Atos 7.44-53

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O autor divino/humano estabelece o próximo ponto da exemplificação do testemunho cristão a ser prestado pela igreja, apresentando a pessoa e obra de Cristo, conforme prevista no Antigo Testamento e anunciada pelos profetas, a qual é também resistida por aqueles que desconhecem o desdobramento das ações redentivas do SENHOR, que culminam com a chegada do Justo: o Senhor Jesus.

Notes
Transcript
"(…) E sereis minhas testemunhas (…) até aos confins da terra" (Atos 1.8).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
No registro da parte final do argumento de Estevão, através do qual procurar defender-se das acusações de subversão dos costumes mosaicos e do templo, como aclarado anteriormente, Lucas agora centraliza o último ponto da prédica do diácono diante das autoridades judaicas.
Como salientado, a ênfase de Lucas é usar a narrativa da defesa de Estevão para demonstrar o modelo do testemunho cristão na apresentação da pessoa de Cristo Jesus; isto feito sob o fogo da resistência dos líderes de Israel que, à semelhança dos pais no passado, rejeitaram aquele que fora enviado como chefe e libertador do seu povo, não mais da escravidão do Egito ou de quaisquer outras ameaças, senão do pecado e da morte.
Essa resistência é agora retratada por Estevão a partir da observação do tabernáculo e seu real significado para o povo de Israel; significado ignorado pelo pelo povo no passado, à semelhança do que estavam fazendo os anciãos de Israel no contexto relatado.
A passagem agora é divida em dois momentos, quais sejam: a demonstração da ação divina em favor do povo, por meio do tabernáculo e sua representação da obra redentiva (vv. 44-50), e a acusação final de Estevão contra as autoridades judaicas de resistência ao Espírito Santo que, por meio de todas as referências anteriores, comunicadas através dos profetas que foram perseguidos pelos pais daqueles que agora também manifestavam rejeição ao Senhor Jesus Cristo, anunciou a vinda deste (vv. 51-53).
Lucas registra cuidadosamente as palavras finais de Estevão, ressaltando sua inocência das acusações contra ele feitas por aqueles que estavam opondo-se à Lei, ao templo, e finalmente, contra aquele para onde todas essas coisas apontavam; Jesus Cristo, o enviado de Deus a partir do Espírito Santo, como mencionado pelos profetas. O testemunho cristão de Estevão registrado por Lucas mostra que este, além de ter rebatido as acusações dos anciãos de Israel, apresentou o Senhor Jesus Cristo como aquele a quem os homens, desprovidos do favor divino de terem seus ouvidos desimpedidos para ouvirem o chamado à salvação, resistem; aquele que foi enviado como o verdadeiro tabernáculo de Deus para o meio de seu povo.
Observando essas considerações, o texto de Atos 7.44-53 elucida como ideia central o modelo de testemunho cristão: a apresentação da pessoa e obra de Cristo como centro do testemunho da igreja — Cristo; o verdadeiro tabernáculo de Deus e o justo enviado.
Elucidação
Considerando as informações introduzidas, passaremos a considerar a presente passagem a partir dos dois pontos que a compõe.
1. (vv.44-50): A demonstração da ação divina em favor do povo por meio do tabernáculo e sua representação da obra redentiva.
Tal como fez a partir dos exemplo anteriores, Estevão mantém sua argumentação girando em torno dos momentos decisivos demarcados por Deus ao longo da história de seu povo, nos quais estabeleceu as alianças que proporcionaram as informações necessárias para que o mesmo pudesse aguardar o clímax da obra redentiva. No entanto, a tônica do diácono é também demonstrar a resposta negativa do povo no passado em relação ao SENHOR; ao invés de crerem e obedecerem a Deus, os pais, ao longo do tempo, rejeitaram aqueles que foram enviados como emissários da palavra divina que os direcionava à salvação, como foi no caso de José e Moisés.
A partir deste ponto, um terceiro exemplo é dado, desta vez, tão ou mais explícito quanto o anterior, no que se refere a defesa de Estevão. O próprio tabernáculo é mencionado, tendo em vista que ficasse evidente que a vontade do SENHOR era que o povo visse no mesmo um apontamento da obra futura que seria realizada mediante a chegada do Justo (cf. v. 52).
Estevão começa, no versículo 44, conectando o tópico do tabernáculo ao momento de sua instituição por ocasião da mediação de Moisés, o que reforça o fato de que verdadeiramente a Lei e o Templo estavam unidos como princípio normativo do relacionamento entre Deus e seu povo. Como registra Lucas a partir do versículo 44:
Atos dos Apóstolos 7.44–45 ARA
O tabernáculo do Testemunho estava entre nossos pais no deserto, como determinara aquele que disse a Moisés que o fizesse segundo o modelo que tinha visto. O qual também nossos pais, com Josué, tendo-o recebido, o levaram, quando tomaram posse das nações que Deus expulsou da presença deles, até aos dias de Davi.
A menção ao tabernáculo ter estado no deserto, une-se aos argumentos anteriores que desprendem a ação redentiva do SENHOR de qualquer apego à terra de Israel. Por exemplo, Abraão estava noutra terra quando Deus o chamou (v.2), e Moisés nasceu no Egito e foi criado pela filha de Faraó (i.e. uma estrangeira) (vv.20-21). Com isso, Estevão novamente prova sua inocência de perversão ao Templo e à Lei, enfatizando que a argumentação do líderes de Israel desconsiderava a origem do tabernáculo. Os costumes relacionados ao Templo que aqueles homens tinham em mente, foram aqueles estabelecidos pelos anciãos anteriores, os quais eram posteriores a construção do tabernáculo que esteve com os pais ao longo de sua peregrinação no deserto, e ao longo da terra de Canaã, no momento em que Josué a estava conquistando.
Não obstante, num dado momento, Davi intentou construir uma casa ao SENHOR (v.46), algo que apenas seu filho, Salomão, realizou (v.47). Contudo, mesmo tendo o Templo sido construído, uma assertiva da parte de Deus estabelece uma compreensão mais aprofundada sobre o que ele representa.
Citando o texto de Isaías 66.1-2, Estevão enfatiza que a grandeza do SENHOR e sua soberania sobre todas as coisas que ele criou, tornava ilógico que ele habitasse numa casa, circunscrevendo sua presença à um único lugar. Isso, conectado a citação da construção do templo pela linhagem de Davi, focaliza o uso do tabernáculo como representando a ação redentiva do SENHOR de habitar no meio do seu povo, por ocasião da chegada daquele ente prometido para reinar eternamente sobre o povo de Deus, assentado-se no trono de Davi, conforme fora prometido pelo próprio SENHOR em 2Sm 7.5-16.
Os anciãos de Israel, acusando Estevão de, por pregar o evangelho, vilipendiar o Templo e a Lei, demonstravam, como já apontado, um profundo desconhecimento do que de fato significava o tabernáculo. A casa real de Davi fora escolhida para ser a representante do próprio trono do Altíssimo onde se assentaria o Messias, como já referido. Assim, o tabernáculo ter sido construído pelo filho de Davi, Salomão, era um símbolo da aliança divina que reforçava a promessa da redenção.
Não entender essa mensagem ou referência, e impedir que outros a fizessem, como era o caso do Sinédrio, era incorrer num grave erro; isto é, contrapor-se a obra salvadora que Deus agora estava anunciando por intermédio de Estevão, dos apóstolos e da igreja, e ressaltando a resistência tola dos anciãos, Estevão progride sua fala de uma defesa para uma acusação contra os líderes de Israel: à semelhança do que fizeram os pais no passado, rejeitando aqueles que representaram a ação divina de salvação (e.g. José, Moisés, e agora, o tabernáculo), aqueles homens estavam ironicamente (tendo em vista que acusavam Estevão disso) se colocando como estranhos à obra divina e desrespeitando o que ela, segundo a Lei e o Templo, apresentava, como passa a enfatizar na segunda parte de sua fala.
2. (vv. 51-53): A acusação final de Estevão contra as autoridades judaicas de resistência ao Espírito Santo.
A dura acusação de Estevão explicita a situação daqueles homens diante de Deus:
Atos dos Apóstolos 7.51 ARA
Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvidos, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim como fizeram vossos pais, também vós o fazeis.
Ao chamar os líderes judaicos de incircuncisos, Estevão reverte a denúncia contra os próprios anciãos. Eram eles que na verdade estavam pervertendo a Lei de Moisés e o que representava o Templo; eles é que agora estavam se colocando como inimigos de Deus, pois atentavam contra a verdade do Evangelho promovida pelo Espírito Santo, assim como os pais fizeram no passado, perseguindo os profetas enviados da parte do SENHOR para lhes mostrar o caminho da salvação.
Simon Kistemaker, comentando a terminologia que Estevão usa contra o Sinédrio, explica:
Para os judeus, o termo incircunciso se refere a todas as pessoas que não fazem parte da aliança firmada com Abraão. (…) Assim, para Estêvão dizer que seus ouvintes eram incircuncisos equivalia a dizer que eles eram gentios. Mas ele está usando as palavras que Deus empregou para descrever os israelitas no deserto e que os profetas usaram quando os judeus se encontravam exilados. Deus instou com o povo judeu para que circuncidassem o coração (Dt 10.16, 30.6; Jr 4.4), querendo dizer que deveriam abrir o coração e os ouvidos para ouvir obedientemente os mandamentos de Deus.
Com esses termos do Antigo Testamento, Estêvão declara que seus ouvintes se acham fora da aliança, porque, por se recusarem a ouvir a Palavra de Deus, eles quebraram seus compromissos. Eles têm o sinal exterior no corpo físico, mas falta-lhes o sinal interior – um coração regenerado pelo Espírito Santo (KISTEMAKER, 2016, p.351).
Isto posto, é também interessante ressaltar novamente a intenção de Lucas ao registrar esse longo discurso de Estevão. Desde o capítulo 3 e 4 do texto de Atos, Lucas vem demonstrando como a igreja de Cristo tem se deparado com homens que colocam-se como obstáculos à fruição de sua missão como testemunha de Cristo na difusão do chamado à salvação. Entretanto, essa resistência, segundo o uso que Lucas faz da narrativa da defesa de Estevão e de todos os episódios anteriores, não possui um respaldo legítimo, principalmente levando em consideração o protesto dos anciãos dos judeus. Eles alegavam que os apóstolos estavam colocando-se contra a Lei, ou, como no caso de Estevão, subvertendo os costumes mosaicos e a santidade do templo. Todavia, como já proposto, o testemunho do evangelho conforme agora prestado pela igreja, correspondia na verdade ao fluxo normal tencionado por Deus para que a obra redentiva seguisse.
Como o próprio Estevão coloca, os profetas anunciaram a vinda do Justo, e a menção do diácono à mensagem profética é expandida ao enfatizar que os pais no passado mataram “os que anteriormente anunciavam” (gr. τοὺς προκαταγγείλαντας) tal momento. Naturalmente a referência primeira da expressão usada por Estevão, alude diretamente aos profetas, mas inclui também os exemplos antes mencionados, como José, Moisés, e agora, o próprio tabernáculo, segundo já frisado.
A chegada do Justo não é uma ocorrência nova ou inédita, nunca antes predita por Deus no passado. Logo, os líderes judaicos não estavam defendendo a Lei ou o Templo, mas sim, insurgindo-se contra a obra do Espírito Santo, à imagem dos que, no passado, ousaram rejeitar os profetas (v.51). O sinédrio judaico na verdade era composto por, segundo as palavras do próprio diácono, “traidores e assassinos (v.52)”; homens que voltaram-se contra Cristo, tendo matado-o de maneira iníqua, pois arrogando serem cumpridores da Lei, tendo recebido “a lei por ministério de anjos (aqui podendo essa palavra significar mensageiros; uma referência aos profetas) e não a guarda[ram]” (v.53).
Transição
A defesa de Estevão, como salientado nas análises anteriores, é usada por Lucas como um molde para a igreja com relação ao testemunho a ser prestado diante do mundo. A apresentação da pessoa e obra de Jesus Cristo é o ponto central do evangelho, o que circunscreve a comunicação da mensagem salvadora.
Que esse ministério será exercido mediante forte oposição, já ficou evidente mediante os relatos das perseguições empreendidas pelos anciãos de Israel nos capítulos anteriores. Todavia, um desdobramento final no que tange essa resistência é elucidado por Lucas, tendo em mente dois propósitos: 1) clarificar que essa resistência não é legítima. Os cristãos não devem duvidar de que a mensagem do evangelho corresponde verdadeiramente à vontade do Espírito Santo, conforme predita e anunciada pelos profetas outrora, pois a chegada do Justo era o tema da mensagem dos mesmos profetas. 2) Confirmar que tal oposição não surtiria o efeito pretendido, muito pelo contrário, como será visto na seção posterior, a perseguição contra a igreja a faz encaminhar-se ao cumprimento do que fora dito pelo Senhor Jesus: de que seus discípulos seriam suas testemunhas até aos confins da terra (At 1.8), o que acontecerá na sequência, conforme mostrará o capítulo 8.
Com isso em mente, o registro da defesa de Estevão, enfatiza que a fidelidade ao testemunho cristão, resulta na demonstração da verdade gloriosa do chamado divino à salvação, operado pelo poder do Espírito Santo, que revela Cristo Jesus; o justo enviado da parte do Pai, segundo prometido ao longo de todo o Antigo Testamento, e essa conclusão por seu turno, direciona a igreja contemporânea a observação das seguintes aplicações do texto de Atos 7.44-53:
Aplicações
1. O anúncio da pessoa e obra de Cristo prestado pela igreja, conforme avalizado pelas Escrituras, corresponde ao que comunicaram os profetas no passado, e consequentemente, é o cumprimento do Antigo Testamento em suas figuras e tipos.
Estevão demonstrou que as acusações que fizeram contra ele, estavam fundamentadas numa ótica errônea das ações do SENHOR ao longo do Antigo Testamento, os quais usou os personagens e figuras mencionados para apontar para a chegada de seu Filho Bendito, o Justo Redentor de seu povo.
A transmissão do evangelho que a igreja presta hoje, consiste basicamente na reprodução da mesma mensagem que o diácono exprimiu segundo o registro lucano. José, Moisés, Davi, o Tabernáculo, o Êxodo, além de todos os profetas bíblicos, prepararam (ou pelo menos foram estabelecidos para) o coração do povo para o apogeu da obra redentiva: a vinda de Jesus Cristo, aquele que, mediante seu sacrifício (ocasionado pela traição e assassinato de homens que, tal como hoje, resistem ao Espírito Santo), perdoou nossos pecados e desobstruiu nossos ouvidos para atendermos ao chamado à salvação.
Apresentando Cristo a partir do que demonstra as Escrituras, certamente estaremos testemunhando do evangelho, tal como fizeram os apóstolos e Estevão que, de acordo com esta seção, declarou que Cristo é o verdadeiro tabernáculo de Deus entre os homens.
A presença gloriosa do SENHOR que não pode ser contida por uma construção humana, veio até nós através de seu Filho, o Rei que construíu uma casa ao SENHOR: a igreja; templo e morada do Espírito Santo. Essa é a mensagem para a qual fomos chamados a testificar.
2. A resistência dos homens à essa mensagem, é uma oposição ao próprio Espírito Santo, pois em sua incircuncisão de coração, não conseguem vislumbrar a chegada do Justo, (i.e. Jesus Cristo) como apogeu e cumprimento da obra redentiva.
Nada obstante, ainda que preguemos tal mensagem de maneira fiel ao relato bíblico, isso não significa que os homens a aceitarão de pronto. Como visto a partir da seção anterior e será enfatizado na seguinte, muitos, tendo o coração duro, se oporão ao Espírito Santo, virando às costas a mensagem da salvação publicada pela igreja.
Um exemplo disso é deixado pelo próprio Estevão: os pais no passado, estiveram na presença dos profetas; viram o tabernáculo ser erguido, mas ainda assim afastaram-se do SENHOR. Os líderes de Israel de igual forma, apesar das incontestáveis provas de que laboravam em grande erro, ao resistirem a pregação do evangelho através de Estevão, em seus corações incircuncisos se opuseram ao Espírito Santo, com o agravante de terem recebido a Lei mediante os mensageiros divinos.
Os homens, deixados ao curso de suas naturezas corrompidas, colocar-se-ão sempre contrários aquilo que realiza o Espírito Santo, e somente o mesmo Espírito pode reverter essa condição contumaz.
A compreensão dessa realidade, todavia, não paralisará a igreja, pois, a oposição virá de alguns; outros, terão sua dureza vencida, sendo atraídos à Cristo pelo Espírito Santo por meio do testemunho da igreja.
Conclusão
O discurso de Estevão exemplifica o testemunho cristão a ser prestado pelos discípulos de Cristo: a apresentação da pessoa e obra do Senhor Jesus que, embora seja resistida por aqueles que não tiveram seus corações circuncidados, aponta para a chegada o Justo Redentor da igreja: aquele que veio ser a habitação de Deus entre os homens.
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