Gênesis 6.9-22

Gênesis - Toledot Livro 3  •  Sermon  •  Submitted   •  Presented
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Introdução: Breve contexto e tema do livro de Gênesis

Apesar de não se tratar de unanimidade entre os eruditos, creio termos evidências intrabíblicas suficientes para conferir a Moisés a autoria do primeiro livro da Bíblia, já no contexto de sua peregrinação no deserto à frente do povo de Israel, após a saída do Egito. Por outro lado, não há provas bastantes para inadmitir essa autoria. Assim, assumindo essa corrente, podemos inferir que os leitores de Gênesis foram primeiramente os hebreus libertos do cativeiro egípcio. Eles viveram por séculos em meio a um contexto extremamente idólatra, politeísta. Tem-se também conhecimento de cosmogonias já presentes no mundo antigo, pelo que relatos da criação do mundo conhecido provavelmente não eram algo estranho àquele povo. Assim, mediante o relato de Gênesis, Deus, por meio de Moisés, vem se revelar ao povo que Ele escolhera. Ele mostra, no relato da criação, que Ele é o único criador de todas as coisas conhecidas, principalmente da própria humanidade; mostra sua natureza completamente separada de qualquer outro ente; mostra seu caráter gracioso ao querer se relacionar com esse homem; mostra como o homem caiu em desgraça pela desobediência; mostra como Ele mesmo é misericordioso e se torna o provedor exclusivo da salvação a esse homem caído; mostra que é galardoador dos que o obedecem; mostra que é justo julgador dos que insistem em desobedecê-lo; mostra como escolheu uma linhagem santa, cujo traçado alcança o patriarca Abraão, e por fim o povo de Israel. Gênesis é o cartão de apresentação do Deus que agira com todo poder na libertação do povo hebreu, suplantando as divindades egípcias. Nele o povo deveria lançar sua confiança irrestrita.

Contexto textual anterior: os descendentes de Adão

O tomo anterior, a partir do capítulo 5.1 de Gênesis, fornece o traçado da linhagem de Adão até Noé, e demonstra que de fato há duas sementes paralelamente se desenvolvendo no mundo: a da serpente e a da mulher. Entretanto, o relato também evidencia que, mesmo a semente santa é incapaz de resistir inteiramente ou reverter os efeitos do pecado, de forma que o mal chega a tal ponto, intensidade e amplitude, que Deus intervém com um seríssimo ato de justiça e um esplendoroso ato de misericórdia e graça: o dilúvio. Moisés mostrava assim ao povo recém saído do Egito, leitores primários do texto de Gênesis, que o pecado está profundamente enraizado no homem e que este, por suas próprias forças, jamais conseguirá se desvencilhar dele. Mostrava ainda o terror de se estar afastado de Deus, e as nefastas consequências de uma vida de pecado. Por isso, fazer parte do povo escolhido de Deus é um privilégio incomparável, pois assim como Deus se aproxima de Noé para livrar a ele e sua família, enquanto semente santa, Deus se aproximou de seu povo para livrá-lo do jugo do Egito e fazer dele uma nação santa.

Ponto 1: O homem afastado do Deus verdadeiro está fadado à destruição

À destruição de seu semelhante (Gn6.11)
Gênesis 6.11 (NAA)
A terra estava corrompida à vista de Deus e cheia de violência.
O termo violência (חָמָס) pode ser usado ainda como crueldade ou injustiça. Alguns léxicos chegam a evidenciar o sentido de um contato físico, uma agressão fática. O pecado faz com que o homem criado por Deus para se relacionar com seu semelhante em amor, como um igual, e igualmente adoradores de seu Criador, passa a distancia-se cada vez mais desse ideal de Deus e seus planos originais. O texto mostrava ao povo de Israel como o homem afastado de Deus faz colapsar suas relações sociais, a ponto mesmo de se tornarem insuportáveis perante Ele. Esse povo deveria, portanto, atentar para não incorrer no mesmo erro: a desobediência às ordenanças divinas traz a destruição do semelhante, e por consequência, de toda a sociedade.
À destruição de si mesmo (Gn6.12)
Gênesis 6.12 (NAA)
Deus olhou para a terra, e eis que estava corrompida; porque todos os seres vivos haviam corrompido o seu caminho na terra.
O texto nos diz que todos na terra haviam corrompido seu caminho. Isso significa que, nada obstante a existência de uma semente santa, o pecado ganhou tal proporção, que traz uma sensação de completa desesperança, de falta de solução. Cresceu em intensidade, frequência e amplitude. O homem longe de Deus jamais resolveria o problema por si só. Seus passos só o levariam a prender-se mais e mais na lama, um abismo após o outro. Todo tipo de dano lhe sobreviria: espirituais, psíquicos, emocionais. Isso não quer dizer que o eleito de Deus não passaria por tais problemas: a grande diferença é que, na ocorrência deles, o Deus da paz estaria presente para aplacar a inquietude do coração. Confiar em si mesmo e na força de seu próprio braço é a fórmula infalível para a desgraça do homem. A mensagem é clara para aquele povo de Israel e para todo crente em todos os tempos: o homem afastado de Deus está fadado à autodestruição.
À destruição de seu ambiente (Gn6.13)
Gênesis 6.13 (NAA)
Então Deus disse a Noé:
— Resolvi acabar com todos os seres humanos, porque a terra está cheia de violência por causa deles. Eis que os destruirei juntamente com a terra.
Ao homem foi dado, por Deus, a função de vice-regente da criação. Deus prepara e torna habitável o mundo para receber a humanidade, os seres criados conforme sua imagem e semelhança. O texto de Is45.18 assim reforça esse entendimento. Assim, o homem deveria trabalhar a terra, cultivá-la e desenvolvê-la, explorando-a de forma consciente e proveitosa. Isso não significa, portanto, que a humanidade seria eternamente formada por agricultores ou pecuaristas, mas a relação do homem com seu habitat deveria ser respeitosa e não predatória. Ocorre que com o impacto do pecado, a relação do homem com o restante da criação também foi gravemente afetado. Já não há mais a consciência de uma interação sábia e proveitosa, e o homem passa a abusar cada vez mais de sua autoridade delegada pelo Criador, desfigurando o mandato cultural. Cabe lembrar ainda que a própria terra foi expressamente amaldiçoada por Deus, por causa do pecado do homem, conforme Gn3.17-18:
Gênesis 3.17–18 (NAA)
E a Adão disse:
— Por ter dado ouvidos à voz de sua mulher e comido da árvore que eu havia ordenado que não comesse, maldita é a terra por sua causa; em fadigas você obterá dela o sustento durante os dias de sua vida. Ela produzirá também espinhos e ervas daninhas, e você comerá a erva do campo.
Assim, cada homem do povo de Israel que marchava rumo à terra prometida por Deus, tendo tomando dessa forma conhecimento do mandato de Deus para o cuidado com a criação, deveria lembrar-se de sua função de vice-regente, retomando uma relação de domínio respeitoso e sábio. Não por acaso a própria legislação do pentateuco contém uma série de trechos acerca da relação do homem com a natureza, tais como as leis de descanso do solo continuamente cultivado. De fato, o homem afastado de Deus está fadado a destruir seu próprio habitat.

Ponto 2: O homem alcançado pelo Deus verdadeiro será agraciado com salvação

Deus vai ao encontro do homem (Gn6.13, Gn6.18)
Gênesis 6.18 NAA
Mas com você estabelecerei a minha aliança, e você entrará na arca, você e os seus filhos, a sua mulher, e as mulheres dos seus filhos.
Mas ante o cenário aterrador pintado até o verso 12 do capítulo 6, eis que Deus vem ao encontro de Noé. No verso 12 está escrito que Deus olha para a terra completamente corrompida. E qual seu ato contínuo? Acaba com tudo, manda fogo dos céus, abre um abismo na terra pra engolir todos? Não. A Bíblia nos diz que Deus vai até Noé para fazer cumprir sua promessa de dar continuidade à descendência santa. Deus graciosamente mantém a salvo Noé e sua família. Deus não pode conviver com o pecado, e ao sentir-se intensamente triste com o nível de devassidão e declínio moral da humanidade (Gn6.6), decide castigá-la severamente, mas não antes sem prover salvação por meio de Noé. Assim também o povo judeu que saía do Egito como povo escolhido de Deus, separando-o para que lhe fosse povo santo. A obediência traria as bênçãos da Aliança. O verso 9 diz que Noé era “justo e íntegro”, e ainda que Noé “andava com Deus”. O povo de Israel deveria ser uma luz no mundo, um candeeiro nas trevas. Deveria andar com Deus. Isso se aplica a nós ainda hoje. É testemunho em um mundo mau.
Deus estende a bênção da preservação aos animais (Gn6.19-20)
Gênesis 6.19–20 (NAA)
De todos os seres vivos, você fará entrar na arca dois de cada espécie, macho e fêmea, para conservá-los vivos com você. Das aves segundo as suas espécies, do gado segundo as suas espécies, de todo animal que rasteja sobre a terra segundo as suas espécies, dois de cada espécie virão a você, para que sejam conservados vivos.
Assim como demonstrou misericórdia para com a humanidade, nada obstante a terrível ofensa que essa lhe causou, Deus também resolve compadecer-se dos animais que havia feito, com a finalidade de lhes conservar (preservar) a vida. Assim, Deus aumenta o escopo do objeto de seu livramento. É sugerível que o tenha feito também por causa de sua promessa de manutenção de uma linhagem santa. Isto é, ao manter seus vice-regentes, Deus também mantém a criação, de forma que o homem continuou a exercer-lhe domínio.
Noé se torna um arauto de bênção e maldição (Gn6.22)
Gênesis 6.22 (NAA)
Foi o que Noé fez. Conforme tudo o que Deus lhe havia ordenado, assim ele fez.
Não sabemos quanto tempo Noé passou construindo a arca. Tratava-se de uma obra de proporções gigantescas, num mundo em que não havia qualquer máquina para cortar as árvores, levar as toras de madeira, lixar, pregar. Mas as Sagradas Escrituras comparam os dias de Noé ao dia em que o Senhor Jesus retornará, relacionando-os sob a ótica da incredulidade dos ímpios e sua insensibilidade à palavra, uma vez que, nada obstante a contínua pregação do evangelho, permanecem com seus ouvidos fechados, deliberadamente. A cada batida do martelo na construção da arca, Noé proclamava o juízo de Deus sobre a humanidade. A pregação do arrependimento ecoou durante todo o tempo até que a arca estivesse pronta. A adesão à mensagem de Noé significaria converter-se de seus maus caminhos, reconhecer sua completa dependência de Deus, o que implicaria livramento. Por outro lado, ignorar a mensagem leva a caminhos de morte e destruição. Noé se torna um arauto tanto para bênção quanto para maldição. O povo de Deus que saiu do Egito tinha diante de si a Lei, à qual deviam obedecer para vida; do contrário, a desobediência levaria à morte, castigo iminente, como de fato aconteceu séculos à frente por ocasião do cativeiro. Igualmente, Israel seria plantado num local estratégico, intensa rota comercial, com a função de disseminar a pregação do arrependimento e de retorno ao Deus criador de todas as coisas, uma voz missionária às nações.

Aplicações: o que faremos?

Reconhecer nossas tendências autodestrutivas oriundas do pecado
Entender que o modus operandi de Deus às vezes pode parecer desgastante, mas perseverar é recompensador
Atender ao chamado perene de ser um arauto de Deus num mundo que jaz no maligno
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