Êxodo 9.1-7
Série expositiva no Livro do Êxodo • Sermon • Submitted • Presented
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· 6 viewsO autor divino/humano evidencia a benção protetiva do SENHOR em favor de seu povo, livrando-o de ser atingido pelo derramamento de sua ira contra os ímpios.
Notes
Transcript
"São estes os nomes..." (Êx 1.1).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
A descrição dos atos miraculosos do SENHOR em julgamento contra o Egito, ao passo que salva seu povo, avança para mais um episódio no qual a glória de Deus será manifesta sobre Faraó e seus oficiais.
O caráter distintivo apresentado na quarta praga (i.e. enxames de moscas), em que Deus promete fazer distinção entre o seu povo e os egípcios (cf. 8.23) é expandido e continuado no presente relato, enfatizando que a mão do SENHOR estendeu-se apenas sobre os inimigos dos filhos de Israel, preservando e protegendo estes dos efeitos catastróficos que os flagelos causaram. A repetição dessa ênfase protetiva a favor dos hebreus, como consta no versículo 4, salienta que tal princípio pode ser aplicado à todas as pragas posteriores; os filhos de Abraão contemplariam ilesos o braço de YHWH ferir o Faraó e toda a terra do Egito.
Com isso, a tônica do autor eleva a atenção de seus leitores/ouvintes para a contemplação do princípio de que a praga da peste nos animais ressalta o caráter protetivo de YHWH para com seu povo. Verdadeiramente aquele povo que estava sendo alvo de seu amor, não era um povo qualquer, mas receptor e beneficiário do pacto redentivo que os tornava propriedade peculiar (ênfase da quarta praga, cf. vv. 1-7) do Deus que se revelou a Abraão e prometeu-lhe uma descendência herdeira das promessas a ele feitas.
Isto posto, o presente relato fora registrado por Moisés para benefício do povo de Deus como lembrete de que tudo o que ocorreu até este ponto da história, e daqui para frente, sacramenta a glória do SENHOR na salvação/proteção de seus eleitos, tendo ele feito separação entre os que escolheu para si daqueles que, por sua rebeldia, foram deixados em sua ignorância, sendo também usados para o louvor da sua glória (ênfase da seção seguinte).
Dessa forma, o texto de Êxodo 9.1-7 enfatiza como tese central a declaração da soberania do SENHOR na Redenção do seu povo: a quinta praga - YHWH, o Deus Protetor.
Elucidação
As ênfases de cada praga ou flagelo intensificam a vontade de YHWH de proclamar sua glória sobre toda terra, como tem sido visto até este ponto. Contudo, tal objetivo (como sabido) está vinculado intrinsecamente ao propósito redentivo estipulado por Deus desde Adão e Noé, porém mais especificamente no que se refere aos hebreus, a partir de Abraão, no qual um povo é prometido, vindo deste o descendente que faria Israel herdar a herança do patriarca (i.e. Cristo Jesus).
A benção redentiva então reserva um tratamento especial da parte de Deus para com seu povo, tratamento que inclui a separação e distinção mencionadas na seção anterior (cf. 8.20-32), fazendo com que todos os egípcios (sobretudo Faraó) vissem que os hebreus de fato são o povo escolhido de YHWH. Esse princípio é agora explicitado a partir de uma ação protetiva mais intensa.
A narrativa inicia-se com outra publicação do édito divino à Faraó através de Moisés, contendo uma nova sentença a ser executada contra o monarca egípcio e seu povo, caso não se submete-se:
Disse o Senhor a Moisés: Apresenta-te a Faraó e dize-lhe: Assim diz o Senhor, o Deus dos hebreus: Deixa ir o meu povo, para que me sirva. Porque, se recusares deixá-los ir e ainda por força os detiveres, eis que a mão do Senhor será sobre o teu rebanho, que está no campo, sobre os cavalos, sobre os jumentos, sobre os camelos, sobre o gado e sobre as ovelhas, com pestilência gravíssima.
Segundo a definição do dicionário Lexham, o termo "דֶּ֖בֶר" indica "qualquer doença epidêmica com uma elevada taxa de mortalidade (Lexham Press, 2020)". A distinção promovida pelo SENHOR com mais essa manifestação de juízo sobre o Egito, abarca não somente o território, como foi no caso da praga de enxames, mas o alvo agora são os povos; no caso, os egípicios serão alvos do juízo, mediante o sofrimento causado por uma doença letal (pelo menos para os rebanhos), enquanto que os hebreus receberão a proteção divina. Seguindo essa lógica, a intensificação das ações anteriores enfatiza, como dito, o trato divino para com ambos os povos.
Essa especificação divina tenciona estabelecer terminantemente a relação íntima entre Deus e o povo de Israel. Toda a terra deveria saber que somente Deus é o SENHOR (cf. 8.22), mas também que ele é o Deus do seu povo — ainda mais o Deus que salva seu povo —, tal como consta na própria apresentação exposta novamente a Faraó registrada no versículo 1: "Assim diz o SENHOR, o Deus dos hebreus...".
Moisés ratifica aos filhos de Israel que essa relação de pertencimento a Deus, é a base da confiança que deveriam ter ao estarem rumando para uma outra terra, na qual é sabido que habitam povos que provavelmente serão hostis a sua chegada, principalmente tendo em vista que estão indo para tomar posse dela, como símbolo da promessa feita por Deus a Abraão.
No Egito, Deus manifestou sua soberania sobre tudo e todos, enviando seus exércitos, governando a própria criação, a fim de que Faraó fosse humilhado mediante a contemplação da glória do Altíssimo. Todavia, jungido a isso, a grandeza de YHWH também foi evidenciada através da proteção que executou em favor daqueles com quem estabeleceu uma aliança.
Não somente a terra, segundo já frisado, mas agora até mesmo o gado e demais rebanhos dos hebreus foram preservados da praga da pestilência, como sinal de que a mão do SENHOR estava de fato sobre seu povo. Ainda que Faraó tenha por muito tempo feito sofrer os hebreus, as dez pragas provaram que a condição destes de povo exclusivo de Deus nunca foi ameaçada, e isso jamais mudaria. A inexorabilidade dessa condição aparece no texto a partir da cláusula determinativa que aponta para o total controle do SENHOR sobre o quinto flagelo, comunicada pelo próprio Moisés: "O SENHOR designou certo tempo, dizendo: Amanhã fará o SENHOR isto" (v.5).
A conclusão do relato ressalta o efeito protetivo de Deus em favor do povo: o próprio Faraó, depois de ver assolado todo o rebanho dos egípcios (v.6), "mandou verificar, e eis que do rebanho de Israel não havia morrido nenhum sequer" (NAA, v.7).
Deus verdadeiramente havia cumprido sua palavra e manteve intocado seu povo e tudo que a ele pertencia: as ovelhas, e bois, e todo o rebanho dos hebreus estavam seguros, enquanto que a pestilência divina havia vitimado os animais dos egípcios.
Transição
É mister notar que a benção protetiva de YHWH sobre seu povo, não o isentou de sofrimentos outros. O contexto apresentado no capítulo 5, em que Faraó intensifica a jornada de trabalho escravo dos hebreus, não mudou desde então.
A tônica do autor divino/humano registrada no texto de Êxodo 9.1-7, consiste na demonstração da graça divina que mantém seguros e incólumes aqueles que são beneficiários de sua aliança redentiva, de seu juízo irado e vingativo sobre um mundo avesso à si e seus mandamentos.
O povo de Deus deve compreender que os sofrimentos que experimenta nesse mundo, ocorrem (além de por causa de seus próprios pecados) em decorrência de estarem num ambiente hostil ao SENHOR e sua obra de proclamação de sua glória. Todavia devem confiar resolutamente na proteção divina que recebem por serem participantes e beneficiários do pacto redentivo, de que em hipótese alguma serão alvos do sentenciamento que já tem caído sobre o mundo.
A maldição da punição divina, tendo já sido executada na cruz de Cristo Jesus, não atingirá o arraial da igreja do SENHOR. Cristo é o cumprimento da promessa e da aliança redentiva; todos aqueles que se refugiarem nele, estarão seguros dos flagelos que cairão sobre aqueles que declaram-se inimigos do SENHOR e de seu povo.
Em face disso, o texto de Êxodo 9.1-7, enfatiza a seguinte verdade a ser apreendida pelo povo de Deus hoje:
Aplicação
A distinção redentiva que separa o povo de Deus daqueles que contra ele se rebelam, também garante a proteção contra o juízo divino que tem sido já derramado sobre este mundo.
Na seção anterior, o texto bíblico exibe que a obra redentiva executada por Deus, consiste na separação de seu povo do meio daqueles que serão alvos de sua ira. Agora, essa compreensão é expandida, mediante o reforço da noção de que essa distinção inclui uma proteção especial.
No livro de Apocalipse, em uma das visões que João recebe, o apóstolo contempla que enquanto os anjos tocam as trombetas que desencadeiam a execução do juízo divino, uma ordem é dada: que nenhum dano fosse causado "à erva da terra, nem a qualquer coisa verde, nem a árvore alguma (tudo isso representando a criação), e tão somente às pessoas que NÃO TÊM O SELO DE DEUS NA TESTA" (Ap 9.4).
Em Gênesis, quando Deus anunciou a destruição de Sodoma, Gomorra e algumas cidades no entorno, ele retirou do meio dessas cidades a Ló, sobrinho de Abraão, e ele contemplou ileso o fogo cair do céu e consumir as cidades.
Noutras palavras, a distinção redentiva que Deus nos concede, não é um indicativo apenas de que pertencemos a Deus, mas evidencia também a proteção e segurança que recebemos do Altíssimo de que o furor da justiça divina não nos atingirá.
Entretanto, é mister que saibamos que o selo do Espírito que assegura nossa proteção, só nos foi concedido porque fomos resgatados e restaurados como povo de Deus, mediante o sacrifício de Cristo. Se deixados em nossa condição natural, nós não poderíamos jamais nos identificar como povo de Deus, senão como egípcios, isto é, como rebeldes ao SENHOR. A pestilência gravíssima que o SENHOR derrama sobre este mundo, somente não nos atinge porque foi derramada antes sobre Cristo Jesus, aquele que nos remiu com seu sangue. O arraial da igreja é preservado, porque Cristo não foi. A peste não nos tocará, porque tocou e feriu o Senhor Jesus.
Conclusão
O salmo 91 (cuja autoria é por muitos atribuída a Moisés), resume e demonstra o tamanho da graça protetiva que recebe o povo de Deus:
O que habita no esconderijo do Altíssimo e descansa à sombra do Onipotente diz ao Senhor: Meu refúgio e meu baluarte, Deus meu, em quem confio. Pois ele te livrará do laço do passarinheiro e da peste perniciosa. Cobrir-te-á com as suas penas, e, sob suas asas, estarás seguro; a sua verdade é pavês e escudo. Não te assustarás do terror noturno, nem da seta que voa de dia, nem da peste que se propaga nas trevas, nem da mortandade que assola ao meio-dia. Caiam mil ao teu lado, e dez mil, à tua direita; tu não serás atingido. Somente com os teus olhos contemplarás e verás o castigo dos ímpios. Pois disseste: O Senhor é o meu refúgio. Fizeste do Altíssimo a tua morada. Nenhum mal te sucederá, praga nenhuma chegará à tua tenda. Porque aos seus anjos dará ordens a teu respeito, para que te guardem em todos os teus caminhos. Eles te sustentarão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra. Pisarás o leão e a áspide, calcarás aos pés o leãozinho e a serpente. Porque a mim se apegou com amor, eu o livrarei; pô-lo-ei a salvo, porque conhece o meu nome. Ele me invocará, e eu lhe responderei; na sua angústia eu estarei com ele, livrá-lo-ei e o glorificarei. Saciá-lo-ei com longevidade e lhe mostrarei a minha salvação.
YHWH é o Altíssimo à sombra do qual sua igreja descansa segura.