Tiago 3:1-12
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Estudo 5
Estudo 5
Como conhecer o poder da língua
(Tiago 3.1–12)
O poder terapêutico da palavra.
A palavra boa é como medicina, ela traz cura. Uma pessoa está abatida, triste, desanimada, aflita, sem sonhos, e, de repente, alguém chega com uma palavra oportuna, apropriada; e essa palavra, como bálsamo do céu, traz um novo ânimo e um novo alento.
Há palavras que ferem mais que uma espada afiada. A Bíblia relata um exemplo dramático a esse respeito. Saul estava louco, possesso de ódio por Davi, seu genro. Davi não apenas tinha sido escolhido por Deus em seu lugar, mas também tinha sido escolhido pelo povo, como o herói nacional. Ao ser ungido pelo profeta Samuel para ser rei sobre Israel, Davi começou a ter muitos problemas. Sua unção não o levou ao trono, mas à escola do sofrimento e do quebrantamento. Em vez de Davi pisar os tapetes aveludados do palácio, pisou as areias esbraseantes do deserto. Em vez de subir ao palco da fama, sob as luzes da ribalta, precisou esconder-se nas cavernas. Em vez de Davi andar pelas ruas, num carro alegórico, sendo aplaudido pelas multidões em festa, ele precisa perambular pelo deserto, esconder-se nas cavernas, e buscar refúgio até mesmo fora do território de Israel para salvar sua vida da fúria de um rei louco. Em uma dessas andanças, fugindo de Saul, ele chega à cidade de Nobe, onde morava uma comunidade de sacerdotes. Davi e seus homens chegaram ali com fome. O sacerdote disse que não havia alimento para eles, senão o pão da proposição, aquele pão que era colocado na mesa da proposição todos os dias, como símbolo do alimento espiritual.
O sacerdote deu aquele pão para Davi. Este pegou a espada de Golias, que lá estava guardada, e saiu. Mas, ali estava um homem que ouviu toda a conversa entre Davi e o sacerdote. Esse homem chamava-se Doegue, um aliado de Saul. Este homem, de forma irresponsável, inconsequente e demoníaca foi ter com Saul e distorceu os fatos, escamoteou a verdade, delatando o sacerdote, como se este estivesse mancomunado com Davi em um plano de conspiração.
Saul, envenenado pela mentira de Doegue, mandou chamar o sacerdote e responsabilizou-o por ter-se ajuntado com Davi para traí-lo. O sacerdote tentou se defender, revelando a veracidade dos fatos, mas Saul, contaminado por uma palavra torcida, diabólica, falsa, tendenciosa de Doegue, resolveu destruir o sacerdote e toda a comunidade de sacerdotes da cidade de Nobe. Saul deu uma ordem a seus homens para matar o sacerdote, bem como os outros oitenta e cinco sacerdotes. Os homens de Saul recusaram-se a cumprir a ordem insana. Então, Saul obrigou o próprio Doegue, o delator, a lançar-se contra os sacerdotes para matá-los. Doegue passou ao fio da espada os homens, as mulheres, as crianças, as crianças de peito e até aos animais (1Sm 2.1–9; 22.6–19). Foi uma chacina, por causa de uma palavra mal colocada, que delatara o sacerdote e alterara a notícia, dando uma conotação de traição e conspiração contra o rei.
Isso nos mostra como a língua pode ser um instrumento de bênção ou de destruição. Salomão, em Provérbios 6.16–19, elenca seis pecados que Deus aborrece e um pecado que a alma de Deus abomina. Dos sete pecados, três estão ligados ao pecado da língua: a língua mentirosa, a testemunha falsa que profere mentiras e o que semeia contendas entre irmãos.
Tiago chegou a dizer, nesta carta, que ninguém pode se dizer religioso sem primeiro refrear sua língua (1.27). Tiago diz que podemos ter um conhecimento colossal das Escrituras, podemos ter um invejável cabedal teológico, mas se não dominamos a nossa língua, a nossa religião é vã. Para Tiago, para ser um cristão verdadeiro não basta apenas a teologia, é preciso também uma língua controlada.
Vamos observar algumas coisas importantes em Tiago 3.1–12.
Tiago diz que quem quer ser um líder e um mestre precisa tomar um grande cuidado (3.1). Não que seja ilegítimo aspirar à liderança, sobretudo se Deus deu essa capacidade. Precisamos entender uma coisa, o mestre terá um juízo maior. O critério do juízo vai ser mais rigoroso. E aí Tiago começa a colocar a questão da língua num aspeto muito interessante, que é a questão do tropeço. Nós tropeçamos em muitas coisas, aquele que não tropeça no falar é perfeito varão, é capaz de manter o controle de todo seu corpo (3.2).
Obviamente todos nós já falhamos, já tropeçamos em nossa própria língua. Quantas vezes já ficamos envergonhados de falar aquilo que não deveríamos ter falado, na hora em que não deveríamos ter falado, com a pessoa que não deveríamos ter falado, com a intensidade e o volume da voz que não deveríamos ter usado. Uma palavra falada é como uma seta lançada, não tem jeito de retorná-la. É como um saco de penas soltas do alto de uma montanha, não podemos mais recolhê-las.
Tiago enumera para nós algumas figuras importantíssimas no trato dessa importantíssima matéria. Warren Wiersbe diz que a língua tem o poder de dirigir, destruir e deleitar.
A língua tem o poder de dirigir (Tg 3.3,4)
Nós podemos conduzir uma multidão pela maneira como falamos, tanto para o bem como para o mal. Martin Luther King foi um pastor batista, cujo pai e avô também tinham sido pastores. Sua liderança foi fundamental para o sucesso do movimento de igualdade de direitos civis entre negros e brancos nos Estados Unidos, nos idos de 1960. Enquanto exercia seu ministério em Montgomery, Alabama, relacionou-se com um grupo de militantes dos direitos civis e tornou-se conhecido ao liderar um movimento contra a segregação racial nos autocarros da cidade. Em agosto de 1963, a campanha anti-racista atingiu o auge, quando mais de 200.000 pessoas participaram de uma concentração diante do monumento de Lincoln, em Washington. Na ocasião, Luther King pronunciou seu famoso discurso “Eu tenho um sonho”. Ele disse à multidão presente, bem como aos pósteros: “Eu tenho um sonho, de que um dia, em meu país, os meus filhos sejam julgados não pela cor da sua pele, mas pela dignidade de seu caráter”. Em 1964, ano em que Martin Luther King ganhou o Prêmio Nobel da Paz, o governo americano sancionou a lei dos direitos civis, favorável às minorias raciais. Martin Luther King foi assassinado por um atirador branco em Memphis, no Tennessee, em 4 de abril de 1968. Ele tombou como mártir da sua causa, mas deixou depois de si, um país melhor, mais justo e mais humano.
Mas a língua também pode induzir as pessoas à prática do mal. Adolf Hitler era um orador que eletrizava as massas e conduzia multidões inteiras à loucura e às práticas extremamente cruéis e desumanas. Ele usou sua oratória para levar a Alemanha à guerra. Suas idéias foram despejadas como ácido do inferno sobre a mente do povo alemão. Até hoje ficamos perplexos e atordoados ao vermos filmes como O Holocausto, A Lista de Schindler e O Pianista. Esses filmes retratam a realidade crua e perversa da destruição em massa do povo judeu nos campos de concentração nazistas.
A língua tem o poder de dirigir tanto para o bem como para o mal. Tiago usa duas figuras para mostrar o poder da língua: o freio e o leme (3.3,4). Para que serve um cavalo indomável e selvagem? Um animal indócil não pode ser útil, antes, é perigoso. Mas, se você coloca freio nesse cavalo, você o conduz para onde se quer. Através do freio a inclinação selvagem é subjugada, e ele se torna dócil e útil. Tiago diz que a língua é do mesmo jeito. Se controlarmos a língua, também conseguiremos dominar os nossos impulsos e canalizarmos toda a nossa vida para um fim proveitoso.
Tiago usa também a figura do leme. Um navio transatlântico é dirigido para lá ou para cá, pelo timoneiro, por meio de um pequeno leme. Imagine o que seria um navio sem o leme. Colocaria em risco a vida dos tripulantes, a vida dos passageiros e a carga que transporta. Isso seria um grande desastre. Sem leme, um navio seria um instrumento de morte, de naufrágio, de loucura. O leme, porém, pode conduzir esse grande transatlântico, fugindo dos rochedos, das rochas submersas e pode transportar em paz e segurança os passageiros, os tripulantes e a carga que nele está.
O que Tiago está dizendo é que se nós não controlarmos a nossa língua, nós seremos como um transatlântico sem leme e sem direção. Se não controlarmos nossa língua, vamos nos arrebentar nos rochedos, vamos nos destruir e vamos ainda destruir quem está perto de nós, porque a língua tem poder de dirigir para bem ou para o mal.
A língua tem o poder de destruir (Tg 3.5–8)
Tiago lança mão de outras duas figuras: o fogo e o veneno (3.5–8). Ele diz que uma fagulha pequena incendeia toda uma floresta. Você já parou para perceber que um incêndio de proporções tremendas pode ser causado por uma simples beata de cigarro ou por um mero palito de fósforo? Aquela chama inicial é tão pequena que, se você der um sopro, ela se apaga. Mas o que adianta você soprar um fogo que se alastra por uma floresta? Aí já não dá mais. O fogo, depois que se agiganta e alastra torna-se indomável e deixa atrás de si grande devastação. Assim é o poder da língua. Onde um comentário maledicente se espalha, onde a boataria medra e onde a fofoca se infiltra, como labaredas de fogo, vai se alastrando e provocando destruição. Assim como o fogo cresce, espalha, fere, destrói e provoca sofrimento, prejuízo e destruição, assim também é o poder da língua.
No dia 8 de outubro de 1871, às oito horas e trinta minutos da noite, durante uma campanha evangelística de Dwight Liman Moody, em Chicago, aconteceu um terrível incêndio. Mais de cem mil pessoas ficaram sem casas, dezessete mil e quinhentos prédios foram destruídos e centenas de pessoas morreram. Aquele incêndio começou tênue e pequeno, mas atingiu proporções avassaladoras. Assim é o poder da língua, diz Tiago.
É do conhecimento geral o que aconteceu no ano 64 d.C. na cidade de Roma. O imperador romano Nero, em sua insanidade, pôs fogo em Roma, assistindo o espetáculo horrendo das chamas lambendo a cidade com fúria e à destruição do alto da torre de Mecenas. Dos quatorze bairros de Roma, dez foram devastados e destruídos pelas chamas. O que Tiago está querendo nos alertar é que a língua tem o poder do fogo, o poder de destruir. Como o fogo destrói, também a língua destrói.
Muitas vezes, faz-se comentários acerca de uma pessoa, ou de uma determinada situação, em um tom jocoso, em tom de brincadeira, mas não podemos imaginar o que uma palavra irrefletida, mal colocada, pode provocar na vida de uma pessoa. E, então, Tiago nos alerta que a língua tem de igual modo o poder destruidor. Tiago diz no versículo 6 que a língua é fogo. Ele não disse que é como fogo, mas é fogo. Tiago faz uma afirmação categórica. Ele diz também que a língua é um mundo de iniquidade. A língua corrompe. Mais do que isso, a língua contamina, fermenta, joga uma pessoa contra a outra.
Três coisas precisam ser destacadas no pensamento de Tiago.
Em primeiro lugar, a língua é perigosa (3.6). Ela é mundo de iniquidade, ela é fogo, ela coloca em destruição toda a carreira da vida humana.
Em segundo lugar, a língua é indomável (3.7). O homem, com o seu gênio, consegue domar os animais do campo, os répteis, os voláteis e também os animais aquáticos. O homem doma todas as criaturas do ar, da terra e do mar. Porém, o homem não consegue domar a própria língua. Se o homem conseguisse domar sua língua, diz Tiago, então ele seria um perfeito varão. O apóstolo Paulo diz que antes de abrirmos a boca, precisamos avaliar se a nossa palavra é verdadeira, amorosa, boa e edificante (Ef 4.29).
Sócrates, o pai da filosofia, costumava falar sobre a necessidade de passarmos tudo que ouvimos por três peneiras. Quando alguém chegava para contar-lhe alguma coisa, geralmente perguntava o seguinte: “Você já passou o que está me contando pelas três peneiras?” A primeira é a peneira da verdade. O que você está me falando é verdade? Se a pessoa titubeasse, dizendo: “Eu escutei falar que é verdade”. Sócrates, prontamente dizia: “Bom, se você escutou falar, você não tem certeza”. A segunda peneira é: “Você já falou para a pessoa envolvida o que você está me falando?” A terceira peneira: “O que você vai me contar, vai ajudar essa pessoa? Vai ser uma palavra boa, útil, edificante para ajudar na solução do problema?” Se a pessoa não podia responder positivamente ao crivo das três peneiras, então, Sócrates era enfático: “Por favor, não me conte nada, eu não quero saber”.
O que Tiago está a dizer é que a língua é indomável. Benjamim Franklin costumava dizer que o animal mais terrível do mundo tem a sua toca atrás dos dentes. Tiago diz que este animal indomável e venenoso é a língua. Esse animal feroz e venenoso é pior que um escorpião, pior que uma jararaca peçonhenta. A picada de um escorpião ou de uma cobra pode ser tratada, mas muitas vezes, o veneno da língua é incurável.
Em terceiro lugar, a língua é incoerente (3.9–12). Não encontramos numa mesma fonte água salgada e água doce. Não podemos colher figos de um espinheiro nem espinhos de uma figueira. Tiago enfatiza o mesmo que Jesus Cristo disse, que a boca fala daquilo que o coração está cheio. Se o seu coração é mau, a palavra que vai sair da sua boca é má. A incoerência da língua está no fato de que com ela você bendiz a Deus e também amaldiçoa a seu irmão, criado à imagem e semelhança de Deus.
A mesma língua que usamos para falar dos outros é a mesma língua que usamos para louvar a Deus no culto. A mesma língua que usamos para glorificar ao Senhor com nossos cânticos e orações, usamos também para ferir de morte uma pessoa criada à imagem de Deus. A língua não apenas é incoerente, mas também contraditória.
A língua tem o poder de deleitar (Tg 3.9–12)
Tiago disse que a língua tem o poder de dirigir e citou dois exemplos: o freio e o leme. Também disse que a língua tem o poder de destruir e exemplificou com o fogo e o veneno. Mas, agora, Tiago fala que a língua tem, também, o poder de deleitar e citou mais dois exemplos: uma fonte e uma árvore.
Na Palestina, região árida e seca, quando se fala em fonte, fala-se de um lugar muitíssimo precioso. A fonte é um lugar onde os sedentos, os cansados chegam e encontram alento, vida, força, ânimo e coragem para prosseguirem a caminhada da vida. A Bíblia fala de Agar perambulando no deserto com seu filho Ismael. A água acabou, a sede implacável a dominou e o desespero tomou conta dela e do seu filho. Sem esperança, sentou-se longe do seu filho para chorar, pois não tinha coragem de vê-lo morrer na ânsia da sede implacável. Mas, do céu o anjo de Deus lhe falou. Uma fonte começou a jorrar água perto de Ismael e a esperança brotou em sua alma (Gn 21.15–21). Assim é uma palavra boa: traz alento em meio ao cansaço; traz esperança em meio ao desespero; traz vida no portal da morte.
Que bênção podes usar a tua língua como uma fonte de refrigério para as pessoas, para abençoá-las, encorajá-las e consolá-las. Como é precioso trazer uma palavra boa, animadora e restauradora para uma alma aflita.
Tiago compara também a língua com uma árvore e seu fruto. A árvore fala de fruto e fruto é alimento. Fruto renova as energias, a força, a saúde e dá capacidade para viver. Nós podemos alimentar as pessoas com uma palavra boa, uma palavra vinda do coração de Deus, uma palavra de consolo. Fruto também fala de um sabor especial. Nós podemos dar sabor à vida das pessoas pela maneira como nos comunicamos.