Êxodo 10.1-20

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O autor divino humano ressalta o aspecto cúltico do serviço ao SENHOR a ser prestado por seu povo, destacando a corporatividade da adoração; princípio que enfatiza a exigência divina de que todo o seu povo, incluindo os filhos da aliança, compareçam diante dele.

Notes
Transcript
"São estes os nomes..." (Êx 1.1).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
Avançando no registro e narrativa da oitava praga executada contra Faraó e os egípcios, tendo em vista manterem cativos os filhos de Israel, Moisés apresenta a ênfase que centraliza suas intenções exortativas através do texto.
O presente relato segue o padrão da execução dos flagelos anteriores, sobretudo levando em consideração a intenção divina de tornar seu nome célebre sobre todas as nações da terra, como fora enfatizado na seção anterior. Entretanto, além da glória do seu nome, atrelado inclusive ao aspecto redentivo do conhecimento de Deus divulgado a partir da realização dos sinais que está fazendo no Egito (cf. 8.14,16), a centralidade do serviço de adoração a ser prestado pelo povo de Israel a Deus, é novamente trazido à baila da narrativa, com uma especificidade: o princípio da corporatividade da adoração.
A repetição da vontade divina de que toda a terra saiba que ele é o SENHOR (cf. v. 2) é expandida, ao ter Deus comunicado a Moisés que os sinais e maravilhas que realizara, também deverão ser contados "a teus filhos e aos filhos de teus filhos". Essa observação salienta o uso didático da ação divina para o aproveitamento de todo o povo de Israel, inclusive dos filhos (no caso, as crianças), que deverão também participar da adoração que o SENHOR fará com que aconteça, mediante a libertação da escravidão.
A resposta de Moisés à pergunta do Faraó (i.e. "quais são os que hão de ir?" (cf. v.8)), focaliza a importância de que todo o povo de Deus esteja envolvido e comprometido em adorar e cultuar ao SENHOR. Deverão estar presentes "os nossos jovens, e (...) os nossos velhos, e (...) os filhos, e (...) as filhas, e (...) os nossos rebanhos, e (...) os nossos gados" (v.9). Por outro lado, a artimanha do monarca egípcio em impedir que isso ocorra (cf. vv.10-11), revela que na verdade ele tinha más intenções contra o povo, pois não estava verdadeiramente convencido a deixar ir livre os hebreus, em atendimento ao édito de YHWH.
Desse modo, o ponto central da narrativa gira em torno da exposição da intenção do autor divino/humano do princípio da participação integral do povo de Deus na adoração por ele ordenada, e também da demonstração da tentativa dos que se rebelam contra a publicação da glória de Deus por instrumentalidade desse serviço de adoração, de minar e fragmentar o mesmo povo, desconfigurando assim a ordem divina, o que por seu turno, obstrui (pelo menos é isso que tentam) o plano redentivo de ser plenamente fruído.
Com base nessas observações, a tese central do texto de Êxodo 10.1-20 pode ser sintetizada a partir da seguinte proposição: a declaração da soberania do SENHOR na Redenção do seu povo: a oitava praga - YHWH, o Deus adorado por seu povo (pt 1).
Elucidação
Segundo já salientado reiteradamente, a apresentação da ordem divina de que Moisés vá à presença do Faraó e lhe comunique sua vontade, geralmente carrega em si o tópico ou introdução do princípio a ser explicitado pelo autor ao longo das seções que registram a execução dos flagelos divinos. No texto em análise, tal ênfase é atrelada ao tópico elucidado na seção anterior, como visto no versículo 1:
Êxodo 10.1 ARA
Disse o Senhor a Moisés: Vai ter com Faraó, porque lhe endureci o coração e o coração de seus oficiais, para que eu faça estes meus sinais no meio deles,
Por ocasião da chuva de pedras (bem como das demais pragas; anteriores e posteriores) o SENHOR manifestou a soberania do seu braço sobre toda a terra, tornando conhecido seu nome; o que, como introduzido, também resultou em que muitos dos oficiais de Faraó “que temi[am] a palavra do SENHOR” (cf. 9.20), fossem poupados daquela praga, à semelhança dos hebreus. Agora, essa mesma tônica é repetida, com um detalhe adicional: a preocupação do SENHOR é que não somente seu povo e toda a terra o veja como único soberano, mas também que tal conhecimento seja comunicado “a teus (i.e. de Moisés e de todo o povo de Israel) filhos e aos filhos de teus filhos” (v.2).
A especificação divina quanto ao alcance da obra redentiva mediante a reprodução do relato da libertação de Israel da escravidão do Egito aos filhos dos hebreus, enfatiza a abrangência da ação, e neste caso, o termo “filhos”, deve ser compreendido como “crianças” (cf. v. 10) ou no mínimo, os jovens na idade da adolescência (Léxico Lexham da Bíblia Hebraica (Bellingham, WA: Lexham Press, 2020); argumento reforçado principalmente tendo em vista a lista que é apresentada ao Faraó posteriormente, na qual Moisés descreve representativamente todo o povo (cf. v.9).
Jungido a isso, outro objetivo divino anexo à obra salvífica executada pelo SENHOR é também retomado: o aspecto cúltico do serviço que deverá ser prestado pelo povo no deserto, quando forem finalmente libertados por Deus, como descreve Moisés no versículo 3:
Êxodo 10.3
Apresentaram-se, pois, Moisés e Arão perante Faraó e lhe disseram: Assim diz o Senhor, o Deus dos hebreus: Até quando recusarás humilhar-te perante mim? Deixa ir o meu povo, para que me sirva.
Além da ordem de libertação, eis a razão para apresentação da próxima praga: se Faraó não libertar o povo para que o mesmo obedeça ao SENHOR, cultuando-o como determinado, Deus haveria de puni-lo trazendo gafanhotos que cobririam a terra do Egito (cf. 4-6). Assim, os dois princípios fundem-se na passagem, delineando a intenção exortativa do autor direcionada ao seu público-alvo.
A obra redentiva executada pelo SENHOR tem como efeito último a promoção da glória do seu nome sobre toda a terra, mas tal intento também está ligado a união entre Deus e seu povo por ocasião da adoração e serviço ordenado a este. Todavia, este último aspecto da ação salvadora do SENHOR possui como condição sine qua non a participação do número integral do povo no exercício do serviço; condição que Faraó novamente tenta impedir que seja atendida, manifestando outra vez instransigência para com a vontade do Altíssimo, como é registrado a partir do versículo 7.
Ao ter saído da presença de Faraó, Moisés registra que os próprios oficiais (provavelmente os que antes foram destacados como os que não se importavam com a palavra de Deus (cf. v.21)), indagam o Faraó quanto a sua insistência em não deixar ir o povo de Israel, propondo, porém, que o rei deixe ir apenas os homens dos hebreus, como segue:
Êxodo 10.7 ARA
Então, os oficiais de Faraó lhe disseram: Até quando nos será por cilada este homem? Deixa ir os homens, para que sirvam ao Senhor, seu Deus. Acaso, não sabes ainda que o Egito está arruinado?
Ouvindo a proposta de seus auxiliares, Faraó indaga a Moisés quanto a quem dos hebreus deve partir, ao que o profeta responde: “Havemos de ir com os nossos jovens, e com os nossos velhos, e com os filhos, e com as filhas (…)”(v.9), ou seja, da criança ao ancião, todo o povo de Deus (incluindo até suas propriedades) deve estar presente no momento em que o SENHOR será servido/adorado no deserto. Nesse ponto, a artimanha do Faraó é revelada, pois, alegando falsamente que Moisés não havia informado (embora todas as vezes que esteve em sua presença, o profeta notificou ao rei que a vontade divina era que ele deixasse ir livre “o povo”, ou seja, todos) que a totalidade dos filhos de Israel deveria ser liberto, o mandatário proíbe que as crianças estejam entre aqueles que sairão do Egito (v.11).
Em resposta a essa oposição, Moisés registra que o SENHOR, tal como prometera, executa o flagelo mencionado. Do verso 12 ao 16, o autor registra que Deus fez soprar um vento oriental, que trouxe uma nuvem de gafanhotos que “devoraram toda a erva da terra e todo o fruto das árvores que deixara a chuva de pedras” (v.15).
A execução da praga nesse caso, como dito, é uma resposta não somente à resistência do Faraó em deixar ir livre os filhos de Israel, mas anexa, como agravante, a tentativa vil do rei egípcio de profanar o culto ao SENHOR ou impedir seu funcionamento adequado à vontade divina, através da tentativa de roubar os filhos (i.e. crianças) de Israel do culto público ao SENHOR. Se as crianças não estivessem presentes no culto, isso acarretaria diversas dificuldades que poriam em cheque a própria proclamação da glória de Deus mediante o serviço prestado por seu povo, dentre elas, três (embora possam haver outras) podem ser destacadas como as mais severas: 1) o culto seria desconfigurado. Se Deus desejava que todo o seu povo lhe servisse, como tem sido repetidas vezes anunciado, a ausência de uma parte desse povo obstruiria o exercício de adoração de ser prestado em sua inteireza, invalidando-o. 2) Corromperia a fruição do aspecto pactual-redentivo da ação do SENHOR. A revelação dada através de Moisés explicitou que YHWH libertaria seu povo para que este o servisse/cultuasse, como cumprimento da aliança abraâmica (Gn 15.12-15). Se uma parte do povo, isto é, as crianças, ficasse no Egito, isso demonstraria a incapacidade do SENHOR de libertar a todos, e a obra salvadora não alcançaria sua plenitude, fazendo Deus descumprir sua palavra. 3) Culminaria na destruição dos filhos de Israel (ou pelo menos de uma considerável parte). Ligado a segunda consequência do impedimento à participação das crianças no culto, se os filhos da aliança não fossem libertos para estar junto com todo o povo na adoração ao SENHOR, permanecendo presos no Egito, isso reduziria a posteridade dos hebreus apenas àqueles filhos que lhes nascessem no deserto. Ou seja, enquanto uma grande parte dos herdeiros da promessa abraâmica seriam deixados na escravidão, outra parte (de número consideravelmente menor) é que representaria o povo em termos das próximas gerações. O povo de Deus seria drasticamente reduzido à um punhado.
O estratagema faraônico demonstra que na verdade era ele quem detinha no coração más intenções (cf. v. 10) para com Deus e seu povo. O rei do Egito e seus oficiais novamente se insurgiram contra o SENHOR (embora os oficiais tenham, aparentemente, compreendido que não podiam efetivamente impedir a ação do braço de YHWH), e de maneira vil, como desde o começo da saga tem sido, se insurgem contra o plano redentivo, buscando impedir seu gozo. Sua tática agora é, covardemente, solapar a redenção de Israel e a celebração do nome de YHWH como soberano sobre toda terra, voltando-se contra as crianças, roubando-as do culto público.
Como já visto, a resposta divina foi destruir aquilo que havia restado da praga anterior: os gafanhotos devoraram toda a plantação, causando grande ruína ao Egito. Vendo tamanho estrago, novamente Faraó admite a impiedade de suas ações: “Então, se apressou Faraó em chamar a Moisés e a Arão e lhes disse: Pequei contra o SENHOR, vosso Deus, e contra vós outros” (v.16).
Levando em consideração o que o SENHOR havia dito a Moisés, de que endureceria o coração de Faraó, para que com isso seu poder fosse manifesto (cf. 7.3), as oscilações no coração do monarca também podem ser interpretadas como o peso da mão de YHWH contra ele. Embora seja expectador da grande destruição que assola sua nação, Faraó nada pode fazer senão reconhecer sua condição contumaz diante do Deus do hebreus, sem contudo, poder demover-se genuinamente em arrependimento. Noutras palavras, esta última demonstração de remorso do rei egípcio, diante de seu pecado contra Deus, não sendo legítima, só o destaca como estando debaixo do julgamento divino; condição da qual não pode sair até que o SENHOR conclua toda sua obra.
Moisés, ouvindo o clamor do rei que lhe suplicava a trégua da praga, roga ao SENHOR que retire os gafanhotos de sobre a nação egípcia, ao que Deus o atende, como descrito no versículo 19:
Êxodo 10.19 ARA
Então, o Senhor fez soprar fortíssimo vento ocidental, o qual levantou os gafanhotos e os lançou no mar Vermelho; nem ainda um só gafanhoto restou em todo o território do Egito.
Nada obstante, o texto enfatiza a condição contumaz na qual encontra-se o Faraó, como expressão do julgamento divino, ao repetir que “o SENHOR, porém, endureceu o coração de Faraó, e este não deixou ir os filhos de Israel” (v.20). O rei do Egito está de fato fadado a contemplar a glória do SENHOR humilhá-lo (cf. v.3) por ocasião da libertação dos hebreus para adorarem o seu Deus.
Transição
A fusão dos princípios da proclamação da glória divina sobre toda terra, mediante o serviço de adoração a ser prestado pelo povo de Deus, é a síntese do texto de Êxodo 10.1-20. Todavia, a difusão dessa ideia está atrelada à compreensão de que a fruição desse propósito, enleva em si o atendimento de alguns critérios estabelecidos pelo próprio SENHOR.
Deus exalta seu nome através da criação; por meio da obra da redenção, mas também mediante o serviço que é prestado pelo povo que ele mesmo escolheu para remir e pertencer-lhe como propriedade exclusiva; serviço que inclui a adoração corporativa, isto é, o comprometimento e participação do número total dos que foram alvos da graça salvadora de YHWH.
Segundo já demonstrado, o impedimento do cumprimento deste último critério, põe em risco a execução do plano redentivo como um todo. Ou seja, se uma parte do povo é obstruída de atender ao chamado divino de lhe prestar festa (cf. v. 9), a difusão da glória de Deus por intermédio tal instrumento é comprometida, acarretando por sua vez, na não fruição desse intento.
Do ponto de vista divino, nada há que possa interromper ou mesmo atrapalhar o SENHOR de lograr êxito em quaisquer de seus planos; o que não quer dizer, de contra partida, que não hajam no mundo quem busque impedir a igreja de obedecer ao imperativo de curvar-se ante Sua Majestade no momento de culto e adoração; sobretudo, atacando os filhos dos próprios salvos, que juntamente com seus pais, formam o povo da aliança, como foi o caso de Faraó na presente passagem.
O autor divino/humano exorta a igreja de Deus à compreensão do princípio de que o culto é uma das maneiras determinadas e escolhidas pelo SENHOR para fazer seu nome ser enaltecido sobre toda a terra, e ele mesmo estabeleceu como critério inexorável que todo o seu povo, incluindo os filhos dos crentes, estejam envolvidos nesse serviço solene.
Tal ênfase exortativa, extraída do texto de Êxodo 10.1-20, pode ser desdobrada nos seguintes pontos:
Aplicação
1. O serviço de adoração (culto) prestado pela igreja ao SENHOR, é uma das formas através das quais Deus glorifica seu nome.
Ao entrarmos no culto a sensação que temos é a de que estamos adentrando uma espécie de “bolha”, isto é, estamos adentrando um local completamente a parte do mundo lá fora, e que o que fazemos aqui dentro não possui qualquer impacto na vida dos não-crentes. Essa impressão nos ocorre por que pensamos que o único modo de impactarmos a vida de um indivíduo, é agindo diretamente em relação a ele, ou seja, comunicando-nos ou chamando a atenção dele. Isto pode ser verdade no que se refere à esfera humana, pois estamos limitados à externalidade do processo comunicativo. Todavia, ao olharmos para o texto e compreendermos que o culto é um dos instrumentos divinos de proclamação de sua glória, percebemos que essa não é uma dificuldade sofrida por Deus.
A reunião solene ordenada ao povo de Deus, ocorre simultaneamente em várias partes do mundo. Domingo após domingo, os eleitos de Deus, de todas as partes da terra, reúnem-se para prestar culto e louvor ao único que é digno de toda adoração, e do reconhecimento de sua soberania e majestade. A mensagem que a igreja passa para o mundo, quando se congrega em volta do nome do SENHOR, é a de que o centro do universo é o próprio Deus; aquele que liberta seu povo da escravidão do pecado e da morte e o direciona a si, para relacionar-se com seu povo por toda a eternidade. Além disso, há uma testificação subjetiva operada pelo Espírito Santo. Os homens lá fora sabem o que estamos fazendo aqui, e isso é uma das tantas formas de o SENHOR tornar célebre o seu nome sobre toda a terra.
Se compreendermos o que está em jogo quando entramos nesse ambiente solene de culto, jamais olharemos para ele como algo de somenos importância. Estamos aqui reunidos para dar glória a Deus, isto é, para proclamar entre nós e para todos os que estão lá fora, que não somente sobre o Egito, ou, mais especificamente, sobre o Brasil, mas sobre toda a terra, o Deus Triuno é o único SENHOR; ele nos libertou da escravidão, e nos concedeu a graça de servi-lo, fazendo-nos tornar a viver de acordo com o propósito para o qual fomos criados.
2. Os inimigos do SENHOR sempre buscarão impedir que ele glorifique seu nome, e uma das formas que farão isso, será a desconfiguração e corrupção do culto solene.
Se a glória de Deus é proclamada também através do culto, certamente aqueles que se avessam ao SENHOR procurarão corromper esse instrumento da proclamação da majestade do seu nome.
Nosso tempo é marcado pela proliferação de aberrações e atentados contra a forma ordenada do culto ao SENHOR. Todo tipo de bizarrices são introduzidas no culto, muitas delas sob a prerrogativa de tornar o momento de adoração mais agradável às pessoas — um argumento completamente antibíblico, pois sabemos que o culto deve, antes e acima de tudo, ser prestado para louvor e satisfação do SENHOR —. Esse ataque é realizado não somente pelos ímpios lá fora que, criando deuses à sua própria imagem, os adoram da maneira que intentam, mas por aqueles que dizem venerar o Deus da Bíblia, anarquizando, todavia, o preceito bíblico da adoração ao SENHOR.
Faraó foi um dos primeiros a tentar perverter o culto, desconfigurando-o, a fim de impedir que Deus fosse verdadeiramente glorificado por seu povo através do serviço solene, mas hoje, há diversos outros faraós, que tentam levar o povo de Deus à uma compreensão estranha do culto a ser prestado por nós ao nosso Deus, e uma dessas formas imita exatamente o que o rei do Egito fez, de acordo com o texto sob análise: o ataque aos filhos dos crentes, retirado-os do culto. O que nos leva ao terceiro ponto de aplicação extraído do presente texto de Êxodo.
3. O culto público é uma ação de serviço ao SENHOR de caráter corporativo, ou seja, todo o povo de Deus é convocado a lhe prestar adoração, o que inclui os filhos da aliança: as crianças.
Levando em consideração as três consequências mencionadas acima, que acarretariam na desconfiguração do culto conforme intentada por Faraó, a retirada das crianças da reunião solene entre Deus e seu povo provoca uma alteração tão devastadora, que descaracteriza o culto por completo.
Por diversas razões, hoje, grande parte das igrejas ditas evangélicas retiram os filhos dos crentes do momento de adoração, às vezes até de todo o serviço de culto. Uma das causas para tamanho descalabro, foi a introdução (ou invasão) de ideias e princípios ímpios que muitos julgaram aplicáveis também às crianças, como por exemplo, as teorias pedagógicas atuais que afirma que a criança deve ter um aprendizado adaptado à sua maturação psicológica-cognitiva (e.g. Piaget). Noutras palavras, as informações às quais as crianças são expostas, são complexas demais para serem absorvidas por elas, tornando necessário adaptar tal conhecimento à um padrão comunicativo acessível às mesmas, e o culto público, segundo pensam muitos, não atende a essa realidade, como dito.
A retirada das crianças do culto foi a via abraçada pela igreja, que além de ter alijado os filhos dos crentes de serem expostos ao conhecimento de Deus tal como ele é, elevando-as intelectual e espiritualmente à maturação, destroçou e desvirtuou o serviço de culto, separando o povo de Deus de seus filhos, tal como propôs Faraó.
A resposta de Moisés ao rei egípcio, sintetiza o princípio bíblico de culto em termos da participação corporativa e integral do povo de Deus: “Havemos de ti com os nossos jovens, e com os nossos velhos, com os filhos, e com as filhas” (v.9), ou seja, como já mencionado, da crianças ao ancião, todos, juntos, num só pensamento e coração, devem reverenciar o Deus da Aliança; aquele que nos salvou e libertou da casa da servidão. Retirar as crianças do culto, é, além de perverter o culto a Deus, submetê-las ao jugo daqueles que vivem tolhidos de desfrutar da presença revigorante do SENHOR.
Com base nessa perspectiva do texto, algumas aplicações específicas devem ser traçadas para melhor sintetização e aprendizado do imperativo evidenciado na presente seção bíblica:
3.1 Aos pais
É dever dos progenitores conduzir seus filhos à Casa do SENHOR, isto é, a reunião dos santos, pois eles são tão filhos da aliança quanto seus pais, pois como o próprio YHWH falou, a história da redenção deve ser contada “a teus filhos e aos filhos de teus filhos” (v.2).
É dever dos pais treiná-los para que possam, reverentemente estar diante de seu Criador em adoração. Embora submeter o comportamento de uma criança ao período de culto possa ser difícil por fatores naturais como agitação, necessidades ou até especialidades, o trabalho paterno deve ser o de incutir (inclusive pelo exemplo) que o dia e momento de culto é o período mais sublime e importante de suas vidas, pois serão expostas à glória de Deus, devendo corresponder a esse chamado com amor, obediência e temor.
O culto doméstico é uma ferramenta fundamental nesse processo, pois é em casa que a criança será introduzida ao conhecimento de que Deus deve ser adorado. A negligência dessa prática interferirá negativamente na compreensão dela do que ocorre no culto público.
3.2 À igreja
No momento em que os votos de profissão de fé são feitos, a igreja se compromete em receber uma família, cuidando e zelando por aqueles que agora, ingressam na comunidade local. Isso inclui os filhos dessa família.
Logo, a responsabilidade de acolher com amor e cuidado as crianças no culto, também pesa sobre os ombros da comunidade.
O desconforto por ouvir o barulho ou agitação de uma criança no culto não pode ser elevado ao patamar do desejo de silêncio pela ausência daquele filho da aliança na reunião solene. Devemos auxiliar os pais no tratamento e cuidado dos pequeninos, durante o serviço de adoração. Agir contrário a esse princípio, é igualar-se ao Faraó egípcio, seus oficiais e ao próprio Satanás; eram eles os interessados em que os filhos de Israel não estivessem presente no serviço de adoração.
Às crianças
Deus é o seu Pai, e vocês devem amar o SENHOR do fundo de seus corações, com todo amor, e devem também obedecê-lo.
Uma das formas de demonstrar que amamos a Deus de verdade é vindo ao culto, porque ele salvou vocês para isso: para que o amassem e fossem amadas por ele, e no culto, todos juntos, agradecemos a Deus pela obra grandiosa que ele fez por nós.
Conclusão
O Deus que libertou seu povo da escravidão, ordena que este compareça diante de sua presença, e não somente uma parte, mas, homens e mulheres, crianças e anciãos, todos, devem proclamar que somente o SENHOR é Deus.
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