Exposição em Romanos 1

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Romanos 1

Data: Entre 57 e 58 d.C.
Autor: Paulo (Secretario: Tércio, Rm 16:22)
Alvo: Judeus cristãos e gentios.
Dentre tantos os assuntos, Romanos vai tratar da justificação pela fé.
A epístola de Paulo aos Romanos foi escrita para um grupo de cristãos que se encontrava em Roma e que o coração de Paulo ansiava por visitar. Provavelmente a igreja foi iniciada com alguns convertidos que residem em Jerusalém na ocasião da descida do Espírito Santo (At 2:10) e que voltaram para Roma, divulgando a fé em Jesus Cristo.
Romanos é a maior, mais rica e mais abrangente declaração da parte de Paulo sobre o evangelho.
João Crisóstomo, o maior pregador do século V, pedia que Romanos lhe fosse lida em voz alta uma vez por semana.
Agostinho, Lutero e Wesley, três figuras extremamente importantes para nossa herança cristã, todos vieram a firmeza da fé através do impacto de Romanos em suas vidas
A epístola possui riqueza teológica singular. Grandes pregadores e professores referenciaram o valor de Romanos. Dentre eles estão:
Martinho Lutero: Romanos é o livro mestre do N.T.
João Calvino: Quando se obtém um conhecimento dessa epístola, abre-se porta para todos os tesouros mais escondidos da Escrituras.
Merril Unger: Romanos é a maior e mais influentes de todas as cartas do apóstolo Paulo, a primeira obra de teologia cristã.
Há um consenso geral de que Paulo escreveu Romanos durante sua estada de três meses na Grécia (At 20.2,3), na província da Acaia, numa região próxima de Corinto. Isso é confirmado pela recomendação de Paulo a Febe, a portadora da carta à igreja de Roma. Febe era da igreja de Cencreia (Rm 16.1), uma pequena cidade a 12 quilômetros de Corinto, onde se situava um importante porto da capital da Acaia.
A igreja de Roma
Paulo escreveu à igreja de Roma, igreja que ele não fundara nem ainda conhecia pessoalmente. Destacamos alguns pontos aqui.
Em primeiro lugar, quem fundou a igreja de Roma? A origem da igreja em Roma perde-se na obscuridade.28 Há várias hipóteses, mas nenhuma certeza. Com toda convicção podemos afirmar que Paulo não foi o fundador da igreja, uma vez que ele escreve falando acerca de seu desejo de visitar aqueles irmãos (Rm 1.10-13). Tampouco a igreja de Roma foi fundada por algum dos outros apóstolos. O catolicismo romano ensina que o apóstolo Pedro foi o fundador da igreja, e seu episcopado na igreja durou 25 anos, ou seja, de 42-67 d.C. Essa tese, porém, carece de fundamentação.
Primeiro, porque Pedro era o apóstolo da circuncisão (G1 2.9), e não o apóstolo destinado aos gentios.
Segundo, porque Paulo não menciona Pedro em sua carta aos Romanos, o que seria uma gritante falta de cortesia.
Concordo com Cranfield quando disse: “Uma vez que Romanos não contém referência alguma a Pedro, é praticamente certo que ele não estava em Roma no tempo em que Paulo escrevia, e provavelmente que, até esse tempo, ele nunca estivera lá”.29
Terceiro, porque Paulo diz que gostaria de ir a Roma para compartilhar o evangelho e distribuir algum dom espiritual (Rm 1.11), o que não faria sentido se Pedro já estivesse entre eles. Além disso, Paulo tinha o princípio de pregar o evangelho não onde Cristo já fora anunciado, para não edificar sobre fundamento alheio (15.20).
Há duas possibilidades para a origem da igreja de Roma. A primeira é que essa igreja foi estabelecida pelos judeus ou prosélitos de Roma, convertidos na Festa do Pentecostes em Jerusalém no ano 30 d.C., os quais retornaram à capital do império para plantar a igreja (At 2.10). Em Roma estava o maior centro judaico do mundo antigo. Havia mais de treze comunidades sinagogas na cidade. Mantinham um contato intenso com Jerusalém. As pessoas viajavam para lá e para cá como comerciantes, artesãos e também como peregrinos devotos. Confessando sua fé, deram origem a um movimento cristão muito vivo. Desse o cristianismo em Roma originou-se da atuação de crentes para nós anônimos.30
As famosas estradas romanas facilitaram sobremodo a mobilização das pessoas e a rápida expansão do evangelho. A via Ápia, a via Cornélia, a via Aurélia e a via Valéria eram algumas das estradas que cruzavam o império. Vinte rodovias principais partiam do “Marco Miliário de Ouro” em Roma, cada uma delas com numerosos ramos, de modo que as várias partes do império se uniam por uma gigantesca rede de artérias.31
A segunda possibilidade é que essa igreja tenha sido estabelecida por cristãos desconhecidos, convertidos pelo ministério de Paulo, emissários de algum dos centros gentílicos que haviam compreendido plenamente o caráter universal do evangelho. Vale ressaltar que as três grandes cidades onde Paulo estivera por mais tempo - Antioquia, Corinto e Éfeso - eram justamente as três com as quais (assim como Alexandria) o intercâmbio com Roma se mostrava mais intenso.32
John Peter Lange destaca o fato de que o banimento dos judeus da cidade de Roma pelo imperador Cláudio foi uma ocasião especial usada pela providência divina para o estabelecimento da igreja de Roma. Alguns judeus fugitivos de Roma migraram para a vizinha região da Grécia onde Paulo estava radicado e ali se tornaram cristãos e discípulos paulinos. Após seu retorno a Roma, transformaram-se em arautos do cristianismo, tomando parte na organização da igreja. Isso pode ser provado pelo exemplo de Priscila e Aquila, que, tendo estado com Paulo em Corinto (At 18.2), passaram a abrigar uma igreja em sua casa, em Roma (Rm 16.3-5).33
Mesmo que esse ponto não esteja definido com diáfana clareza, temos a garantia de que em Roma havia uma igreja a qual Paulo escreve sua mais importante carta. Concordo com Donald Guthrie quando ele disse que, embora Paulo não tenha sido o fundador da igreja de Roma, ele a considerava parte de seu campo como apóstolo aos gentios. Assim, a igreja de Roma estava dentro da esfera de sua própria comissão.34
Em segundo lugar, quem fazia parte da igreja de Roma? A igreja de Roma era composta por judeus e também por gentios. A carta é dirigida tanto a uns como aos outros. A capital do império era uma grande metrópole com mais de um milhão de habitantes. Havia grande concentração de judeus em Roma, tanto na época da expulsão deles em 49 d.C. pelo imperador Cláudio, como no tempo em que o imperador Nero incendiou Roma, em 64 d.C. Nessa ocasião, as chamas devoraram dez dos quatorze bairros de Roma. Os quatro bairros poupados eram densamente povoados por judeus e cristãos. Isso serviu de álibi para Nero colocar a culpa do incêndio nos cristãos e judeus. Leenhardt, diferenciando-se da posição de John Peter Lange, alega que o desenvolvimento da jovem comunidade se processou na ausência dos judeus cristãos, num sentido que lhes tornou difícil a readaptação ao retornar. E talvez uma situação assim que Paulo tomou em consideração nos capítulos 14 e 15.1-13.35
Exposição
1- Paulo Servo, chamado e separado.
V.8 Precisamos agradecer a Deus pela vida da Igreja. A igreja de Cristo é preciosa, valiosa, tem seu papel fundamental no mundo. Temos problemas na Igreja, sim, porém devemos entender que aonde tem gente tem problema. Estamos sendo transformados todos os dias por Deus, e seremos até volta de Cristo, para sermos apresentados sem mancha, ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito (Ef 5:27).
V.9-10 Paulo ora pela Igreja. Ele ora incessantemente. Na versão NVI diz sempre me lembro de vocês. Na versão NAA diz nunca deixo de fazer. O maior teólogo do seu tempo, era comprometido com a oração (2Pedro 15-16).
V.11-13 Paulo desejava ir ter com os irmãos. Não sabemos porque Paulo estava sendo impedido de ir ter com os irmãos, mas uma coisa sabemos, que Paulo buscava sempre fazer a vontade de Deus e que ele queria muito ir ter com os amados em Roma. Temos essa mesma informação no 15:22.
Segundo John Murray em seu comentário em Romanos, “é fútil e desnecessário especular sobre esses obstáculos, por terem sido de caráter completamente providencial, devido às circunstâncias sobre as quais o apóstolo não exercia controle”.
Lembram que Paulo já havia sido impedido pelo Espírito Santo de ir para Bitínia. (Atos 16:7)
No verso 13 Paulo está fazendo referência àquele fruto em razão do qual os apóstolos foram enviados pelo Senhor para dar frutos. (João 15:16)
No verso 13 Paulo mostra humildade.
V.14-15 “É minha divina vocação pregar o evangelho a gregos e a bárbaros, ou seja, a cultos e a incultos.” (William Hendriksen)
O substantivo “devedor” terá de ser considerado como um reflexo primário da obrigação que o apóstolo tinha para com gregos e bárbaros, sábios e ignorantes (cf. Mt 6.12; 18.24; Rm 8.12)
A obrigação sob a qual o apóstolo fora colocado por Deus — pregar o evangelho a todas as nações e classes (cf. 1 Co 9.16,17).
A íntima e lógica relação entre os versículos 13 e 14 transparece nisto: o reiterado propósito do apóstolo de ir a Roma, a fim de colher fruto entre eles, visava cumprir os próprios termos de sua comissão apostólica de pregar o evangelho aos gentios, sem qualquer forma de discriminação. (John Murray, Romanos: Comentário Bíblico)
V.16-17 “Não me envergonho” etc., provavelmente quisesse dizer: “Sinto-me orgulhoso e muitíssimo feliz por alcançar a oportunidade de pregar o evangelho.”
A palavra “pois” vem uma vez mais, definitivamente, a propósito. É lógico dizer: “Não me envergonho do evangelho, pois ele revela o poder salvífico de Deus”.
Os romanos vangloriam-se sempre de seu poder, a força pela qual têm conquistado o mundo? “O evangelho que eu proclamo”, afirma Paulo, por assim dizer, “é muitíssimo superior. Ele tem sido levado a bom termo e oferece algo muitíssimo melhor, a saber, a salvação(eterna), e isso não pelo povo de uma nação particular – por exemplo, Roma – mas por aqueles que exercem fé.” A necessidade mais urgente e imperativa da alma não é renome terreno, mas paz, alegria, glória para hoje, amanhã e para o futuro sem fim. Comparado com “o poder de Deus”, quão frágil é o poder de Roma ou de qualquer outra hoste terrena. Os exércitos terrenos destroem. O evangelho salva. Ele é o poder de Deus “para a salvação”. E o que é salvação? O que significa salvar? Nos escritos de Paulo, significa:
NEGATIVAMENTE
POSITIVAMENTE
resgatar os homens do pecado de:
conduzir os homens ao estado de:
a. culpa (Ef 1.7; Cl 1.14)
a. justiça (Rm 3.21–26; 5.1)
b. contaminação (Rm 6.6, 17; 7.21–25a)
b. santidade (Rm 6.1–4; 12.1–2)
c. escravidão (Rm 7.24–25; Gl 5.1)
c. liberdade (Gl 5.1; 2Co 3.17)
d. castigo:
d. bem-aventurança:
(1) alienação de Deus (Ef 2.12)
(1) comunhão com Deus (Ef 2.13)
(2) ira de Deus (Ef 2.3)
(2) o amor de Deus “derramado” no coração (Rm 5.5)
(3) morte eterna (Ef 2.5–6)
(3) vida eterna (Ef 2.1–5; Cl 3.1–4)[1]
Em primeiro lugar, o evangelho tem um poder irresistível (16).
Este evangelho é o da onipotência divina, operando para a salvação, afirma John Murray. O evangelho é o poder de Deus, e Deus é onipotente. Ele pode todas as coisas. Ninguém é capaz de resistir ao seu poder. Ele pode tudo quanto quer. Assim, o evangelho é irresistível. Ninguém se envergonha do que é poderoso. Ninguém precisa ficar
constrangido quando tem posse de algo que é onipotente. O evangelho é dynamis. O evangelho é a dinamite de Deus. Esse poder explode pedra granítica, quebra barreiras e atravessa muralhas. Ele desconhece impossibilidades. O evangelho tem o poder de produzir algo; não é mero adorno, nem aprazível história, muito menos interessante sistema filosófico. (Charles R. Erdman)
William Hendriksen observa que, comparado ao poder de Deus, quão frágil é o poder de Roma ou de qualquer hoste terrena. Os exércitos terrenos destroem; o evangelho salva. Ele é o poder de Deus para a salvação.
O evangelho entra em todas as culturas e quebra o muro de separação entre os povos. Entrou no palácio de Nero e conquistou o coração dos soldados da guarda pretoriana. O evangelho conquistou o coração do povo romano. Em poucos anos, o evangelho havia dominado o mundo. O evangelho entrou nas muralhas de concreto do comunismo. Penetrou nas prisões e libertou os encarcerados.
Quando estava criando o universo, bastou Deus falar e tudo se fez. Para nos salvar, contudo, uma palavra não foi suficiente. O próprio Deus Filho precisou esvaziar-se, humilhar-se, fazer-se carne e vir ao mundo para morrer em nosso lugar. A redenção é uma obra maior que a criação! O poder que operou na cruz é maior que o poder que trouxe o universo à existência!
Em segundo lugar, o evangelho é o único poder capaz de salvar o pecador (16).
O evangelho é o poder de Deus para a salvação. Concordo com William Greathouse quando diz ele que o poder de Deus só é operante para a salvação através do evangelho. E o evangelho que é o poder de Deus para a salvação.
Há poderes que destroem, como a bomba atômica que sepultou as cidades de Hiroshima e Nagasaki, no Japão. O evangelho, porém, é o poder de Deus para a salvação. Não há salvação fora do evangelho. Não há esperança para o pecador sem o evangelho. O evangelho é a mensagem do amor de Deus, da graça salvadora e do perdão infinito. O evangelho é Deus amando o pecador; é o justo perdoando o culpado; é a porta do céu escancarando-se para o perdido. É a vida sendo oferecida aos mortos em seus delitos e pecados.
O evangelho é o poder onipotente de Deus para livrar o homem da ira vindoura e reintegrá-lo àquela glória da qual ele foi destituído por causa do pecado. O evangelho livra o homem da condenação e dá-lhe salvação. Tira-o do império das trevas e transporta-o para o reino da luz. O evangelho arranca o homem das cadeias da condenação e concede-lhe libertação. Tira-o das entranhas da morte e oferta-lhe vida eterna.
William Hendriksen diz que ser salvo significa ser emancipado do maior mal e receber a posse do maior bem.
Essa salvação é passada, presente e futura. Quanto à justificação, já fomos salvos; quanto à santificação, estamos sendo salvos; quanto à glorificação, seremos salvos. Na justificação fomos salvos da condenação do pecado; na santificação estamos sendo salvos do poder do pecado; e na glorificação seremos salvos da presença do pecado.
Em terceiro lugar, o evangelho é o poder de Deus para a salvação apenas dos que creem (1.16). Há uma limitação imposta pelo próprio evangelho. O evangelho não salva a todos. Não porque não haja nele poder intrínseco para salvar, mas porque aprouve a Deus que experimentem esse poder salvador apenas os que creem. A fé é a condição da salvação. E por ela que recebemos esse presente.
William Hendriksen, a fé é o tronco da árvore cujas raízes representam a graça e cujos frutos simbolizam as boas obras. E o acoplamento que conecta o comboio humano à locomotiva de Deus. E a mão vazia do homem estendida para Deus, o doador.
Cranfielddiz corretamente que essa fé não é algo que acontece à parte do evangelho. Essa fé vem pelo evangelho.
Entretanto, a salvação é universal. Ou seja, destina-se a todo aquele que crê. Destina-se tanto ao judeu quanto ao grego. Nesta passagem, o termo “grego” é usado para denotar o mundo gentílico no seu todo em contraste com o mundo judeu. (Charles Erdman)
A salvação é oferecida sem levar em conta raça, nacionalidade, idade, sexo, condição social, grau de educação ou cultura.
John Murray diz ainda que não existe nenhum obstáculo proveniente das degradações do pecado. Onde quer que exista fé, ali também a onipotência de Deus se mostra operante para a salvação.
…do judeu primeiro, e também do grego.
Essa foi a ordem histórica divinamente planejada. Como Paulo demonstra no capítulo 4 (e em certa medida já aqui no v. 16), o evangelho da salvação é essencialmente o mesmo em ambas as dispensações. Entretanto, na economia divina, ele foi revelado, antes de tudo, aos judeus. Durante a antiga dispensação, constituíam a nação mais altamente privilegiada. Veja Salmo 147.19–20; Amós 3.2.
Naturalmente que a “vantagem” não cessou de imediato quando a nova dispensação foi introduzida (Rm 3.1–2; 9.4–5). Quando Jesus, pela primeira vez, comissionou seus discípulos, ele os enviou “às ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 10.5–6). E quando Paulo levou a bom termo seu mandato missionário, ele e seus companheiros, sempre que possível, antes de tudo levavam o evangelho aos judeus.
Mas então surgiu uma mudança. É inútil negar, pois a Escritura expressa-se muito claramente sobre esse assunto. Mesmo durante a antiga dispensação, Deus deixou bem claro que a salvação não se limitaria a uma só nação. Veja Gênesis 12.3; 22.18; Salmo 72; 87; Isaías 60.1–3(à luz de Lucas 4); Malaquias 1.11. O próprio Jesus abriu a porta mais e mais amplamente (Mt 8.10–12; 28.19–20; Lc 14.23; 17.11–19; 20.9–16; 24.45–47; Jo 3.16; 4.35–42; 10.16). De modo semelhante, por divina orientação, quando os judeus se recusaram a aceitar o evangelho, os apóstolos o proclamaram aos gentios (At 13.46; 18.5–6; 19.8–9). Por divina inspiração, Paulo ensina que o muro de separação entre judeu e gentio foi completamente derrubado (Ef 2.11–22) e não há mais distinção alguma (Rm 10.11–12). Assim, “também ao grego”, ou seja, às pessoas influenciadas pela cultura grega, portanto, aos gentios, a porta abriu-se amplamente. O evangelho tornou-se o poder de Deus para a salvação de todo crente genuíno. (William Hendriksen)
“Como Paulo prova que o evangelho é, de fato, o poder de Deus para a salvação de todo aquele que exerce fé?” A resposta é dada no versículo 17. Pois nele a justiça que vem de Deus é revelada de fé em fé; como está escrito: “O justo, porém, viverá pela fé”.
Analisada isoladamente, sem referência ao contexto, a expressão aqui traduzida “justiça de Deus” poderia ser traduzida “justiça de Deus” (veja AV). A questão, então, é: “O que isso significa?”
Como Lutero lutou com esse problema. Como ele o aborreceu… até que, um dia, de forma muito súbita, por divina iluminação, ele compreendeu que o que estava implícito aqui não era a justiça retributiva de Deus, mas a justiça gratuitamente imputada ao pecador pela soberana graça de Deus, com base na expiação substitutiva de Cristo, fazendo dela uma possessão do próprio pecador por meio da fé dada por Deus. Quando o grande reformador descobriu que Romanos 1.17 fala do gracioso veredicto de Deus que declara o crente de posse da justiça, ele experimentou o dia mais feliz de sua vida. No que se pode denominar seu “Comentário sobre Romanos”, ele escreve:
“A suma e substância desta carta é: humilhar, esbulhar e destruir toda sabedoria e justiça da carne… e afirmar e ampliar [provar ser grande] a realidade do pecado, por mais inconscientes sejamos nós de sua existência.”
Ele prossegue, realçando que sempre houve pessoas, judias e gentias, que creram na possibilidade de bondade interior. Destas, diz o apóstolo: “Dizendo-se sábias, tornaram-se loucas” (Rm 1.22). Lutero, pois, mostra que, em Romanos, o apóstolo ensina exatamente o oposto, ou seja, que o único caminho no qual as pessoas se tornam realmente boas é aquele providenciado pela justiça de Deus. Declara ele:
“Porque Deus não nos quer salvar com base em nossa própria justiça, e, sim, com base numa justiça extrínseca, aquela que não se origina em nós mesmos, mas nos vem de uma esfera além de nós, a qual não se origina da terra, mas vem do céu.”[2]
A experiência de Lutero mudou sua visão da Bíblia. Deste ponto em diante, a Escritura tornou-se-lhe um livro de luz e alegria. Era como se ele tivesse sido liberto de um cárcere escuro e trazido para a bela luz do dia, onde podia inalar o ar fresco, revigorante e estimulante. A paz de Deus, que excede toda compreensão, agora enchia seu coração e sua mente.
E não foi a experiência de Lutero uma réplica da de Paulo? Leia Filipenses 3.1–14. O que faz Romanos tão fascinante é o fato de ela ser não só o produto de inspiração divina, mas também a súbita experiência de conversão do apóstolo.
Lutero e Calvino definiram o termo que na King James é traduzido como “a justiça de Deus” como que indicando a justiça que tem valor diante de Deus. E não pode haver dúvida sobre o fato de que esse tipo de justiça é realmente indicado. Permanece a pergunta: “Não se deve acrescentar algo?” Ambos os reformadores, em sua discussão, realmente acrescentaram algo. Acrescentaram que a justiça a que Paulo se refere é gratuitamente outorgada por Deus ou imputada ao pecador que, pelo poder do Espírito Santo, a aceita – ou seja, se apropria de Cristo e de todos os seus benefícios – por meio da fé.
Que essa posição é correta, torna-se evidente quando se consente que Paulo seja seu próprio intérprete. Em Filipenses 3.8–9, ao discutir o mesmo tema, ele escreve: “…para que eu pudesse ganhar a Cristo, e ser encontrado nele, não tendo justiça propriamente minha, justiça legal, mas aquela [que é] de Deus [e descansar] na fé.” É evidente, pois, que também aqui, em Romanos 1.17, o termo em questão deve ser traduzido como “justiça [que vem] deDeus”, significando que Deus, seu Autor, imputa ao pecador esse estado de retidão, o qual é aceito pela fé. Do início ao fim, essa justiça é sola fide; unicamente pela fé. Isso também explica a expressão “de fé em fé”. Veja Romanos 3.28. E, ainda, que a fé é dom de Deus. Toda ela é uma questão de graça soberana, não de obras. Veja CNTsobre Efésios 2.8–10.
Isso não deve ser interpretado como se o exercício da fé fosse a operação de Deus. Nós mesmosé que temos de aceitar o Deus Triúno, como revelado em Cristo Jesus. Somos nós que devemos exercer fé. Deus não crê por nós. Essa posição está em harmonia com a Escritura. Veja João 3.16; Filipenses 2.12–13; 2Tessalonicenses 2.13. Devemos ter em mente, além do mais, que não só o dom da fé procede de Deus, mas também o poder de exercê-la. Tão somente a ele seja a glória.
“Como está escrito: O justo, porém, viverá pela fé.”[3]
Não somos declarados justos por causa da nossa justiça. Deus não justifica os justos, mas pecadores. Deus trata como justo o injusto por causa da justiça daquele que é justo. A justiça do justo é imputada ao injusto. Somos justificados pela morte substitutiva de Cristo. Assim como Moisés levantou a serpente no deserto, o Filho do homem foi levantado, para que todo o que nele crê não pereça!
Adolf Pohl interpreta a formulação dupla “de fé em fé”, como unicamente pela fé, ou seja, fé de A a Z, fé ininterrupta.
Concordo com Francis Schaeffer quando ele diz que a salvação envolve mais do que justificação. Somos justificados pela fé, mas também devemos viver de acordo com a mesma fé no presente. Depois de termos sido justificados pela fé, devemos viver pela fé. Este é o segundo aspecto da salvação, a nossa santificação.
[1]William Hendriksen, Romanos, ed. Cláudio Antônio Batista Marra, trans. Valter Graciano Martins, 2aedição., Comentário do Novo Testamento (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2011), 79. [2]William Hendriksen, Romanos, ed. Cláudio Antônio Batista Marra, trans. Valter Graciano Martins, 2aedição., Comentário do Novo Testamento (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2011), 81–82. [3]William Hendriksen, Romanos, ed. Cláudio Antônio Batista Marra, trans. Valter Graciano Martins, 2aedição., Comentário do Novo Testamento (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2011), 82–83.
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