A Lei é boa
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Prólogo
Prólogo
Não sei se vocês sabem dessa notícia, é um pouco antiga e aconteceu em um desses países do oriente médio, descobriram que um líder cristão bem proeminente, no seu passado, era tão legalista que presenciou o assassinato de um jovem cristão recém convertido, que estava apenas pregando sobre a graça da salvação em Jesus Cristo, e este líder, por ser tão legalista, não fez absolutamente nada. Aliás, ele achava que deveria mesmo matar o jovem por isso.
Um absurdo, não é mesmo?
Isto aconteceu por volta do ano de 35 a 36 DC, o jovem chamava Estevão e o líder religioso proeminente, Saulo, mais conhecido como apóstolo Paulo.
Alguns dizem que esta culpa, carregada por Paulo seria o seu espinho na carne, eu particularmente acredito que não, como já falei aos irmãos, creio que seja a sua doença em seus olhos, descrita na carta aos Gálatas. Mas mesmo assim isso deveria ser um ferida em aberto para Paulo, o que o seu legalismo o levou a fazer.
Nesta nova série: Entre a Lei e a Graça, vamos abordar alguns conceitos que julgo serem importantes para a doutrina da igreja: Lei e Graça.
Julgo ser importante porque podemos, assim como Paulo antes de sua conversão, pendermos para Lei e nos tornarmos legalistas, ou pendermos para um entendimento errado sobre a Graça, e partir para a libertinagem.
Nesta nova série de 3 sermões, vamos usar como base a carta aos Romanos, estarei neste primeiro ensaio abordando a Lei e sua interação com a vida cristã me utilizando do capítulo 7, no segundo momento falarei sobre a Graça e suas nuances, utilizando o capítulo 8, e no terceiro momento como a Lei e Graça interagem no plano de salvação divino, usando o famoso capítulo 9.
Texto Base
Texto Base
Romanos 7.1–6 (NVI)
1 Meus irmãos, falo a vocês como a pessoas que conhecem a lei. Acaso vocês não sabem que a lei tem autoridade sobre alguém apenas enquanto ele vive? 2 Por exemplo, pela lei a mulher casada está ligada a seu marido enquanto ele estiver vivo; mas, se o marido morrer, ela estará livre da lei do casamento. 3 Por isso, se ela se casar com outro homem enquanto seu marido ainda estiver vivo, será considerada adúltera. Mas se o marido morrer, ela estará livre daquela lei, e mesmo que venha a se casar com outro homem, não será adúltera. 4 Assim, meus irmãos, vocês também morreram para a Lei, por meio do corpo de Cristo, para pertencerem a outro, àquele que ressuscitou dos mortos, a fim de que venhamos a dar fruto para Deus. 5 Pois quando éramos controlados pela carne, as paixões pecaminosas despertadas pela Lei atuavam em nosso corpo, de forma que dávamos fruto para a morte. 6 Mas agora, morrendo para aquilo que antes nos prendia, fomos libertados da Lei, para que sirvamos conforme o novo modo do Espírito, e não segundo a velha forma da Lei escrita.
Introdução
Introdução
Antes de estudarmos o texto é importante compreender alguns elementos desta perícope:
Quando Paulo se refere a “meus irmãos”, a quem ele de fato estava se dirigindo?
Alguns teólogos dizem que Paulo se dirigia aos Judeus.
Razões apresentadas:
porque Paulo fala: “como a pessoas que conhecem a Lei”, e os gentios não conheciam a Lei [Torah] (não faz sentido)
Alguns teólogos dizem que é a Igreja, porque concordo com este entendimento:
Quando Paulo quis se referir aos judeus, ele deixa isso bem claro, por exemplo:
3 Pois eu até desejaria ser amaldiçoado e separado de Cristo por amor de meus irmãos, os de minha raça, 4 o povo de Israel. Deles é a adoção de filhos; deles é a glória divina, as alianças, a concessão da Lei, a adoração no templo e as promessas.
Os gentios se relacionavam com os Judeus convertidos, e sobre o que eles falavam? Será que nunca falaram sobre a Torah?
Os gentios conheciam a Lei também, o que eles estudavam em suas reuniões? As Escrituras Sagradas, porém agora reveladas por Cristo, assim como nós atualmente, até porque as cartas e os evangelhos estavam sendo escritos.
Se a carta fosse endereçada aos judeus, possivelmente não teríamos ela em nossas mãos hoje. Paulo era considerado um traidor pelos líderes religiosos judeus e certamente eles a teriam rasgado.
Quando Paulo se refere a Lei, qual Lei de fato ele esta tratando?
A Lei geral? => legislação de um país
Razões:
Porque Paulo utiliza o matrimônio como analogia e isso é comum a todas as nações, incluindo Roma (não faz sentido)
Porque Paulo esta se dirigindo aos gentios que não conhecem a Torah, como dito no verso 1, e por isso ele não pode usar a Torah como exemplo (não faz sentido)
Lei mosaica, o Torah
Razões que concordo com este entendimento
Termo usado por Paulo é Nomos, e em todas as vezes (209 vezes) esse termo se refere a Lei Mosaica, ou Torah ou aos Dez Mandamentos (Decálogo)
Caso contrário a analogia do casamento seria equivocada porque a legislação romana aceitava o divórcio, e o divorciado poderia contrair outro matrimônio livremente: o casamento romano era baseado em dois elementos: convivência e intenção. O divorcio poderia ser feito apenas recitando na presença de testemunhas ou escrevendo uma carta a seguinte frase: “Res tuas tibi habeto” que significa “Leva tuas coisas”.
Quando Paulo se refere a Lei, a Torah, é apenas a parte moral dela? Ou toda a Lei?
A Lei Mosaica é um todo e a sua divisão é apenas por questões didáticas, para compreensão e estudo.
Lei Moral: dez mandamentos
Lei Cerimonial
Lei Sanitária: puro e impuro, exemplos: menstruação, fungos.
Lei Dietética: puro e impuro, animais que poderiam trazer doenças.
Lei Civil: posse de terra, furtos e trabalho servil.
O propósito da Lei Mosaica?
Ponto de vista humano: formar um povo, uma nação => a lei nos molda enquanto um povo => uma nação sem lei (anarquia) nada se sustenta, se transforma em uma barbárie;
"Num país sem lei, a única lei que existe é a vontade do mais forte." - Blaise Pascal, filósofo e matemático
Ponto de vista espiritual: evidenciar o pecado
Romanos 7.7 (NVI)
7 Que diremos então? A Lei é pecado? De maneira nenhuma! De fato, eu não saberia o que é pecado, a não ser por meio da Lei. Pois, na realidade, eu não saberia o que é cobiça, se a Lei não dissesse: “Não cobiçarás”.
Desenvolvimento
Desenvolvimento
Agora que já tecemos este pano de fundo, temos os elementos necessários para entender o texto proposto por Paulo.
1) Paulo se dirige a Igreja em Roma, ou seja, judeus e gentios.
2) Paulo quando diz Lei se refere a Torah.
3) Paulo se refere a toda a Lei e não a uma parte dela.
Neste texto, Paulo vai responder a seguinte pergunta: a Lei Mosaica ainda está vigorando? Ou ela caducou? Nós, enquanto igreja (judeus e gentios), temos que obedecer a Lei dada por intermédio de Moisés? Sim ou Não.
Para responder a esta pergunta, Paulo usa analogia do casamento. Para aqueles que estão vivos, sim, a Lei Mosaica continua vigorando, e vigorará até os fins dos dias, assim como o matrimônio esta em vigor enquanto os cônjuges vivem. Mas para aqueles que morreram, não.
Aqueles que morreram, assim como a viúva, que não está mais ligada ao marido, os que morreram também não estão mais ligados a Lei. Os que morreram não precisam obedecer a Lei, e nem serão julgados por ela. Na versão Almeida Revista e Atualizada, usa o termo, caducidade da Lei.
Como assim, os que morreram? Morte física?
4 Assim, meus irmãos, vocês também morreram para a Lei, por meio do corpo de Cristo, para pertencerem a outro, àquele que ressuscitou dos mortos, a fim de que venhamos a dar fruto para Deus.
3 Ou vocês não sabem que todos nós, que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados em sua morte? 4 Portanto, fomos sepultados com ele na morte por meio do batismo, a fim de que, assim como Cristo foi ressuscitado dos mortos mediante a glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova.
Nascer de novo, Jesus diz a Nicodemos, como podemos nascer de novo se não morrermos antes?
Quando Paulo fala que, para nós, a igreja, a Lei Mosaica caducou, ele não está dizendo que uma parte da Lei caducou, apenas a Lei Moral, a Lei Cerimonial, Cívica, Sanitária ou Dietética, que caducou. Paulo está se referindo a Lei toda, inclusive o decálogo, os chamados, dez mandamentos.
Você já deve ter ouvido outros pregadores falarem que o que caducou, foi a lei cerimonial, já não precisamos mais sacrificar animais ou sermos circuncidados, mas a Lei Moral, os dez mandamentos ainda estão de pé.
Mas quando a Lei foi dada a Moisés, Deus não disse, aqui está a Lei Moral, agora vou te passar a Cerimonial e depois a Civil. E nem Paulo, e nenhum momento diz que apenas uma parte da Lei caducou. Ele diz, aquele que morreu com Cristo no batismo, não está mais debaixo da Lei, toda a Lei Mosaica.
Se a Lei Mosaica tivesse valendo, se os Dez Mandamentos estivessem valendo para a igreja, nós, igreja, teríamos que guardar o sábado. Teríamos que circuncidar. E a salvação seria por obras e não pela fé.
Agora, a pergunta que você deve estar fazendo, ou que pelo menos deveria estar, é: se não temos que obedecer a Lei Mosaica, os Dez Mandamentos, a Lei Moral, Cerimonial e Civil, vamos viver na libertinagem? Podemos pecar a vontade?
Por isso que Paulo, de antemão, já responde esta pergunta:
Romanos 6.15–16 (NVI)
15 E então? Vamos pecar porque não estamos debaixo da Lei, mas debaixo da graça? De maneira nenhuma! 16 Não sabem que, quando vocês se oferecem a alguém para lhe obedecer como escravos, tornam-se escravos daquele a quem obedecem: escravos do pecado que leva à morte, ou da obediência que leva à justiça?
Deixamos de ser escravos da Lei Mosaica, sacerdócio levítico, para sermos escravos de Cristo, houve mudança de sacerdócio, e consequentemente de Lei, o livro de Hebreus vai decorrer sobre isso:
12 Certo é que, quando há mudança de sacerdócio, é necessário que haja mudança de lei.
Portanto não estamos debaixo da Lei Mosaica, mas sim, debaixo da Lei de Cristo. Uma lei muito mais superior a Lei Mosaica, e um sacerdócio ainda mais superior.
Não é que vivemos sem lei, como alguns vão dizer, nós não estamos mais debaixo da Lei Mosaica mas debaixo de outra legislação: A Lei de Cristo.
Sendo assim, não temos que guardar o sábado, ou nos circuncidar, ou utilizar elementos judaicos no culto, como alguns estão fazendo. Dá a impressão que algumas igrejas ainda não se decidiram debaixo de qual sacerdócio elas estão.
Por isso é que eu disse que essa questão é importante para o fortalecimento da doutrina de nossa igreja. O sacerdócio que nós nos submetemos e obedecemos é o sacerdócio de Cristo.
E qual é a Lei de Cristo? Jesus vai resumi-la em dois artigos, é como se a constituição cristã houve apenas dois artigos:
Artigo I: Amar a Deus acima de todas as coisas
Artigo II: Amar ao próximo como a ti mesmo
Lei Cristo:
Lei Moral: Sermão do monte, Mateus 5, 6 e 7
Lei Cerimonial: Batismo, Ceia, Culto e Unção de doentes
Lei Dietética: Atos 15: Comida sacrificada aos ídolos, sangue, carne de animais estrangulados => imoralidade sexual
Assim como Moisés trouxe a Lei da montanha, Jesus também está promulgando a sua Lei da montanha. Quando Ele diz:
Vocês ouviram o que foi dito aos seus antepassados, mas eu porém lhes digo;
Ele está substituindo a Lei Mosaica pela Sua. Algumas coisas Ele vai pegar dos decálogo e vai ampliar e outras, revogar.
Quando refaz uma constituição, não se joga fora a antiga, o constituinte pode pegar os conceitos da antiga e aprimorar na nova, pode introduzir novos artigos ou até mesmo, revogar artigos.
Exemplo de revogação:
Mateus 5.33–34 (NVI)
33 “Vocês também ouviram o que foi dito aos seus antepassados: ‘Não jure falsamente, mas cumpra os juramentos que você fez diante do Senhor’. 34 Mas eu lhes digo: Não jurem de forma alguma: nem pelos céus, porque é o trono de Deus;
Exemplo de aprimoramento, ampliação:
Mateus 5.21–22 (NVI)
21 “Vocês ouviram o que foi dito aos seus antepassados: ‘Não matarás’, e ‘quem matar estará sujeito a julgamento’. 22 Mas eu lhes digo que qualquer que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento. Também, qualquer que disser a seu irmão: ‘Racá’, será levado ao tribunal. E qualquer que disser: ‘Louco!’, corre o risco de ir para o fogo do inferno.
Não é a toa que Jesus, ao terminar o “Sermão da Montanha”, faz a analogia com a casa construída na areia. É como o legislador que no final da constituição termina dizendo: cumpra-se!
Ele está na montanha escrevendo a sua Lei, não mais em pedras ou tábuas como Moisés, mas em corações humanos.
Não adianta nos intitularmos cristão, vir a igreja semanalmente, se não obedecemos as Leis de Cristo: Lucas 8.21 “21 Ele, porém, lhes respondeu: Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a praticam.”
Muitas pessoas que sentam semanalmente nos bancos das igrejas correm o risco de irem para o fogo do inferno porque desconhecem ou não praticam a Lei de Cristo.
A Lei de Cristo é boa, não é pesada, o jugo é leve.
É uma lei fundamentada no amor. Temos o auxílio do Espírito Santo que nos ajuda a obedecer a Cristo.
Diferente da Lei Mosaica, na Lei de Cristo temos a oportunidade de nos arrepender, de voltar a trás, de perdoar e sermos perdoados.
Não seremos julgados pelos nossos erros se de fato nos arrependermos => Vá e não peques mais.
Apelo ao perdão, arrependimento e obediência a Cristo