Atos 5.12-42

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O autor divino/humano salienta a confirmação do ministério testemunhal da igreja como consolo, a fim de que cada discípulo de Cristo confie convictamente no fato de que nenhuma oposição será capaz de impedi-la de cumprir sua missão.

Notes
Transcript
"(…) E sereis minhas testemunhas (…) até aos confins da terra" (Atos 1.8).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
Tendo registrado a seção em que exemplos (positivo e negativo) do espírito comunitário da igreja foram retratados, Lucas adentra em um novo bloco de seu texto, no qual uma nova tônica do testemunho apostólico a ser prestado pela igreja é enfatizada.
Como visto à luz das seções anteriores, o acompanhamento de sinais e prodígios realizados por meio dos apóstolos, chancela a pregação e o testemunho da igreja, que cumpre a missão outorgada pelo próprio Cristo. A execução desses sinais geralmente é seguida pelo crescimento do número dos fiéis, e também pela intensificação da perseguição, como foi nos capítulos 2 à 4, que repete-se agora na seção em análise.
O bloco textual divide-se em duas partes: nos versículos 12-16, Lucas retrata o crescimento da igreja mediante o testemunho confirmado por milagres operados pelos apóstolos; testemunho atestado pelos não convertidos, que tinham profunda admiração pela comunidade dos discípulos. A segunda e maior parte da seção (vs. 17-42), desdobra a movimentação invejosa e obstrutiva dos anciãos de Israel contra a igreja e os apóstolos, que culmina com a síntese do texto que enquadra sua ideia central: o prosseguimento resoluto da igreja em testemunhar do evangelho, que confirma a procedência de tal obra a partir do próprio Senhor Jesus Cristo (cf. v.39).
As subseções dos versos 12-16 e 38-39, centralizam a intenção de Lucas de que o próprio Deus está levando, através do Espírito Santo, a igreja adiante, confirmando seu testemunho a despeito da oposição, a fim de que o nome de Cristo seja pregado e ensinado (v.42); obra que homem algum poderá barrar.
Em face dessas considerações, o texto de Atos 5.12-42 enfatiza a confirmação da obra testemunhal da igreja.
Elucidação
Tal como introduzido, passaremos a analisar as seções textuais estruturadas pelo autor divino/humano.
1. (vv.12-16) A confirmação do testemunho apostólico - parte 1: milagres e prodígios.
Assim como das outras vezes em que traçou sínteses que apontavam para o avanço da obra e crescimento da igreja, Lucas enfatiza a presença de sinais e prodígios sendo realizados por mão dos apóstolos, como um dos principais demonstrativos dessa realidade.
Tal como nas seções de 2.42-47 e 4.32-35, a presente subseção é acrescida de uma ênfase peculiar que justifica uma aparente repetição quanto a como estavam vivendo os discípulos de Cristo nesses momentos iniciais de sua jornada. No primeiro exemplo, os princípios fundantes da igreja ( i.e. doutrina, comunhão, adoração) são enquadrados como bases sobre as quais a igreja está crescendo, isto resumido no versículo 42. No segundo caso, como visto acima, o espírito comunitário é focalizado, sendo expandido pelos exemplos analisados pela seção imediatamente anterior ao presente texto.
Agora, o ponto central desta primeira parte do bloco textual, enfatiza a condição de respeito e admiração direcionados à comunidade dos discípulos por parte do restante do povo, tendo em vista a realização dos acontecimento anteriores (execução de Ananias e Safira) e dos milagres que eram realizados pelos apóstolos, que confirmava o caráter testemunhal da igreja.
Ao passo que os apóstolos testificavam do evangelho de Deus em Cristo Jesus, mediante o poder do Espírito santo, "muitos sinais eram feitos entre o povo" (v.12). Nesse ponto, o termo "povo" (gr. "λαός"), é usado em referência aos judeus e gentios não crentes (MARSHALL, 2004, p.113) que, em Jerusalém, viam os sinais que eram executados. O resultado disso, como dito é que "ninguém ousava ajuntar-se a eles, porém o povo lhes tributava grande admiração" (cf. v. 13). Ou seja, um grande temor claramente impedia que aqueles que do povo não partilhavam da mesma fé, tentassem obstruir ou impedir a obra que estava sendo realizada pela igreja através do apóstolos.
Esse destaque é importante para estabelecer o contraste com a postura dos anciãos do povo e demais autoridades judaicas, como será retratado no tópico posterior.
O testemunho apostólico chancelado pelos sinais, atraia grande quantidade de pessoas dos arredores de Jerusalém, e o comentário feito por Lucas que retrata isso, enseja a razão do despertar da oposição dos líderes judaicos contra a igreja, pois a percepção do crescimento numérico dos discípulos tornara-se inegável, como é demonstrado no versículo 14:
Atos dos Apóstolos 5.14 ARA
E crescia mais e mais a multidão de crentes, tanto homens como mulheres, agregados ao Senhor,
Era notório — como de fato foi registrado por Lucas — que o grupo de 120 discípulos reunidos num cenáculo, tal como ocorreu no dia de Pentecostes, cresceu exponencialmente após a descida do Espírito Santo, transformando-se num movimento cujos ecos estavam chegando às várias partes da Judeia (cf. v.16 "Afluía também muita gente das cidades vizinhas a Jerusalém..."). Esse aspectos de alcance da ação da igreja, ecoam o anúncio e outorga da missão feita por Cristo. Os discípulos (bem como toda a igreja), estavam se tornando testemunhas que levavam o evangelho para além das fronteiras de Jerusalém, curando e promovendo a glória de Cristo à regiões adjacentes.
Como dito, a justaposição dessas informações, montam o cenário preparatório para os fatos a serem desenvolvidos na seção posterior. O crescimento da igreja e o respeito do povo, devido o testemunho evangélico confirmado pelos sinais, despertou a inveja dos líderes judaicos, e Lucas novamente traz à baila de sua narrativa outro episódio que retrata a oposição sofrida pela igreja.
2. (vv.17-42) A confirmação do testemunho apostólico - parte 2: oposição invejosa e testemunho resoluto.
A segunda parte da seção, incia-se exatamente com um contraste que estabelece a quebra do fluxo narrativo positivo criado pelo registro do crescimento e avanço da igreja:
Atos dos Apóstolos 5.17–18 ARA
Levantando-se, porém, o sumo sacerdote e todos os que estavam com ele, isto é, a seita dos saduceus, tomaram-se de inveja, prenderam os apóstolos e os recolheram à prisão pública.
Segundo relato de Lucas, a inveja motivou os anciãos de Israel a encarcerarem os discípulos. Tendo em vista que em 4.18 os mesmos líderes ordenaram que os apóstolos não mais pregassem ou ensinassem o nome de Cristo, ao verem sua ordem ser desobedecida e a influência crescente que a igreja estava exercendo sobre todo o povo, aqueles homens executaram uma ação retaliadora.
Todavia, os versículos 19-20 registram uma intervenção divina que introduz pela primeira vez na narrativa, a noção de confirmação do ministério testemunhal a ser exercido pela igreja: um anjo do Senhor é enviado para, milagrosamente, retirar do cárcere os apóstolos presos, e lhes direciona uma ordem: “Ide e, apresentando-vos no templo, dizei ao povo todas as palavras desta Vida” (v.20).
O direcionamento divino que os apóstolos receberam, segundo o registro lucano, destaca a exortação do autor aos leitores: mesmo sob forte oposição, o Senhor Jesus, intervindo para benefício da igreja, assegura—lhes que verdadeiramente aquela obra não poderia ser obstruída. A preocupação de Lucas em destacar esse princípio encontra relevância na própria situação em que seus leitores poderiam se encontrar, dentre eles, Teófilo, como mencionado no primeiro volume (Lc 1.3).
Tanto mais crescia o número dos discípulos, mais ameaças mostravam-se contrárias ao triunfo do evangelho, e com isso, o receio de alguns de publicarem sua fé ou viver de acordo com ela, era real. Porém, a partir da presente seção, Lucas estabelece que, embora a oposição ao testemunho do evangelho prestado pela igreja fosse uma realidade, a vontade (e o poder) de Cristo de que seus discípulos avancem sem temor, cumprindo a missão a eles entregue, também era, e isso era motivo suficiente para que todos aqueles que foram chamados à salvação pela recepção da pregação e do testemunho apostólico, se mantivessem firmes nesse intento.
A confirmação dessa perspectiva é estabelecida novamente pelo próprio autor, ao narrar o embate entre os apóstolos e o Sinédrio. Quando fora notado que os apóstolos, misteriosamente, não estavam encarcerados, mas sim livres e pregando o nome de Cristo no templo, os líderes judaicos convocaram Pedro e os demais apóstolos para sua reunião, questionando o fato de que ainda que outrora os discípulos tivessem sido ordenados a não mais ensinarem no nome de Cristo, estavam fazendo exatamente isso, e também acusando-os de terem matado o Senhor (vs. 22-28).
Nesse momento, tal como nas seções anteriores e repetindo aquela estrutura inicial referida anteriormente, outro testemunho da ressurreição e glória de Cristo é prestado diante das autoridades judaicas, reforçando a tônica autoral de que os discípulos manter-se-ão inamovíveis, como consta a partir do versículo 29:
Atos dos Apóstolos 5.29–32 ARA
Então, Pedro e os demais apóstolos afirmaram: Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens. O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, a quem vós matastes, pendurando-o num madeiro. Deus, porém, com a sua destra, o exaltou a Príncipe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento e a remissão de pecados. Ora, nós somos testemunhas destes fatos, e bem assim o Espírito Santo, que Deus outorgou aos que lhe obedecem.
Pedro e os demais apóstolos ousadamente afirmam que, acima da obediência devida as autoridades, está o compromisso da igreja em atender a vontade do Senhor, que lhes entregou o encargo de anunciar sua glória, e através dela, a salvação.
Na sequência, Lucas introduz dois pontos de ironia que relembram situações anteriormente experienciadas pelos apóstolos: 1) ao testemunharem do evangelho às multidões, chamando-as ao arrependimento por terem entregue o Filho de Deus para ser crucificado por ímpios (cf. 2.23, 36; 3.13-16), os ouvintes reagiram com admiração e aquiescência, tendo sido convertido grande número de pessoas, ao passo que, sendo o mesmo testemunho prestado diante das autoridades judaicas, os mesmos “se enfureceram e queriam matá-los” (v.33), o que evidenciava a antagonia destes contra a igreja; 2) a síntese textual centralizada por Lucas consiste na fala de um dos mais respeitados membros do Sinédrio, cujo argumento enfatiza (subliminarmente) a aprovação do SENHOR no avanço do ministério testemunhal da igreja, conforme é demonstrado a partir do versículo 34:
Atos dos Apóstolos 5.34–39 ARA
Mas, levantando-se no Sinédrio um fariseu, chamado Gamaliel, mestre da lei, acatado por todo o povo, mandou retirar os homens, por um pouco, e lhes disse: Israelitas, atentai bem no que ides fazer a estes homens. Porque, antes destes dias, se levantou Teudas, insinuando ser ele alguma coisa, ao qual se agregaram cerca de quatrocentos homens; mas ele foi morto, e todos quantos lhe prestavam obediência se dispersaram e deram em nada. Depois desse, levantou-se Judas, o galileu, nos dias do recenseamento, e levou muitos consigo; também este pereceu, e todos quantos lhe obedeciam foram dispersos. Agora, vos digo: dai de mão a estes homens, deixai-os; porque, se este conselho ou esta obra vem de homens, perecerá; mas, se é de Deus, não podereis destruí-los, para que não sejais, porventura, achados lutando contra Deus. E concordaram com ele.
A fala de Gamaliel não expressa verdadeira fé na possibilidade de que aquela obra de fato procedia do SENHOR, entretanto, a própria possibilidade é ressaltada por Lucas como expressão da realidade. Os dois exemplos de reunião de pessoas em torno de homens (e.g. Teudas e Judas), foram usados exatamente para que o Sinédrio visse que todo o alvoroço causado pelos apóstolos em Jerusalém e nos entornos, poderia não passar de outro movimento humano. Por outro lado, a exortação final do mestre da Lei ressalta a proposta de que o próprio Sinédrio se resguarde de estar lutando contra Deus, interferindo numa obra tão notória quanto a que estava sendo executada pelos discípulos de Cristo.
A confirmação dessa perspectiva é registrada na conclusão da narrativa: as autoridades judaicas, embora tenham concordado com o parecer de Gamaliel, ordenam o açoitamento dos discípulos e “que não mais falassem em o nome de Jesus” (v.40). Porém, o efeito pretendido foi reverso: além de terem libertado os discípulos, tendo eles voltado a ensinar e pregar Jesus, o Cristo” (v.42), os açoites somente serviram para que os discípulos se regozijassem “por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome” (v.41).
Transição
A temática abordada por Lucas na presente seção, enfatiza a confirmação de que a obra desenvolvida pela igreja, procede do próprio Senhor Jesus Cristo, e portanto, as mais intensas oposições e retaliações não poderão parar a igreja ou impedi-la de cumprir sua missão.
O testemunho apostólico estava sendo confirmado mediante a execução de sinais e prodígios que declaravam a veracidade do evangelho, que publica a glória de Cristo Jesus como Príncipe e Salvador (v.31), ao passo que essa chancela também estava sendo salientada mediante a própria resolução dos discípulos em manterem-se firmes no objetivo de serem porta-vozes da mensagem salvadora.
Os dois fatores de confirmação são unidos pelo autor divino/humano em Atos 5.12-42, como fonte de esperança e consolo para a igreja, que pode olhar para a tarefa que tem realizado, não como um projeto humano, mas como uma realização divina.
Assim, o princípio central a ser compreendido pela igreja contemporanea, à luz do presente texto, pode ser sintetizado na seguinte aplicação:
Aplicação
O testemunho apostólico prestado pela igreja diante do mundo, é confirmado mediante o apego da igreja à própria mensagem que apresenta Cristo Jesus como Príncipe e Salvador designado pelo Pai, e pela fidelidade de cada discípulo para com a missão outorgada pelo Senhor.
É necessário enfatizar que, nos primeiro momentos da trajetória da igreja, os milagres e prodígios executados pelos apóstolos foram um dos fatores de confirmação mais evidentes de que o evangelho verdadeiramente procedia de Deus. Entretanto, a necessidade desse meio de testificação foi substituída por algo muito mais poderoso: o registro do próprio testemunho da igreja no que hoje conhecemos como Bíblia Sagrada.
O fechamento do Cânon proporcionou para a igreja um meio de confirmação de que sua mensagem procede do SENHOR: o Espírito Santo, Consolador da igreja, fez os autores humanos registrarem cada palavra que enlevaria em si a mensagem do evangelho a ser testemunhada ao mundo.
Assim, embora não vejamos mais tantos milagres ocorrendo hoje como foi no período inicial da igreja, o testemunho da igreja continua sendo chancelado pelo Espírito Santo, através do apego da própria comunidade cristã ao Registro Sagrado; à Palavra de Deus.
Entretanto, algo que não mudou, mesmo com o passar dos anos, foi a oposição que a igreja sofre por causa da pregação e testemunho desse evangelho. Homens continuam se levantando contra o povo de Deus, pondo à prova a procedência do seu chamado à salvação.
Nada obstante, assim como demonstra o texto, embora a oposição e antagonia sejam reais, ao ponto de muitos de nossos irmãos serem ainda hoje arrastados para prestarem testemunho diante das autoridades, sendo agredidos ou até mortos, 2.000 anos se passaram, e geração após geração, rei após rei, presidente após presidente, a igreja do SENHOR se mantém resoluta em seu chamado, regozijando-se por ser considerada digna de sofrer afrontas por causa do nome de Cristo.
A comunidade cristã, dia após dia, cresce e se multiplica, testificando a todos que Cristo Jesus é o Senhor, e embora soframos afrontas e perseguições, o Deus Triuno tem confirmado nosso testemunho, fazendo triunfar sua igreja, contra a qual as portas do inferno jamais poderão prevalecer.
Conclusão
O parecer de Gamaliel foi verdadeiro: esta obra procede de Deus, e contra ela, homem algum jamais foi capaz de lutar, e a igreja de Cristo continua forte, pois “se Deus é por nós, quem será contra nós” (Rm 8.31).
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