MOTIVAÇÕES CORRETAS
Exposições em Tiago • Sermon • Submitted • Presented
0 ratings
· 10 viewsNotes
Transcript
“1De onde procedem as guerras e brigas que há entre vocês? De onde, senão dos prazeres que estão em conflito dentro de vocês? 2Vocês cobiçam e nada têm; matam e sentem inveja, mas nada podem obter; vivem a lutar e a fazer guerras. Nada têm, porque não pedem; 3pedem e não recebem, porque pedem mal, para esbanjarem em seus prazeres.
Introdução: Seguindo em nossa jornada pela epístola de Tiago, ele inicia o quarto capítulo de uma forma absolutamente direta. Na realidade, é assim, sem anestesia, justamente porque o assunto é exatamente uma continuação do assunto anterior. Aqui, o Apóstolo está querendo demonstrar,sem rodeios, o diagnóstico dos males e conflitos que havia entre os “mestres”, ou seja, entre os líderes que foram alvo de sua exortação no capítulo 3. É claro que, tal exortação excede essa intenção direcionada e cabe como uma luva para toda a cristandade de todas as épocas, inclusive nós aqui hoje.
Tiago inicia esse ponto com uma pergunta: De onde procedem guerras e contendas que há entre vocês? O objetivo dele é levá-los a refletir sobre a origem dos conflitos que aconteciam entre os que aspiravam ser mestres.
(A Origem dos Conflitos (4.1–3))
Tiago havia tomado conhecimento de tais conflitos e desejava ajudar seus leitores a cessá-los. Mas, para isso, era necessário identificar a sua origem. Nosso autor menciona “guerras” e “contendas”. O termo guerras significa literalmente “conflito armado”. Não devemos pensar, contudo, que a situação havia chegado a esse ponto naquelas igrejas. O termo é usado aqui como um estado geral de hostilidade e antagonismo entre pessoas. O outro termo é contendas, que literalmente significa uma “luta corpo-a-corpo” ou mesmo uma “peleja com armas”. Mais uma vez, não pensemos que a situação havia degenerado a tal ponto; porém, havia combate de palavras entre eles. Eles se opunham uns aos outros como se estivessem lutando uns contra os outros. Os termos fortes do questionamento de Tiago despertam as igrejas para a seriedade da atitude de hostilidade que havia entre seus líderes.
O próprio Tiago responde a pergunta com outra: de onde vem isso, senão dos prazeres que militam na vossa carne? É como se ele dissesse: “pode haver outra origem senão essa?”. Dessa forma, ele identifica a origem dos conflitos não nas circunstâncias externas, que poderiam até funcionar como atenuantes, mas, à semelhança de Paulo que chamou a igreja de corinto de imatura e bebedora de leite em (1Co 3.1–4), Tiago diz que toda essa animosidade é fruto da carnalidade percebida neles.
Vemos aqui, bem como no restante das Escrituras, que a regeneração não aniquila nem remove a natureza pecaminosa dos cristãos. Apesar de terem crido em Jesus Cristo (2.1) e de terem sido regenerados pela Palavra de Deus (1.18), ainda tinham dentro de si a semente de Adão ou, mais especificamente, no caso presente, “os prazeres que militam em vossa carne”.
Tiago acrescenta que esses prazeres “militam na vossa carne”. A terminologia é militar. Tiago vê os prazeres mundanos cobiçados por nossa natureza pecaminosa em luta para ganhar controle e expressão (1Pe 2.11: “fazem guerra contra a alma”); é um exército de maus desejos que “milita contra o Espírito”, como Paulo mostra em Gl 5.17. Tiago estava os exortando porque eles deixavam esses prazeres controlar sua vida. E eram capazes de tudo para satisfazê-los, conforme as palavras pesadas de Tiago no verso seguinte. E era daí que procediam as guerras e contendas que havia entre eles.
4.2 Vocês cobiçam e nada têm; matam e sentem inveja, mas nada podem obter; vivem a lutar e a fazer guerras. Nada têm, porque não pedem;. Tiago continua a repreender os aprendizes de mestre pelos conflitos entre eles, e por extensão, todos aqueles que se enquadram nesse mesmo erro. Aqui, ele expõe de forma detalhada e profunda, como verdadeiro pastor de almas que conhece a natureza humana, o que acontecia no coração de cada um daqueles possuídos pelo espírito faccioso. As afirmações de Tiago revelam o que lhes passava no íntimo: cobiçais e nada tendes. Cobiçar significa literalmente “manter o seu desejo focado sobre alguma coisa” – daí a ideia de desejo intenso que vira paixão e cobiça, quando se trata de coisas ilícitas. No Novo Testamento o termo é usado, na maioria das vezes, para designar desejos impuros e ilegais (cf. Rm 7.7; 13.9; 1Co 10.6; Mt 5.28). O fato de que eles cobiçavam, mas “nada tinham” pode indicar a frustração destes planos pelo próprio Deus. Contudo, o próprio Tiago dá as causas mais adiante, que são a falta de oração e o amor ao mundo. Continuando na mesma linha acusatória, Tiago afirma sobre eles: matam e sentem inveja, e nada podeis obter. “Matar” é uma expressão muito forte e deve ser tomada figurativamente, como um exagero da parte de Tiago, ou, ainda, no sentido inceptivo: “estais prontos para matar”. A não ser que ele se refira a um caso conhecido em que a disputa pelo poder levou ao assassinato de um deles – o que nos parece inconcebível. Invejar significa literalmente “ter zelo intenso, ao ponto de fervura, por alguma coisa”.
Tiago havia dito no início desse versículo que, apesar de cobiçar, eles nada tinham. Agora, ele lhes dá o motivo, ou seja, nada tendes porque não pedis. Talvez Tiago esteja aqui ecoando as palavras do Mestre: “até agora nada tendes pedido em meu nome” (Jo 16.24). Jesus ensinou claramente aos seus discípulos que pedir era condição para receber (Mt 7.7–11; 18.19; 21.22; Jo 14.13–14; cf. Sl 37.4, etc.). É claro que Deus abençoa seus filhos mesmo quando eles não pedem. Quantas bênçãos recebemos das quais nem ao menos estamos conscientes e pelas quais não vertemos uma única oração! Contudo, o meio geral que Deus nos determinou foi que pedíssemos, que orássemos, que batêssemos e suplicássemos. O termo que Tiago usa para “pedir” é um dos mais comuns na Bíblia para oração e significa pedir alguma coisa na expectativa de receber. Tiago já havia empregado o mesmo termo nessa carta para assegurar seus leitores de que Deus daria liberalmente sabedoria aos que pedissem, desde que o fizessem com fé (1.5–6). Aqui no caso, a razão primeira pela qual os cristãos aos quais escreve não tinham as coisas que almejavam era, sem dúvida, a falta de oração.
A cobiça, a inveja, o espírito faccioso e outras disposições mentais reprováveis certamente estavam apagando o espírito de oração. Quem sabe a própria consciência deles os impedia de orar, pois sabiam que estavam em falta diante de Deus? Mas aqui, além disso, obviamente, estava o fato de que, mesmo quando pediam, pediam aquilo que não estava de acordo com a vontade de Deus, conforme Tiago explica no verso seguinte.
4.3 pedem e não recebem, porque pedem mal, para esbanjarem em seus prazeres. Tiago continua nesse versículo a expor a raiz do fracasso espiritual daqueles crentes. A causa primeira para não terem aquilo que tanto ansiavam era a falta de oração. Mas apenas pedir não é garantia de resposta divina: pedis e não recebeis, porque pedis mal. O motivo de “pedir mal” é explicado por Tiago: para esbanjardes em vossos prazeres. Ou seja, Deus considera também a motivação por trás do pedido. “Eles tinham seus pedidos negados porque achavam que Deus tinha de ministrar às suas paixões” (J. Calvino).
Não basta orar: nossas orações devem ter motivos corretos (1Jo 3.22; 5.14). No caso dos leitores de Tiago, quando pediam as coisas a Deus, o faziam de forma egoísta: queriam apenas “esbanjar” essas coisas. Esbanjar significa “gastar” (ARC), “despender”, “estragar”. O mesmo termo é usado para indicar o que o filho pródigo fez com sua herança: “Depois de ter consumido tudo, sobreveio àquele país uma grande fome, e ele começou a passar necessidade” (Lc 15.14; cf. 15.13,30). Os leitores de Tiago queriam receber coisas de Deus para gastá-las em seus prazeres ou deleites (ARC). Os “prazeres” a que Tiago se refere são aqueles já mencionados em 4.1: “… os prazeres que militam em vossa carne”, uma referência às paixões pecaminosas que motivavam aqueles que desejavam ocupar o posto de mestres da Igreja. As orações deles eram dirigidas a Deus com o intuito de serem atendidos em sua pretensão de serem dominadores do rebanho. Nisso realmente pediam mal e não recebiam nada de Deus.
CONCLUSÃO: Temos outros exemplos de pedidos malfeitos. Os judeus contemporâneos de Jesus pediram sinais a ele e receberam esta resposta: “Uma geração má e adúltera pede um sinal; mas nenhum sinal lhe será dado, senão o do profeta Jonas” (Mt 12.39). Isaías já havia denunciado essa mesma atitude nos judeus de sua época: ao jejuar, “cuidais dos vossos próprios interesses” (Is 58.3). Tiago certamente tinha ouvido da experiência do Tiago apóstolo e seus irmãos, que pediram a Jesus para sentar-se à sua direita e à sua esquerda, no Reino de Deus, tendo recebido como resposta um “não”: “não sabeis o que pedis” (Mt 20.22). Ouvi certa feita um grande pregador presbiteriano dizer que Deus tem quatro respostas às nossas orações: “sim”, “não”, “espere um pouco” e “você deve estar brincando…!”. É nessa última que se encaixa o pedido dos candidatos a mestre nas igrejas às quais Tiago escreve.
Que nós possamos orar cada vez mais. Mas cada vez mais com as motivações corretas. Que nossas orações sejam diminuidas de nós e que visem o crescimento do Reino de Deus e a manifestação de sua glória. Vamos orar?
DESENHO: QUAL É A ORAÇÃO QUE AGRADA A DEUS? Na variedade das respostas podemos ver que a oração que agrada a Deus não é aquela que satisfaz somente às minhas expectativas, mas, acima de tudo, àquelas que trazem glória e honra ao nosso Senhor.