DOR – Parte IV - Pag. 156 – 161
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Paul Tripp:
Você e eu fomos criados para viver com algo em vista que seja mais do que este momento presente. Fomos criados para viver por algo maior do que apenas o prazer, o conforto e a felicidade que o momento pode nos dar. Fomos feitos para viver por algo bem maior do que nós mesmos, com uma visão que alcança bem mais longe do que o momento nos proporciona. A eternidade nos confronta com algo muito importante. Se você quer experimentar qualquer satisfação e contentamento tem de manter isso em vista. A eternidade exige que enfrentemos o fato de que não estamos no comando, não escrevemos nossas próprias histórias e os holofotes no centro do palco estão sobre outra pessoa. O ponto alto da história exige que enfrentemos a realidade de que cada capítulo ao longo do caminho foi escrito para a glória do outro. A eternidade nos confronta com o fato de que nossa vida se move e gira de acordo com a vontade de outro, e que a vontade dele se cumprirá. Essa obsessão centrada em nós mesmos de termos de obter algo agora ou não seremos felizes- uma obsessão que a cultura incute em nós- jamais nos trará paz ao espírito e ao coração. Nunca resultará em um vida de contentamento. A eternidade nos chama a olhar para além de nossas esperanças e de nossos sonhos, desejos e necessidades, oportunidades e dificuldades momentâneos. Esse foco em si mesmo (em seus desejos, necessidades, planos e sentimentos) exerce poder excessivo sobre a maneira como você vive sua vida?
Este mundo não é um ciclo interminável de esperanças frustradas e sonhos que se evaporam, mas só não é assim porque o plano de Deus está marchando em direção a um momento em que tudo o que está quebrado será definitiva e completamente restaurado. Isso nos dá motivos para nos levantarmos de manhã e seguirmos em frente com todas as coisas que Deus nos chamou para fazer. É evidente que enfrentaremos dificuldades na vida, coisas com as quais nunca pensamos que teríamos de lidar; contudo, a doutrina da eternidade nos relembra que este mundo caído não é tudo o que existe. Cada coisa quebrada, distorcida, retorcida e deteriorada será restaurada. Tudo com que você luta agora será consertado. A eternidade nos dá uma razão para continuar, mesmo quando nada em nossa vida parece estar funcionando como deveria. Responda a esse sentimento de futilidade com a verdade de que o que você está experimentando agora não é permanente. A vida lhe parece fútil? Você está passando por momentos em que luta por motivação e esperança?
7.6. MORTIFICAÇAO VERSUS AUTOFLAGELAÇÃO.
Temos de considerar francamente uma ideia potencialmente errada antes de prosseguir.
7.6.1. Ao falar que a dor é um elemento vital ao nosso crescimento, especialmente agora que abordamos a “dor” que nos autoinflingimos, isto é, a dor da mortificação, temos de estar sempre vigilantes para não entendermos a dor de nossa vida como se, de alguma forma, também contribuísse para a obra expiatória de Cristo.
7.6.2. Isso talvez pareça óbvio, mas a tentação de pensar assim é muito sutil e insidiosa. Devemos ter em mente o que reiteramos no capítulo 5 sobre a absolvição. Na obra consumada de Cristo na cruz, somos totalmente libertos dos poderes acusadores do diabo e de nossa consciência.
7.6.3. Ao matarmos o pecado, não estamos competindo com a obra de Cristo, mas respondendo a ela. Cristo foi morto para que nosso relativo sucesso ou fracasso em matar o pecado não seja parte da fórmula de nossa adoção na família de Deus.
7.6.4. No entanto, engajar-se psicológica e emocionalmente – quiçá até mesmo fisicamente – em autoflagelação não é uma tentação constante para cristãos ocidentais? Qual é sua reação quando você toma ciência de seu pecado?
Se você for como eu, sabe que Cristo morreu por isso e sente-se grato.
Mas, apenas para mostrar quão grato você é ou para selar o acordo, você se autoinflige um pouco de dor psicológica, de modo a tornar memorável toda a situação.
Sem dúvida, você não age assim para fazer, conscientemente, um acréscimo à obra de Cristo. Longe de você! Você o faz apenas para deixar Cristo ciente do quanto você se importa, para deixar claro que você é um cristão sério.
Nada físico. Apenas um pouco mais de obediência externalizada, ou de serviço formal, ou de reconhecimento de culpa.
7.6.5. O problema é que a mensagem da Bíblia como um todo é que, se vamos colocar a cereja de nossa contribuição pessoal, temos de providenciar todo o bolo. É tudo ou nada. A tragédia é que, embora concordemos teologicamente com a verdade de que não podemos fazer acréscimos à obra de Cristo, tentamos nos tranquilizar emocionalmente ao ajudarmos nosso Senhor um pouquinho.
7.6.6. Esse instinto natural de melhorar a opinião de Deus sobre nós por meio de doses automedicadas de recompensa humanamente gerada parece bastante razoável. Tão lógico. Intuitivo.
7.6.7. Mas a glória do Evangelho é que essa tentativa de ajudar a Deus não apenas é desnecessária, como também uma rejeição da oferta de Deus em Cristo. Não é um fortalecimento, mas uma diluição da opinião de Deus sobre mim. Essa atitude não honra a obra sacrificial de Cristo em meu favor, mas a desonra. Ela nos deixará mal-humorados e tensos, em vez de humildes e livres.
7.6.8. Enquanto refletimos sobre a mortificação de nosso pecado, nós o fazemos conscientes de que jamais seremos capazes de intensificar a declaração objetiva de que somos “absolvidos e justos”, da qual nos apropriamos somente pela fé, com base unicamente na obra consumada de Cristo.
7.7. SUFOCANDO O PECADO. Isso que é mortificação não é. Não é fazer acréscimos à obra expiatória de Cristo. Então, positivamente, o que é a mortificação?
7.7.1. Não mortificamos o pecado principalmente ao olharmos para ele. Sem dúvida, é preciso que estejamos cientes do pecado. Contudo, não o matamos como um soldado mata um inimigo na batalha, isto é, mirando no próprio inimigo.
7.7.2. Matar o pecado é uma batalha estranha, porque, para vencê-la, precisamos desviar os olhos do pecado. Por “desviar os olhos”, não quero dizer que devamos esvaziar nossa mente e tentar criar um vácuo mental. Quero dizer que temos de olhar para Jesus Cristo.
7.7.3. Lembre-se do que notamos no capítulo 1 sobre as “insondáveis riquezas de Cristo”. O pecado parece riqueza, mas é riqueza falsa e superficial. Ele não entrega o que promete. Por outro lado, Cristo é a riqueza genuína, a riqueza de profundidade ilimitada. A riqueza de Cristo é insondável. Efésios 3:8
7.7.4. Alimentamos o pecado quando somos complacentes com ele, quando suspiramos por ele, quando sonhamos acordados com ele e quando lhe damos livre curso. Sufocamos o pecado quando redirecionamos nosso olhar para Cristo.
7.7.5. O coração é o centro animador de tudo que fazemos, a nossa parte mais profunda e a fonte de nossos motivos e anseios mais profundos. Aquilo a que dedicamos nosso coração – o que amamos e desejamos – determina nossa saúde espiritual. Provérbios 4:23
7.7.6. Se temos uma teologia sólida e inabalável, demonstramos ampla conformidade de comportamento com os mandamentos de Deus e possuímos uma frequência exemplar à igreja, mas nosso coração flui em sentido contrário, buscando notoriedade, contas bancárias gordas ou qualquer outra coisa, nunca progrediremos na mortificação do pecado.
7.7.7. Como poderia ser diferente?
Se as lealdades mais profundas de nosso coração pertencem a qualquer outra coisa que não Deus, estamos simplesmente tentando enganar os outros, fingindo que queremos mortificar o pecado.
Mas, quando nosso coração redireciona sua contemplação para o Jesus da Bíblia, em toda a sua gentileza gloriosa e em todo o seu amor deslumbrante, o pecado passa fome e começa a definhar.
Quando desfrutamos as verdades sobre as quais este livro tem meditado – realidades como a nossa união com Cristo, nossa inalterável aceitação e nossa irreversível absolvição -, então, e somente então, a vida e o vigor espiritual começam a ter ascendência, e o apego ao pecado se afrouxa.
Flavel assim expressou essa realidade: “Você quer ter suas corrupções mortificadas? Este é o caminho: remover a comida e o combustível que as mantêm; pois, assim como a prosperidade as gerou e as alimentou, também a adversidade, quando santificada, é um meio para matá-las.”
7.7.8. Não há uma técnica especial para mortificar o pecado. Você apenas abre sua Bíblia e permite que Deus o surpreenda a cada dia com a maravilha de seu amor, demonstrado em Cristo e experimentado no Espírito.