Exposições em Gálatas - Sermão 3: O poder transformador do verdadeiro Evangelho

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Introdução

Irmãos, a epístola aos gálatas talvez seja uma das mais belas defesas do evangelho de Cristo contra os falsos ensinamentos e doutrinas que intentam contra o povo de Deus. Como tal, ela nos leva a considerar e nos avaliar quanto ao evangelho que temos vivido e proclamado. Uma pergunta surge quando bebemos dessa maravilhosa epístola: tenho eu vivido o verdadeiro evangelho?
A priori, essa pergunta pode parecer banal, mas muitos tendem a se achar mestres, quando, na verdade, são meninos levados de um lado para outro por todo vento de doutrina (Ef 4.14). Muitos estão na igreja há anos e anos, conhecem as escrituras, mas não estão firmados no verdadeiro e único evangelho, de modo que vivem e testemunham de um outro evangelho.
Essa deve ser a pergunta que move todo cristão a olhar, continuamente, para as escrituras como a boa e maravilhosa palavra de Deus que nos leva ao seu evangelho. Não devemos nos acostumar com o termo “evangelho”, sem compreendermos toda a sua profundidade; não devemos apenas entendê-lo, sem discerni-lo em nossas vidas através do testemunho prático. É preciso realmente conhecer e viver o poder tranformador do evangelho de Cristo!
É exatamente sobre isso que o apóstolo Paulo trata na continuação de sua defesa em relação ao seu apostolado e ao evangelho por ele pregado.

Contexto imediato

É válido lembrar que a epístola aos gálatas é escrita em meio aos ataques heréticos que falsos mestres (provavelmente judeus, supostamente convertidos estavam direcionando à igreja que Paulo implantara na Galácia, fundamentando seus ataques no descrédito da autoridade apostólica de Paulo, bem como acerca do evangelho por ele pregado.
Até esse ponto de sua epístola, o apóstolo Paulo defendera a autoridade de seu apostolado, fizera um resumo do evangelho pregado por ele e atacado pelos falsos mestres e exortara os gálatas a se firmarem no evangelho de Cristo por ele pregado.
Ao defender seu apostolado, Paulo deixa claro que, ao contrário do que aqueles homens alegavam, a autoridade de sua pregação não tinha natureza humana, mas divina (Gl 1.1). Ele não era inferior ao demais apóstolos em autoridade, justamente porque o Próprio Cristo o havia comissionado para pregar o Seu evangelho.
Ao resumir o evangelho que Cristo lhe entregara, ele declara que o verdadeiro evangelho é aquele que leva ao homem a graça e a paz que só a cruz de Cristo pode proporcionar, o desarraigando “deste mundo perverso” (Gl 1.3-4), exatamente o evangelho que havia sido anunciado pelos profetas, pelos demais apóstolos e pelo Próprio Cristo.
Logo após, Paulo exorta o gálatas a não continuarem deixando-se levar pelos ensinamentos daqueles que pervertiam o único e verdadeiro evangelho que haviam recebido em vista de seus próprios interesses (Gl 1.7). Eles estavam abandonando a graça do evangelho de Cristo trazendo sobre si, novamente, o jugo que o próprio Cristo carregara em seu lugar (Gl 1.6). Paulo então declara que deve ser considerado amaldiçoado qualquer um, seja ele mesmo, ou anjos, ou qualquer um daqueles homens, por transgredirem o evangelho de Cristo.
Agora, nos verículos seguintes (Gl 1.10-24), Paulo inicia mais uma argumento de sua defesa. É como se Paulo tomasse diante de si a acusação de ser um daqueles que pervertem o evangelho de Cristo e dissesse: “vocês querem saber por que eu não sou um desses anátemas que pervertem o evangelho de Cristo? Bem, se eu sou o acusado, deixemos de lado as acusações contra esses falsos mestres e contra vocês; vamos olhar para mim. Consideremos as motivações, o efeito e o testemunho que vivo acerca do evangelho que levo a vocês...”.

Divisão do texto

Gálatas 1.10-12 - A motivação do evangelho
Gálatas 1.13-17 - O poder transformador do evangelho
Gálatas 1.18-24 - O verdadeiro testemunho do evangelho

A motivação do evangelho (Gl 1.10-12)

Gálatas 1.10 (ARA)
Porventura, procuro eu, agora, o favor dos homens ou o de Deus? Ou procuro agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo.
Paulo inicia seu novo argumento de defesa olhando primeiramente para a motivação da pregação do seu evangelho. Para isso, o apóstolo usa um paralelo entre sua nova e velha natureza (“agora” e “ainda”), paralelo esse que se desenvolverá durante toda a epístola quando ele faz o paralelo entre uma vida no Espírito e uma vida na carne.
Paulo inicialmente questiona: “Olhem para mim agora, não olhem para o antigo Paulo, de quem eu procuro o favor quando prego o evangelho a vocês?”. A palavra para “procurar o favor” (peitho) tem o sentido de buscar aceitação ou aprovação de alguém em vistas de algum benefício. A pergunta quase retórica e Paulo é respondida quando seus leitores fazem a seguinte consideração: de quem o apóstolo buscava aceitação ou aprovação ao pregar sua mensagem? De homens que impunham seu jugo pesado aos outros (sem mesmo cumpri-lo) ao declararem que era necessário cumprir o requisito da circuncisão para serem salvos ou de Deus que declara:
Deuteronômio 10.16 (ARA)
Circuncidai, pois, o vosso coração e não mais endureçais a vossa cerviz.
E ainda:
Mateus 11.28–30 (ARA)
Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.
A aprovação procurada por Paulo não é mais a aprovação de homens que impõem a escravidão de contínua e inutilmente tentar justificar a si mesmo pela lei, mas a aprovação de Cristo que chama a todos os cansados e sobrecarregados com esse fardo, a viverem a liberdade da graça e paz que a obra de Cristo produz ao circuncidar o coração de todo aquele que crê verdadeiramente nEle.
O apóstolo, então, segue com sua defesa com outra pergunta: “eu ainda procuro agradar a homens?”, ao que ele mesmo responde “se assim o fosse, não seria servo de Cristo”. O termo “agradar” (areskein) trata de buscar servir a outra pessoa conformando-se com os seus desejos. Paulo reconhece, ao usar o termo “ainda”, que, outrora, vivia na servidão de homens; ele não só buscava a aprovação deles, mas para isso, se conformava aos seus desejos e os servia voluntariamente ao impor seu jugo pesado sobre os homens. Mas, agora, ele reconhece que sua vida mudou; ele já não mais era servo de homens, mas servo de Cristo; ele não mais tinha sobre si o jugo pesado de homens, mas o jugo suave de Cristo. Ele não vivia mais a escravidão aprisionadora dos homens, mas a servidão libertadora de Cristo!
Gálatas 1.11–12 (ARA)
Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem, porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo.
Agora, Paulo explica o porque as suas motivações não estavam relacionadas à busca do favor e do agrado a homens, mas a Deus. Ele evoca um paralelo às primeiras palavras de sua epístola:
“Eu não sou um apóstolo chamado e enviado por homens” (Gl 1.1a), de modo que “meu evangelho também não é segundo o homem” (Gl 1.11a);
“Eu sou apóstolo chamado e enviado por Cristo” (Gl 1.1b), de modo que “meu evangelho é segundo a revelação de Jesus Cristo” (Gl 1.11b).
Paulo buscava o favor e o agrado de Deus porque servia a Cristo na proclamação de seu evangelho, o qual não recebera, nem aprendera de homem algum, mas pela revelação do próprio Cristo. O verbo “receber” (parelabon) é relacionado a receber uma tradição de alguém e “aprender” (edidachten) é ser instruído nessa tradição através do ensino. Os judeus possuíam, além das escrituras sagradas, uma série de tradições, discussões rabínicas, comentários e instruções (Talmude) de como seguir as leis da Torá (5 primeiros livros da bíblia) e que eram transmitidas de geração em geração e objeto de exaustivo estudo; os escribas e fariseus impunham um fardo pesado demais sobre os homens, que nem mesmo eles cumpriam. O que Paulo está dizendo aqui é o seguinte: “olhem, a minha motivação é buscar o favor e agrado de Deus porque o evangelho que proclamo a vocês não o recebi de tradições humanas, nem o desenvolvi por meio do ensino de homens que impõem seu jugo pesado sobre outros; pelo contrário, o evangelho que recebi veio do próprio Cristo e me foi revelado por Ele, de modo que não busco minha própria glória, mas a glória dEle!”.
Essa seria a única explicação possível para as motivações declaradas por Paulo em Gl 1.10, qualquer explicação diferente da natureza divina do evangelho proclamado por Paulo seria contraditória. Na verdade, o que Paulo está declarando aqui é o mesmo que o próprio Cristo proclamara ao se defender dos ataques de judeus no templo:
João 7.14–18 (ARA)
Corria já em meio a festa, e Jesus subiu ao templo e ensinava. Então, os judeus se maravilhavam e diziam: Como sabe este letras, sem ter estudado? Respondeu-lhes Jesus: O meu ensino não é meu, e sim daquele que me enviou. Se alguém quiser fazer a vontade dele, conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se eu falo por mim mesmo. Quem fala por si mesmo está procurando a sua própria glória; mas o que procura a glória de quem o enviou, esse é verdadeiro, e nele não há injustiça.

O poder transformador do evangelho (Gl 1.13-17)

Gálatas 1.13–14 (ARA)
Porque ouvistes qual foi o meu proceder outrora no judaísmo, como sobremaneira perseguia eu a igreja de Deus e a devastava. E, na minha nação, quanto ao judaísmo, avantajava-me a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais.
Agora, se até então Paulo justificou que suas motivações não tinham por fim a sua própria glória ou a glória de outros, apenas a de Cristo, devido à natureza divina do evangelho por ele pregado, agora ele irá justificar essa natureza divina da mensagem pregada: o evangelho que ele recebeu e pregou aos gálatas possui o poder transformador que só Deus pode proporcionar.
Ele começa a detalhar o paralelo que introduziu indiretamente em Gl 1.10, iniciando por relembrar o seu antigo proceder no judaísmo. Ele descreve esse proceder utilizando de uma série de ações acompanhadas de adjetivos de elevado grau:
Ele sobremaneira perseguia e devastava a igreja de Deus. Ele não apenas perseguia a igreja de Deus, mas perseguia em excesso, continuamente e cada vez mais, como alguém que sente prazer no que faz e busca cada vez mais, causando danos irreparáveis;
Avantajava-se no judaísmo a muitos de sua idade. Paulo era adiantado em conhecimento a muitos de sua idade, sua evolução no conhecimento judaico era promissor;
Era extremamente zeloso nas tradições de seus pais. Paulo colocava as tradições de seus pais acima de tudo.
A priori, podemos achar que são a perseguição excessiva à Igreja e o zelo judaico de Paulo não possuem ligação entre si, mas quando olhamos para os relatos de Atos, percebemos que era exatamente o zelo de Paulo às doutrinas humanas (e não à vontade de Deus) que o faziam perseguir em excesso a Igreja de Cristo:
Atos dos Apóstolos 22.3–5 (ARA)
Eu sou judeu, nasci em Tarso da Cilícia, mas criei-me nesta cidade e aqui fui instruído aos pés de Gamaliel, segundo a exatidão da lei de nossos antepassados, sendo zeloso para com Deus, assim como todos vós o sois no dia de hoje. Persegui este Caminho até à morte, prendendo e metendo em cárceres homens e mulheres, de que são testemunhas o sumo sacerdote e todos os anciãos. Destes, recebi cartas para os irmãos; e ia para Damasco, no propósito de trazer manietados para Jerusalém os que também lá estivessem, para serem punidos.
Atos dos Apóstolos 22.19–20 (ARA)
Eu disse: Senhor, eles bem sabem que eu encerrava em prisão e, nas sinagogas, açoitava os que criam em ti. Quando se derramava o sangue de Estêvão, tua testemunha, eu também estava presente, consentia nisso e até guardei as vestes dos que o matavam.
O que Paulo está declarando ter vivido outrora não era algo puntual ou uma exceção na história do judaísmo. O que ele vivia era exatamente o que o nosso Senhor Jesus Cristo advertiu aos seus discípulos:
João 16.1–3 (ARA)
Tenho-vos dito estas coisas para que não vos escandalizeis. Eles vos expulsarão das sinagogas; mas vem a hora em que todo o que vos matar julgará com isso tributar culto a Deus. Isto farão porque não conhecem o Pai, nem a mim.
Paulo vivia exatamente como inimigo de Deus. Ele podia conhecer toda a lei de Deus, mas não conhecia o próprio Deus e por isso perseguia sua Igreja. Ele incorria no mesmo erro de outrora quando profetizou o profeta Isaías:
Isaías 1.3–4 (ARA)
O boi conhece o seu possuidor, e o jumento, o dono da sua manjedoura; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende.
Ai desta nação pecaminosa, povo carregado de iniquidade, raça de malignos, filhos corruptores; abandonaram o Senhor, blasfemaram do Santo de Israel, voltaram para trás.
Isaías 1.10–15 (ARA)
Ouvi a palavra do Senhor, vós, príncipes de Sodoma; prestai ouvidos à lei do nosso Deus, vós, povo de Gomorra. De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios? —diz o Senhor. Estou farto dos holocaustos de carneiros e da gordura de animais cevados e não me agrado do sangue de novilhos, nem de cordeiros, nem de bodes. Quando vindes para comparecer perante mim, quem vos requereu o só pisardes os meus átrios? Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e também as Festas da Lua Nova, os sábados, e a convocação das congregações; não posso suportar iniquidade associada ao ajuntamento solene. As vossas Festas da Lua Nova e as vossas solenidades, a minha alma as aborrece; já me são pesadas; estou cansado de as sofrer. Pelo que, quando estendeis as mãos, escondo de vós os olhos; sim, quando multiplicais as vossas orações, não as ouço, porque as vossas mãos estão cheias de sangue.
À semelhança de Israel na profecia de Isaías, Paulo conhecia demasiadamente a lei e se esforçava por cumprir todos os ritos e tradições por ela prescritos; entretanto o próprio Deus declara que isso não apenas de nada servia, mas era insuportável. De forma análoga, em outro momento o próprio Paulo reconhece tudo isso por refugo, por esterco. Enquanto Paulo não fora alcançado por Cristo, por esse evangelho divino, se afogava mais e mais na busca do favor de homens e na escravidão a eles, de modo que cada vez mais e mais se afastava de Deus e de seu conhecimento. Até que...
Gálatas 1.15–17 (ARA)
Quando, porém, ao que me separou antes de eu nascer e me chamou pela sua graça, aprouve revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios, sem detença, não consultei carne e sangue, nem subi a Jerusalém para os que já eram apóstolos antes de mim, mas parti para as regiões da Arábia e voltei, outra vez, para Damasco.
Ah irmãos, esse “quando, porém”! O clímax divisor, o momento mais aguardado no filme da vida de todos os eleitos de Deus! Esse é o “quando, porém” que marcou a vida de todos nós que reconhecemos a Cristo como Salvador e testemunhamos dEle, o “quando, porém” que separa a velha natureza da nova! Esse é o “quando, porém” que marca a maravilhosa graça de Cristo em ação nas nossas vidas!
Paulo agora traça uma linha do tempo de sua vida e que reflete a vida de todos os eleitos de Deus. Ele declara que Deus já o havia separado antes de seu nascer e colocado dentre o grupo de seus eleitos com um propósito (sentido do termo “separar”). Logo após, Paulo declara que Deus não só separou antes de seu nascer, mas também houve um momento de sua vida que Ele o chamou, o convocou para seu serviço. Mas notemos que no interim entre a separação e o chamado não houve merecimento nenhum da parte de Paulo, muito pelo contrário, ele era um ferrenho perseguidor e devastador da igreja de Deus. Paulo havia sido separado, mas nesse interim em nenhum momento ele testemunhava disso. É então que o “quando, porém” da maravilhosa graça de Cristo entra em ação.
Entre a separação dos eleitos e o seu chamado existe uma condição necessária e certa: a ação da maravilhosa graça de Cristo, que não olha para o merecimento, mas entrega o favor do chamado eficaz aos eleitos de Deus. Foi por essa maravilhosa graça e mediante a fé em Cristo que um dos maiores perseguidores da igreja de Deus tornou-se um de seus maiores pregadores. Mas como isso é possível? Exatamente pelo poder transformador do evangelho de Cristo que não somente separa, não somente chama, mas transforma através da revelação de Cristo em seus eleitos para revelá-lo ao mundo através deles. Antes de ser transformado pelo evangelho de Cristo, o Adão era manifesto em Paulo e a igreja de Deus era perseguida; agora, Cristo se revelara em Paulo, que havia sido separado e chamado, para se revelar aos gentios através dele! É exatamente o que ele vai tratar mais adiante em sua epístola:
Gálatas 2.19–20 (ARA)
Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim.
Essa é maravilhosa graça de Cristo que os falsos mestres que assolavam ao declarar que os gentios precisariam circuncidar-se para serem salvos, ao que Paulo responde mais adiante:
Gálatas 6.15 (ARA)
Pois nem a circuncisão é coisa alguma, nem a incircuncisão, mas o ser nova criatura.
É somente quando somos alcançados pelo evangelho de Cristo que somos transformados em nova criatura através da revelação de Cristo em nossas vidas. É somente em Cristo que alcançamos a nossa justiça!
Na sequência, o apóstolo reitera a natureza divina do evangelho por ele proclamado ao dizer que depois que Cristo foi revelado a ele e nele, não consultara conselheiros humanos, nem mesmo direcionou-se a Jerusalém para os apóstolos chamados antes dele. Ele simplesmente respondeu ao seu chamado de forma diligente ao obedecer a ordem daquele que o chamou. A graça manifesta entre a separação e o chamado não é vã quando o chamado é obedecido com diligência:
1Coríntios 15.9–10 (ARA)
Porque eu sou o menor dos apóstolos, que mesmo não sou digno de ser chamado apóstolo, pois persegui a igreja de Deus. Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo.

O verdadeiro testemunho do evangelho (Gl 1.18-24)

Gálatas 1.18–24 (ARA)
Decorridos três anos, então, subi a Jerusalém para avistar-me com Cefas e permaneci com ele quinze dias; e não vi outro dos apóstolos, senão Tiago, o irmão do Senhor. Ora, acerca do que vos escrevo, eis que diante de Deus testifico que não minto. Depois, fui para as regiões da Síria e da Cilícia. E não era conhecido de vista das igrejas da Judeia, que estavam em Cristo. Ouviam somente dizer: Aquele que, antes, nos perseguia, agora, prega a fé que, outrora, procurava destruir. E glorificavam a Deus a meu respeito.
Depois de sua conversão, Paulo diligentemente saiu a pregar nas sinagogas até que se apresentara aos apóstolos em Jerusalém. Agora imagine o cenário: Paulo, conhecido em Jerusalém como um dos maiores perseguidores da igreja, agora se apresenta diante daqueles que tão ferozmente perseguia e diante daqueles a quem outrora servia em suas perseguições à igreja, mas, agora, confessando a Cristo como Senhor, o Cristo Filho de Deus. Que tamanha e sobrenatural coragem esse homem demonstrara!
Esse é o verdadeiro testemunho do evangelho transformador de Cristo que toda nova criatura deve demonstrar, o testemunho que não teme confessar e viver Cristo diante da igreja, que outrora era humilhada, assolada e difamada, mas que também não teme fazê-lo diante daqueles a quem outrora se servia na carne. O verdadeiro testemunho do evangelho de Cristo exige a coragem que só alguém verdadeiramente transformado por ele pode manifestar.
Mas não só isso, o verdadeiro testemunho do evangelho transformador de Cristo é aquele que leva atrai o ódio dos que vivem pela carne e leva os que estão em Cristo a glorificarem a Deus pela obra transformadora dEle. Não existe conversão secreta. Por mais moralmente correto que alguém possa parecer, quando este é alcançado pelo poder transformador do evangelho de Cristo, sua vida e mentalidade são completamente transformados através da revelação de Cristo e isso é testemunhado com alegria e coragem diante de todos.

Conclusão e aplicações

Irmãos, voltamos agora à pergunta com a qual iniciamos o sermão desta noite: tenho eu vivido o verdadeiro evangelho?
E com essa pergunta, Deus nos chama a nos avaliarmos nessa noite primeiramente quanto às nossas motivações. De quem temos buscado aprovação e aquem temos buscado agradar ou servir? Será que temos buscado a aprovação do pastor, dos diáconos, dos nossos irmãos ao tentar nos justificar a nós mesmos pela prática vazia e ativista dos meios de graça que Deus nos entregara, visando nossa própria glória? Ou talvez pior, será que estamos vivendo na igreja, mas temos buscado a aprovação do mundo e estamos nos conformando no serviço aos desejos dele? Só existem duas opções: ou temos vivido o evangelho da graça e paz de Cristo pelas motivações corretas, ou o temos negado pelas motivações humanas que visam nossa própria glória.
Mas Deus nos chama a ir mais a fundo. Se temos vivido as motivações erradas, será que temos o feito por estarmos vivendo como crentes imaturos e repreensíveis? Se assim o é, hoje Deus tem chamado ao arrependimento e à mudança de caminho. Mas cuidado, cada um avalie-se a si mesmo ao olhar para sua vida e buscar aquele momento em que toda a diferença aconteceu, o clímax divisor, o “quando porém” que separa a velha natureza da nova natureza transformada pela revelação de Cristo. Um coração que não foi transformado pelo poder do evangelho de Cristo jamais poderá buscar o favor de Deus, nem jamais será um genuíno servo de Cristo.
Quanto a isso, não há nada mais certo do que avaliar se estamos vivendo o verdadeiro testemunho do evangelho de Cristo, o qual exige corajem de confessá-lo independente de quem fomos no passado e independente do que enfrentaremos no futuro. Mas não só isso, o testemunho genuíno de Cristo e de seu evangelho testemunha de uma verdadeira e completa trasnformação. Como o mundo tem olhado para o seu testemunho de Cristo? Ele tem si mostrado inerte ou mesmo tem aplaudido você? E como a igreja que está em Cristo tem olhado para o seu testemunho? Você tem levado os irmãos a glorificarem a Deus pela sua vida ou eles têm olhado para você e visto o testemunho de um coração com as motivações erradas?
Alguém verdadeiramente transformado pelo poder do evangelho não torna vã a graça que lhe foi oferecida e efetivada, nem a anula pela perversão do evangelho, mas trabalha diligentemente no serviço a Cristo e não de si mesmo, nem de qualquer outro homem, visando tão somente glorificá-lo através do verdadeiro testemunho que somente uma nova criatura pode manifestar.
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