na seção anterior (cf. 6.28-7.13).
Os passos dados por Deus, em que pouco a pouco faz pesar sua mão sobre toda a terra do Egito, revelam paulatinamente que Faraó, nada pode fazer para recolher o braço do SENHOR que se estende contra ele, promovendo a libertação dos hebreus. Faraó havia perguntado "Quem é o SENHOR para que lhe ouça eu a voz e deixe ir a Israel?" (cf. 5.2), e agora as pragas responderão seu questionamento.
A presente narrativa enfatiza novamente a condição contumaz do coração de Faraó, o que ao invés de significar algum impedimento para fruição do propósito divino, reforça a informação concedida a Moisés de que Deus mesmo endureceria o coração do monarca (v.3); e assim, quando Deus informa a Moisés que "o coração de Faraó está obstinado" (v.14), a compreensão que o profeta teve é de que tudo estava pronto para que a mão do SENHOR executasse o que prometera.
A ordem divina é então emitida, como consta a partir do versículo 15:
Vai ter com Faraó pela manhã; ele sairá às águas; estarás à espera dele na beira do rio, tomarás na mão o bordão que se tornou em serpente e lhe dirás: O Senhor, o Deus dos hebreus, me enviou a ti para te dizer: Deixa ir o meu povo, para que me sirva no deserto; e, até agora, não tens ouvido. Assim diz o Senhor: Nisto saberás que eu sou o Senhor: com este bordão que tenho na mão ferirei as águas do rio, e se tornarão em sangue. Os peixes que estão no rio morrerão, o rio cheirará mal, e os egípcios terão nojo de beber água do rio.
Antes que a praga a ser executada fosse anunciada, um reforço é feito com relação ao endurecimento do coração de Faraó (cf. "até agora, não tens ouvido" v.16); desta feita, a repetição dessa argumentação configura a justificativa do SENHOR para a realização do milagre.
Ao direcionar Moisés a Faraó, Deus ressalta que Moisés use "o bordão que se tornou em serpente" (v.15). A menção àquela ocorrência sublinha a ignorância do monarca: o bordão de Deus, presente na feitura dos sinais mencionados no capítulo 4 e no trecho de 6.28-7.13, representaria, a partir desse ponto, a resistência do Faraó em compreender a ordem do SENHOR de deixar ir livre os filhos de Israel, ao passo que o próprio Deus revela-se-ia vingadoramente ferindo "as águas do rio, [que] se tornarão em sangue" (v.17).
Como dito, a peculiaridade das pragas executadas no Egito, apesar de não se voltarem diretamente contra uma divindade egípcia, como que promovendo um duelo entre Deus e as divindades daquela nação, assumem um papel específico na demonstração da soberania e da glória divina sobre toda terra. No caso, o rio Nilo foi o primeiro alvo do braço do SENHOR contra Faraó.
Segundo comentaristas, "o Nilo era a vida do Egito. Agricultura e a própria sobrevivência dependiam das enchentes periódicas que tornavam a terra fértil em toda a extensão do rio, 6.650 quilômetros" (WALTON, 2018, p. 103). Era comum a crença egípcia de que a vida teria surgido à beira do rio Nilo, e com isso, a conexão entre a vida e o Nilo faziam daquela extensão de águas, um local sagrado.
A descrição do SENHOR quanto ao encontro que Moisés terá com Faraó, e nessa ocasião, do milagre que será realizado através do profeta, propõe a imagem de morte e extinção da vida no local exato onde a própria vida era representada. Aos ouvidos tanto de Faraó quanto de Israel, o que Moisés informaria era que o Senhor “mataria o Nilo”, transformando-o num cadáver: sangue, morte e mal cheiro acometerão o local símbolo da vida no Egito, e não somente o rio seria ferido, mas a mortandade representada lá, se espalharia à "toda a terra do Egito, tanto nos vasos de madeira como nos de pedra" (v.19). Ou seja, toda a água do Egito se transformaria em sangue.
É interessante notar que desde o capítulo 1, o autor retrata que a intenção de Faraó era de se assenhorear da vida dos filhos de Israel; ele buscava fazer com que os hebreus o servisse (cf. 1.13; 5.9), colocando-se entre Deus e seu povo, obstruindo o cumprimento das promessas abraâmicas que o SENHOR tinha feito. Nesse ponto, o demonstrativo divino era de que ninguém além do próprio Deus tem poder sobre a vida, e a terra do Egito testemunharia isso, ao ver sangue fluir de si. Deus proclamaria sua soberania e controle absoluto sobre o Egito, ferindo-o a tal ponto de fazer com que toda a nação se visse como um cadáver.
A partir do versículo 20, a descrição textual registra a realização do portento:
Fizeram Moisés e Arão como o Senhor lhes havia ordenado: Arão, levantando o bordão, feriu as águas que estavam no rio, à vista de Faraó e seus oficiais; e toda a água do rio se tornou em sangue.
Todavia, a descrição sintética do fato, dá lugar a postura contumaz adotada por Faraó, ao ter sido novamente seduzido pela operação do erro que lhe mantinha em rebelião contra o SENHOR:
Porém os magos do Egito fizeram também o mesmo com as suas ciências ocultas; de maneira que o coração de Faraó se endureceu, e não os ouviu, como o Senhor tinha dito.
Mesmo tendo visto a mão de Deus realizar os sinais, tal como fora na corte, quando os magos também transformaram seus bordões em serpentes, Faraó não se apercebeu de que fora a mão do Deus dos hebreus executara aquela obra, e como o próprio texto retrata: "nem ainda isso considerou seu coração" (v.23).
Toda a fonte de vida — segundo assim consideravam os egípcios — foi subvertida numa enorme ferida mortal. Deus declarou sua soberania exclusiva sobre a vida. Faraó, apesar de ter quisto arvorá para si o controle sobre as vidas dos hebreus, testemunha toda a nação do Egito ser ferida pelo braço do SENHOR. De contra partida, a operação do erro e do engano operados por instrumentalidade dos magos da corte do rei egípcio, mantiveram seu coração endurecido, porém, agora, para Moisés e para os filhos de Israel, a declaração da dureza do coração do monarca não representa algum tipo impedimento no transcurso do plano redentivo, como analisado, mas significava que o braço de YHWH continuaria estendido, a fim de que mais juízo recaísse sobre aquela terra e sobre seu rei, até que este fosse completamente humilhado e a glória do SENHOR publicada.
Transição
Cada praga resguarda um aspecto peculiar de publicação da glória do SENHOR sobre Faraó e sobre sua tentativa de oprimir o povo de Deus. Pouco a pouco, o domínio de YHWH sobre toda a terra, incluindo sobre aqueles que se rebelam contra seu reino e contra seu povo, vai sendo exibido.
O braço do SENHOR se estende contra seus adversários, e tudo o que estes podem fazer é contemplar sua completa destruição, nem ainda podendo demover-se de suas posições de antagonia, pois até mesmo seus corações estão debaixo do controle inexorável do verdadeiro soberano: o SENHOR.
A vida é uma dádiva do Criador, e somente ele é o seu autor e mantenedor, estando à disposição somente dele. Somente Deus dá vida, e somente ele a tira, e Faraó, mediante o ferimento do rio Nilo, contemplou da maneira mais assustadora possível, a demonstração do SENHOR de seu título de senhor da vida.
Ao contemplar o texto de Êxodo 7.14-25, toda a igreja do SENHOR, em todas as eras, deve ser remetida à essa verdade: Apesar de o mundo arrogar para si controle sobre a vida, mediante as tentativas mais cruéis de opressão contra o povo de Deus, cada eleito do SENHOR deve assentar em seu coração a compreensão de que sua vida não está debaixo do controle daqueles que se julgam senhores do mundo de nossas vidas.
Ao ouvirem a leitura do presente texto, o povo de Israel ratificou em sua mente a verdade clara de que, embora Faraó os tenha oprimido fazendo seus corpos sofrerem, suas vidas de um modo geral nunca estiveram sob seu domínio; muito pelo contrário, era o rei do Egito quem estava sob controle do SENHOR, incluindo sua vida.
Ao ter ferido o grande rio Nilo, Deus estava demonstrando seu governo sobre todas as vidas na terra, podendo fazer com elas o que bem lhe parecesse, e o símbolo disso foi ter ele subvertido todo o Egito à aparência de um morto, vitimado por uma enorme ferida que jorrava sangue.
Compreendendo isso, o texto de Êxodo 7.14-25, enfatiza o seguinte princípio:
Aplicação
Somente Deus é o senhor da vida, e somente ele deve ser temido como sendo o único detentor do direito de dá-la ou tirá-la; o que para nós, seus filhos, serve como consolo, pois nossa vida está nas mãos do único e verdadeiro rei de toda terra: o SENHOR, a despeito do que digam os homens.
Nosso tempo está repleto de homens que julgam ter algum poder, e no alto de seus acessos megalomaníacos, acham que detém algum tipo de gerência sobre a vida alheia. Desde as cortes mais elevadas (e.g. STF), até as expressões “populares” mais grotescas, como a luta pela aprovação do aborto; o homem pensa ter algum controle sobre a vida, e manifesta isso em completa rebeldia contra os princípios que o SENHOR estabeleceu.
Nada obstante, embora não vejamos as águas do mundo se transformarem em sangue, dia após dia Deus fere o mundo, fazendo-o transformar-se num enorme cemitério a céu aberto. O ego elevado dos homens sempre gera conflitos e a mortandade é a resultante inevitável; se você dúvida, basta ler sobre as duas grandes guerras mundiais, pois para além de conflitos políticos, aqueles acontecimentos foram o demonstrativo claro do juízo divino contra um mundo que se distanciava (como ainda faz) de sua palavra e de seus preceitos.
Todos os dias, Deus fere o orgulho e a vaidade dos homens, tornando aquilo em que eles mais confiam em nada, tal como ocorreu com o Nilo; a grande fonte de vida para os egípcios, que, com um golpe de cajado, foi ferido mortalmente.
A igreja do SENHOR, por outro lado, refira disso o consolo de que precisa para crer que embora os homens nos ameacem com opressão e morte, nada poderão fazer se do Alto não lhes for concedido. Lembremos das palavras do Senhor Jesus:
Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo.
É este senhor que o mundo rejeita, porém, este é exatamente o único senhor do sobre a vida, e ele no-la concedeu em seu Filho bendito, Jesus Cristo, não apenas a vida neste mundo, mas vida eterna e abundante; vida que ninguém pode tomar ou tirar, nem mesmo os faraós de nosso tempo; na verdade, dentro em breve, todos os poderosos desse mundo contemplarão o Rei dos reis e Senhor dos senhores que, apesar dos sinais, por tanto tempo resistiram, mas que publicará seu reino e seu governo sobre todas as vidas, incluindo as suas.
Conclusão
O juízo do senhor sobre esse mundo deve demonstrar não somente a execução de sua implacável justiça contra o pecado, mas também sua soberania e glória sobre todos os aspectos da existência, e um deles é o controle divino sobre a vida; realidade que todos aqueles que se rebelam contra seu reino testificarão, agora, enquanto seu braço fere o mundo, e no momento final, quando Cristo raiar nas nuvens, assentado sobre o trono do universo.