Os rios que se cruzam e formam um grande oceano

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Recapitulando

No domingo passado, começamos nossa mensagem falando sobre algumas coisas importantes da reforma protestante.
Discutimos sobre a expressão latina que é o lema da reforma (Sola), que, em suas variações, significa “Somente”.
Vimos que a igreja católica apostólica romana legislava não somente sobre questões éticas, mas também sobre tudo, ou seja, todos os assuntos passavam pelo amém de Roma.
Vimos a respeito das indulgências e penitências. A construção da basílica de São Pedro é financiada pela venda de indulgências. 
Ainda conversamos sobre os pré-reformadores até o momento em que sua morte ocorreu e o legado de Lutero.
 A Fé é suficiente para justificar o homem diante de Deus. Sola Fide (Somente a Fé)
Fio condutor da Escritura. Sola Gratia (Somente a Graça)
.......
Os sons do martelo de Lutero continuam sendo ouvidos, já que ainda temos três assuntos para tratar. 
Fundamento da autoridade (Sola Scriptura)
2Timóteo 3.16–17 “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.”
O próposito da carta!
O imperador Nero, com toda a sua loucura e violência, estava determinado a esmagar os cristãos com mão de ferro. Em Roma, os crentes eram crucificados, queimados vivos; outros, de cidadania romana, eram decapitados.
Ao mesmo tempo que o fogo da perseguição se espalhava, os falsos mestres espalhavam o veneno das heresias, causando grande perturbação às igrejas.
É nesse contexto de angústia e dor, de sombras espessas e tempestades borrascosas, que Paulo escreve sua última carta.
Sua preocupação não é prioritariamente com a própria vida.
Seu foco não é sua libertação.
Sua atenção se volta para o evangelho. Seu grande apelo a Timóteo, nesse tempo de perseguição política e sedução dos falsos mestres, é:
Ó Timóteo, guarda o que te foi confiado (1Tm 6.20) e
Guarda o bom depósito (1.14).
Sofre pelo evangelho (2.2,8,9),
Persevera no evangelho (3.13,14) e
Prega o evangelho (4.1,2).
Dentre essas sentenças nós vamos analisar as Vox Dei (A voz de Deus)
Aqui Paulo afirma duas verdades fundamentais sobre as Escrituras.
A primeira diz respeito à sua origem (de onde elas vêm); e,
A segunda, à sua finalidade (a que se destinam).
Primeiro, sua definição de “toda a Escritura” é que ela é “soprada por Deus”. A única palavra grega indica que Deus não soprou algo para a própria Escritura ou seus autores humanos, mas soprou para que a Escritura viesse a existir.
Inspirada (conforme a citação bíblica) é um termo conveniente para usar, mas soprada ou até mesmo sussurrada transmitem o significado da palavra com mais precisão.
A Escritura não deve ser pensada como algo que já existia quando (subsequentemente) Deus soprou nela, mas como algo trazido à existência pelo sopro ou Espírito de Deus.
Fica claro a partir de muitas passagens que o sopro, independentemente do processo utilizado, não destruiu a individualidade ou a cooperação ativa dos escritores humanos. Tudo o que é declarado aqui é o fato do sopro, que “toda a Escritura é soprada por Deus”. Originou-se na mente de Deus e foi comunicada da boca de Deus pelo sopro divino ou pelo Espírito de Deus. Por isso, é justamente denominada “a Palavra de Deus”, porque foi Deus que a proferiu
A Bíblia é essencialmente um manual de salvação. Seu propósito mais alto não é ensinar fatos da ciência que o homem pode descobrir por sua investigação experimental, mas ensinar fatos da salvação que nenhuma exploração humana pode descobrir e somente Deus pode revelar.
Os Evangelhos expõem o nascimento, a vida, o ensino, os milagres, a morte, a ressurreição e a ascensão de Cristo.
O livro de Atos relata a propagação do evangelho de Cristo desde Jerusalém até Roma.
As epístolas apresentam a ilimitada glória da pessoa e da obra de Cristo, aplicando-a à vida do cristão e da Igreja.
O Apocalipse traz a consumada vitória de Cristo e da sua igreja.
Cristo é o centro da eternidade, da história e das Escrituras. Ele é o Salvador do mundo, o único nome dado entre os homens pelo qual importa que sejamos salvos (At 4.12).
Segundo, Paulo explica o propósito da Escritura: é “útil”, precisamente porque é soprada por Deus.
Apenas sua origem divina assegura e explica sua utilidade humana. Paulo continua a mostrar que o benefício da Escritura está relacionado tanto com as crenças centrais quanto com a conduta.
No que tange às crenças centrais, a Escritura é proveitosa para “o ensino” e para “a repreensão”. Quanto à conduta, é proveitosa para “a correção” e para “a instrução na justiça”.
Em nossa própria vida e em nosso ministério de ensino, esperamos superar erros e crescer na verdade, vencer o mal e crescer em santidade? Então é para a Escritura que devemos primeiramente nos voltar, pois é “útil” para essas coisas.
A Escritura é o principal meio que Deus usa para levar “o homem de Deus” à maturidade. O termo pode se referir àqueles chamados a posições de responsabilidade na igreja, e especialmente a ministros cuja tarefa é, sob a autoridade da Escritura, ensinar e refutar, reformar e disciplinar.
Em todo caso, é somente pelo estudo diligente da Escritura que o servo de Deus pode se tornar “plenamente preparado para toda boa obra”.
Preparado (artios): completo, em inglês: efficient. Wilckens: “de modo que se torne capaz em todos os sentidos para praticar o bem.”
Equipado (exartizo): Um navio é equipado com todas as coisas necessárias e preparado para zarpar;
A Escritura é pastoralmente útil para o ensino, isto é, como fonte positiva de doutrina cristã; para repreensão, isto é, para refutar o erro e para repreender o pecado; para a correção, isto é, para convencer os mal-orientados dos seus erros e colocá-los no caminho certo outra vez; e para a educação na justiça, isto é, para a educação construtiva na vida cristã.
O meidiador da autoridade (Solus Christus)
Colossenses 1.15–20 “Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia, porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude e que, havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele, reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus.”
O plano de fundo dessa passagem os cristãos que Paulo se dirige nesta carta estavam, provalvelmente, lutando com uma forma de filosofia judaica que de influencia grega que via os cristãos como ainda vulneráveis as forças espirituais.
A epistola destina-se a ajudar os crentes a entenderem que a fim de ganhar aceitação diante de Deus, precisam de somente Cristo.
Naquele tempo, no fim da Antigüidade, havia, assim como hoje entre nós, uma abundância de “visões de mundo”.
Assim como hoje, naquele tempo podia-se ouvir uma série de palestras sobre visões de mundo e idéias filosófico-religiosas, além de ler escritos de vários tipos. Certos conceitos e idéias, palavras centrais e muitas vezes também bordões fascinam as pessoas.
Porque também nós, que vivemos uma realidade bem diferente quanto à visão de mundo, deparamo-nos com a pergunta se, afinal, o “simples” evangelho de Jesus seria suficiente em todos os problemas espirituais, em todas as buscas religiosas de nossa época e nosso mundo.
Também entre nós houve quem tentasse tornar esse evangelho “moderno”, “eficaz” e “perfeito” por meio de todo tipo de adendos e ampliações, de reinterpretações filosóficas e religiosas.
Será que devemos acompanhar essas tentativas, ou podemos continuar afirmando com alegre convicção: “Jesus, por isso, tu somente, és único e tudo para mim”?
Para isso precisamos de um Jesus grande! Que Jesus pequeno nós temos muitas vezes! Quantas vezes falamos displicentemente do “querido Jesus”, como se ele fosse quase um igual a nós e como se sua obra redentora fosse apenas uma pequena gentileza!
Que Jesus pequeno aparece com freqüência em pinturas, um Jesus do qual não se pode esperar que os demônios tremam diante dele, que os portões do reino dos mortos se rompam, e que tempestades e ondas se calem!
No entanto, quem é realmente este, “no qual temos a redenção, o perdão dos pecados”?
Deus já aceitou por causa de Cristo crucificado e resuscitado, a quem eles estão unidos. Embora haja uma perfeição, ou maturidade, que ainda está diante deles como alvo, eles já são aperfeiçoados nele que é Perfeito.
Colossenses 1.15 “Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação;”
A invisibilidade de Deus é que constitui o apuro religioso.
Por causa dela pode-se duvidar de Deus e negá-lo. Por causa dela todas as religiões do mundo têm incontáveis “imagens” de Deus, pintadas e talhadas, fundidas e esculpidas em mármore, ajeitadas com idéias e conceitos, rudes e nobres.
Nenhuma, porém, satisfez o ser humano que busca e indaga. “Mostra-nos o Pai, e isso nos basta!” (Jo 14:8) - esse é o clamor do coração humano.
Deus, porém, não deixou essa busca e esse clamor sem resposta. Tem uma imagem que lhe corresponde inteiramente, o “Filho de seu amor”. Presenteou-nos com essa imagem em forma humana na pessoa de Jesus. “Quem me vê a mim, vê o Pai; como dizes, então: mostra-nos o Pai?” (Jo 14:9).
Tão grande é Jesus.
Porventura temos noção do que isso significa para nós? Agora conhecemos verdadeiramente a Deus e enxergamos seu coração!
As pessoas despreviligiadas que são incapazes de ler e escrever, mas que conhecem a Jesus, sabem milhares de vezes mais sobre Deus do que os grandes pensadores sem Jesus com suas mais profundas obras filosóficas!
Colossenses 1.15 “Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação;”
Contudo acrescenta de imediato algo impactante e surpreendente. Certamente a primogenitura confere grandes prerrogativas, mas não destaca totalmente do grupo de irmãos.
Jesus, porém, não é uma criatura entre outras, ainda que a mais sublime e privilegiada. Jesus, a imagem de Deus, situa-se do lado do Criador, essencialmente separado de tudo o que é apenas criação. Jesus participa da criação, o próprio Jesus é Criador!
Colossenses 1.16 “pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele.”
Será que de fato estamos cientes disso? Consideramo-lo? Quando contemplamos o universo à noite e vemos oceanos de sóis acima de nós – é por meio de Jesus e para Jesus que essas imensas esferas ardentes seguem sua trajetória.
Mas também a pequena flor silvestre que ninguém vê e considera – é por meio de Jesus e para Jesus que ela floresce.
Tão grande é Jesus! Será que quando citamos o nome de Jesus na oração temos em mente que agora passamos a falar com aquele no qual “foi criado tudo nos céus e sobre a terra, as coisas visíveis e as invisíveis”?
Porventura esse mundo freqüentemente tão sinistro não se torna mais familiar e aconchegante para nós, pois agora temos o privilégio de saber que estamos nos movendo na propriedade que desde a criação pertence ao nosso glorioso Redentor?
Colossenses 1.17 “Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste.”
Talvez Paulo de fato recolha perguntas intelectuais que eram analisadas por influência da filosofia em Colossos.
Mas ao alicerçar a subsistência do mundo sobre Jesus, Paulo lança por terra todos os pensamentos humanos que de algum modo buscam a subsistência das coisas em suas próprias energias e essências, e expressa uma verdade de cuja audácia o filósofo somente poderá rir ou – estremecer.
Todo esse universo com seus inconcebíveis e imensos mundos estelares somente subsiste porque Jesus ainda o utiliza para seus planos e suas finalidades!
Tão logo não precisar mais dele, ele o descartará como uma vestimenta ultrapassada (Sl 102:26s). Por isso, juntas ambas as coisas constituem uma verdade bíblica: a essência deste mundo passa, e o mundo tem sua inabalável subsistência (provisória) em Jesus (que também aqui “cumpre” o que já fora prometido na aliança de Deus com Noé).
Colossenses 1.18 “Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia,”
Já constatamos: Jesus não é um estranho para nós, pois nós, sendo criaturas, lhe pertencemos.
Mas pela conversão a ele estabelecemos um relacionamento completamente novo com ele: tornamo-nos membros do corpo dele (da igreja), do qual ele é a cabeça.
Ela é o exato oposto de uma “associação”, uma comunhão que se estabelece pelas vontades e qualidades de seus membros.
Não é uma “cooperativa”, mas “equipe de um cabeça”. Não surgiu por resolução própria, escolhendo em seguida a Jesus como seu cabeça.
O cabeça criou e cria o corpo para si. “Comunidade” não é uma associação de pessoas “religiosas”. Ela é formada por “santos”.
Porque em Jesus, seu cabeça e começo, não apenas Deus se manifestou, uma faceta de Deus voltou-se para os humanos, uma força de Deus correu até eles, mas “aprouve a Deus que nele habitasse toda a plenitude”. Agora, portanto, existe um lugar no mundo em que de fato Deus “habita” com toda a sua plenitude: é Jesus, que como “cabeça” está presente e atuante na terra por meio de sua igreja.
Colossenses 1.19–20 “porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude e que, havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele, reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus.”
Tudo quanto Deus é habita em Cristo. A palavra grega pleroma, “plenitude”, neste contexto, descreve a soma de todos os atributos e poderes divinos.
Toda a plenitude da divindade e todos os atributos divinos residem em Cristo. Essa plenitude “não consistia em algo acrescentado a Seu ser como algum elemento não natural, mas sim algo que era parte permanente de Sua essência”.
A palavra grega katoikesai, “residir”, não significa uma residência temporária, mas uma habitação necessária e permanente. É estar em casa permanentemente.
A plenitude não foi alguma coisa acrescentada a Cristo, mas algo que Ele sempre possuiu.
A plenitude sempre foi parte do Seu ser. O evangelista João registra: “Porque todos nós temos recebido da sua plenitude e graça sobre graça” (Jo 1.16). O apóstolo Paulo afirma: “Porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade” (2.9).
Aqui está um dos mais sublimes mistérios da revelação divina, Ele é perfeitamente Deus e perfeitamente homem.
Ele é eternamente gerado do Pai. Luz de luz, co-igual, coeterno e consubstancial com o Pai. Aquele que criou os mundos estelares e as hostes incontáveis de anjos, aquele que lançou as colunas do universo e conhece cada estrela pelo Seu nome, esvaziou-se, fez-se carne, fez-se homem, fez-se pobre, nasceu numa manjedoura, cresceu numa carpintaria e morreu numa cruz, mas Nele habitava corporalmente toda a plenitude da divindade.
A palavra grega apokatalassein, “reconciliação”, “colocar algo de volta em sua devida ordem”.
O que será de minha culpa?
Como conseguirei ter paz com Deus?
Quem me reconcilia com Deus? Felicidade ou desgraça, alegria ou sofrimento, honra ou vergonha, vida ou morte?
Ele proíbe a mentira, eu sou um mentiroso. Ele demanda pureza, eu sou impuro.
Ele visa o amor desinteressado, eu vivo egoisticamente para o meu eu.
O fardo da culpa de anos e décadas de minha vida é como uma montanha. Não tenho como pagar pelo que fiquei devendo e a todo momento adquiro novas dívidas.
E Deus não pode, por ser Deus verdadeiro, dar nenhum desconto em sua inviolável exigência.
Nessa situação entra a mensagem, que ninguém consegue “compreender”, que por isso também não pode ser “comprovada” ou descrita de forma lógica para nossa razão, mas que constantemente se confirma nas consciências abaladas: ele, o único, estabeleceu a paz!
São justamente essas as únicas imagens que permitem falar disso: “O castigo pousa sobre ele”, “Ele pagou o resgate”, “Ele estabeleceu a paz”, “Ele prestou o sacrifício purificador”.
Todas as metáforas, porém, apontam para o acontecimento do qual elas extraem sua força e veracidade, para o acontecimento do Calvário. Esse acontecimento é juízo, sofrimento, sangue, morte “por nós”. Estabeleceu a paz “pelo sangue de sua cruz”.
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