EXEGESE DE EFÉSIOS (3)

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A cidade de Éfeso
Éfeso era uma cidade de origem grega fundada por volta do ano 1000 a.C e conquistada pelos romanos em 133 a.C. Sendo a terceira maior cidade do império romano era uma das mais desenvolvidas da época o que fica evidenciado pelas descobertas arqueológicas na região na qual foram encontradas praças públicas, estádios, ginásios e principalmente o templo de Ártemis conhecido como uma das maravilhas do mundo antigo. Éfeso tinha cerca de 250 mil habitantes entre os quais vários artesãos que tiravam seus sustentos de suas obras com as quais movimentavam a economia local juntamente com as atividades religiosas que aconteciam no tempo de Ártemis. Para se ter uma ideia a cidade poderia ser comparada com Governador Valadares no estado de Minas Gerais em sua quantidade de habitantes. Sua população era formada de pessoas naturais de Éfeso, porém não se limitavam a eles visto que a cidade era também um importante porto comercial no qual atracavam diversos navios mercantes romanos. Tal movimento de pessoas produzia em Éfeso uma população mista e diversa composta de lídios, iônicos, gregos e romanos; além de um grande número de judeus os quais gozavam de privilégios religiosos e fisais concedidos pelo governo romano. Essa mistura étnica produzia um ambiente religioso misto marcado por diversas crenças religiosas dentre as quais se destacavam o culto a deusa da fertilidade (Ártemis o nome grego e Diana o nome romano), mágica e astrologia.
Os passos de Paulo até Éfeso - De Corinto à Éfeso
Paulo ao deixar Atenas foi para Corinto onde encontrou-se com Áquila e Priscila e ali começaram a trabalhar juntos fazendo tendas e ensinavam na sinagoga de Corinto (cf, At 18:1-4). Silas e Timóteo se ajuntaram a ele em Corinto passando o apóstolo a se dedicar integralmente à pregação da Palavra o que ocorreu em meio a muita oposição e blasfêmias por parte dos Judeus, porquanto Paulo afirmou que desde aquela hora passaria a proclamar Cristo aos gentios (cf. At 18:6b). Deste modo, ali permaneceu ensinando por um ano e sete meses e após este período tendo se despedido dos irmãos em Corinto partiu para Éfeso levando consigo Áquila e Priscila sua esposa (cf. At 18:18).
O primeiro contato de Paulo com os Efésios
Paulo chegou em Éfeso por volta do ano 52 d.C, perto do fim de sua segunda viagem missionária. Como de costume, chegando em Éfeso se dirigiu imediatamente à uma sinagoga a fim de pregar o reino de Deus aos Judeus que habitavam na cidade. Todavia não permaneceu ali por muito tempo embora os Judeus houvessem solicitado sua permanência por mais dias. Logo, esse primeiro contato de Paulo com os Efésios ocorreu de forma breve, não sendo suficiente para estabelecer de uma vez por todas uma igreja, embora deva-se notar que, Priscila e Áquila tenham ficado em Éfeso (cf. At 18:19, 26). O que certamente contribuiu para o surgimento da igreja. Nota-se ainda o desejo expresso de Paulo em retornar à cidade conforme suas palavras em At 18:21b o que de fato ocorreu nos anos seguintes. Entretanto, após seu primeiro contato com os efésios o apóstolo partiu em um barco tendo feito uma breve jornada a Jerusalém e Antioquia e seguido para a região da Galácia e Frígia.
A chegada de Apolo à Éfeso - Um reforço para a Igreja
Enquanto Paulo estava na região da Galácia, Áquila e Priscila permaneciam em Éfeso se encontraram com um eloquente Judeu chamado Apolo o qual passou a discursar na sinagoga de Éfeso onde Paulo outrora havia ensinado. Certamente, a presença de Apolo em Éfeso contribuiu com o trabalho de Áquila e sua esposa Priscila na formação da igreja efésia durante a ausência de Paulo, só não sabemos por quanto tempo Apolo permaneceu ali. Assim, tendo sido instruído por Priscila e Áquila a respeito do “caminho do Senhor”, visto que ele somente tinha conhecimento do batismo de João, foi estimulado logo por Priscila e Áquila a que fosse para a região da Acaia, onde ficava a cidade de Corinto, a fim de auxiliar os irmãos na pregação da Palavra. É possível que nessa chegada de Apolo a Acaia ele tenha se encontrado com Paulo que também estava ali, esse encontro pode ter motivado o apóstolo a retornar à Éfeso possivelmente ao ouvir o relato de Apolo que tivera contado com seus companheiros o que pode ter levado Paulo a deixar Corinto e retornar para Éfeso com objetivo de continuar a obra iniciada na cidade anteriormente (cf. At 19:1, 1Co 1:11-12).
O segundo contato de Paulo com os Efésios - Um período maior
Em sua terceira viagem missionária por volta dos anos 53-57 d.C Paulo partiu de Corinto rumo e retornou a Éfeso onde ficou por um maior espaço de tempo passando a ministrar a alguns discípulos que ali se encontravam, possivelmente irmãos que ouviram a pregação de Apolo, visto que Lucas cita sua pessoa como eloquente, poderoso nas Escrituras, porém conhecedor apenas do batismo de João (cf. At 18:24-25). É provável que Éfeso tenha servido de base para essa terceira jornada de Paulo rumo a proclamação do evangelho pelas regiões do mediterrâneo (cf. At 19:10). Aparentemente o objetivo de Lucas nos versos 24 e 25 é oferecer um prelúdio para introduzir a segunda vinda de Paulo a cidade de Éfeso na qual o apóstolo permanecerá por muito mais tempo. Além disso, a transição do capítulo 18 para o 19 marcada pela temática do batismo de João em relação à obra do Espírito Santo sobre os discípulos de Jesus reforça a enfase de Lucas sobre o ensino de Paulo aos discípulos em Éfeso e a confirmação de seu ministério apostólico através da imposição de mãos e a vinda do Espirito (cf. At 5:12, 6:6, 8:17, 19:11-12)
Este segundo contato de Paulo com os Efésios nos apresenta dedicação maior do Apóstolo ao ensino na sinagoga. Lucas nos conta que Paulo frequentou este lugar por três meses falando ousadamente, discutindo e persuadindo a respeito do Reino de Deus o que lhe trouxe grande rejeição por parte dos Judeus (cf. At 19:8). Todavia, o trabalho dele ali não foi infrutífero visto que a narrativa de Atos 19: 9-10 nos mostra que diante da ofensiva judaica Paulo “colheu” dali alguns discípulos passando a ensinar em uma “sala de aula” cedida por um certo homem e professor chamado Tirano e ali permaneceu por dois anos. Deste modo, ao que parece a segunda visita do apóstolo a Éfeso durou cerca de três anos considerando o período em que pregou na sinagoga até sua partida para a Macedônia (cf. At 19:23-20:1,31) após o motim levantado pela classe dos ourives.
De fato, esses anos de trabalho missionário em Éfeso foram suficientes para o estabelecimento de uma igreja cristã sólida embora houvesse muitos levantes por parte dos moradores. A existência de uma igreja organizada após os três anos de Paulo na região pode ser encontrada em At 20:7-17 no qual Lucas situa Paulo e seus demais companheiros saindo de Trôade rumo a Mileto sem passar por Éfeso por decisão do próprio apóstolo (cf. At 20:16). De Mileto, Paulo ordena que os πρεσβυτέρους (presbíteros) da igreja em Éfeso fossem chamados e uma vez tendo eles vindo à presença dos irmãos foram instruídos por ele quanto a sua partida. A presença de presbíteros em Éfeso é uma evidência clara da existência de uma Ekklesia bem estruturada na cidade. As admoestações de Paulo aos presbíteros, verdadeiramente, soam também como uma despedida por parte do apóstolo. Suas palavras foram carregadas de afeto, exortações e alertas quanto ao dever dos presbíteros em apascentar o rebanho que o próprio Deus havia comprado pelo sangue de Cristo e trazidos à fé pelo Espirito Santo por meio da pregação e ensino do apóstolo em Éfeso. Assim, em uma das passagens mais lindas do Novo Testamento, encontramos as últimas palavras ditas àquela igreja antes de sua partida final para Jerusalém e em seguida para Roma até que o apostolo seja encarcerado. Após tais acontecimentos Paulo somente voltará a se dirigir à igreja por meio de sua carta enviada a eles da prisão em Roma.
O contexto religioso em Éfeso
A pregação e ensino de Paulo nessa cidade serve como pano de fundo para entendermos, não apenas, o impacto de suas palavras nos judeus e gentios, mas também na população e na sociedade de forma geral.
Lucas nos oferece informações importantes que nos ajudam a entender tanto o contexto religioso em Éfeso, quanto o impacto do evangelho sobre este mesmo contexto. Os relatos de At 19:13-20, 23-39 nos servem de base para esta compreensão. De acordo com Craig Keener Éfeso era famosa pelas atividades de magia e pela necessidade de exorcismos e proteção contra os espíritos malignos. (colocar referencia (p.457). Nesse sentido Éfeso era conhecida como o principal centro das atividades mágicas e do exorcismo daquela época. Tais fatos são evidenciados quando lemos At 19:13-16 no qual encontramos a tentativa frustrada de um exorcismo valendo-se do nome de Jesus, pelos filhos de um sumo sacerdote chamado Ceva em Éfeso. Além das práticas exorcistas, comuns entre os Judeus durante os tempos bíblicos, o uso de magias e encantamentos também estavam fortemente presentes, de sorte que os feitiços, encantamentos e outros ditos mágicos carregados pelas pessoas por todo o império e usados como amuletos recebiam o nome de “escritos efésios” (Ephesia Grammata). Para o pensamento helênico a magia era a crença em um mundo espiritual capaz de influenciar e ser influenciado pelos homens. Logo é neste contexto marcado pelo ocultismo e paganismo que a igreja em Éfeso floresceu. De fato, o fracasso dos filhos de Ceva serviram de sinal para confirmar a ação de Deus por meio de Paulo e o poder demonstrado por ele através do Espírito em nome de Jesus. Foi por meio desse acontecimento que os cidadãos efésios foram surpreendidos pelo agir sobrenatural e poderoso de Deus no meio deles. Este sinal se tornou manifesto a todos de tal maneira que os habitantes da cidade, tendo ouvido tais coisas, foram tomados de temor. Além disso, a narrativa de Lucas em At 19 aponta para a fé e confissão de muitos deles diante da manifestação do poder de Deus a tal ponto que anunciaram publicamente suas más obras e os que praticavam artes mágicas abriram mão de seus escritos queimando-os diante do povo. A quantidade de material usado para o ocultismo destrupida naquele dia aponta-nos quão grande era a prática de artes mágicas em Éfeso. Lucas nos conta que o “prejuízo” sofrido naquele dia foi de cinquenta mi denários o que equivalia a cinquenta mil dias de trabalho de um trabalhador da época.
Mas, todo esse valor ainda eram pequenos se comparados ao impacto da pregação do cristianismo na economia em Éfeso devido ao contexto religioso no qual a cidade estava envolvida. Muito além do exorcismo e das artes mágicas, tanto Éfeso quanto as demais regiões da Ásia adoravam a deusa Diana (cf. também Ártemis) chamada por eles de Diana dos efésios. Esta deusa foi uma das mais influentes da antiguidade tendo, pelo menos, 33 locais dedicados a ela no mediterrâneo. O culto a Diana era uma das principais fontes de renda de Éfeso, principalmente dos ourives artesãos responsáveis por fabricar as imagens de prata que representavam o templo da divindade (cf. At 19:23). Além disso, o templo de Diana funcionava também como banco no qual pessoas de todo o mundo depositavam seu dinheiro. Esses valores eram utilizados para beneficiar tanto as atividades religiosas quanto a própria cidade, portanto, a pregação de Paulo colocava em risco não apenas a religião, mas a economia da região. Keener nos afirma que em Éfeso, a política e a religião estavam tão entrelaçadas quanto a religião e a economia, e o orgulho cívico local era inseparável da adoração a Diana. (colocar nota de rodapé com a referência - p. 460)
A conversão de muitos ao cristianismo esvaziaria os templos pagãos de época o que, de fato, causaria um grande impacto econômico na cidade. Portanto, o medo dos ourives de perderem sua maior fonte de renda e de toda a cidade sofrer impactos econômicos levou-os a alegar preocupação pelo nome de Diana levantando, então, um motim contra Paulo e seus ensinos contrários aos ídolos. Demétrio um dos representantes dos ourives, senão o principal, foi o porta-vós do povo naquela ocasião, porém suas tentativas foram frustradas pelo escrivão da cidade que declarou o motim sem fundamento, portanto, desnecessário para aquela assembleia.
O culto a Ártemis encontrava seu ápice nos festivais anuais nos quais se envolviam todos da região da Asia. Entretanto, procissões aconteciam pelo menos duas vezes por semana saindo da cidade em direção ao templo. Suas estátuas continham muitos seios na paz superior cujo significado ainda é incerto, cada peça pesava cerca de um a três quilos e eram dedicadas no templo e em seguida vendidas e usadas como amuletos. Além delas haviam também as moedas de Éfeso que traziam a imagem de Diana na frente e no verso com a inscrição “Diana Ephesia”.
As imagens escavadas de Ártemis remetem à deusa como uma grande salvadora, extremamente poderosa e capaz de responder às orações dos seus fiéis, garantir o amor de uma mulher por um homem. Ao redor de seus santuário foram encontrados diversos ossos de animais o que, possivelmente, aponta para a existência de sacrifícios no culto a esta divindade no mundo greco-romano.
Mas, os cultos em Éfeso também eram marcados pela veneração dos imperadores que tinham dimensões politicas e religiosas para o povo. O culto ao imperador era marcado por prestigio e honras semelhantes às concedidas aos deuses e deles faziam parte os festivais, jogos templos e estátuas. Não obstante, alguns estudiosos argumentam sobre a possível presença do gnosticismo em Éfeso neste período. O gnosticismo era uma corrente filosófica de cunho religioso que enfatizava fortemente uma filosofia superior vinda do alto capaz de salvar os homens por meio do conhecimento.
Todo esse ambiente religioso marcado pela veneração aos ídolos, a prática de artes mágicas, uma economia na qual a religião é a principal fonte de sustento e a presença marcante do judaísmo formaram o pano de fundo para o qual Paulo, servo de Deus, foi enviado a proclamar as boas novas e consequentemente também nos fornece o contexto do surgimento da igreja em Éfeso.
Autoria
A autoria de Efésios, assim como outras de suas cartas, encontra diferentes posições nos círculos acadêmicos. A tradição atribui a Paulo o apóstolo aos gentios a autoria da carta enquanto os críticos tendem a negá-la. As evidências a favor e contrárias à autoria paulina são diversas, portanto, à título de conhecimento, citarei apenas algumas, bem como os argumentos de cada uma delas.
A tradição encontra apoio interno e externo para afirmar que a carta veio da pena do apóstolo aos gentios. Entre as evidências internas podemos citar as referências ao apóstolo no próprio texto bíblico, por exemplo em sua saudação (cf. Ef 1:1) e a confirmação do escritor sobre sua vocação aos gentios (cf. Ef 3:1, 4:1) e o uso de expressões como “ὁ δέσμιος τοῦ Χριστοῦ Ἰησοῦ” (o prisioneiro de Cristo Jesus) e “ὁ δέσμιος ἐν κυρίῳ” (o prisioneiro no Senhor ), também encontradas, de forma semelhante em outros escritos de Paulo como Fm 1,9, Cl 4:10.
As evidências externas são encontradas nos escritos antigos de Irineu de Lion “contra heresias” no qual ele, citando Ef 1:10, 2:2, há evidencias também nos escritos de Clemente de Alexandria “ Miscelâneas” citando Ef 4:14 , e Tertuliano “Contra Marcião” admitindo Ef 5:31-32, 6:14-17 como escritos paulinos. Todos estes, ao citar tais passagens, assumem, a priori, a autora de Paulo. Deste modo, conforme afirma C. O. C. Pinto:
Visto que aqueles que defendem uma autoria não paulina admitem que sua posição é um tanto especulativa,5 é preciso concordar com J. N. Sanders quando ele declara Efésios como uma epístola paulina até que se prove ser ela não paulina.6 É isto que fazem as pessoas que aceitam o texto (1.1; 3.1; 4.1) ao pé da letra.
Por outro lado a crítica apresenta seus argumentos contrários basicamente de três maneiras.
Ausência de referências pessoais em uma carta escrita à uma igreja na qual Paulo não apenas foi o pastor-fundador, mas também permaneceu por 3 anos.
Tal argumento pode ser resolvido uma vez que entendemos a natureza da carta, visto que Efésios foi escrito para ser uma carta circular entre as igrejas na Ásia Menor. Esta característica pode explicar muito bem a ausência de referencias pessoas em um escrito que, diferentes dos demais textos paulinos, não tinha um objetivo ou circunstâncias específicas que necessitassem ser tratadas, antes era uma geral que poderia alcançar diversos e distintos destinatários.
b. o estilo complexo da escrita e o uso distinto do vocabulário
Este argumento afirma que a carta não pode ser de autoria paulina devido ao uso de palavras de uma maneira bem distinta das usadas por Paulo em outros escritos. Todavia, se tal argumento for considerado de maneira decisiva para alegação de autoria; outros textos do apóstolo também deverão ser questionados. Por exemplo, a carta de Paulo a igreja da Galácia recebe aprovação de autoria tanto da tradição quanto da ala crítica. Mas, quando Gálatas é colocada ao lado de Efésios utilizando o mesmo parâmetro de distinção do vocabulário há pouca diferença. Em Efésios são encontrados 41 termos exclusivos e 84 que não são encontrados em nenhum lugar nos demais escritos de Paulo, porém são achados no restante dos escritos neotestamentários.Quando vamos à Gálatas, uma das cartas mais bem atestadas como pertencendo a Paulo, essas diferenças são mínimas entre as quais encontramos 35 termos exclusivos e 90 não achados em outros documentos do apóstolo.
Darrel L. Bock complementa o argumento ao dizer:
Mais potencialmente significativas são as palavras usadas com um sentido diferente ou palavras diferentes daquelas que Paulo normalmente usa com o mesmo sentido de seus termos comuns. Não há muitas delas: "diabo" em vez de "Satanás", "lugares celestiais" para "céu(s)", a ideia de plenitude aplicada à igreja, mistério, herança, posse, mordomia, resumir e salvar. Isso levanta uma ideia fundamental: escritores profundos são capazes de desenvolver suas próprias ideias e nuances em discussões complexas. Paulo se encaixa nessa categoria de escritor.
Quanto à questão do estilo os argumentos também não se sustentam e/ou são suficientes para negar definitivamente a autoria paulina. Os críticos levantam o uso de certas preposições, verbos, substantivos e frases complexas usadas de maneira distinta dos demais documentos de Paulo. Entretanto, o argumento da tradição que reconhece a natureza da carta como um documento circular geral e não específico deve, novamente, ser considerado aqui. Visto que Efésios possui a característica de um sumário teológico tal fato torna comum o uso estilos diferentes que se adequem melhor ao propósito do autor.
c. diferenças teológicas ou de pensamentos
Neste ponto diversos argumentos são levantados a fim de refuta a autoria de Efésios. Entre eles, está a ideia de que a abordagem de Paulo sobre a igreja nesta carta é distinta das que ele faz em outras cartas. O ponto é que em Efésios ele trata a igreja como a composição universal de todos os salvos da qual Cristo é cabeça. Por outro lado, em outras de suas cartas a igreja é vista como uma congregação única individual. Todavia, vale ressaltar, conforme afirmou Darrel L. Bock, que esta distinção e/ou mudança de pensamento em si mesma não é tão grande nem problemática para um único autor, uma vez que se deve reconhecer que o tópico principal em Efésios não é a congregação individual ou a igreja local, mas a igreja como uma entidade universal bem como ainda o fato de que uma mudança natural em uma carta escrita em um contexto teológico geral pode apresentar evoluções de pensamentos que se diferem, mas não contradizem, a teologia dos escritos que surgiram de um problema local específico.
Data
Não há dúvidas de que Efésios pertença ao grupo de cartas compiladas por Paulo na prisão (cf. Ef 3:1, 4:1, 6:20). Todavia, há ainda uma questão importante a ser decidida, a saber: De qual prisão Paulo a enviou? Portanto, a resposta a esta pergunta nos ajuda a definir qual a data e origem do documento.
De acordo com o texto bíblico o apóstolo esteve três vezes na prisão, se desconsiderarmos a hipótese de uma prisão em Éfeso.
Em Filipos durante sua segunda viagem missionária Paulo e seu companheiro Silas foram presos acusados de perturbação da ordem ao propagarem costumes diferentes dos cidadãos romanos (cf. At 16:19-34).
Mais tarde, em sua terceira jornada missionaria após partir de Mileto rumo a Jerusalém juntamente com Trófimo, um cidadão de Éfeso, Paulo foi acusado de sedição pelos Judeus no templo o que o levou a usar sua cidadania romana para solicitar que ele mesmo apresentasse sua defesa ao governador Félix em Cesareia e ali permaneceu preso por dois anos (cf. At 23:23 - 26:32).
Seu terceiro aprisionamento ocorreu após ser ouvido por Félix e enviado ao sucessor chamado Festo na presença do qual reforçou sua inocência em face das acusações de judeus que haviam subido de Jerusalém para Cesareia a fim de o apanharem. Todavia, ele apelou para ser julgado pelo imperador e tendo discursado na presença do rei agripa seguiu para Roma onde permaneceu preso até seu julgamento. Logo, se desconsiderarmos a prisão em Filipos a qual se deu por tempo consideravelmente curto, restam apenas duas opções: Cesareia e Roma.
Entendo que existem mais e melhores argumentos favoráveis à Roma do que Cesareia, visto que as narrativas acerca de Onésimo, o escravo fujão que teve um encontro com Paulo, encontradas em Fm são melhores entendidas se situadas no período em que Paulo esteve preso em Roma. Tal fato é relevante, pois diferente de Cesareia onde o apóstolo esteve encarcerado, sem liberdade de receber livremente visitas, não poderia ser o lugar no qual Paulo recebeu Onésimo. Por outro lado, uma cidade ampla e cheia de habitantes de todas as regiões do império seria o lugar mais plausível para um escravo fugir e ter um encontro com Paulo em sua prisão domiciliar. Além disso, a prisão em Cesareia não permitiu que ele exercesse seu ministério, mesmo que de forma velada, ao passo que em Roma isso foi absolutamente possível (cf. At 28:16).
Portanto, uma vez estabelecido Roma como local de aprisionamento de Paulo ao escrever a carta aos Efésios e sabendo que ele esteve preso lá entres os anos 60 e 62 d.C, podemos constar como data da epístola o período entre 61 - 62 d.C.
Esboço Temático
Efésios 1.1–2 (Saudação)
O autor
1 Paulo,
apóstolo de Cristo Jesus
por vontade de Deus,
Os leitores
aos santos
que vivem em Éfeso
e fiéis
em Cristo Jesus,
A saudação
2 graça
a vós outros
e paz,
da parte de Deus,
nosso Pai,
e do Senhor Jesus Cristo.
Efésios 1.3–14 Doxologia
As Riquezas dos salvos são as bençãos de Deus em Cristo
3 Bendito
o Deus
e Pai
de nosso Senhor Jesus Cristo,
que nos tem abençoado
com toda sorte de bênção espiritual
nas regiões celestiais
em Cristo,
Eleição, predestinação e seus propósitos
a) 4 assim como
nos escolheu, (O que?)
nele, (Em quem?)
antes da fundação do mundo, (Quando?)
para (Para que?)
sermos santos
e irrepreensíveis perante ele;
e em amor
b) 5 nos predestinou (O que?)
para ele, (Para quem?)
para a adoção de filhos, (Para que?)
por meio de Jesus Cristo, (Por meio de quem?)
segundo o beneplácito de sua vontade, (De que maneira?)
6 para louvor da glória de sua graça, (Para que?)
que ele nos concedeu gratuitamente (O que?)
no Amado, (Em quem?)
c) 7 no qual temos
a redenção, (O que?)
pelo seu sangue, (Por meio de que?)
a remissão dos pecados, (O que?)
segundo a riqueza da sua graça, (De que maneira?/Como?Meio pelo qual?)
8 que Deus (Quem?)
derramou abundantemente (O que?)
sobre nós (Quem?)
em toda a sabedoria (Como De que maneira?)
e prudência,
d) 9 desvendando-nos (
o mistério da sua vontade, (O que?)
segundo o seu beneplácito (Como?De que Maneira?)
que propusera em Cristo, (Em quem?)
10 de fazer convergir nele,
na dispensação da plenitude dos tempos, (Quando?)
todas as coisas, (O que?)
tanto as do céu
como as da terra;
e) 11 nele, digo, (Quem?)
no qual fomos também feitos herança,( O que?)
predestinados
segundo o propósito daquele que faz todas as coisas (Como? De que Maneira?)
conforme o conselho da sua vontade, (Como?)
12 a fim de sermos (Para que?)
para louvor da sua glória,
nós, (Quem?)
os que de antemão esperamos
em Cristo; (Em quem?)
13 em quem também vós, (Quem?)
depois que ouvistes (Quando?)
a palavra da verdade, (O que?)
o evangelho da vossa salvação,
tendo nele também crido, (Em quem?)
f) fostes selados (O que?)
com o Santo Espírito da promessa; (Quem?)
14 o qual é
o penhor da nossa herança, (O que?)
até ao resgate da sua propriedade, (Quando?)
em louvor da sua glória. (Como?)
Efésios 1.15–23 (Oração de ação de graças)
A expressão do coração pastoral de Paulo
15 Por isso,
também eu,
tendo ouvido
a fé que há entre vós
no Senhor Jesus
e o amor
para com todos os santos,
16 não cesso de dar graças por vós,
fazendo menção de vós nas minhas orações,
O conteúdo da oração
17 para que
o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo,
o Pai da glória,
1) vos conceda
espírito de sabedoria
e de revelação
no pleno conhecimento dele,
1.1) 18 iluminados os olhos do vosso coração,
para saberdes
qual é a esperança do seu chamamento,
qual a riqueza da glória da sua herança
nos santos
19 e qual a suprema grandeza do seu poder
para com os que cremos,
segundo a eficácia da força do seu poder;
20 o qual exerceu ele
em Cristo,
ressuscitando-o dentre os mortos
e fazendo-o sentar à sua direita
nos lugares celestiais,
21 acima
de todo principado,
e potestade,
e poder,
e domínio,
e de todo nome
que se possa referir
não só no presente século,
mas também no vindouro.
22 E pôs todas as coisas debaixo dos pés
e,
para ser o cabeça sobre todas as coisas,
o deu à igreja,
23 a qual é
o seu corpo,
a plenitude
daquele que a tudo enche em todas as coisas.
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