O carisma da profecia e o profeta de hoje

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introdução
Os Carismas do Espírito não são invenções da RCC, mas manifestações do Espírito Santo para a edificação do Igreja. Tanto é verdade que, ao olhar para o passado, nota-se que os carismas antecedem o surgimento da corrente de graça chamada Renovação Carismática Católica (RCC). Quando o Concílio faz referência a Igreja primitiva, destaca que os carisma e dons do Espírito Santo eram exercidos de maneira que é possível encontrar relatada nos Atos dos Apóstolos e nas epistolas de Sãos Paulo.
Existem uma infinidade de carismas e dons revelados na Sagradas Escrituras. São Paulo em suas cartas elenca algumas delas: Profecia, serviço, ensinar, exortar, distribuir donativos, presidir e obras de misericórdia (Cf. Rm12,6-8); sabedoria, palavra de conhecimento, fé, cura, milagres, discernimento dos espírito, línguas e interpretação (CF 1Cor12,4-11); Apóstolos, evangelista, pastores e mestre (CF. Ef.4,11) e entre outros.
De todos os dons e carisma encontrados na Sagradas Escrituras, São Paulo atribui uma maior importância a profecia: “Empenhai-vos pelo amor e aspirai os dons do Espírito, principalmente a profecia [...] desejo que vós todos faleis em línguas; desejo ainda mais: que todos profetizeis [...] Em suma, irmãos, aspirai ao dom de profecia e não impeçais que se fale em línguas (1Cor14,1.5.39).
O carisma da profecia não é dom habitual de entender e explicar a Palavra, não é ensinamento, a “didascalia”. Não é glossolalia, uma expressão irracional, mas “é uma palavra inteligível, mas que é dada, ‘insuflada’ pelo Espirito. Tal palavra tem como efeito colocar aquele que escuta diante da verdade de Deus e diante da verdade do que ele mesmo é”. Nem sempre as palavras de profecias será uma revelação espantosa, mas, na maior parte do tempo, trata-se de uma simples exortação edificante que exorta, adverte, reconforta e corrige (CONGAR, 2010, p.237).
É possível encontrar pelo menos três definições de profecias: uma veterotestamentaria[1], neotestamentario e sociológica. A primeira entende a profecia como como uma adivinhação; a neotestamentaria, isto é, a do Novo Testamento, entende a profecia como uma manifestação de Deus em vista do seu povo; por fim, a definição sociológica entende a profecia como uma análise dos tempos presentes que permite dizer algo do futuro.
Diante das definições citadas, a que mais nos interessa é a segunda: a definição encontrada no Novo Testamento, a neotestamentaria. Para o Apostolo São Paulo (Cf. 1Cor 14), a profecia ela tem a função de edificar, exortar e confortar. Segundo Dom Paul Josef Cordes (1999, p.66), a profecia tem o poder de “repreender a alma egoisticamente escurecida e levar a uma nova compreensão desvendando o segredo do coração e levando a adoração e a percepção da presença de Deus na Igreja”.
Diante de sua importância e eficácia para a vida do homem, o Carisma da profecia deve ser desejado. Se trata de um dom de Deus que vem na direção do homem comunicando uma palavra de salvação para vida do outro. Nesse sentido, toda palavra de profecia deve ser pronunciada sempre na primeira pessoa, pois é o próprio Deus quem fala. Não é repetir frase da bíblia, mas é ser instrumento para que o próprio Deus possa se comunicar com outro através de nós.
A profecia pode ser facilmente observada durante os encontros de orações. A certo momento alguém sente a necessidade de dizer alguma coisa. Ele não formula o pensamento, mas as palavras vêm-lhe aos lábios uns pós outra.
A profecia é a mensagem do céu que vem ao encontro da humanidade que sofre as consequências do pecado, guiando o homem em seus caminhos para mais próximo de Deus. Ela é, portanto, como o sol que se estende sobre a terra mantendo-a aquecida e tornando-a possível a produzir frutos.
Por detrás de toda profecia está o amor incondicional de Deus pela humanidade. Todas as vezes que Deus comunica com a humanidade por palavras de profecia é um sinal do amor verdadeiro de Deus que exorta, corrige, encoraja para que suas criaturas trilhes os caminhos da Verdade.
Serafino Falvo, em sua obra O despertar dos carisma (1976, p.73-76), apresenta alguns critérios para julgar uma profecia: 1) o primeiro critério de avaliação da profecia é a comunidade. Toda profecia deve ser julgada pela comunidade na qual o Espírito Santo dá o dom do discernimento; 2) O segundo critério apresentado pelo autor é a o seu conteúdo. Toda profecia, como já visto, ela serve para encorajar, confortar exortar e dar esperança. Todas as veze que que uma profecia foge desses conteúdos ela é considerada uma falsa profecia. 3) outro critério é a glorificação de Deus. Toda profecia deve conduzir o homem a glorificar a Deus; 4) Falvo também observa que toda profecia deve estar de acordo com as Sagradas Escrituras. Toda palavra de profecia deve estar de acordo com os valores e critérios apresentado pela Palavra de Deus. Uma palavra de profecia não pode contradizer o conteúdo da Palavra, quando isso acontece, ela pode ser tudo, menos profecia. 5) por fim, toda profecia deve ressaltar as bens aventuranças. Isto é, a mensagem deve ressaltar os valores sobrenaturais como, por exemplo, o desenvolvimento da vida em cristo em nós, o crescimento do amor fraterno, a edificação do corpo místico e assim por diante. Todas as vezes que uma profecia foge desses critérios apresentado ela deve, sem dúvida, ser falsa.
O PROFETA DE HOJE
A figura do profeta é importantíssima para a manifestação do carisma, sobretudo, nos dias de hoje. O profeta é o portador da mensagem que Deus envia aos homens. Suponha-se, portanto, já de início, que o profeta deva ser aquele que vive em meios aos homens, pois toda profecia é direcionada ao homem, mas, ao mesmo tempo, deve ser aquele que deve estar em contato constante com Deus. Portanto, o profeta é um homem de intimidade com Deus.
Existe uma definição clássica de profeta que podemos afirmar como aquele que anuncia a Palavra de Deus e denúncia o pecado da humanidade. Quando lançamos um olhar para os profetas do Antigo Testamento se nota essa forte realidade. Todas as vezes que Deus direcionava à um profeta uma palavra era sempre para que, vezes, anunciasse uma boa nova ou denuncia-se os pecados do seu povo.
Todos Batizado é chamado a ser um profeta nos tempos de hoje: anunciar a Boa Nova isto é, o Evangelho, para que as pessoas se deparem com Jesus Cristo, pois, a Boa Nova é Jesus Cristo, a grande Palavra de Deus para a humanidade na qual todos os batizados são chamados a transmitir no coração da humanidade. Ao mesmo tempo, todo profeta é chamado a denunciar todo pecado presente no mundo que fere a beleza das obras criadas Deus. Entretanto, é importante que se entenda essa denúncia nunca como algo dissociada da mensagem do Evangelho. Todo profeta denuncia o pecado quando ele revela a Verdade. Todas as vezes que o profeta transmite a Boa Nova da salvação ele, ao mesmo tempo que, transmite a Verdade ao coração da humanidade, faz cair por terra toda a realidade do pecado.
Diante da missão de profeta confiada ao homem, o mesmo deve se ater a um grande perigo que pode ferir sua vocação: o perigo de se tornar um adivinho. Existe uma grande diferença entre um adivinho e um profeta. O profeta é sempre um instrumento na qual Deus tem toda liberdade fazer o que quiser. É como um instrumento nas mãos de um musico. O músico tem toda liberdade para produzir os sons que quiser. O profeta fiel a sua missão, fala sempre aquilo que recebeu de Deus. Por sua vez, o adivinho tenta arrancar de Deus aquilo que ele quer falar. Sua mensagem vem sempre dele mesmo com justificativa de que é Deus quem comunica. Todo adivinho tenta instrumentalizar Deus ao seu favor.
Isso é visto com muita severidade. Bento XVI, em sua obra Jesus de Nazaré (2007 p.22), ao fala sobre o profetismo, observa essa grande preocupação já presente no Antigo Testamento:
A crítica aos falsos profetas, que repetidamente se encontra nos livros proféticos com grande severidade, mostra o perigo que há de os profetas assumirem o papel de adivinhos, se comportarem como eles e com eles forem consultados, como o que Israel cai naquilo em que a autentica missão dos profetas seria precisamente impedir.
É de fundamental importância que e tenha bem claro essa distinção, pois todo batizado é chamado a ser fiel a sua missão de profeta. Isso significa que todo fiel batizado deve ser um instrumento nas mãos de Deus e não instrumentalizar Deus a seu favor.
Quando todo profeta é fiel a sua missão ele se tonar como a lua. A lua não possui luz própria, mas reflete a luz do sol. Todo profeta na medida que é fiel a sua missão reflete a luz de Cristo. Por essa razão, é necessário e fundamental que todos profeta tenha intimidade com o seu Senhor, pois a intimidade é o elemento que faz um profeta.
Todas as vezes que a intimidade com o seu Senhor desaparece da vida de um profeta, o mesmo sempre caminha para ser um adivinho. Este é o grande perigo! Quando isso acontece o profeta perde o brilho: tem aparência de um profeta, o jeito de um profeta, fala coisas bonitas, porém, não brilha, suas palavras não tem poder de transformar o coração e tudo não deixa de ser apenas uma casca.
Bento XVI, observando a figura de Moisés no Antigo Testamento, observa que o que importa na vida de um profeta não são suas ações extraordinária, mas a sua amizade com Deus. É do relacionamento com Deus que vem toda profecia:
É decisivo na figura de Moisés não ao as ações maravilhosas que a seu respeito são contadas, não são as obras e os sofrimentos no caminho desde a ‘casa de escravidão no Egito’ através do deserto até o limiar da Terra Prometida. Decisivo é que ele tenha falado com Deus como um amigo: era somente aqui que podia vir suas obras, era somente aqui que podia vir as leis, que devia ensinar Israel no caminho no curso da história (2007, p.23).
Segundo Yves Congar, a profecia é o elemento essencial na e para a Igreja, sem a qual a Igreja não sobreviveria. A Igreja vive e respira através dos profetas que, por sua vez, são identificados como: Os santos, os gênios religiosos, os mártires, os acetas e entre outros. São todos aqueles que um dia fizeram a experiência do Cristo em sua vida e pautaram sua vida no Evangelho. Todos que vivem uma vida no Espírito não só se torna um profeta, mas se torna a própria profecia nos tempos de hoje. Os que assim vivem, pelo seu testemunho, comunica no seu modo ser o próprio Cristo.
Serafino Falvo afirma que:
Todo aquele que fala a respeito de Deus, pode ser chamado profeta. Vozes misteriosas, a voz da consciência, os ensinamentos da Igreja, a pregação, leituras acéticas, diálogo espirituais, os bons exemplos, as admoestações dos pais e superiores etc., são a voz de Deus que chega até nos através das criaturas e, têm, portanto, um caráter profético (FALVO, 1976, p. 69).
Os profetas não existem para comunicar acontecimentos de amanhã, ou de depois de amanhã, e assim servia curiosidade humana ou à humana necessidade de segurança. Ele existe para nos mostrar o rosto de Deus, e assim mostrar o caminho que o homem deve seguir. Quando um profeta verdadeiro trata sobre o futuro em seus ensinamentos do que um adivinho pretende. O profeta ao falar sobre o futuro ele quer dar indicações para um verdadeiro “êxodo”, em qual consiste em todos os caminhos da história, deve ser procurado e encontrado caminho para Deus como autentica direção.
O profeta de hoje é diferente dos profetas do Antigo Testamento. Ser profeta nos tempos atuais não significa dizer coisas novas, no sentido de se colocar diante de Deus esperando uma nova revelação, mas acolher e aprofundar na máxima revelação já dada à humanidade: Jesus Cristo. Para que, uma vez acolhido possa transmitir a outros corações a grande Palavra de Deus, Jesus Cristo.
Cristo é a plenitude de toda revelação. Sendo assim, não há e não haverá uma outra revelação, pois Cristo é suficientemente poderoso, a única resposta para à humanidade. Por essa razão, o profeta deve ser aquele que realiza uma passagem da ortodoxia para ortoprax, isto é, aquele que acolhe a revelação de Deus dada na história e a transmite no seu tempo. Mais do que receber um conteúdo novo, decifrar o futuro, o profeta é aquele que realiza a transmissão da verdade revelada ao coração da humanidade.
Uma vez que a Palavra é o suficiente para a humanidade, pois nela está a máxima revelação, o próprio Cristo, abre-se uma outra necessidade para a vida de uma profeta: a fidelidade a Palavra na escuta e no anúncio. O que qualifica um profeta é a intimidade com a Palavra. Não é a capacidade de oratória, isto é, a habilidade de falar em público, mas a sua docilidade à Palavra de Deus. Quem fala muito pode acertar alguma coisa, mas quem fala no poder do Espírito Santo fala palavras de poder que transforma o mundo.
Conclusão
O carisma da profecia é uma força e uma pureza verdadeiramente única. Toda palavra de profecia depende totalmente de Deus, pois é ele quem dispensa sobre o profeta as palavras de devem ser comunicada. Entretanto, o profeta só é capaz de acolher e transmitir a palavra se sua vida é marcada pela intimidade com seu mestre, caso contrário, não poderá acolher a revelação em seu coração para que possa transmitir.
A profecia e o profeta estão intimamente ligadas. Deus quis contar com os profetas e, ao mesmo tempo, o profeta depende a profecia. Quando o profeta não está bem sofrerá com grandes limitações para colher e transmitir a Palavra.
Portanto, o grande sono espiritual que atingiu a humanidade não é por que Deus deixou de falar, mas porque os profetas não o escuta-O mais. Se faz necessário despertar de toda sonolência provocada pelo pecado para que possamos acolher em nosso coração as maravilhas de Deus.
Se faz urgente desperta para o Batismo no Espírito Santo, para vida no Espírito, para um conhecimento profundo da Doutrina, para um aprofundamento na Sagradas Escritura e para a vida em comunidade, elementos esses indispensáveis para a vida de um profeta.
Referencia
CONGAR, Yves. Ele é o Senhor e dá a Vida. São Paulo: Paulinas, 2010.
RATZINGER. J. Jesus de Nazaré: do batismo no Jordão à transfiguração. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2007.
FALVO, S. O Despertar dos Carisma. São Paulo: Paulus, 1976.
[1]Aqui fazemos referência as religiões circunvizinhas a de Israel. O conceito de profeta em Israel não se encaixa nos que será apresentado referente ao Antigo Testamento, pois, Israel é vista como algo inteiramente próprio e diferente, decorrente da fé em Deus que foi oferecida a Israel.
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