Tiago 3:13-18
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Estudo 6
Estudo 6
Como saber se sua sabedoria é terrena ou celestial
Quem entre vós é sábio e inteligente? Mostre em mansidão de sabedoria, mediante condigno proceder, as suas obras.
Se, pelo contrário, tendes em vosso coração inveja amargurada e sentimento faccioso, nem vos glorieis disso, nem mintais contra a verdade.
Esta não é a sabedoria que desce lá do alto; antes, é terrena, animal e demoníaca.
Pois, onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda espécie de coisas ruins.
A sabedoria, porém, lá do alto é, primeiramente, pura; depois, pacífica, indulgente, tratável, plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem fingimento.
Ora, é em paz que se semeia o fruto da justiça, para os que promovem a paz.
Tiago falou nos versículos 1 a 12 sobre o poder da língua: ela tem o poder de dirigir (freio e leme), o poder de destruir (fogo e veneno) e o poder de deleitar (fonte e fruto). Agora, Tiago fala sobre a sabedoria para lidar com as circunstâncias e com as pessoas. Assim como o rei Salomão pediu sabedoria para Deus, nós também podemos pedir.
O que é sabedoria? Sabedoria é o uso correto do conhecimento. Uma pessoa pode ser culta e tola. Ela pode ter muito conhecimento e não saber viver consigo e com os outros. Sabedoria é também olhar para a vida com os olhos de Deus. A pergunta do sábio é: em meus passos, o que faria Jesus? Como ele falaria, como agiria, como reagiria? Cristo não foi um mestre da escola clássica. Ele ensinou os seus discípulos na escola da vida. Ensinar a sabedoria é mais importante do que apenas transmitir conhecimento.
Warren Wiersbe, comparando a sabedoria de Deus com a sabedoria do mundo, faz três contrastes: quanto à sua origem, quanto às suas características e quanto aos resultados.
O contraste sobre a origem da sabedoria (Tg 3.15–17a)
Há uma sabedoria que vem do alto e outra que vem da terra. Há uma sabedoria que vem de Deus e outra engendrada pelo próprio homem. A Bíblia traz alguns exemplos da tolice da sabedoria do homem: primeiro, a torre de Babel parecia ser um projeto sábio, mas terminou em fracasso e confusão (Gn 11.9). Segundo, pareceu sábio a Abraão descer ao Egito em tempo de fome em Canaã, mas os resultados provaram o contrário (Gn 12.10–20). Terceiro, o rei Saul pensou que estava sendo sábio quando colocou a sua armadura em Davi (1Sm 17.38,39). Quarto, os discípulos pensaram que estavam sendo sábios pedindo a Jesus para despedir a multidão no deserto, mas o plano de Cristo era alimentá-la por meio deles (Mt 14.15,16). Quinto, os especialistas em viagens marítimas pensaram que era sábio viajar para Roma e por isso não ouviram os conselhos de Paulo e fracassaram (At 27.9–11).
A sabedoria da terra tem três características: terrena, animal (não espiritual) e demoníaca.
Ela é terrena (3.15). É a sabedoria deste mundo (1Co 1.20,21). A sabedoria de Deus é tolice para o mundo e a sabedoria do mundo é tolice para Deus. A sabedoria do homem vem da razão, enquanto a sabedoria de Deus vem da revelação. A sabedoria do homem desemboca no fracasso, a sabedoria de Deus dura para sempre. Desde o Iluminismo francês do século 18, o homem começou a sentir orgulho de seu conhecimento, da sua razão, de suas conquistas. Embalado pelo otimismo do humanismo idolátrico, o homem pensou em construir um paraíso na terra com as suas próprias mãos. Mas esse sonho dourado transformou-se em pesadelo. No auge do otimismo humanista, o século 20 foi sacudido por duas sangrentas guerras mundiais. A sabedoria terrena não conseguiu resolver o problema da humanidade.
Ela é animal ou não-espiritual (3.15). A palavra grega é psykikos. Essa palavra é traduzida por natural, (1Co 2.14; 15.44,46) como oposto de espiritual. Em Judas 19, essa palavra é traduzida como sensual. Essa sabedoria está em oposição à nova natureza que temos em Cristo. É uma sabedoria totalmente à parte do Espírito de Deus. Essa sabedoria escarnece das coisas espirituais. O mundo está cada vez mais secularizado. As coisas de Deus não importam.
Ela é demoníaca (3.15). Essa foi a sabedoria usada pela serpente para enganar Eva, induzindo-a a querer ser igual a Deus e fazendo-a descrer de Deus para crer nas mentiras do diabo. As pessoas hoje continuam crendo nas mentiras do diabo (Rm 1.18–25).
Agora, Tiago fala sobre a sabedoria do alto. A verdadeira sabedoria vem de Deus, do alto, visto que ela é fruto de oração (1.5), ela é dom de Deus (1.17). Essa sabedoria está em Cristo: Ele é a nossa sabedoria (1Co 1.30). Em Jesus nós temos todos os tesouros da sabedoria (Cl 2.3). Essa sabedoria está na Palavra, visto que ela nos torna sábios para a salvação (2Tm 3.15). Ela nos é dada como resposta de oração (Ef 1.17; Tg 1.5).
Contraste sobre as características da sabedoria (Tg 3.13,14,17)
Desde que as duas sabedorias procedem de origens radicalmente opostas, elas também operam em caminhos diferentes.
Qual é a evidência da falsa sabedoria?
Ela se manifesta por meio de uma inveja amargurada (3.14,16). Essa ambição está ligada à cobiça de posição e status. Tiago alertou para o perigo de se cobiçar ofícios espirituais na igreja (3.1). A sabedoria do mundo diz: promove-te. És melhor do que os outros. Os discípulos de Cristo discutiam quem era o maior dentre eles. Os fariseus usavam suas atividades religiosas para se promoverem diante dos homens (Mt 6.1–18). A sabedoria do mundo exalta o homem e rouba a Deus da sua glória (1Co 1.27–31). O invejoso, em vez de alegrar-se com o triunfo do outro, alegra-se com seu fracasso. Ele não apenas deseja ter como o outro, mas tem tristeza porque não tem o que é do outro. O invejoso é alguém que tem uma super preocupação com sua posição, dignidade e direitos.
A falsa sabedoria manifesta-se através de um sentimento faccioso (3.14b,16b). Há grandes feridas nos relacionamentos dentro das famílias e das igrejas. A palavra que Tiago usa, erithia, significa espírito de partidarismo. Subentende a inclinação por usar meios indignos e divisórios para promover os próprios interesses. Era a palavra usada por um político à cata de votos. As pessoas estão a seu favor ou então contra você. Paulo alertou em Filipenses 2.3 sobre o perigo de estarmos envolvidos na obra de Deus com motivações erradas: vanglória e partidarismo. Norman Champlin faz o seguinte comentário,
As rivalidades entre os mestres logo criam rivalidades na igreja. Os homens esforçam-se por ser, cada qual, o líder mais poderoso; e aqueles que os apoiam adicionam combustível ao fogo, até que tudo é consumido pelas chamas devoradoras da carnalidade. Todos são “zelotes”, mas não em favor de Cristo; são todos ambiciosos, mas somente em proveito próprio; todos estão consumidos de ardor, mas não do fogo celestial, e, sim, do fogo do inferno. As dissensões eclesiásticas sempre foram caracterizadas por situações assim, e quanto mais homens carnais são exaltados e transformados em heróis, ou se apresentam a outros como tais, maior é o desastre.
A falsa sabedoria está misturada com a mentira (3.14c). A inveja produz sentimento faccioso. Este promove a vaidade, e a vaidade se alimenta da mentira (1Co 4.5).
Qual é a evidência da verdadeira sabedoria? Tiago elenca vários atributos da verdadeira sabedoria:
Mansidão (3.13). Mansidão não é fraqueza, mas poder sob controle. A palavra era usada para um cavalo domesticado, que tinha o seu poder sob controle. Uma pessoa que não tem controle pessoal ou domínio próprio não é sábia. Mansidão é o uso correto do poder, assim como sabedoria é o uso correto do conhecimento.
Pureza (3.17). A sabedoria de Deus é incontaminada, sem qualquer defeito moral. Ela é livre de ambição humana e da auto-glorificação. “Primeiramente pura” mostra a importância da santidade. Deus é santo, portanto, a sabedoria que vem de Deus é pura. Ela é livre de impureza, mácula, dolo. A sabedoria de Deus nos conduz à pureza de vida. A sabedoria do homem conduz à amizade com o mundo.
Paz (3.17). A sabedoria divina não é contenciosa nem facciosa. A sabedoria do homem leva à competição, rivalidade e guerra (4.1,2), mas a sabedoria de Deus conduz à paz.
Indulgência (3.17). No grego temos o termo piekes, isto é, razoável, cheio de consideração, moderado, gentil. Esta característica da sabedoria trata da atitude de não criar conflitos nem comprometer a verdade para manter a paz. É ser gentil sem ser fraco.
Tratável (3.17). A palavra grega eupeithes significa “facilmente persuadido”; o contrário de obstinado. Esta sabedoria é aberta à razão. É ser uma pessoa comunicável, de fácil acesso. Jesus era assim: as crianças, os leprosos, os doentes, as mulheres, os publicanos, as prostitutas, os doutores tinham livre acesso a Ele.
Plena de misericórdia (3.17). A palavra misericórdia significa lançar o coração na miséria do outro. É inclinar-se para socorrer o aflito. É sentir ternura pelo necessitado e estender-lhe a mão, ainda que ele nada mereça. A parábola do bom samaritano nos exemplifica esse tipo de sabedoria: para um samaritano, cuidar de um judeu que o hostilizava era um ato de misericórdia.
Bons frutos (3.17). As pessoas que são fiéis são frutíferas. Quem não produz frutos, produz galhos. A sabedoria de Deus é prática. Ela muda a vida e produz bons frutos para a glória de Deus.
Imparcial (3.17). Uma pessoa que não tem duas mentes, duas almas (1.6). A palavra grega adiákritos significa “não dividido em julgamento”.
Sem fingimento (3.17). A palavra significa sinceridade, sem hipocrisia. O hipócrita é um ator que representa um papel diferente ao da sua vida real. Na sabedoria divina não existe jogo de interesse nem política de bastidor. A sabedoria não opera por detrás de uma máscara, supostamente para o bem de outros, mas, na realidade, visando apenas os seus próprios interesses.
Contraste sobre os resultados (Tg 3.16,18)
A origem determina os resultados. A sabedoria do mundo produz resultados mundanos; a sabedoria espiritual, resultados espirituais.
A sabedoria do mundo produz problemas (3.16b). Inveja, confusão, e todo tipo de coisas más são o resultado da sabedoria do mundo. Pensamentos errados produzem atitudes erradas. Uma das causas do porquê deste mundo estar tão bagunçado é que os homens têm rejeitado a sabedoria de Deus. A palavra “confusão” significa desordem que vem da instabilidade. Essas pessoas são instáveis como a onda (1.8) e indomáveis como a língua (3.8). Essa palavra é usada por Cristo para revelar a confusão dos últimos dias (Lc 21.9).
A sabedoria de Deus produz bênçãos (3.18). Tiago lista três coisas:
Vida reta (3.13). Uma pessoa sábia é conhecida pela sua vida irrepreensível, conduta santa.
Obras dignas de Deus (3.13). Uma pessoa sábia não apenas fala, mas faz.
Fruto de justiça (3.18). A vida cristã é uma semeadura e uma colheita. Nós colhemos o que semeamos. O sábio semeia justiça e não pecado. Ele semeia paz e não guerra. O que nós somos, nós vivemos e o que nós vivemos, nós semeamos. O que nós semeamos determina o que nós colhemos. Temos que semear a paz e não problemas no meio da família de Deus. Como poderemos conhecer uma pessoa sábia? Uma pessoa sábia é sempre uma pessoa humilde. Aquele que proclama as suas próprias virtudes carece de sabedoria.
Como poderemos identificar uma pessoa que não tem sabedoria? Suas palavras e atitudes provocarão inveja, rivalidades, divisão, guerras.