A Igreja e a Cidade

A Igreja e a Cidade  •  Sermon  •  Submitted   •  Presented
0 ratings
· 8 views
Notes
Transcript

Introdução

Jeremias 29.4–7 NAA
4 Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel, a todos os exilados que eu deportei de Jerusalém para a Babilônia: 5 “Construam casas e morem nelas; plantem pomares e comam o seu fruto. 6 Casem e tenham filhos e filhas; escolham esposas para os filhos de vocês e deem as suas filhas em casamento, para que tenham filhos e filhas. Aumentem em número e não diminuam aí na Babilônia! 7 Procurem a paz da cidade para onde eu os deportei e orem por ela ao Senhor; porque na sua paz vocês terão paz.
O povo de Israel foi exilado por causa do pecoado da idolatria. Deus mandou vários profetas, mas o povo permaneceu no pecado. No texto que lemos vemos Deus falando através do profeta que o exílio era fruto da ação de Deus sobre o povo de Israel. Mas por que? Estaria Deus castigando o povo? Temos a tendência a olhar situações como essa apenas sob a pespectiva da punição, pela punição. Porém, Deus é Pai daqueles que Ele chama para salvar. A relação Dele consco é de paternidade, Ele nos adotou como seus filhos. Sendo Ele nosso pai, ele nos ama tanto que não permite que permaneçamos no pecado. Logo, o exílio na Babilônia é um instrumento de disciplina amorosa de Deus para com seu povo. Deus não é um pai como muitos pais modernos, que acreditam que amor e dor são excludentes. Deus não é um pai como os pais modernos que acham que amar é nunca contrariar seus filhos, Deus é o pai perfeito que ama seus filhos de forma perfeita. Ao contrário que muitas teorias contemporâneas de paternidade dizem sobre disciplina, Deus nos ensina que diante da obstinação ao erro por parte dos filhos, a disciplina amorosa em algumas situações reuqer dor. Disciplina amorosa não significa que ela não seja dolorosa.
Jeremias então foi levantado por Deus para falar ao povo exilado na Babilônia, e os exilados estavam enfrentando era como manter um relacionamento real com o Senhor numa terra estrangeira. Eles não tinham mais acesso ao templo e aos seus sacrifícios. De fato, havia dúvidas sobre se Deus estaria interessado neles enquanto morassem numa terra estrangeira. Essas preocupações são resolvidas pela afirmação da soberania de Deus em seu exílio. Ele continua a ter planos para o seu povo, muito embora, para o futuro imediato, não sejam o tipo de planos que eles tivessem imaginado ou desejado. E dizia: Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel, a todos os exilados que eu deportei de Jerusalém para a Babilônia. Isso em si seria suficiente para gerar uma crise de fé nos Israelitas – o Senhor os tinha abandonado? Eles realmente podiam confiar nas promessas da aliança? A afirmação de que era Deus quem tinha controlado o destino deles é feita para assegurar-lhes que eles não tinham sido esquecidos e que tinham um papel importante no propósito divino. Eles estavam onde estavam por iniciativa e controle do seu Deus; eles tinham um futuro. Nabucodonosor era meramente o agente que o Senhor tinha usado para cumprir seus propósitos. Eles deviam aceitar suas circunstâncias porque o Senhor estava no controle delas.
O povo de Israel devia aceitar que sua situação vinha do Senhor, que tinha decretado não uma restauração imediata, mas uma longa permanência na Babilônia. Agindo assim, eles conseguiriam sobreviver, edificando casas, trabalhando e formando famílias.
As instruções vão além, e novamente de um modo que provoca uma reviravolta no modo de pensar dos exilados. Procurai a paz da cidade para onde os deportei. Os exilados não devem se indispor com a terra em que estão, muito embora tenham sido levados para lá à força. De fato, essa era a parte mais difícil das instruções divinas. Mas embora fosse legítimo criticar e fazer oposição ao mal praticado pelos babilônios, a atitude dos exilados não devia ser negativa com relação à terra pagã em que estavam. Em vez disso, eles deviam promover seus interesses de todas as maneiras que pudessem porque, em última análise, era o Senhor quem os tinha levado para lá.
O bem-estar da terra não devia ser buscado apenas por meios seculares. Isso devia ser feito preeminentemente pela oração; orai por ela ao Senhor; porque na sua paz vós tereis paz. Eles tinham sido separados da adoração no templo de Jerusalém mas isso não os impedia de orar, até mesmo em favor dos seus opressores. O destino deles estava inseparavelmente ligado ao que aconteceria à Babilônia. Essa é a mesma perspectiva sobre viver numa sociedade pagã que é promovida por Paulo:
1Timóteo 2.1–4 NAA
1 Antes de tudo, peço que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças em favor de todas as pessoas. 2 Orem em favor dos reis e de todos os que exercem autoridade, para que vivamos vida mansa e tranquila, com toda piedade e respeito. 3 Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador, 4 que deseja que todos sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade.
Essa história narrada no livro do profeta Jeremias é muito mais do que o registro histórico de um período do povo de Israel, mas é uma imagem da história da redenção. No princípio de tudo, Deus nos criou para viver em um jardim, mas a decisão deliberada dos nossos primeiros pais (pais de toda humanidade) de viver de forma autônoma de Deus, a humanidade foi exilada do Jardim e todos nós de alguma forma estamos exilados em uma Babilônia.
O processo de urbanização começa logo após a queda, e as civilizações foram se constituindo no processo de urbanização. A própria bíblia faz mais de mil referências sobre as cidades. A primeira cidade foi construída por Caim. Logo no Antigo Testamento vemos cidades sendo edificadas no Oriente Médio, no Novo Testamento a Polis grega, e nos anos 1800 uma nova grande expansão urbana com a Revolução Industrial.
A cidade é a representação concreta da busca da realização humana, e a igreja de Cristo está na cidade para servir a cidade ao mesmo tempo ser uma contracultura a ela. A igreja deve ser uma espécie de Showroom do Reino de Deus. Um modelo desejável para quem está de fora para a forma como enfrentamos todas as coisas (sucesso, fracaço, luto ou conquistas). Mas ao mesmo tempo, pelos mesmos motivos essa mesma igreja será perseguida.

1. A Cidade como Espelho da Alma Humana

Nas profundezas do coração humano, existem desejos, sonhos, medos e aspirações que se manifestam em muitas formas. Assim como um espelho reflete a imagem daquele que nele olha, as cidades, em sua vastidão e complexidade, refletem a alma coletiva de seus habitantes. A estrutura e a cultura da cidade são um espelho das paixões, das inovações, das tragédias e das esperanças da humanidade.
Ao longo da história, cidades foram erguidas como monumentos ao progresso humano, à nossa criatividade e determinação. As grandiosas pirâmides do Egito, os canais de Veneza, os arranha-céus modernos de Nova Iorque - todos são testemunhos do que a humanidade pode alcançar quando unida por um propósito. No entanto, por trás dessas conquistas, há também histórias de luta, opressão e desejo de significado.
As cidades são lugares onde a cultura se forma, onde ideias são trocadas e onde a identidade é moldada. Elas são um caldeirão de diversidade e, no entanto, em sua diversidade, revelam a universalidade da experiência humana. Em uma cidade, encontramos tanto o artista quanto o banqueiro, o mendigo quanto o empreendedor. Todos buscam propósito, pertencimento e transcendência.
No entanto, a cidade, com sua luzes brilhantes e sombras escuras, também revela nossas idolatrias. Muitas vezes, as cidades se tornam locais onde os deuses do poder, dinheiro e prazer são adorados acima de tudo. As mesmas ruas que celebram festivais e desfiles também veem marchas de protesto e desespero. A ambivalência da cidade é uma representação da ambivalência dentro de cada coração humano.
Zygmunt Bauman, em sua análise da "modernidade líquida", sugere que, em nossa era contemporânea, tudo é efêmero e em fluxo. As cidades, em sua constante mudança e desenvolvimento, refletem essa fluidez. Assim como a alma humana oscila entre certezas e dúvidas, entre esperança e desespero, a cidade também é um lugar de dualidade.
Para o cristão, isso apresenta tanto um desafio quanto uma oportunidade. O desafio é não ser consumido pelos ídolos e tentações da cidade, a oportunidade é ver a cidade como um campo de colheita, um lugar para demonstrar e proclamar o amor transformador de Cristo. Pois, no final das contas, a maior necessidade da cidade é a mesma maior necessidade da alma humana: redenção e restauração através de Jesus Cristo.
Assim, quando olhamos para uma cidade - seja ela antiga ou moderna, oriental ou ocidental - estamos, de muitas maneiras, olhando para nós mesmos. E, ao fazer isso, somos chamados a refletir sobre quem somos, o que valorizamos e como podemos trazer luz e sal para os lugares que mais precisam.
Ilustração: Toda cidade tem um monumento, geralmente no Brasil as cidades do interior tem em seu ponto central uma praça e uma grande igreja. Ao mesmo tempo que metrópoles como NY tem seu touro de WallSteet, a estátua da liberdade… As cidades são reflexos das almas de seus habitantes – seus desejos, medos, esperanças e idolatrias. Assim como o coração humano, elas são lugares de grande beleza e profunda corrupção.
Aplicação: Em nossas próprias vidas, onde vemos essa dualidade? Como a cultura urbana influencia nossos valores, desejos e prioridades? Como o Evangelho nos desafia a viver de forma diferente?

2. O Exílio: Uma Oportunidade Disfarçada

É em nossos momentos mais sombrios e difíceis que a verdadeira natureza da alma humana é revelada. O exílio, embora seja frequentemente percebido como um castigo ou uma punição, pode se transformar em uma poderosa ferramenta de transformação, crescimento e redenção.
O povo de Israel, ao ser exilado em Babilônia, encontrou-se em território estrangeiro, longe de sua terra, seu templo e seus costumes familiares. Eles foram forçados a se confrontar não apenas com a perda física de sua nação, mas também com uma crise espiritual e de identidade. O que significa ser o povo de Deus quando tudo o que é familiar foi retirado?
Contudo, é justamente no exílio que Deus trabalha de maneiras surpreendentes. Em vez de um abandono total, o exílio tornou-se um período de introspecção e redefinição. Assim como o metal é purificado no fogo, o povo de Deus foi refinado em meio à adversidade.
A mensagem de Jeremias a eles foi clara: embora o exílio fosse resultado de suas ações, não era o fim da história. Havia, de fato, uma oportunidade disfarçada nesse exílio. Deus estava chamando Seu povo a buscar o bem-estar da cidade em que foram exilados, a orar por ela e, em sua prosperidade, encontrar sua própria paz.
Esta é uma lição poderosa para todos nós. Quantas vezes nos encontramos em nossos próprios "exílios" pessoais, seja devido a circunstâncias fora de nosso controle, escolhas erradas ou crises inesperadas? Em vez de nos resignarmos ao desespero, somos chamados a ver esses momentos como oportunidades disfarçadas. Oportunidades para crescer, para aprender, para se reinventar e, acima de tudo, para buscar a Deus com renovada urgência e paixão.
Em última análise, o exílio nos mostra que nossa verdadeira casa não é construída de tijolos e argamassa, mas está ancorada na eternidade com Deus. O exílio torna-se uma jornada não de desespero, mas de descoberta, onde cada desafio é uma chance de se aprofundar em nossa fé e confiança no Deus que nunca nos abandona, mesmo nos momentos mais sombrios.
Ilustração: Imagine uma planta que foi arrancada de seu habitat natural e replantada em um solo completamente diferente. A princípio, essa planta pode lutar para se adaptar. O solo pode não ter os nutrientes exatos de que precisa, a luz solar pode ser diferente, a chuva pode ser mais ou menos abundante. No entanto, com o tempo, essa planta começa a encontrar maneiras de não apenas sobreviver, mas prosperar. Ela começa a se enraizar mais profundamente, buscando os nutrientes de que precisa. Ela se ajusta à nova quantidade de luz solar, talvez crescendo de uma maneira ligeiramente diferente para capturar o máximo de luz possível. E o que é ainda mais impressionante é que, ao fazer isso, essa planta começa a enriquecer o solo ao seu redor. Ela contribui para o ecossistema, talvez até atraindo novos animais ou insetos para a área. Em sua nova localização, a planta não apenas sobrevive, mas também beneficia o ambiente ao seu redor.
Aplicação: Como podemos florescer mesmo em situações adversas? Como nossa fé pode ser renovada e fortalecida no "exílio"? Como a igreja pode ser como essa planta que está em solo diferente, mas que ao se enraizar não simplesmente sobrevive naquele solo, como contribui para todo ecosistema ao seu redor?

3. Servir e Amar a Cidade

Ao olharmos para as selvas de concreto e vidro que são as cidades, é fácil sermos engolidos pela magnitude, pela frenética atividade e, frequentemente, pelo secularismo aparente que parece impregnar cada esquina. No entanto, é precisamente aqui, no coração pulsante da cidade, que somos chamados a servir e amar.
As cidades, ao longo da história, têm sido centros de inovação, cultura, economia e poder. São locais de grande diversidade, onde pessoas de todas as raças, origens e crenças se cruzam em uma dança diária de interações. E é justamente nesta complexidade e diversidade que a missão da igreja se torna mais vital.
Timothy Keller, em suas reflexões, frequentemente realça a importância do ministério urbano. Ele reconhece que, ao mesmo tempo que as cidades oferecem oportunidades inigualáveis para o evangelismo e a ação social, elas também apresentam desafios únicos. O secularismo, a alienação, a solidão e a incessante busca por significado e propósito são tão palpáveis nas ruas da cidade quanto os arranha-céus que a dominam.
Mas o chamado bíblico é claro: assim como o povo de Israel foi instruído a buscar o bem-estar da cidade de Babilônia, somos chamados a fazer o mesmo com as cidades em que vivemos. Isso não significa apenas cuidar física e materialmente dos necessitados, embora isso seja essencial. Significa também enfrentar as questões espirituais e emocionais que atormentam tantos habitantes urbanos. Tenho crise com movimentos que buscam resgatar aspectos culturais do passado como meio de redenção. Movimentos cristãos que desconsideram totalmente a cultura local e buscam viver em uma subcultura que só faz sentido para eles e desprezam a cidade como o campo missionário que Deus nos deu para servir e amar.
Servir e amar a cidade envolve entrar nas suas dores, compreender suas complexidades e lutar por justiça e retidão em todos os níveis. Significa plantar igrejas que são relevantes para os moradores urbanos, que abordam suas preocupações e dúvidas e que oferecem um refúgio de esperança e paz em meio ao caos.
Ao mesmo tempo, amar a cidade também significa ser uma "contracultura" dentro dela. Em um mundo onde o individualismo reina e a busca pelo poder e prazer muitas vezes supera tudo, a igreja é chamada a ser uma comunidade onde o amor sacrificial, a humildade e a graça são supremos. Uma cidade dentro da cidade, refletindo os valores e prioridades do Reino de Deus.
No entanto, essa missão não é fácil. Requer coragem, perseverança e, acima de tudo, uma profunda dependência de Deus. Mas quando a igreja se levanta para amar e servir sua cidade, ela se torna uma luz brilhante no meio da escuridão, um farol de esperança para todos aqueles que buscam significado, propósito e redenção. E é assim que, tijolo por tijolo, coração por coração, a cidade é transformada – não apenas por nossos esforços, mas pelo poder transformador do evangelho.
Aplicação: Como podemos servir nossa cidade sem sermos consumidos por ela? Como podemos amar e orar pela cidade, mesmo quando nos sentimos em desacordo com seus valores?

Conclusão:

No coração da mensagem de Jeremias está a ideia de que, mesmo no exílio, no desconhecido, no estrangeiro, Deus está conosco. Ele está trabalhando, redimindo e restaurando. Cristo, omaior e verdadeiro exilado, deixou sua casa celestial para nos resgatar. Ele entrou em nosso exílio para que, através dEle, possamos encontrar nosso verdadeiro lar.
Ao contemplarmos as paisagens urbanas que se estendem diante de nós, reconhecemos que as cidades são mais do que meros agrupamentos de edifícios e ruas movimentadas; elas são, de fato, o espelho da alma humana. Cada prédio, cada parque, cada esquina esconde histórias de busca, de esperança, de desespero e de redenção. Em cada uma dessas histórias, há ecos do exílio da humanidade desde a queda no Jardim do Éden.
Porém, não devemos esquecer que até nos momentos mais sombrios do exílio, Deus ofereceu oportunidades disfarçadas. No aparente abandono e desespero, Ele forjou um caminho para a redenção, para o retorno e, mais importante, para um relacionamento restaurado com Ele. Assim, à medida que caminhamos pelas ruas de nossas cidades, somos lembrados de que, mesmo aqui, Deus está trabalhando, moldando e chamando Seu povo de volta para Si.
Portanto, a missão diante de nós é clara: somos chamados a servir e amar nossas cidades com todo o nosso coração. A empreitada pode ser desafiadora, e, por vezes, nos sentiremos como estrangeiros em uma terra estranha. No entanto, com olhos fixos em Jesus e corações ancorados em Sua promessa, podemos ser agentes de transformação, levando a luz do Evangelho aos cantos mais escuros de nossas cidades.
Related Media
See more
Related Sermons
See more