Êxodo 10.21-29

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O autor divino/humano estabelece o desfecho da história redentiva, a partir do registro do prenúncio do julgamento divino que desencadeia a redenção/libertação do povo de Deus.

Notes
Transcript
"São estes os nomes..." (Êx 1.1).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
O relato da execução do plano divino que torna célebre o nome do SENHOR sobre toda a terra (como analisado à luz das seções anteriores), mediante a libertação dos filhos de Israel da casa da servidão do Egito é continuado. Moisés, registrando o anúncio e feitura do próximo portento do SENHOR, tanto enfatiza alguns princípios estabelecidos anteriormente, principalmente por ocasião da praga de gafanhotos, quanto prepara a narrativa para a conclusão dessa primeira parte do livro do Êxodo, qual seja: a saída dos hebreus de sob as cargas do Faraó, rumo à terra prometida a Abraão.
A evocação de densas trevas sobre o Egito encerra o próximo ataque do SENHOR contra Faraó, humilhando-o, e este, sentindo o peso da mão divina, apela a outro estratagema a fim de impedir que os hebreus atendessem à voz de Deus.
Após ver o Egito devastado pelos gafanhotos em razão de sua ímpia tentativa de obstruir a fruição do propósito divino de glorificação de seu nome, através da prestação do serviço cúltico que deveria incluir todo o povo hebreu, até mesmo os jovens (i.e. crianças (cf. v. 9)), Faraó aparentemente aquiesce ao edito divino, deixando ir livres também as crianças. Todavia, a verdadeira intenção do monarca é revelada: a concessão do rei abrange apenas o povo; Moisés deveria deixar no Egito os rebanhos e o gado (cf. v.24).
A resposta do profeta explicita o problema: o SENHOR havia ordenado que seu povo saísse do Egito e fosse ao deserto para adorá-lo prestando sacrifícios (cf. 5.1,3); sacríficios que seriam realizados como holocaustos (queima). Se o gado e demais rebanhos dos hebreus ficariam no Egito, Faraó teria "de dar em nossas mãos sacríficios e holocaustos, que ofereçamos ao SENHOR, nosso Deus" (v.25). Novamente o que está em jogo é a adoração a ser prestada pelo povo ao seu Deus; sem o gado, Israel não teria com o que adorar ao SENHOR. Contudo, como afirmado, a repetição desse princípio (tendo em vista a seção de 10.1-20) incide no momento em que o SENHOR prepara-se para executar a última praga.
Próximo do desfecho da saga prodigiosa do SENHOR, Moisés registra que a volição pecaminosa do Faraó em obstruir o caminho do povo de Deus de prestar culto ao seu Redentor teria um fim: as trevas que acometem o Egito eram o prelúdio da libertação dos filhos de Israel, o que reservava por outro lado, o fim também do próprio Faraó que, recusando-se deixar ir livre os hebreus, jamais tornaria a ver o rosto do profeta (v.29). Esta seria a última vez que o inimigo do SENHOR e de seu povo se colocaria como obstáculo na fruição dos grandes propósitos divinos.
Considerando tais ênfases, o texto de Êxodo 10.21-29 salienta como tese central a declaração da soberania do SENHOR na Redenção do seu povo: a nona praga - YHWH, o Deus adorado por seu povo (pt 2): o prelúdio do fim.
Elucidação
O episódio é iniciado com a ordem divina direcionando Moisés à execução do milagre em questão: "Estende a mão para o céu, e virão trevas sobre a terra do Egito, trevas que se possam apalpar" (v.21). A cobertura de toda a terra do Egito em trevas acometendo somente o território dos egípcios, excluindo-se os hebreus, traz à tona novamente a já referida distinção (cf. 8.22-23; 9.4) realizada pelo SENHOR.
Embora alguns egípcios tenham encontrado misericórdia da parte do SENHOR ao serem poupados de algumas pragas (cf. 9.20-21), a distinção geral estava mantida: Faraó deveria contemplar a devastação causada pelo Deus que prometera aos ancestrais de seu povo a libertação, sem nada poder fazer para evitá-la.
Tendo Moisés estendido a mão para o céu, “houve trevas espessas sobre toda terra do Egito por três dias’” (v.22). Vendo o novo portento divino, Faraó inicia outra negociação com Moisés: o mandatário egípcio inclui na concessão de alforria também as crianças (v.24). Contudo, tal como foi na seção anterior, as más intenções do monarca revelam-se a partir das limitações que deseja impor. À primeira vista, Faraó parece estar se inclinando a aceitação da vontade divina, mas na verdade seu coração, como dantes (cf. vv.10-11), esconde o desejo malicioso de impedir que aquilo que foi exigido pelo SENHOR seja atendido na íntegra.
Como enfatizado desde a declaração da vontade divina por ocasião da primeira praga, o plano redentivo empreendido e executado por Deus tem como alvo demonstrar a glória do seu nome sobre toda terra, através da libertação dos hebreus da terra do Egito, como cumprimento da aliança abraâmica. O ponto de convergência entre esses dois intentos era exatamente o momento em que o SENHOR seria adorado/servido por seu povo no deserto, através da celebração de uma solenidade (ou festa) (cf. 3.15-18).
Ainda que, sob a pressão das pragas, Faraó tenha se deparado com a inflexibilidade do mandado divino, o governante egípcio tenta novamente impedir que o culto a Deus seja prestado da maneira como ele determinou. Assim como ficou claro à luz da seção anterior, os adendos feitos por Faraó, ainda que pareçam pequenos detalhes, são na verdade uma tentativa vil de solapar a glorificação do nome do SENHOR na realização daquilo que publicou que faria ao seu povo.
O rei egícpio propõem que o profeta parta do Egito com todo o povo hebreu, incluindo as crianças; deixando para trás apenas os rebanhos, como é exposto no versículo 24:
Êxodo 10.24 ARA
Então, Faraó chamou a Moisés e lhe disse: Ide, servi ao Senhor. Fiquem somente os vossos rebanhos e o vosso gado; as vossas crianças irão também convosco.
Não obstante, uma problemática é ressaltada pelo servo de Deus em relação a fala do monarca. Se ele aceitasse sair com os filhos de Israel da terra do Egito, deixando seus rebanhos, as ofertas de holocaustos que faziam parte das exigências divinas para celebração do culto a Deus não poderiam ser realizadas à contento, como o próprio Moisés reconhece:
Êxodo 10.26 ARA
E também os nossos rebanhos irão conosco, nem uma unha ficará; porque deles havemos de tomar, para servir ao Senhor, nosso Deus, e não sabemos com que havemos de servir ao Senhor, até que cheguemos lá.
Embora o ataque de Faraó se direcione contra algo aparentemente de “menor importância” (se comparado aos filhos dos hebreus e sua participação na adoração à YHWH (tema da seção anterior)), o alvo do rei ímpio é o mesmo: impedir que a glória do SENHOR seja publicada mediante o cumprimento do plano de que seu povo o adore segundo os parâmetros que determinou. A implicação desse entrave seria nada menos do que a contestação da soberania divina. Se Israel deixasse seus rebanhos no Egito, não teriam com o que obedecer ao SENHOR no momento da celebração da festividade solene, e com isso, o que seria publicado por toda a terra é que YHWH, apesar de ter feito sair seu povo do Egito, não pôde realizar o que planejou e prometeu a Abraão, por ter cedido à resistência de um rei humano. A mudança sutil da proposta do Faraó provocaria uma consequência devastadora: a vontade de um homem alterou os planos divinos, e no final das contas, se isso realmente acontecesse, a soberania divina seria vista como não totalmente absoluta.
Nada obstante, tendo Moisés sustentado na íntegra do édito do SENHOR, o registro enfatiza o endurecimento do coração do monarca egípcio, como prova da inexorabilidade do plano divino, como consta no versículo 27: “O SENHOR, porém, endureceu o coração de Faraó, e este não quis deixá-los ir”. Noutras palavras, o verso enfatiza que YHWH não desistiria de demonstrar em Faraó todo o seu poder e soberania, e para isso, ele não abriria mão de nenhuma unha dos rebanhos e do gado dos filhos de Israel (cf. v.26a), endurecendo o coração do rei até que toda sua glória fosse publicada na libertação de seu povo, tal como anunciado aos patriarcas.
A conclusão da narrativa ressalta essa perspectiva: Faraó emite a Moisés uma ordem de banimento: “Retira-te de mim e guarda-te que não mais vejas o meu rosto” (v.28). Entretanto, ao fazer isso, o rei egípcio, não intencionalmente, evidencia o encaminhamento da trama para o seu fim.
A constante ida de Moisés ao palácio era também um demonstrativo da paciência e misericórdia divina, pois, constantemente estava sendo ofertada a Faraó a oportunidade de humilhar-se diante do SENHOR, reconhecendo sua soberania. Ao proibir o profeta de anunciar o édito divino, o mandatário rejeita por completo a extensão da benevolência de YHWH, trilhando a via da experimentação do último e derradeiro ato de julgamento da parte de Deus contra ele, conforme anuncia o próprio profeta no versículo 29: “Bem disseste; nunca mais tornarei eu a ver o teu rosto”.
Transição
A reincidência de Faraó em obstruir os planos do SENHOR de glorificação seu nome através do serviço cúltico a ser prestado pelo seu povo, cumprindo sua aliança, é respondida com um portento que preludia a aniquilação do rei egípcio. Trevas espessas cobriram toda a terra do Egito, exibindo o terrível julgamento que se avizinhava de Faraó e dos algozes do povo de Israel, por tê-lo submetido a escravidão.
Por outro lado, o mesmo sinal de julgamento direcionou os filhos de Israel à expectativa quanto ao cumprimento das palavras que Deus havia anunciado por intermédio de Moisés: de que os libertaria e guiaria à uma terra boa, que mana leite e mel, onde serviriam seu Deus num relacionamento com ele, tal como prometido aos patriarcas (cf. 3.7-8) .
Assim, Moisés alude aos leitores/ouvintes de seu texto que as trevas que enegreceram as vistas dos rebeldes contra Deus e seu plano redentivo, na verdade anunciavam o último ato da trama divina que culminaria com a redenção. Enquanto por um lado, as trevas representavam a separação espiritual a qual seriam submetidos Faraó e seu povo, do SENHOR e sua graça (BEALE, 2017, p. 317. cf. v. 23: “não viram uns aos outros”), para os filhos de Israel indicava a aproximação do momento em que seriam unidos ao SENHOR. O sinal de juízo sobre os primeiros, avisava os últimos de que a libertação estava próxima.
Em face dessas observações, o texto de Êxodo 10.21-29 focaliza a compreensão de pelo menos dois princípios a serem contemplados pela igreja hoje:
Aplicações
1. A corrupção do serviço de adoração ao SENHOR, macula não somente o culto em si, mas o testemunho de que somente o Deus Triuno é o único e grande rei de toda a terra, a quem é devida resoluta obediência em vista de sua absoluta soberania.
Os termos determinados por Deus para a execução da libertação dos hebreus da servidão aos egípcios, delineiam a forma através da qual sua soberania seria publicada, e tais princípios foram anexados também à forma de culto que Moisés e os filhos de Israel deveriam prestar ao SENHOR.
Isto posto, a transposição da perspectiva para hoje, corresponde à exortação que o autor divino/humano direciona aos leitores do presente texto.
Como aludido na seção anterior, os inimigos do reino de Deus e de seu povo, lutarão para minar ou até roubar a glória de Deus, buscando colocar-se em seu lugar, como foi sibilado no ouvido do primeiro casal no Éden (cf. Gn 3.5). Uma das táticas para lograr êxito nesse diabólico empreendimento, é a obstrução da prestação de um serviço de culto que obedeça as determinações do SENHOR.
Seja a retirada das crianças do momento do culto público, ou a ausência de gado, ou a inclusão de elementos mais afeitos aos gostos humanos do que aos divinos, ou métodos de atração de pessoas, toda e qualquer forma de se cultuar a Deus para além daquilo que ele prescreveu, configura-se, na verdade, num acinte à sua soberania. o Deus Todo-poderoso e Redentor de seu povo não negocia; não cede aos caprichos dos homens, como não cedeu a proposta vil do Faraó, que na verdade queria impor-se como superior ao Deus dos hebreus, impedindo que seus planos fossem plenamente fruídos.
Nossa luta por um culto que reflete verdadeiramente aquilo que o SENHOR estabelece em sua palavra, visa refletir e demonstrar que obedecemos Àquele que realmente é o único e grande rei de toda a terra; o único cuja palavra não pode ser alterada ou diminuída.
Fomos separados, em Cristo Jesus, para servir ao SENHOR e nos relacionar com ele, adorando-o e desfrutando de comunhão plena com ele por toda a eternidade, tal como referencialmente os hebreus o foram ao terem sido libertos do Egito e encaminhados à terra de Canaã, onde adorariam ao SENHOR por meio dos holocaustos que ofereceriam. Assim como Moisés se manteve firme em acentuar ao rei egípcio o édito divino para sua adoração, da mesma forma nós precisamos amar o culto a Deus da maneira como ele nos indicou que deveria ser prestado, para que dessa forma, seu nome seja verdadeiramente magnificado em nosso meio, não deixando para trás nem ao menos um til de tudo aquilo que nos prescreveu nosso Deus.
2. O obscuro juízo que recai sobre os ímpios, principalmente levando em consideração a postura cada vez mais contumaz e enrijecida de rebelião contra Deus, é o indicativo de que sua destruição se aproxima.
As trevas que cobriram a face do Egito não foram necessariamente letais, provocando mortes e destruição, como as outras pragas. Porém, isso não quer dizer que tal portento do SENHOR não foi terrível, pois revelava a escuridão do julgamento à qual seriam submetidos os algozes do povo de Deus, transparecendo a separação espiritual daqueles em relação ao SENHOR.
A última praga não era necessariamente um ato de julgamento, como as pedras em chamas, os gafanhotos ou o rio em sangue, mas uma evidência da aproximação do momento do julgamento final, como será visto na sequência da narrativa, e o sinal claro disso é o endurecimento final que acomete o coração do Faraó, que vaticina sua própria destruição.
O mundo hoje assiste as trevas cobrirem os céus. O célere julgamento do SENHOR publica a sentença condenatória que pesa contra aqueles que resistem reconhecê-lo como o único soberano sobre toda a terra. Nada obstante, ao invés de provocar temor em seus corações por contemplarem o agravamento do juízo, endurecem suas cervizes e protestam contra a reclamação divina de absoluto controle sobre todas as coisas.
O exílio divino os afasta cada vez mais da oferta de misericórdia, e assim como Faraó expulsou Moisés de sua presença, selando sua própria condenação, o mundo rejeita e resiste à igreja, apartando-se da única porta-voz de Cristo Jesus; aquele é o mediador entre o homem e Deus, e portanto, o único capaz de livrar os homens do castigo divino, tal como fizera Moisés, tantas vezes, ao rogar ao SENHOR por Faraó. Analogamente, um dia, tal como ocorreu no passado, o mundo não mais verá o rosto da igreja; esse será o momento de sua destruição.
Conclusão
A nona praga serviu aos propósitos divinos como prelúdio do julgamento que recairia sobre aqueles que se avessaram ao plano divino de glorificação de seu nome através da libertação de seu povo. Porém, para o povo de Deus, as trevas também são um sinal, indicando que a redenção se aproxima (cf. Lc 21.28).
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