Somente a fé, ou obras também?
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Introdução
Introdução
No dia 31 de Outrubro, na última terça-feira foi celebrado o Dia da Reforma, e muita gente falou sobre esse tema. Muitas pessoas inclusive que as vezes se dizendo cristão/evangélico/protestante/reformado, mas não vivem uma espiritualidade condizente com a fé reformada comemorando a Reforma.
Um dos aspectos da Reforma que se fala durante essa celebração, são os 5 solas.
"Sola" é uma palavra latina que significa "somente" ou "apenas". No contexto dos "Cinco Solas" da Reforma Protestante, a palavra é usada para enfatizar a exclusividade de cada princípio. Os reformadores queriam deixar claro que:
A Escritura é a única autoridade em matéria de fé e prática (Sola Scriptura).A justificação vem pela fé e apenas pela fé, sem obras (Sola Fide).A salvação é pela graça de Deus e apenas pela graça, sem mérito humano (Sola Gratia).Jesus Cristo é o único mediador entre Deus e os seres humanos (Solus Christus).Toda a glória pertence a Deus e apenas a Ele (Soli Deo Gloria).
O uso de "sola" foi uma maneira de contrastar as crenças protestantes com as doutrinas da Igreja Católica da época e destacar o foco central e exclusivo de cada princípio na teologia reformada.
E hoje especificamente eu gostaria de falar sobre um desses "solas", o “Somente a Graça”. A doutrina da salvação pela graça foi fundamental para o restabelecimento da doutrina bíblica no tempo da Reforma. Essa doutrina sempre incomodou o ser humano. Ele sempre se sentiu desconfortável em saber que sua salvação não depende de si mesmo, mas exclusivamente de Deus, que a concede graciosamente, não por mérito. Gostamos de tomar nossos assuntos em nossas próprias mãos. É por isso que essa doutrina nos incomoda tanto. Sempre foi assim, como os intermináveis debates sobre o tema ao longo da história deixam bem claro. Na Idade Média, porém, o abandono dessa doutrina alcançou seu ponto mais alto. Seu resgate foi feito pela teologia reformada. Houve a necessidade de enfatizar a suficiência da graça na salvação, uma vez que essa lógica tinha sido alterada. Para refletirmos sobre a Graça de Deus eu gostaria de meditar com vocês na passagem de Efésios capítulo 2, versos 8 a 10.
8 Porque pela graça vocês são salvos, mediante a fé; e isto não vem de vocês, é dom de Deus; 9 não de obras, para que ninguém se glorie. 10 Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.
Paulo escreve a igreja em Éfeso, uma igreja do primeiro século, podemos ver aqui o que podemos chamar da primeira geração de cristãos. Na medida em que o evangelho era anunciado, as pessoas iam se convertendo e sendo discipuladas e batizadas. Isso provocava uma mudança de postura e de hábitos em grande parte dos convertidos, que vinham de religiões politeístas e tinham costumes que não se harmonizavam com a fé cristã. Essa mudança trouxe um impacto na vida das pessoas, e consequentemente na cidade de Éfeso, que até então era dominada pelo paganismo.
Éfeso passou por uma experiência fantástica. A cidade de Éfeso era uma cidade predominantemente pagã, a maioria das pessoas adoravam uma deusa chamada Artemis Diana, e viviam uma espiritualidade baseada no mérito e rituais. Apesar disso tudo, Éfeso era o berço cultural da região e também econômico.
Uma cidade próspera economicamente e também culturalmente, porém pobre espiritualmente. O evangelho chega a Éfeso, conversões em massa, as pessoas queimavam em praça pública seus livros de feitiçaria, e também mudaram seus comportamentos morais e éticos.
Mas você pode estar se perguntando, se esse é um fundamento bíblico, onde a reforma tem relação com essa verdade?
É obvio que os cristãos sempre tiveram a esperança de que os novos convertidos se abstivessem dos pecados e seguissem continuamente os caminhos da santidade. Mas, com o passar do tempo, com o surginemto do catolicismo romano e seus desvios, surgiu a necessidade de uma distinção entre pecados maiores (mortais) e menores (veniais), que gradualmente foi colocada em prática.
Na primeira categoria estavam os pecados considerados mais graves e que supostamente tinham consequências sociais mais marcantes: assassinato, roubo, adultério, infanticídio, envenenamento, apostasia, idolatria, feitiçaria e assim por diante. Na categoria dos pecados veniais, ou menores, estavam inseridos aqueles considerados menos graves, como falso testemunho, rancor, ira, rixas, fraudes, difamação e pequenas desonestidades nos negócios. É claro que essa divisão é muito subjetiva e totalmente arbitrária. Além disso, não tem o menor embasamento bíblico (cf. Tg 2.10).
10 Pois quem guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos.
O estado natural do homem sem Deus é de morte, morte espiritual, desconexão com Deus e naturalmente conduzido a fazer o que é mal.
1 Ele lhes deu vida, quando vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados, 2 nos quais vocês andaram noutro tempo, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência. 3 Entre eles também nós todos andamos no passado, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como também os demais.
No versículo 3, fala que o pior coisa que aconteceu ao homem, foi o fato de que Deus nos entregou o comando da nossa própria vida (pecado cometido no Éden foi o homem decidindo viver de forma divorciada de Deus). E viver de acordo com os nossos pensamentos e desejos, faz de nós alvo da ira de Deus. Por isso, somos naturalmente inclinados para o mal, somos naturalmente egocêntricos. Vivemos naturalmente para nós mesmos, por isso adoramos a idéia da salvação por obras, porque amamos a idéia de sermos o nosso próprio salvador. Da mesma forma odiamos a idéia da graça, que foi Deus quem fez por nós.
A Salvação pela Graça:
A Salvação pela Graça:
a. Definição da Graça: O favor imerecido de Deus. O presente que não podemos ganhar ou pagar.
b. Efésios 2.8: "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus." A centralidade da graça na nossa salvação.A fé como meio, não como mérito.
c. A Impossibilidade Humana: Não importa o quanto tentemos, não podemos ganhar a salvação por nossos próprios esforços.
d. O Perigo do Auto-Merecimento: Quando pensamos que merecemos a salvação, minimizamos a obra de Cristo na cruz.
maginem um jovem que quebrou a janela da casa de seu vizinho ao jogar bola. Temendo a reação do vizinho, o jovem decide fugir. Mas, ao invés disso, ele encontra o vizinho esperando por ele na porta de sua casa com uma bola nova nas mãos.
O vizinho diz: "Eu vi o que aconteceu. Quero que você tenha esta nova bola. E não, você não me deve nada pela janela. Eu já cuidei disso."
Nesta situação, o vizinho mostra uma graça extraordinária. O jovem não merecia a bola nova – ele merecia ser repreendido ou até mesmo pagar pelo estrago. Mas em vez disso, ele recebe um presente. E não apenas isso, o vizinho também cuidou do dano que o jovem causou, sem pedir nada em troca.
Assim é a graça de Deus. Ele nos dá o presente da salvação, algo que nunca poderíamos merecer ou pagar, e cuida do nosso "estrago", o nosso pecado, através do sacrifício de Jesus na cruz. É um favor imerecido. E é um presente que não podemos ganhar ou reembolsar. Tudo o que podemos fazer é aceitá-lo com um coração grato.
As Obras como Resposta à Graça:
As Obras como Resposta à Graça:
a. Efésios 2.10: "Pois somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas."
b. A Obra de Deus em Nós: Somos a "feitura" de Deus, seu trabalho artístico. Somos moldados por Suas mãos.
c. O Propósito das Boas Obras: Não são para ganhar salvação, mas como resposta ao amor e graça de Deus.
d. A Preparação Divina: Deus já preparou as boas obras para nós. Não é algo que criamos, mas algo que descobrimos em nossa caminhada com Ele.
Imagine um talentoso escultor que decide criar uma bela estátua de mármore. Ele a modela com cuidado, atenção aos detalhes e amor, transformando um simples bloco de mármore em uma obra-prima. Uma vez terminada, a estátua é tão magnífica que todos que a veem ficam impressionados.
Um dia, um admirador da arte se aproxima do escultor e diz: "Esta é uma das mais belas esculturas que já vi! Como posso retribuir a você por criar algo tão maravilhoso?"
O escultor, sorrindo, responde: "Você não pode me pagar pela criação. Ela foi um presente do meu coração. Mas, se quiser realmente mostrar sua apreciação, cuide dela. Mantenha-a limpa, proteja-a e mostre-a ao mundo para que outros possam ver sua beleza."
A estátua, nesta ilustração, representa cada um de nós - a "feitura" de Deus, esculpida com amor e propósito. As boas ações que fazemos não são um preço que pagamos a Deus por nos criar ou nos salvar, mas são a maneira pela qual cuidamos e honramos a obra-prima que Ele fez em nós. E assim como a estátua foi esculpida com um propósito, Deus já preparou um caminho de boas obras para nós - não algo que nós inventamos, mas algo que descobrimos à medida que caminhamos com Ele.
A Intersecção da Graça e das Obras:
A Intersecção da Graça e das Obras:
a. A Graça nos Leva às Obras: Quando verdadeiramente entendemos e aceitamos a graça, somos compelidos a agir.
b. As Obras Confirmam Nossa Fé: Tiago 2:26 - "Porque, assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta."
c. A Dança Delicada: Não devemos separar a graça das obras, nem priorizar um sobre o outro. Eles trabalham juntos na bela dança da salvação.
Imagine um par de dançarinos no palco. Eles estão executando uma dança intrincada e bela. Um dançarino representa a "Graça" e o outro representa as "Obras". Quando a música começa, o dançarino da Graça começa a mover-se pelo palco, deslizando e rodopiando com uma beleza inata. No entanto, por mais belo que seja, o palco parece um pouco vazio com apenas um dançarino.
Então, o dançarino das Obras entra em cena. Ele se junta ao dançarino da Graça, e juntos, eles criam uma harmonia perfeita. Onde um passo para trás, o outro avança; onde um se eleva, o outro se abaixa. A dança se torna mais rica, mais completa, com ambos no palco.
No entanto, esta não é uma competição. Nenhum dançarino tenta superar o outro ou roubar o centro das atenções. Em vez disso, eles trabalham juntos, complementando um ao outro, garantindo que a dança seja executada com perfeição.
Esta dança ilustra a intersecção da Graça e das Obras. A Graça nos convida para a dança, e as Obras nos movem em resposta à música da salvação. Ambos são essenciais para a beleza e harmonia da performance. E, assim como em uma dança, não podemos priorizar um em detrimento do outro. Eles devem trabalhar juntos para criar a majestade que é a jornada da fé.
As obras foram feitas para glorificar a Deus, para mostrar ao mundo a beleza da Sua Graça sendo operada em pecadores como eu e você.
Conclusão:
Conclusão:
O que é realmente incrível sobre a graça de Deus é que ela não termina com o nosso momento de salvação. Ela é uma força contínua e transformadora em nossas vidas, nos guiando e nos capacitando a viver uma vida que agrada a Deus. O evangelho não é simplesmente uma mensagem sobre como ser salvo, mas também sobre como viver depois da salvação.
Nos tempos de Paulo, a cidade de Éfeso experimentou uma transformação radical quando as pessoas receberam a graça de Deus. Eles deixaram de viver em pecado e idolatria e começaram a viver de acordo com os planos de Deus. Isso nos mostra o poder transformador da graça. Assim como o jovem da história que quebrou a janela, nós também somos chamados a responder à graça de Deus não com indiferença, mas com gratidão e ação.
E qual é a aplicação prática para nós hoje? Primeiro, devemos sempre lembrar que nossa salvação é um presente gratuito de Deus e não algo que merecemos. Isso deve nos manter humildes e nos impedir de julgar/condenar os outros. Em segundo lugar, somos chamados a viver uma vida de boas obras, não para ganhar a salvação, mas como uma resposta ao amor e graça que Deus nos mostrou. Cada dia é uma oportunidade para viver de acordo com os planos de Deus, amando e servindo aos outros.
Finalmente, no espírito da Reforma e do "Sola Gratia", devemos estar constantemente nos reformando - retornando às Escrituras, reavaliando nossas vidas à luz da Palavra de Deus e buscando viver de acordo com a graça que foi derramada sobre nós. Que possamos ser um povo que vive não apenas pelas palavras, mas pelo poder transformador da graça de Deus em nossas vidas. E que a nossa vida seja um testemunho contínuo da suficiência e beleza da graça de Deus. Amém!