A Oração Muda as Coisas? Cap. 3

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Capítulo 3

O PADRÃO DA ORAÇÃO:

A introdução do capítulo é interessante. Sproul fala da sua admiração pelo fato dos discípulos não terem perguntado a Jesus como andar sobre a água, ou sobre outro milagre. Entretanto, pediram a Jesus que os ensinasse sobre a oração. Perceba que eles não pediram a Jesus que os ensinasse como orar. Em vez disso, eles rogaram Lc 11:1b — "Senhor, ensina-nos a orar como também João ensinou aos seus discípulos”. Sproul afirma: “Estou certo de que os discípulos viram com clareza a inseparável relação entre o poder que Jesus manifestava e as horas que ele gastava em solidão com seu Pai”.
A instrução que Jesus deu aos discípulos está registrada em Mateus 6, e no texto paralelo em Lucas 11. Mas no evangelho segundo Mateus, Jesus prefacia seu comentário sobre a oração com as seguintes palavras:
E, quando orardes, não sereis como os hipócritas; porque gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças, para serem vistos dos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa. Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos. Não vos assemelheis, pois, a eles; porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais. Mateus 6.5–8
No versículo 9 de Mateus 6, Jesus diz: “vós orareis assim”, e não: “Vós orareis esta oração” ou: “Fareis esta oração”. Claro que não há problema no uso da Oração Dominical na vida pessoal ou mesmo na vida devocional da igreja. Contudo, como afirmou Sproul:
“Jesus não estava nos dando uma oração a ser recitada, e sim um padrão para nos mostrar a maneira como devemos orar. Jesus estava nos dando um esboço de prioridades ou de coisas que devem ser prioridades em nossa vida de oração”.
Vamos dividir a Oração Dominical em secções e considerá-las uma por vez.

PAI NOSSO

Segundo Sproul, as duas primeiras palavras da oração são radicais, conforme são usadas no Novo Testamento. A palavra Pai não era a forma básica de dirigir-se a Deus achada na comunidade da antiga aliança. Mas, no Novo Testamento, Jesus nos trouxe a um relacionamento íntimo com o Pai, destruindo a separação simbolizada pelo véu no templo.
Segundo Sproul: “Jesus foi o primeiro a mostrar que a oração é uma conversa pessoal com Deus”.
Ironicamente, hoje vivemos em um mundo que supõe que Deus é o Pai de todos, que todos os homens são irmãos. Vemos isso em expressões como “a paternidade de Deus” e “a irmandade dos homens”. Mas, em nenhuma passagem, as Escrituras dizem que todos os homens são nossos irmãos.
Segundo Sproul: “Há um sentido restrito em que Deus é o Pai de todos os homens como o Doador e Sustentador da vida, o progenitor por excelência da raça humana”.
Mas que fique bem claro: “na Bíblia nada indica que um indivíduo pode se aproximar de Deus em um sentido familiar”.
“A única exceção é quando essa pessoa é adotada na família de Deus, por expressar fé salvadora na expiação realizada por Cristo e se submeter ao seu senhorio. Somente quando isso acontece, a pessoa obtém o privilégio de chamar a Deus de Pai. Àqueles que ‘o receberam’, Deus lhes deu ‘o poder [autoridade, privilégio] de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome’ (Jo 1:12)”.
Mas, na introdução da oração dominical temos ali a ideia de paternidade e irmandade universal, não?! Não! Se você observar a luz dessa suposição cultural tácita (que o induz a assumir algo sem tirar a “névoa” da frente — a “névoa” esconde a verdade), não compreenderá o que Jesus está ensinando.
Em João 8:39-40:
Então, lhe responderam: Nosso pai é Abraão. Disse-lhes Jesus: Se sois filhos de Abraão, praticai as obras de Abraão. Mas agora procurais matar-me, a mim que vos tenho falado a verdade que ouvi de Deus; assim não procedeu Abraão.
E no versículo 44 do mesmo texto afirma:
Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira.
Segundo Sproul:
“Há uma distinção clara entre os filhos de Deus e os filhos do Diabo. Os filhos de Deus ouvem a sua voz e lhe obedecem. Os filhos do Diabo não ouvem a voz de Deus; eles lhe desobedecem por fazerem a vontade de seu pai, Satanás”.
Examinando o Novo Testamento, fazendo perguntas a respeito de quem são os filhos de Deus, você encontrará em texto como o de Rm 8:14-17, que diz:
Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai. O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados.
No versículo 14 o vocábulo “todos” (autoi, no grego) é o que se chama de forma enfática para indicar uma exclusividade. A seguinte tradução ajudará a compreender como isso é importante. “Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, somente estes são filhos de Deus” ou “unicamente estes são filhos de Deus”.
Isso significa que os que são de fato Filhos de Deus, o são legitimamente, porque estão em união com Cristo. Como disse Sproul: “Nossa filição não é automática; não é herdada e não é uma necessidade genética; antes ela é derivada”.
A palavra do Novo Testamento para esta transação é adoção. Por causa de nosso relacionamento de adoção com Deus, por meio de Cristo, nos tornamos coerdeiros com Cristo.
Martinho Lutero disse certa vez que, se pudesse apenas entender as primeiras duas palavras da Oração Dominical, ele nunca mais seria o mesmo.
Concluindo essa secção, Sproul afirma:
“A palavra nosso significa que o direito de chamar a Deus de ‘Pai’ não é apenas meu. É um privilégio coletivo que pertence a todo o corpo de Cristo. Quando eu oro, não chego diante de Deus como um indivíduo isolado, mas como um membro de uma família, uma comunidade de santos”.

NOS CÉUS

Na época em que Jesus falou estas palavras, havia um debate sobre o local exato da presença de Deus. O texto em João 4 é um bom exemplo deste fato. Ali portanto Jesus enfatiza que Deus é Espírito e, como tal, não pode ser localizado em um lugar específico. Nem no monte Gerizim, como pensavam os samaritanos, nem em Jerusalém, como acreditavam alguns dos judeus.
Um fato que ninguém nega é: Deus é onipresente. Na Escritura, no Salmo 139:1-2, 7 estão escritas as seguintes palavras:
Senhor, tu me sondas e me conheces. Sabes quando me assento e quando me levanto; de longe penetras os meus pensamentos. … Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face?
No Catecismo Maior de Westminster, pergunta e resposta 7 diz:
Pergunta 7: Quem é Deus?
Resposta: Deus é Espírito, em si e por si infinito em seu ser, glória, bem-aventurança e perfeição; todo-suficiente, eterno, imutável, insondável, onipresente, infinito em poder, sabedoria, santidade, justiça, misericórdia e clemência, longânimo, cheio de bondade de verdade.
Porque então Cristo falou de seu Pai como quem estava no céu. Por quê? Segundo Sproul: “Cristo estava falando sobre a transcendência de Deus. Visto que Deus não é parte deste processo mundano, ele não é parte da natureza. Ele não pode ser confinado a uma localidade”, conclui-se portanto, que “o Deus a quem nos dirigimos está acima e além dos limites finitos do mundo”.
A frase inicial da Oração dominical nos apresenta uma tensão interessante. Embora nos aproximemos do Senhor numa atitude de intimidade, há ainda um elemento de separação. Podemos nos chegar a Deus e chamá-lo Pai, mas este relacionamento filial não nos permite ter o tipo de familiaridade que produz desrespeito.
O “Pai nosso” fala da proximidade com Deus, mas “no céus” destaca sua singularidade, sua “separação”. Portanto, Sproul conclui: “quando oramos, temos de lembrar quem somos e a quem nos dirigimos”.
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