Permanecer e Jesus
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Permanecer e Jesus
Avivamento
(Jo 15.1–16.4)
“Permanecer” significa viver, continuar ou habitar; assim, permanecer em Cristo é viver nEle ou permanecer nEle.
João capítulo 14 encerra com uma decisão de Jesus de sair do lugar onde estava (14.31). Seria levantar-se da mesa onde ceavam? Seria sair do cenáculo rumo ao Getsêmani? Provavelmente não, pois João 18.1 nos informa mais claramente que ele só saiu do cenáculo rumo ao Getsêmani depois da oração sacerdotal.
Aqui está a sétima e última expressão de Jesus: Eu sou. Já havia dito:
· Eu sou o pão da vida.
· Eu sou a luz do mundo.
· Eu sou a porta.
· Eu sou o bom pastor.
· Eu sou a ressurreição e a vida.
· Eu sou o caminho, a verdade e a vida.
· Eu sou a videira verdadeira.
Neste texto, Jesus trata da metáfora da videira, do seu estreito relacionamento com seus discípulos e da irreconciliável inimizade que o mundo nutre por ele e por seus discípulos. D. A. Carson diz que, no Antigo Testamento, a videira é um símbolo comum para Israel, o povo da aliança de Deus (Sl 80.9–16; Is 5.1–7; 27.2ss.; Jr 2.21; 12.10ss.; Ez 15.1–8; 17.1–21; 19.10–14; Is 10.1,2).
Mais notável ainda é o fato de que, sempre que o Israel histórico é referido sob essa figura, enfatiza-se o fracasso da videira em produzir bom fruto, junto com a correspondente ameaça do julgamento de Deus sobre a nação.
Nesse momento, em contraste com tal fracasso, Jesus declara: Eu sou a videira verdadeira, isto é, aquela para quem Israel apontava, aquela que produz bom fruto. Jesus, em princípio, já substituiu o templo, as festas judaicas, Moisés, vários lugares santos; nesse ponto, ele substitui Israel como o próprio local do povo de Deus.
A videira verdadeira não é, portanto, o povo apóstata, e sim o próprio Jesus, e aqueles que são incorporados a ele.
Charles Swindoll diz que, no capítulo 15 de João, Jesus destaca três relacionamentos vitais do cristão:
1) 15.1–11 – o relacionamento do crente com Cristo. O termo chave é “permanecer”, usado 10 vezes em 11 versículos. A ênfase é união.
2) 15.12–17 – o relacionamento do crente com os demais crentes. O termo chave é “amor”, usado 4 vezes em 6 versículos. A ênfase é comunhão.
3) 15.18–27 – o relacionamento do crente com o mundo. O termo-chave é “odiar”, usado 7 vezes em 10 versículos. A ênfase é perseguição.
Estamos ligados a Cristo, por isso precisamos produzir frutos (15.1–11)
Na metáfora da videira, Jesus mostra quão profundamente estamos ligados a ele. Hendriksen diz que essa unidade é moral, mística e espiritual.
A união mística com Cristo, ilustrada pela união entre o pastor e as ovelhas, a cabeça e o corpo, o noivo e a noiva, o fundamento e o edifício, recebe agora uma nova imagem, a videira e os ramos. Trata-se de uma união orgânica, vital, profunda.
Ao expor essa vívida metáfora, Jesus trata de quatro assuntos que enriquecem nosso entendimento acerca de nosso estreito relacionamento com ele.
Em primeiro lugar, a videira. Em todo o Antigo Testamento, Israel é apresentado como a videira, a vinha do Senhor. Deus a plantou e a cercou com cuidados, mas Israel produziu uvas bravas. Então, agora, Jesus diz: Eu sou a videira verdadeira (15.1).
Em segundo lugar, os ramos.Sozinho, um ramo é frágil, infrutífero e imprestável, servindo apenas para ser queimado (Ez 15.1–8). O ramo não é capaz de gerar a própria vida; antes, deve retirá-la da videira. De igual forma, é nossa união vital com Cristo que nos permite dar frutos.
Em terceiro lugar, o agricultor. O trabalho do agricultor é cuidar da videira, a fim de que seus ramos produzam muitos frutos. Para isso, o agricultor levanta, limpa e poda os ramos. O agricultor poda os ramos de duas maneiras:
a primeira é limpando e podando os ramos para que sejam renovados;
a segunda, é removendo os ramos secos e sem vida para lançá-los fora e queimá-los.
Em quarto lugar, os frutos. O propósito de uma videira não é produzir madeira nobre, lenha ou sombra, como algumas outras árvores. Tampouco a videira é uma planta ornamental. O único propósito da videira é produzir frutos.
· Concordo com William Hendriksen quando ele diz que esses frutos são
· os bons motivos,
· desejos,
· disposições (virtudes espirituais),
· palavras,
· obras –
· tudo isso com origem na fé, em harmonia com a lei de Deus e feito para a sua glória.
O propósito principal de Jesus aqui é mostrar que o Pai está trabalhando na vida dos discípulos, que permanecem em Cristo, a fim de que produzam muitos frutos.
Os discípulos são os ramos, e a finalidade dos ramos que permanecem ligados a Cristo é produzir frutos.
Se eles não permanecem em Cristo, não fazem parte da videira, da família, da igreja, do rebanho; secam e são lançados no fogo e queimados. Deus, como viticultor, espera de nós frutos.
Nessa metáfora, Jesus falou sobre quatro tipos de ramos:
1) nenhum fruto (15.2);
2) fruto (15.2);
3) mais fruto (15.2);
4) muito fruto (15.8).
Qual é a importância de produzir frutos?
Jesus diz: […] eu vos escolhi e vos designei a ir e dar fruto, e fruto que permaneça […] (15.16).
Estamos aqui para produzir frutos para Deus e dar glória ao seu nome através de uma vida frutífera.
Qual é o nível de produção de frutos dos cristãos?
Primeiro, nenhum fruto (15.2). Muitos estudiosos da Bíblia interpretam o versículo 2 desse capítulo como se um crente que não produz fruto não pudesse ser um cristão verdadeiro, ou seja, sua ligação com Cristo é apenas aparente. Esses acreditam que tais pessoas estão ligadas a Cristo apenas por um ritual ou pela membresia em uma igreja, sem jamais ter nascido de novo. São pessoas que não têm a graça de Deus no coração. A união delas com Cristo é nominal, e não real. Têm o nome de que vivem, mas estão mortas. Onde não há fruto, não há vida.
Outros, porém, interpretam que “cortar” significa que, se você não der fruto, pode perder a salvação. Mas o ponto central do versículo 2 é: está em mim. É impossível estar em Cristo sem ser cristão.
É impossível estar em Cristo e perder a salvação.
A. W. Pink argumenta que uma tradução mais clara da palavra grega airo não seria “cortar”, mas “tomar” ou “levantar”. Esse mesmo verbo airo aparece com significado diferente de “cortar”, como podemos ver em Mateus 14.20 (“recolher”); Mateus 27.32 (“levar”) e João 1.29 (“tirar”). Na verdade, das 24 ocorrências do verbo airo no evangelho de João, em 8 vezes, o sentido é de “tomar ou levantar”.
Bruce Wilkinson diz que, tanto na literatura grega como nas Escrituras, airo não significa apenas “cortar”, mas também “levantar”. Edward Robinson destaca que airo significa prioritariamente “levantar, erguer, elevar”, como pedras (8.59), serpentes (Mc 16.18), âncoras (At 27.13). Charles Swindoll, nessa mesma linha de pensamento, aponta que o verbo grego airo, traduzido aqui por “cortar”, deve ser primariamente entendido como “levantar do chão”. Embora João tenha usado o termo airo tanto no sentido de “cortar” (11.39; 11.48; 16.22; 17.15) como de “levantar” (5.8–12; 8.59), nossa preferência deve ser por “levantar”, uma vez que um viticultor jamais corta os ramos durante a estação do crescimento. Ao contrário, ele levanta os ramos que caem e amarra-os junto aos demais. A imagem do “cortar e lançar fora” só será introduzida no versículo 6.
O termo “levantar” sugere a imagem de um agricultor se abaixando para erguer um galho. É muito comum o viticultoramarrar os ramos da videira a fim de que eles não cresçam para baixo e percam sua vitalidade de produção. Os galhos novos tendem ir para baixo e a crescer perto do chão. Mas eles não produzem fruto ali. Quando os galhos crescem junto ao chão, as folhas ficam cobertas de poeira. Quando chove, ficam cheias de lama e mofam. O galho, então, adoece e fica inútil.
O que o agricultor faz com o ramo que cresce junto ao chão?
Corta-o e joga-o fora?
Absolutamente não!
O ramo é muito valioso para ser cortado.
Ele precisa ser lavado, levantado e amarrado de volta aos outros ramos, e logo começará a frutificar.
Quando um cristão cai, Deus não o joga fora nem o abandona. Levanta-o, limpa-o e ajuda-o novamente a vicejar. Para o cristão, o pecado é como a sujeira que cobre as folhas da parreira. O ar e a luz não conseguem penetrar, e o fruto não se desenvolve.
Como o divino viticultor nos levanta do pó?
Como ele faz um galho estéril produzir fruto?
A metáfora de Jesus traz a lume o importante propósito da disciplina na vida do cristão.
A disciplina tem por objetivo levantar o caído a fim de que ele frutifique para a glória Deus. Embora seja um ato doloroso, é também, e sobretudo, um ato de amor.
A disciplina não é agradável nem para o filho nem para o Pai, mas é a demonstração de um amor responsável.
É o método de Deus para tirar o caído da esterilidade.
As Escrituras dizem que Deus toma a iniciativa de corrigir os filhos que se desviam, assim como o viticultor toma as medidas necessárias para corrigir um galho desviado (Hb 12.5,6). Mostram, ainda, que o projeto de Deus na disciplina não é provocar dor, mas produzir fruto.
A disciplina não precisa ser contínua.
Tão logo o galho deixa de se arrastar pelo chão, tão logo o crente se arrepende, a disciplina cessa.
Deus não espera que você procure a disciplina. Ele quer que você saia dela (Hb 12.11).
A Palavra de Deus é decisiva em declarar que, sem disciplina não somos filhos, mas bastardos. Deus sempre disciplina aqueles que não produzem fruto.
É aí que você troca o cesto vazio por cachos suculentos de uva (Hb 12.8).
A Palavra de Deus menciona três graus da disciplina divina:
1) A correção(Hb 12.5). A correção ou repreensão é uma advertência verbal. Deus nos adverte por meio de sua Palavra e de sua providência.
2) A reprovação (Hb 12.5). A reprovação é um grau mais avançado na disciplina. Quando o filho não atende à repreensão verbal, ele é reprovado.
3) O açoite(Hb 12.6). Quando o filho não atende à advertência nem se corrige após ser reprovado, o próximo passo é o açoite, o chicote, o castigo físico.
Deus não descarta seus filhos.
Aqueles que tropeçam e caem não são lançados fora, como coisa imprestável.
É como ocorre na casa de um ferreiro.
Há três tipos de ferramentas.
O primeiro tipo é a sucata. São ferramentas enferrujadas, quebradas, aparentemente imprestáveis.
O segundo tipo é a ferramenta que está na bigorna. O ferreiro pega a sucata e a coloca no fogo, depois a açoita na bigorna, moldando-a e afiando-a para tornar-se valorosa e útil.
O terceiro tipo de ferramenta é a que está afiada e pronta para ser usada. Deus não desiste de seus discípulos, como o ferreiro não desiste da sucata nem o viticultor desiste do ramo que caiu.
Segundo, fruto e mais fruto (15.2). Depois que Jesus contou aos discípulos como o viticultor cuida do ramo estéril, ele pegou um ramo que demonstrava crescimento desordenado, mas produzia apenas alguns cachos de uvas (15.2).
O viticultor sabe que, para conseguir mais frutos da vide, é preciso ir contra a tendência natural da planta. Por causa da tendência da vinha em crescer vigorosamente, muitos galhos têm de ser cortados a cada ano.
As parreiras podem ficar tão densas que a luz solar não alcança a área em que o fruto deve formar-se. Livre, a parreira sempre favorecerá mais crescimento de folhagem do que de uvas. É por essa razão que o viticultor corta os brotos desnecessários, independentemente de quanto pareçam vigorosos, pois o único propósito da vinha são as uvas. William Hendriksen diz com razão que o propósito dessa limpeza diária na vida dos filhos de Deus é torná-los progressivamente mais frutíferos. Aquele que produziu trinta por um provavelmente pode produzir sessenta ou até mesmo uma centena.13
Um viticultor usa quatro expedientes na poda:
1) remove os brotos mortos e prestes a morrer;
2) garante que o sol chegue aos galhos cheios de frutos;
3) corta a folhagem luxuriante que impede a produção de frutos;
4) corta os brotos desnecessários, independentemente de quanto pareçam viçosos. Como viticultor, Deus segue o mesmo processo conosco: ele corta as partes da nossa vida que nos roubam a vitalidade e nos impedem de frutificar. O viticultor procura tanto a quantidade quanto a qualidade.
· A poda é o meio que Deus usa em nossa vida para futicarmos mais.
· A disciplina tem que ver com o pecado, e a poda tem que ver com a nossa vida.
· A disciplina é para nos corrigir e nos levar de volta para o caminho; a poda é para sermos mais produtivos.
Deus nos disciplina quando estamos fazendo algo errado; Deus nos poda quando estamos fazendo algo certo.
Deus nos disciplina para darmos fruto; ele nos poda para darmos mais frutos.
Na disciplina, o que precisa ser retirado é o pecado;
na poda, o que precisa ser retirado é o eu. A disciplina termina quando nos arrependemos do pecado; a poda só terminará quando Deus concluir sua obra em nós na glorificação.
Os cristãos mais frutíferos são aqueles que mais têm sido podados pela tesoura de Deus.
Os viticultores podam as vinhas com maior frequência com o passar dos anos. Sem a poda, a planta enfraquece, a colheita diminui. Deus jamais aplicaria a poda se um método mais suave provocasse o mesmo resultado. Nem toda experiência dolorosa resulta de poda. A dor da poda vem agora, mas o fruto virá depois.
Terceiro, muito fruto (15.8). O segredo para a vida frutífera é permanecer em Cristo. Nesses onze versículos, o verbo “permanecer” aparece dez vezes.
Esse é o pensamento central de Jesus. O segredo para uma vida transbordante não é fazer mais por Jesus, mas estar mais com Jesus. O desafio da permanência é passar dos deveres para um relacionamento vivo com Deus.
Nos comentários finais de Jesus sobre a vinha, ele desviou totalmente a atenção de seus discípulos da atividade para o relacionamento com ele.
Depois da disciplina para remover o pecado, depois da poda para mudar as prioridades, agora Jesus diz que o segredo da vida abundante é permanecer nele.
Jesus é a videira, o tronco no qual o galho precisa buscar sua seiva para frutificar. Quanto maior a conexão do ramo com o tronco, maior é a capacidade de produção desse ramo.
A vida, a força, o vigor, a beleza e a fertilidade do ramo estão na sua permanência no tronco.
Em nós mesmos, não temos vida, nem força, nem poder espiritual. Tudo o que somos, sentimos e fazemos vem de Cristo. Ele é a fonte. Jesus disse: […] sem mim, nada podeis fazer (15.5). D. A. Carson é oportuno ao registrar:
A partir dessa vida de oração frutífera, Jesus adverte, “Meu Pai é glorificado”. No quarto evangelho é mais comum o Filho ser glorificado; mas Deus também glorifica a si mesmo no Filho (12.28), e é glorificado em Jesus ou através dele (13.31; 14.13; 17.4). Desde que o fruto dos crentes seja uma consequência da obra redentora do Filho, o resultado da vida pulsante da videira (15.4), e a resposta do Filho às orações de seus seguidores (14.13), segue-se que a frutificação deles traz glória para o Pai através do Filho. Mais precisamente, a frutificação dos crentes é parte e parcela da forma com a qual o Filho glorifica seu Pai.
O propósito de Deus não é que você faça mais por ele, mas que você escolha estar mais com ele. “Permanecer” significa “ligar-se intimamente”. Jesus nos ensina, aqui, oito verdades, como veremos a seguir.
1. Permanecer em Cristo é um imperativo, e não uma opção (15.4).
· Deus está mais interessado em nossa vida do que em nosso trabalho.
· Deus está mais interessado em relacionamento do que em atividade.
· Ele quer você mais do que suas obras.
· Permanecer não equivale a quanto você conhece de teologia, mas a quanto você tem sede de Deus.
· Ao permanecer, você busca, anseia, aguarda, ama, ouve e responde a Jesus.
· Permanecer significa ter mais de Jesus em sua vida, mais dele em suas atividades, seus pensamentos e desejos.
2. Permanecer em Cristo é vital para a salvação (15.6).
Se um ramo não permanece na vidadeira, esse ramo não tem vida; é lançado fora, jogado na fornalha e se queima.
Jesus advertiu que, se uma videira deixasse de produzir fruto, sua madeira só serviria para ser lançada no fogo (Ez 15:1–8).
O fogo simboliza julgamento e atesta a inutilidade daquilo que ele consome.
William Hendriksen destaca os cinco elementos de punição para o homem que não está ligado a Cristo:
· Ele é lançado fora como um ramo (3.18; 6.37).
· Ele seca. Embora essa pessoa possa ter uma vida prolongada, ela não tem paz (Is 48.22) nem alegria (Jl 1.12). Ele é […] como árvores sem folhas nem fruto, duplamente mortas, cujas raízes foram arrancadas (Jd 12).
· Seus ramos são apanhados (Mt 13.30; Ap 14.18).
· Ele é lançado no fogo (Mt 13.41,42).
· Ele é queimado (Mt 25.46).
3. Permanecer em Cristo é vital para produzir fruto (15.4,5). Jesus disse: […] O ramo não pode dar fruto por si mesmo […] porque sem mim nada podeis fazer.
Fora da videira, o ramo é estéril e inútil.
Contudo, quando o ramo está ligado à videira, sendo podado na hora certa, ele produz muito fruto.
Mas levanta-se aqui uma questão:
· Qual é a natureza desse fruto?
· Obediência, novos convertidos, amor, caráter cristão?
· O propósito dos ramos é produzir muito fruto (15.5), porém o contexto nos mostra que esse fruto é consequência da oração, em nome de Jesus, e é para a glória do Pai (15.7,8,16).
Concordo com D. A. Carson quando ele diz que o fruto na metáfora da videira representa tudo o que é produto de oração efetiva em nome de Jesus, incluindo a obediência aos mandamentos (15.10), a experiência da alegria (15.11), a paz (14.27), o amor de uns pelos outros (15.12) e o testemunho diante do mundo (15.16,27). Esse fruto não é nada menos que o resultado da perseverante dependência que o ramo tem da videira. Estou de acordo com as palavras de William Hendriksen: “Esperar que o homem frutifique sem que permaneça em Cristo é ainda mais estulto do que esperar que um ramo que foi cortado da videira produza uvas!
4. Permanecer em Cristo é a evidência de que somos discípulos de Cristo (15.8). Jesus disse: Meu Pai é glorificado nisto: em que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos. Uma vida frutífera é a melhor evidência para o nosso coração de que somos realmente discípulos de Cristo. Jesus disse que se conhece a árvore pelo fruto.
Uma árvore boa precisa produzir bons frutos, mais fruto (15.2) e muito fruto (15.5,8). A vitalidade da videira, Jesus Cristo, é enfatizada.
Essa videira permite àqueles que nela permanecem produzir não só frutos, mas muito fruto. Certa feita, Jesus estava indo para Jerusalém e teve fome. Olhou para uma figueira e viu muitas folhas. Foi procurar fruto e não achou. Aquela figueira anunciava fruto, mas não tinha fruto. Então, Jesus a fez secar. A árvore nunca mais produziu fruto. Fruto é o que o Senhor espera de nós, e não folhas. Ele não se contenta com aparência; ele quer fruto.
5. Permanecer em Cristo é vital para experimentar o fluir do amor de Deus (15.9). Jesus afirmou: Como o Pai me amou, assim também eu vos amei; permanecei no meu amor. Quando temos intimidade com Deus, sentimos quanto somos amados e então temos pressa para estar novamente na sua presença. Jesus deseja compartilhar a sua vida conosco.
6. Permanecer em Cristo leva consigo a promessa da oração respondida (15.7,8). A oração eficaz é fruto de um relacionamento profundo com Jesus. Ele foi claro: Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e vos será concedido. Werner de Boor diz que, quando as palavras de Jesus determinam todo o nosso comportamento e nos transformam em praticantes de seus mandamentos, preenchendo e formatando todo o nosso pensar, falar e agir, então estaremos verdadeiramente orando “em nome de Jesus” e, então, temos a promessa ilimitada de sermos atendidos.
7. Permanecer em Cristo é impossível sem obediência a ele (15.10). Se obedecerdes aos meus mandamentos, permanecereis no meu amor […]. A desobediência sempre cria uma quebra no relacionamento com Deus. Você pode sentir emoção num culto no domingo, mas, se continuar a ter um estilo de vida pecaminoso durante a semana, jamais terá sucesso na permanência. Aquele que diz que ama a Cristo e não lhe obedece está enganando a si mesmo.
8. Permanecer em Cristo é o caminho para a alegria (15.11). Eu vos tenho dito essas coisas para que a minha alegria permaneça em vós, e a vossa alegria seja plena. Quando permanecemos em Cristo, produzimos muito fruto. O Pai é glorificado. E uma alegria indizível e cheia de glória enche o nosso coração.
Somos amigos de Cristo, por isso precisamos obedecer (15.12–17)
Jesus agora lança mão de outra imagem para enfatizar o estreito relacionamento entre ele e seus discípulos. Ele sai da área agrícola para a área dos relacionamentos. Embora seus discípulos continuem sendo seus servos, passa a chamá-los de amigos (15.13). A evidência dessa amizade é o amor (15.12) e a obediência (15.14), e o propósito dessa amizade é a abundância de frutos (15.16). Destacamos aqui seis pontos importantes.
Em primeiro lugar, o mandamento singular (15.12,17). Jesus repete aqui a mesma ordem dada em João 13.34, quando falou sobre o novo mandamento. Mais uma vez, ele reafirma que o amor entre os discípulos precisa ter o peso do sacrifício. Quem ama se dispõe a dar sua vida pelo irmão (1Jo 3.16).
Em segundo lugar, o exemplo supremo (15.13). Jesus não é um teórico, blasonando do alto de sua cátedra teorias divorciadas de sua vida. Jesus não é um alfaiate do efêmero, mas o escultor do eterno. Ele exemplifica a ordem com sua prática. Mostra, por antecipação, que sua morte na cruz, em favor de seus discípulos, era o selo inviolável de seu amor. O amor não consiste apenas em palavras; não é um mero sentimento. O amor é uma ação, uma entrega, a expressão de um sacrifício. Não somos, portanto, o que falamos nem o que sentimos, mas o que fazemos. Concordo com Werner de Boor quando ele diz que quem ama se esquece de si mesmo e se empenha pelo outro. O empenho mais sublime é o da própria vida. Mas não está sendo dito aqui que Jesus empenha seu biosou sua zoe, mas sim sua psyche, sua alma. Isso caracteriza a vida como existência total, pessoal.
Em terceiro lugar, a prova cabal (15.14). Vós sois meus amigos, se fizerdes o que vos mando. Há diversos tipos de amizade. Há a amizade de taberna, que nada mais é do que uma reprovável parceria no pecado. Há a amizade utilitarista, que se aproxima de alguém apenas para auferir vantagens. A amizade sobre a qual Jesus está falando aqui é um relacionamento de compromisso com os mesmos valores, com os mesmos propósitos. Por isso, ninguém pode arrogar a si o privilégio de ser amigo de Jesus, sem pronta obediência às suas ordenanças. D. A. Carson esclarece esse ponto:
Essa obediência não é o que os torna amigos; e sim o que caracteriza seus amigos. Claramente, portanto, essa “amizade” não é estritamente recíproca: esses amigos de Jesus não podem se voltar e dizer que Jesus será amigo deles se ele fizer o que eles dizem. Embora Abraão (2Cr 20.7; Is 41.8; Tg 2.23) e Moisés (Êx 33.11) sejam chamados de amigos de Deus, Deus nunca é chamado de amigo deles; ambora Jesus possa se referir a Lázaro como seu amigo (11.11), Jesus não é chamado de amigo de Lázaro. Deus e Jesus jamais são referidos nas Escrituras como o “amigo” de qualquer pessoa. Obviamente, isso não quer dizer que Deus ou Jesus seja um “não amigo”: se a amizade for medida estritamente na base de quem ama mais, pecadores culpados não podem encontrar amigo melhor e mais verdadeiro que no Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, e no Filho que ele enviou. No entanto, a amizade mútua e recíproca do tipo moderno não está em questão, e não pode estar sem rebaixar a Deus.
Em quarto lugar, a intimidade singular(15.15). Está claramente demonstrado que Jesus não se satisfaz com obediência meramente servil. Seus amigos demonstram amizade quando fazem o que ele manda. Obediência é uma expressão de seu amor. O amigo é diferente do servo. O servo trabalha sem que o senhor compartilhe com ele seus planos, sua obra, seus sentimentos. O amigo de Jesus tem não apenas sua palavra e sua companhia, mas também seu coração. Jesus compartilha com seus amigos tudo o que ouviu do Pai. Ele traz os anelos do coração do Pai e os divide com seus amigos. John Wesley, pensando em sua conversão, descreveu-a como o momento em que ele trocou a fé de um escravo pela fé de um filho.24
Em quinto lugar, a escolha soberana (15.16a). Nenhum discípulo pode bater no peito e exibir privilégios superiores em seu relacionamento com Jesus. Fomos escolhidos. E a escolha é fruto da graça, e não do mérito. Precisamos nos aproximar com humildade diante daquele que, inexplicavelmente, nos amou primeiro e nos separou por sua graça para sermos sua propriedade exclusiva e seus amigos achegados.
Em sexto lugar, o propósito glorioso (15.16b). Jesus destaca dois propósitos de nossa posição como seus amigos. O primeiro é darmos frutos que permaneçam a fim de que o Pai seja glorificado; o segundo é obtermos pleno êxito na vida de oração.
Somos amigos de Cristo, por isso o mundo nos odeia (15.18–16.4)
Tiago, irmão do Senhor, declara que quem quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus (Tg 4.4), e o evangelista João diz que quem amar o mundo, o amor do Pai não está nele (1Jo 2.15). Agora, Jesus deixa claro que os discípulos serão odiados pelo mundo pelo fato de serem seus amigos (15.18–20). William Barclay explica que, quando João escreveu seu evangelho, já fazia muito tempo que esse ódio contra os cristãos havia começado. O governo romano considerava os cristãos pessoas desleais ao império, uma vez que se recusavam a adorar o imperador como uma divindade. Os romanos viam na adoração ao imperador o grande elo de união desse vasto império que se estendia desde o Eufrates até a Grã-Bretanha, desde a Alemanha até o norte da África. Roma era tolerante com seus súditos. Desde que queimassem incenso ao imperador e o adorassem como Kurios, Senhor, podiam professar livremente sua religião. Para os cristãos, porém, Jesus era o único Senhor. O governo perseguia os cristãos porque estes insistiam que não havia outro rei além de Cristo.
Nesse sentido, destacamos a seguir alguns pontos importantes.
Em primeiro lugar, o mundo nos odeia porque pertencemos a Cristo (15.18,19). O mundo aqui é o mundo sem Deus, organizado em oposição a Deus e, por essa razão, oposto ao seu povo. Porque não somos do mundo e para fora do mundo fomos escolhidos por Cristo para sermos o seu povo, o mundo nos encara como estrangeiros e nos odeia, assim como odiou Cristo. Jesus adverte seus discípulos quanto às perseguições que deverão suportar por sua causa: E sereis odiados por todos por causa do meu nome […] (Mt 10.22). O ódio do mundo por Jesus esteve presente desde o início do seu ministério público e nunca se extinguiu de todo. Werner de Boor diz com razão que aqueles que foram convocados para o amor, os que vivem no amor uns pelos outros, esses devem, ao mesmo tempo, saber com toda a clareza que precisam viver num mundo de ódio. A primeira resposta do mundo aos discípulos de Jesus é o ódio.28
Em segundo lugar, o mundo nos persegue porque somos servos de Cristo (15.20,21). O Senhor relembra aqui o que já havia ensinado (13.16). Uma vez que o servo não é maior do que o seu senhor, e o senhor foi perseguido pelo mundo, logo nós, servos de Cristo, que agora somos seus amigos, certamente seremos também perseguidos pelo mundo. O mundo na verdade não nos odeia; odeia o nome de Cristo em nós. Odeia-nos porque não conhece Deus. Quando Saulo de Tarso foi derrubado ao chão no caminho de Damasco, a pergunta de Jesus a ele não foi: “Por que você persegue a igreja?”, “Por que você persegue meus discípulos?”, “Por que você persegue meus servos?” ou “Por que você persegue meus amigos?” A pergunta foi: Saulo, Saulo, por que me persegues? (At 9.4). Saulo perseguia Cristo na vida dos discípulos de Cristo.
Em terceiro lugar, o mundo torna-se culpado porque ouviu o enviado de Deus e o odiou (15.22,23). O pecado do mundo não é de ignorância, mas de rejeição consciente e afrontosa. Jesus veio, falou as palavras do Pai, gotejou em seus ouvidos a santa doutrina vinda do céu, mas, longe de receberem a mensagem com mansidão, odiaram o mensageiro com violência. O mundo odiou não apenas o Filho enviado, mas também o Pai que o enviou. Hendriksen comenta que os judeus tinham o costume de pensar que podiam chamar Deus de Pai (8.41), enquanto ao mesmo tempo criam que Jesus tinha demônio (8.48). Eles alegavam que amavam o Pai, embora seja evidente que odiavam o Filho. Mas, em vista do fato de que o Pai e o Filho são um em essência (10.30), essa atitude era impossível.
Em quarto lugar, o mundo torna-se culpado porque viu as obras do enviado de Deus e o odiou(15.24–27). O mundo não apenas ouviu a voz de Deus por intermédio de seu Filho, mas viu suas obras portentosas, como jamais alguém no passado pudera ver. O que fez o mundo? Humilhou-se? Arrependeu-se? Não! Fechou o coração com o cadeado da incredulidade e cerrou os punhos, com ódio consumado, contra Cristo e seu Pai. Essa rejeição tão violenta, porém, aconteceu para se cumprirem as Escrituras (15.25). O homem pensa que está no controle, que é o agente da ação, mas, mesmo quando mantém a soberba fronte erguida contra Deus, está apenas fazendo o que Deus já determinou em sua soberania inescrutável.
Jesus deixa claro para os discípulos que, mesmo que o mundo tenha uma rejeição tão radical, o Espírito Santo da verdade, que ele enviará, dará pleno testemunho a seu respeito e capacitará os discípulos a fazerem o mesmo (15.26,27).
Em quinto lugar, o mundo promove perseguição religiosa por causa de sua cegueira espiritual(16.1–4). Quando João escreveu esse evangelho, no final do século 1, a igreja já estava sofrendo severa perseguição. Nesse tempo, todos os apóstolos já estavam mortos pelo viés do martírio. Muitos crentes da Ásia Menor, onde João morava, já haviam abandonado a fé (1.15). Nesse tempo, o apóstolo Paulo já havia sido decapitado, e Pedro, crucificado.
Hendriksen destaca que os seguidores do Nazareno seriam excomungados da vida religiosa e social de Israel. Seriam destituídos de todas as esperanças e prerrogativas dos judeus. Seriam vistos por seus antigos amigos como piores do que os pagãos. Ficariam sem seu emprego, seriam exilados de sua família e perderiam até mesmo o privilégio de um sepultamento honroso. A linha de raciocínio poderia ser como segue: “Por acaso não nos foi ensinado desde a infância que há somente um Deus verdadeiro e que só a ele devemos adorar? Agora esses seguidores de Jesus alegam que ele também é Deus. Isso é blasfêmia que deve ser punida com a morte”. Concordo, entretanto, com D. A. Carson quando ele diz que o maior perigo que os discípulos enfrentarão em relação à oposição do mundo não é a morte, mas a apostasia.31Aqueles que perseguem a igreja julgam com isso prestar culto a Deus (16.2).
Não há nenhum radicalismo mais perigoso do que o religioso. Jesus fala que a perseguição contra os seus servos e amigos virá com um viés religioso. Eles serão expulsos das sinagogas e mortos e, com isso, julgarão estar prestando culto a Deus. Hoje estamos vendo o crescimento espantoso da cristofobia. A religião mais perseguida do mundo é a cristã. O mundo ainda odeia Cristo, por isso persegue Cristo na igreja.[1]
[1]Hernandes Dias Lopes, João: As Glórias do Filho de Deus, ed. Juan Carlos Martinez, 1a edição., Comentários Expositivos Hagnos (São Paulo: Hagnos, 2015), 384–402.