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VÍCIOS E VIRTUDES
AMOR
TEXTO-BASE DA SÉRIE: 2 Pedro 1: 3 – 5
“Seu divino poder nos deu tudo de que necessitamos para a vida e
para a piedade, por meio do pleno conhecimento daquele que
nos chamou para a sua própria glória e virtude. Dessa maneira, ele
nos deu as suas grandiosas e preciosas promessas, para que por
elas vocês se tornassem participantes da natureza divina e fugissem
da corrupção que há no mundo, causada pela cobiça.”
TEXTO-BASE DO TEMA AMOR
I Ts. 4:9-10
9 Quanto ao amor fraternal, não precisamos escrever, pois vocês
mesmos já foram ensinados por Deus a se amarem uns aos outros.
10 E, de fato, vocês amam todos os irmãos em toda a Macedônia.
Contudo, irmãos, insistimos com vocês que cada vez mais assim
procedam.
INTRODUÇÃO
Nas últimas semanas nós temos estudado os vícios e virtudes.
Já estudamos as virtudes cardeais (temperança, fortaleza, justiça e
prudência), que são as virtudes de embasamento do esforço
humano para se aproximar de Deus, e começamos a estudar as
virtudes chamadas teológicas ou teologais (fé, esperança e amor).
Na semana passada nós estudamos a esperança como
virtude e a chamamos de uma virtude teologal ou teológica, pois
vem de Deus e aponta necessariamente para Deus.
Hoje falaremos sobre a última virtude teologal, que é o amor.
Como virtude, o amor nos leva a buscar desenvolver
continuamente as demais virtudes e conduzir outros a que também
as desenvolvam em suas vidas, como diz Francisco Faus: “só com
esse (...) calor do amor, aquecido pela graça de Deus é que
podemos empreender e manter a luta pelas virtudes, essa batalha
que dura a vida inteira”1.
CONTEXTO
O Texto base de nosso estudo é um trecho de uma carta de
Paulo aos que se reuniam em Tessalônica, uma Cidade portuária e
comercial que estava localizada estrategicamente junto ao mar e
à grande estrada imperial romana, a via Egnatia, uma via
privilegiada que ligava Leste e Oeste, dando àquela região a
característica de uma grande “metrópole”.
Como podemos observar principalmente nos relatos de Atos,
era comum que Paulo utilizasse de locais assim para pregar o
Evangelho, tendo em vista que, desta forma, a proclamação da
Palavra mais facilmente poderia se espalhar por regiões diversas e
de forma eficaz.
Sobre o nosso tema de hoje, podemos ver que no início de
sua carta aos Tessalonicenses, Paulo já nos leva ao entendimento
de que uma vida de relacionamento com Deus necessariamente
está vinculada a uma vida de manifestação de ações de amor que
é evidenciada pela comunhão com Deus e na comunhão com o
corpo.
O trecho que vai de I Ts. 2:1 até o 4:10 abrange uma longa
fala sobre o amor que aqueles irmãos tinham por Deus, o amor que
Paulo tinha pelos irmãos, o amor que uns deveriam ter para com os
outros e o amor expressado no cuidado com o outro devido à
santidade para com Deus.
1- O conhecer a Deus como base da virtude do amor
No início da carta aos Tessalonicenses, vemos Paulo mostrando
que aquela igreja era um modelo do verdadeiro cristianismo, que
está alicerçado no exercício da fé, do amor e da esperança.
“Sempre damos graças a Deus por vós todos, fazendo menção de
vós em nossas orações, Lembrando-nos sem cessar da obra da
vossa fé, do trabalho do amor, e da paciência da esperança em
nosso Senhor Jesus Cristo, diante de nosso Deus e Pai,” (1 Ts. 1:2-3).
1 A Conquista das Virtudes, p. 84
Perceba que eles tinham fé, e a fé está fundamentada na
crença em algo que não se vê. No caso deles, o que não se via era
a esperança no Senhor Jesus Cristo, baseada no conhecimento
sobre quem ele é – e a partir desta esperança há a manifestação
do amor.
De fato, nós só amamos aquilo que conhecemos, e quanto mais
nos aproximamos de algo que admiramos, mais desenvolvemos
amor por este algo. O amor deve estar alicerçado no conhecer a
Deus. Bruno Vieira Diniz apresenta o amor como uma possibilidade
factível apenas quando há conhecimento sobre o fim para onde o
amor é apontado:
“Como o conhecimento é o princípio do amor, pode-se concluir
que alguém só ama aquilo que conhece. Por essa razão, a fé, que
é o conhecimento de Deus, é indispensável (...) para o amor a
Deus.”2
Quanto mais conhecemos a Deus, mais o amamos, e quanto
mais amamos alguém, mais buscamos expressar este amor, mas
uma das mais perfeitas formas de demonstrar o amor a Deus é
buscar viver uma vida que o agrade. O próprio Deus, na pessoa de
Jesus, falou sobre isto: “Quem tem os meus mandamentos e lhes
obedece, esse é o que me ama. Aquele que me ama será amado
por meu Pai, e eu também o amarei e me revelarei a ele.” (Jo.
14:21). Ou seja: não há amor a Deus sem disposição plena em
obedecê-lo.
O que mais temos visto atualmente nos púlpitos são pregações
em que o indivíduo é hipervalorizado e em que o amor a Deus é
mais uma barganha, uma expectativa por receber algo do que
verdadeiramente uma disposição em renunciar às próprias
vontades para que a vontade dele seja feita, como demonstração
do amor de um pecador que foi reconciliado a um Deus santo.
Um amor que se demonstra meramente na expectativa de ter
algo em troca não é o amor expressado na Palavra. A isto Tomás
de Aquino chama de amor da concupiscência. Ele classifica isto
como um amor interesseiro, no sentido de que se ama alguém não
por si mesmo, mas por algo em troca que ele o pode proporcionar.3
Quando verdadeiramente amamos a Deus, demonstramos este
amor na busca por viver como o agrada, pelo amor à sua Palavra,
pela proclamação do Evangelho e na demonstração de amor
2 Princípios de uma psicoterapia à luz de São Tomás de Aquino, p. 274
3 Suma Teológica, I-II, Q. 27, art. 4
pelos que nos cercam na plena vida de comunhão, e era assim que
viviam os nossos irmãos em Tessalônica, como vemos em nosso
texto.
2- A virtude do amor nos move a expressar isto aos que nos
cercam como sinal do amor a Deus (1 Ts.4:9)
“Quanto ao amor fraternal, não precisamos escrever, pois
vocês mesmos já foram ensinados por Deus a se amarem uns
aos outros.”
A igreja em Tessalônica sabia o que era viver amando uns aos
outros pelo fato primeiro de conhecer a Deus, e demostrava o que
era o amor entre os irmãos por meio da fé, visto que não há amor
sem este ser baseado no que Cristo institui e seus apóstolos
apresentam na Palavra, mas não apenas isto. Paulo diz no mesmo
livro que a comunhão que brota no meio deles estava alicerçada
em uma esperança. Ora, que esperança? O mesmo Paulo detalha
em Romanos qual esperança fundamenta o amor da igreja: "pois
nessa esperança fomos salvos. mas, esperança que se vê não é
esperança. quem espera por aquilo que está vendo? mas se
esperamos o que ainda não vemos, aguardamo-lo
pacientemente". (Rm 8:24,25).
A nossa esperança não está baseada naquilo que está à
nossa volta, mas naquilo que não vemos, mas que sabemos que
virá por meio da fé, como vimos há alguns dias nesta mesma série.
O que nos faz ter esperança mesmo em meio a tanta
crueldade, à convivência em um mundo que se opõe à vontade
de Deus e que mostra esta oposição por meio das tragédias
diárias? Para o cristão, a esperança não é baseada no que o
cerca, mas na expectativa de algo maior, que se manifesta
parcialmente hoje para ser definitivamente completado na
eternidade.
Desta forma, tal esperança nos motiva a demonstrar amor
pelos outros de maneira a abençoar o alvo do nosso amor,
ajudando a aperfeiçoar os que nos cercam a partir do que vemos
em Cristo.
Em suma, quando olhamos para Cristo, buscamos nos
aperfeiçoar por amor a ele, e tal amor por ele nos faz amar os que
nos cercam, ajudando-os, por meio deste amor, a que eles mesmos
também sejam aperfeiçoados, como também afirma Tomás 4:
4 Suma Teológica, I-II, Q. 28, art. 5, r
Ora, o amor do bem conveniente aperfeiçoa e melhora
o amante, e o amor do bem que não convém ao
amante fere-o e torna-o pior. Daí que o homem se
aperfeiçoe e melhore principalmente pelo amor de
Deus, e se fira e se degrade pelo amor do pecado.
3- Não há limites para a virtude do amor (1 Ts.4:10)
10 E, de fato, vocês amam todos os irmãos em toda a
Macedônia. Contudo, irmãos, insistimos com vocês que cada
vez mais assim procedam.
Tomás de Aquino relaciona o amor a atos internos de alegria,
paz e misericórdia. Aquino dizia que, quando amamos, somos
tomados por alegria, “porque Deus é a própria bondade imutável
e porque, quando amamos a Deus, Ele está presente em nós”5. No
caso da paz, ela é gerada pelo amor porque quando amamos, tal
amor promove unidade e desejamos que os outros sejam tratados
assim como nós queremos que nos tratem, e disto nasce a
concórdia. A misericórdia também tem estreita ligação com o
amor porque “quanto mais nos consideramos unidos ao próximo,
mais temos misericórdia diante de seus males”6.
No decorrer de nossa série nós estudamos as virtudes cardeais e
as teologais. Nós vimos que a temperança é uma virtude cardeal
sem a qual não podemos atingir o pleno propósito de Deus para as
nossas vidas. Não obstante este chamado, somente na
manifestação do amor é que não é preciso ter temperança.
Precisamos amar a Deus e ao próximo sem medidas,
continuamente, intensamente, incessantemente.
Nós vimos no início de nossa série que existem pessoas que não
tem a Cristo, mas que podem ter virtudes em sua vida. Pessoas sem
Deus podem ter prudência, temperança, podem agir com justiça e
podem ter fortaleza, mas sem a graça de Deus, por meio do Espírito
Santo, por causa do pecado, tais virtudes nunca serão alcançadas
plenamente senão a partir da ordenação do amor de DEUS em suas
vidas, de modo que estas virtudes serão sempre incompletas,
levando o homem inclusive a enganar a si mesmo, como diz
5 Princípios de uma psicoterapia à luz de São Tomás de Aquino, p. 425
6 Ibdem
Francisco Faus: “o pagão virtuoso é autossuficiente e acha que não
precisa de Deus para ser perfeito.”
Além disto, o homem sem Deus, mesmo que busque a virtude, se
não entender a gravidade do seu pecado, que se opõe à virtude,
não alcançará́ a cura (salvação) para que as virtudes floresçam.
Veja que no texto base de nossa série, Pedro fala que o poder de
Deus nos deu o que precisamos não apenas para viver, mas para a
piedade, ou seja: a plenitude das virtudes só pode ser alcançada
pelo poder de Deus.
Bruno Vieira Diniz explica isto ao dizer que o ato de amar
“excede a capacidade natural da vontade humana, por isso ele
requer a graça divina, que acrescenta uma nova forma
sobrenatural à potência da vontade.”7
Desta forma, precisamos amar a Deus intensamente; tal amor
intenso nos chama a cada vez mais vivermos uma vida que agrade
a Deus, e tal vida de agradar a Deus nos leva a ações de amor aos
que nos cercam, pois nos enchemos da graça do Senhor, anulando
dia após dia nossas vontades pecaminosas e compartilhando o
amor que nos foi revelado nas Escrituras e que nos preenche.
Como vimos neste pequeno trecho de tessalonicenses, aquela
igreja sabia o que era amar ao próximo, mas, mesmo assim, Paulo
insiste pedindo que eles amem ainda mais do que intensamente já
faziam. A igreja já sabia amar, mas era instigada a viver este amor
ainda mais.
Ora, é sabido que vivemos em uma sociedade que valoriza o eu
e não o outro, intensifica o ego e exclui os que nos cercam. Como
viver o intenso amor exigido por Deus atualmente?
Amar aos outros nos dias de hoje é possível se tivermos exemplos
de amor ao próximo apresentados por quem é nossa referência,
vivendo assim um amor acima das características deste mundo, um
amor que nos leva à santidade e uma santidade que nos leva a
amar. Sendo Cristo nossa referência de amor, também fomos
chamados para que sejamos referência de amor para os outros.
Paulo escreve esta carta após receber excelentes notícias
sobre aquela igreja. A presença de Timóteo, assim como o desejo
de Paulo de estar presencialmente representam uma
preocupação com a vida dos irmãos, pois era assim que eles
poderiam juntos se fortalecer diante das tribulações.
Este zelo de Paulo evidencia uma necessidade daqueles que
amam: o cuidado, e este cuidado é visto em um outro trecho da
mesma carta, mas um pouco antes do nosso texto base.
7 Princípios de uma psicoterapia à luz de São Tomás de Aquino, p. 420
4 – A virtude do amor é demonstrada no cuidado
(I Ts. 3:12-13)
“Que o Senhor faça crescer e transbordar o amor que vocês têm
uns para com os outros e para com todos, a exemplo do nosso
amor por vocês. Que ele fortaleça os seus corações para serem
irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai, na vinda
de nosso Senhor Jesus com todos os seus santos.”
A igreja dos tessalonicenses já havia aprendido sobre o valor
de imitar e ser modelo, mas ainda assim Paulo cobra a ela. Paulo a
motiva para que intensifique o seu amor cuidando dos que fazem
parte dela.
Nós somos chamados para cuidar uns dos outros
aconselhando, suprindo, estando junto, orando e servindo. Não há
verdadeiro amor enquanto não há ações intencionais de cuidado
com o outro.
No texto acima Paulo faz uma transição entre conselhos sobre
amar ao próximo e um chamado para que os cristãos vivam em
santidade, considerando que todo pecado também é uma falta
de amor para com o próximo, independente de qual seja o
pecado.
A pornografia, por exemplo, apesar de ser um pecado
isolado, evidentemente também é falta de amor com quem está
se prostituindo virtualmente, que geralmente são pessoas
exploradas sexualmente e que vivem um mercado alimentado
pelo consumidor de pornografia. No peado da inveja, ao invés de
nos alegrarmos pelo que o outro conquista, buscamos tomar o seu
lugar. No pecado da infidelidade minimizamos a dignidade do
outro, desprezando o seu valor e usando um terceiro como mero
objeto de nosso prazer.
Assim como os pecados exemplificados acima, poderíamos
nomear uma lista imensa de outros vícios que não somente
destroem quem somos, mas que atingem diretamente o outro,
além, claro, da própria santidade de Deus.
Sendo assim, todo pecado é uma afronta contra Deus e
sempre atingirá o próximo de alguma forma, de maneira que nós
amamos ao próximo quando obedecemos a Deus e fugimos do
pecado.
Conclusão
O amor é uma virtude sem a qual não há relação com Deus,
pois, como nos diz João, “quem não ama a seu irmão, a quem vê,
não pode amar a Deus, a quem não enxerga” (I Jo.4:20). Da
mesma forma, entendemos que amar ao próximo necessariamente
está vinculado ao amor a Deus, e “quanto mais perfeito é o amor
a Deus, mais ele se estende ao próximo.”8
A conclusão de Paulo aos Tessalonicenses e para nós quanto
à virtude do amor é que o verdadeiro amor primeiro se expressa na
vida de santidade, e a partir daí, necessariamente se estende aos
que nos cercam de forma ilimitada, pois não há limites para cuidar
do próximo amorosamente.
Que o Senhor nos abençoe e que sejamos usados para
conduzir o povo a que sejam uma igreja que ama.
8 Princípios