DOR – Parte II - Pag. 145 – 153
Sermon • Submitted • Presented
0 ratings
· 1 viewNotes
Transcript
“A Mentalidade Peregrina dos Puritanos” por Dr Joel Beeke por Roberta Macedo | segunda-feira, 20 janeiro, 2014 | Vida Cristã
PilgrimsEntrevista feita por Tim Challies ao Dr. Joel Beeke sobre os últimos oito capítulos do livro “A Teologia Puritana: Doutrina para a Vida”*
O que temos a ganhar, como cristãos dos dias hoje, se recuperarmos algo da mentalidade peregrina? O que poderemos perder, ou sentir falta se não recuperarmos isso?
Primeiramente nós ganharíamos uma postura mais antitética com relação ao mundo. Isso não é isolacionismo, onde nós tentamos nos esconder do pecado e do diabo (impossível!), mas sim um estado de batalha em que nós apoiamos a justiça contra a maldade e as acusações do mundo. Pedro fala sobre isso quando chama os crentes para se absterem de desejos pecaminosos agindo como “estrangeiros e peregrinos” nesse mundo, justamente porque as concupiscências guerreiam contra a nossa alma e o mundo nos acusa do mal. Esse mundo não é um amigo pra ajudar crentes a irem para o céu, é na realidade uma nação perigosa a qual nós temos que atravessar para chegar no paraíso. Willian Ames disse, “Isso deve nos admoestar no sentido de que não devemos colocar nossa herança e nosso tesouro nesse mundo, nos exortar a erguer os nossos corações em direção á nossa nação celestial; e nos incentivar a ganhar todas as coisas que poderão nos ajudar a avançar.”
Em segundo lugar, nos ganharíamos um forte alicerce para enfrentar os sofrimentos e a morte. Perkins disse que uma das maiores lições do Cristianismo é que “devemos viver para que possamos morrer na fé . Poucos cristãos hoje pensam em como passar pelos sofrimentos de uma maneira tranquila e morrer para a glória de Deus (Fp 1:20), mas quantos de nós evitaria a dor e a morte? Para lidar com essas realidades inevitáveis (se o Senhor não voltar antes), precisamos de uma visão que penetre além dos horizontes da nossa moralidade. Perkins disse que a fé é como o mastro mais alto de um navio, no qual o marinheiro sobe e vê a terra enquanto ela ainda está longe (Hb 11:13). Como peregrinos da fé, nós não precisamos temer a morte. Thomas Watson disse que “a morte colocará um fim à cansativa peregrinação, ela tirará o cajado dos peregrinos e os dará uma coroa em troca”.
Terceiro, nós ganharíamos um otimismo inabalável e esperança. Eu compartilho das mesmas preocupações que muitos americanos cristãos têm com relação à direção que o nosso governo e a nossa cultura está tomando. Mas eu acho que estamos diante de um perigo tão grande quanto a perseguição e a decadência social. Eu temo que os evangélicos estejam correndo risco de terem amargura e desespero, será que nós nos esquecemos que esse mundo não é a nossa casa? Os Puritanos conseguiram pelo sangue do Cordeiro. Alguns estudiosos podem dizer que os Puritanos ultimamente perderam todas as batalhas políticas e eclesiásticas nas quais eles se engajaram, mas eu acredito que eles triunfaram na batalha espiritual pelo reino, e os genuinamente cristãos dos dias de hoje são mais do que vencedores em Cristo. John Owen disse que “Ainda que o nosso povo caia, assim como Cristo senta a direita de Deus, a nossa causa é verdadeira, certa e infalivelmente vitoriosa.” Cristo conquistou a vitória. Ele trará o Seu reino, e todas as pessoas a quem Ele chamou e escolheu estarão nesse momento (Ap 17:14).
Em último lugar, a mente peregrina não tem a ver somente com um lugar, mas também com uma pessoa. Os crentes precisam ver a vida terrena como uma jornada para ver a face de Deus. Meu pai orou centenas de vezes em nossos cultos domésticos “Senhor, faz com que as nossas vidas sejam primariamente como uma preparação para conhecer a Ti na justiça e na paz de Cristo”. Essa é uma oração e um desejo centrado em Deus da parte de um peregrino.
7.2. CORTANDO GALHOS.
7.2.1. Todos nós somos como uma videira saudável, a qual tem a inclinação perversa de envolver todas as suas gavinhas ao redor de uma árvore venenosa que pareça nutritiva, mas que, na verdade, a enfraquece.
7.2.2. Fomos advertidos de que abraçar tal árvore nos matará, mas não conseguimos sair dessa situação. Nós nos emaranhamos ao redor dela. Há apenas um recurso para o viticultor amoroso. Ele tem de nos cortar para nos deixar livres.
7.2.3. Ele deve até mesmo podar galhos inteiros. O viticultor tem de nos fazer passar pelo caminho estreito da perda, pela dor de sermos diminuídos, de sermos reduzidos, para que possamos libertar-nos.
7.2.4. O mundo e suas ofertas fraudulentas são como aquela árvore venenosa. Nosso Viticultor celestial nos ama tanto que não nos deixará continuar a cometer suicídio de alma, à medida que nos tornamos mais profundamente ligados ao mundo.
7.2.5. Por meio da dor do desapontamento e da frustração, Deus nos desapega do amor a este mundo. Parece que estamos sendo mutilados, como se estivéssemos morrendo. Mas, na realidade, estamos sendo libertos dos falsos prazeres deste mundo.
7.2.6. Nós, que somos honestos para conosco, reconhecemos quão intrincadamente entrelaçada está a vinha de nosso coração neste mundo. Isso não significa que devemos recusar-nos a gozar as coisas boas do mundo – uma refeição favorita, um lindo pôr do sol, os prazeres íntimos de um cônjuge, a satisfação de um trabalho bem-feito. Resistir totalmente a esses prazeres é, de acordo com os apóstolos, algo demoníaco. I Timóteo 4:1-5
7.2.7. Em vez disso, devemos reconhecer que nosso coração se apegará a qualquer coisa deste mundo que seja desprovida de Deus e buscará obter forças desse objeto criado, e não do Criador e de seu amor. A qualificação bíblica para essa inclinação perversa de nosso coração, a inclinação de buscar as coisas do mundo para satisfazer a sede de nossa alma, é idolatria.
7.2.8. A idolatria é a insensatez de pedir a uma dádiva que se torne o doador. A Bíblia nos instrui a depositar no próprio Deus nossos anseios e anelos supremos. Somente ele pode nos satisfazer. Salmo 16:11. Ele promete que o fará. Jeremias 31:25
7.2.9. O problema é que não podemos, por nossos próprios recursos, remover do mundo as esperanças mais profundas de nosso coração e colocá-las em Deus. Pensamos que podemos. Tentamos.
7.2.10. Porém, isso é como uma criança que vai para uma cirurgia de coração confiante de que é capaz de reparar por si mesma o próprio coração. Ela precisa que um cirurgião atente para o seu caso e empregue toda a sua expertise médica na operação.
7.2.11. Também precisamos de uma cirurgia de coração. Precisamos, igualmente, dos recursos de um médico, o médico divino, que não somente tem toda a expertise necessária, como também nos envolveu em seu amoroso coração e nos ama com um amor tão amplo quanto seu próprio ser. A operação dura toda a vida e costuma machucar, mas está nos curando. Efésios 3:18-19
7.3. SOMENTE DUAS ESCOLHAS.
7.3.1. Quando a dor invade nossa vida, sentimo-nos, de forma imediata e instintiva, como se estivéssemos perdendo. Dinheiro está sendo debitado de nossa conta. Estamos caminhando para trás. “Isso é ruim”, pensamos. Compreensível.
7.3.2. Porém, na economia do Evangelho, estamos unidos a um Salvador que foi, ele mesmo, preso, crucificado, colocado num sepulcro e entregue à morte, apenas para, em seguida, ressuscitar em glória triunfante – glória que não seria possível sem aquela morte. Dor semeia glória. Você não quer que a glória celestial determine tudo a respeito de sua pequena vida? Como isso acontece? I Pedro 4:14
7.3.3. Quando insultos nos fazem recuar abalados, quando a vida machuca, nossos olhos estão sendo tirados das coisas instáveis do mundo e colocados no Deus estável da Bíblia. Estamos sendo chamados, como disse Lewis, “para cima e avante”. Quando a dor vem, não apenas nos machuca, como também nos ensina uma lição. Ela nos chicoteia para nos moldar. A dor procede de um Pai compassivo e tem em vista nossa cura. Salmo 37:24
7.3.4. Quando a vida machuca, vemo-nos imediatamente numa encruzilhada interna:
· Ou tomamos a estrada do cinismo, esquivando-nos de um coração aberto para com Deus e os outros, recuando para a segurança que encontramos na restrição de nossos desejos e anseios, para não sermos feridos de novo.
· Ou seguimos na direção de uma profundidade com Deus que seja maior do que já conhecemos.
· Ou desdenhamos daquilo que afirmávamos e em que críamos acerca da soberania e da bondade de Deus, pensando que nossa fé estava equivocada;
· Ou damos uma importância ainda maior à nossa teologia.
7.3.5. Os dois círculos, o da teologia que professamos e o da teologia do coração, embora distintos até então, são forçados ou a se distanciarem mais que antes, ou a se sobreporem perfeitamente.
· Ou depositamos toda a importância em nossa teologia, ou deixamos nosso coração se calcificar e endurecer.
· Ou deixamos que o médico divino continue a operação, ou insistimos em ser retirados da sala de operação. No entanto, a dor não nos permite seguir em frente como antes.
Richard Davis era um pastor na Inglaterra na era dos puritanos. Em certa ocasião, ele procurou o grande John Owen para obter conselho espiritual. Sinclair Ferguson reconta o que aconteceu. No decorrer da conversa, Owen lhe perguntou: “Jovem, de que maneira você se achega a Deus?”. “Por meio do Mediador”, respondeu Davis. “Isso é fácil dizer”, replicou Owen, “mas eu lhe asseguro que achegar-se a Deus por meio do Mediador é algo bem diferente de apenas fazer uso da expressão que muitos conhecem. Eu mesmo preguei a Cristo por alguns anos, quando eu tinha muito pouco — se é que possuía alguma — familiaridade prática com o acesso a Deus por meio de Cristo, até que aprouve ao Senhor visitar-me com uma aflição severa, pela qual fui levado às portas da morte e sob a qual minha alma foi oprimida com horror e trevas. Deus, porém, aliviou graciosamente meu espírito por meio de uma aplicação poderosa do Salmo 130.4: ‘Contigo, porém, está o perdão, para que te temam’. Assim, recebi instrução, paz e consolo especiais, ao me aproximar de Deus pelo Mediador, e preguei sobre isso logo depois de minha recuperação”.
7.3.6. Observe as palavras “com uma aflição severa”. Foi por meio de uma provação dolorosa, e não por evitá-la, que a segurança do perdão se instilou em Owen. Ele havia pregado o Evangelho por anos a fio, mas somente por meio dessa provação o Evangelho que ele pregava se moveu realmente da teologia professada para a teologia do coração, de forma que os dois círculos se sobrepuseram. (ler citação no livro)
7.3.7. Se, um dia, você deseja ser um adulto firme, consistente e radiante, permita que a dor em sua vida o force a crer em sua própria teologia. Permita que a dor o leve a uma comunhão mais profunda com Cristo, mais profunda que antes.
7.3.8. Não permita que o seu coração resseque. Cristo está em sua dor. Está refinando-o. Tudo que você perderá, segundo nos lembra Sibbes, é a escória do ego e a miséria que, no recôndito de seu coração, você quer mortificar, de alguma maneira. Deus nos ama muito para deixar que permaneçamos na superficialidade. Quão frívolos e medíocres seríamos se vivêssemos toda vida sem dor!