Questionando Deus no Meio da Injustiça

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Introdução

O livro de Habacuque é conhecido como um dos livros dos profetas menores…
Os "Profetas Menores" são um conjunto de doze livros do Antigo Testamento na Bíblia. Eles são chamados de "menores" não por causa de sua importância, mas devido ao tamanho relativamente curto de seus textos, em comparação com os "Profetas Maiores" (Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel). Os livros dos Profetas Menores são:
Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.
O profeta tinha como missão proclamar a mensagem de Deus para o presente e as vezes para o futuro, e interceder pelo povo de Deus.
Esse livro em particular tem uma característica específica: Não há uma palavra do profeta dirigida diretamente ao povo de Judá, mas sim um diálogo entre Habacuque e Deus.
Hoje começaremos a navegar nesse diálogo entre o profeta e o Senhor, que fala sobre fé em meio às incertezas.
Habacuque 1.1–4 NAA
1 Sentença revelada ao profeta Habacuque. 2 Até quando, Senhor, clamarei pedindo ajuda, e tu não me ouvirás? Até quando gritarei: “Violência!”, e tu não salvarás? 3 Por que me fazes ver a iniquidade? Por que toleras a opressão? Pois a destruição e a violência estão diante de mim; há litígios e surgem discórdias. 4 Por isso, a lei se afrouxa e a justiça nunca se manifesta. Porque os ímpios cercam os justos, e assim a justiça é torcida.
O livro é escrito provavelmente durante o fim do reinado do Rei Josias e o início do reinado do rei Jeoaquim. O povo de Judá havia se corrompido moralmente e espiritualmente durante a reinados anteriores a Josias. O povo de Judá estava adorando a Baal, estava oferecendo seus filhos a Moloque, seus cavalos ao Deus sol, havia parado de celebrar à pascoa e permitiu que o templo caísse em ruínas. Mas, durante o reinado de Josias o povo experimentou um avivamento, significativo, o templo foi reestabelecido, assim como a celebração da páscoa. Mas esse avivamento durou pouco, o povo se desviou novamente após a morte de Josias. Para completar havia também uma grande instabilidade política. É nesse contexto que o livro de Habacuque é escrito, a partir desse diálogo do profeta e Deus.
Lá em Macaé, minha terra natal, tem uma ilha muito bonita, a ilha de Santna. Eu gostava muito de ir lá, meia hora de barco é possível chegar em um local lindo. Nessa ilha tem um grande farol, e lembro que a primeira vez que fui lá em uma excursão da igreja nós conhecemos o militar da marinha que morava lá, ele tomava conta do farol. Esse faroleiro era encarregado de cuidar desse farol naquela costa rochosa. Lembro que ele deu uma pequena palestra para nós, um grupo de meninos na época. Lembro dele falando que durante os dias de céu claro e mar calmo, seu trabalho é tranquilo, sua fé no mar e em seu farol permanece inabalável. No entanto, uma noite, uma tempestade violenta se aproxima. O mar se torna selvagem, as ondas batem contra as rochas, e a visibilidade é quase nula.
Quando isso ocorre, o faroleiro enfrenta o verdadeiro teste de sua fé no farol. Ele não consegue ver o farol, mas sabe que ele está lá, brilhando no meio da tempestade, guiando os navios para longe do perigo. A tempestade obscurece sua visão, mas sua fé no farol o mantém firme.
Essa ilustração se assemelha à jornada de Habacuque e à nossa própria jornada de fé. Em tempos de paz e clareza, é fácil confiar em Deus e em Seus caminhos. No entanto, quando as tempestades da vida atingem — quando enfrentamos injustiça, sofrimento e dúvidas — nossa fé é verdadeiramente testada. Assim como o faroleiro, podemos não ser capazes de ver Deus claramente durante as tempestades, mas nossa fé nos assegura que Ele está lá, firme e inabalável, guiando-nos através da escuridão.
Diante desta realidade o profeta o profeta começa o seu diálogo em forma de clamor.

O Clamor (Habacuque 1.1-2)

Nos encontramos no livro de Habacuque, um profeta que, como muitos de nós, se viu cercado por injustiças e maldades em sua sociedade. Ele se depara com um dilema que é profundamente humano: como conciliar a existência de um Deus justo e poderoso com a prevalência da injustiça e do sofrimento ao seu redor?
Habacuque expressa dúvida e angústia logo no início quando ele diz: Äté quando Senhor?". Ele não esconde a sua frustração e confusão diante do aparente silêncio de Deus. Aqui, vemos um homem de fé, um profeta, lutando com dúvidas reais - um tema recorrente não só nas Escrituras, mas também na nossa caminhada com Deus. Por isso, eu gostaria de destacar a importância da honestidade diante de Deus em nossas lutas espirituais. O clamor de Habacuque nos ensina que a dúvida não é oposta a fé, mas parte dela. Quando enfrentamos incertezas ou injustiças é natural questionarmos onde Deus está em tudo isso. Habacuque nos mostra que é possível ter fé e, ao mesmo tempo, ter perguntas não respondidas.
O que isso significa para nós hoje? Significa que podemos e devemos levar nossas dúvidas, nossas frustrações e nosso sofrimento a Deus em oração. Deus não é ameaçado por nossas perguntas; pelo contrário, Ele nos convida a dialogar com Ele. Assim como Habacuque, podemos ser autênticos em nossa comunicação com Deus, expressando nossos verdadeiros sentimentos e dúvidas.
Em Habacuque 1.1-2, vemos um profeta que não tem medo de expressar sua dor e confusão a Deus. Ele nos ensina que a fé genuína não é isenta de questionamentos. De fato, a fé autêntica muitas vezes nasce e se fortalece em meio a perguntas difíceis e momentos de incerteza. Então, à medida que avançamos em nossa jornada de fé, lembremo-nos de que é normal e saudável levar nossas questões a Deus, confiando que Ele está ouvindo e que, no tempo certo, nos responderá.

A Percepção - Injustiça e a Percepção de Silêncio Divino (Habacuque 1.3-4)

Agora, olhando mais a fundo no clamor de Habacuque, onde ele expressa sua angústia diante da injustiça e violência que assolam sua nação. Ele questiona: 'Por que me fazes ver a iniquidade? Por que toleras a opressão?' Aqui, Habacuque está não só perplexo pela maldade ao seu redor, mas também pelo que parece ser a inatividade de Deus diante de tais circunstâncias.
Habacuque começa aqui a aparentemente a travar uma luta com o silêncio de Deus: Habacuque se depara com um problema que muitos de nós enfrentamos: o silêncio de Deus em meio à injustiça. Ele vê a lei sendo paralisada, o juízo jamais saindo vitorioso, e os ímpios cercando os justos. Isso o leva a questionar a justiça de Deus.
Nessas horas o nosso conhecimento sobre Deus é fundamental, conhecer o caráter de Deus expresso nas doutrinas básicas da nossa fé fundamentam a nossa vida em todos os momentos, sobretudo em tempos onde somos tentados a pensar que Deus etá em silêncio.
Soberania de Deus: Essa doutrina, nos lembra que Deus está no controle de todas as coisas, inclusive dos momentos de injustiça e sofrimento. Mesmo quando não entendemos as ações (ou inações) de Deus, podemos ter a certeza de que Ele tem um propósito soberano e perfeito para todas as coisas, inclusive para as dificuldades que enfrentamos.
“Quando não entendemos o que Deus faz, precisamos confiar em quem Ele é”.
Isso nos desafia a confiar na soberania de Deus, mesmo quando Suas ações são misteriosas para nós. Em meio à injustiça e ao sofrimento, somos chamados a manter nossa fé na justiça e no poder supremo de Deus. Essa confiança não é um desligamento da realidade, mas um mergulho mais profundo na verdade de que Deus está trabalhando em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, mesmo que de maneiras que não compreendemos plenamente.
Habacuque nos mostra que é possível ter fé em meio a perguntas não respondidas e situações inexplicáveis. Ele não esconde suas dúvidas ou sua frustração, mas as apresenta diante de Deus, o que é um ato de fé em si. Em nossa caminhada com Deus, também enfrentaremos momentos de silêncio e confusão. No entanto, mesmo nesses momentos, podemos descansar na soberania e na bondade de Deus, confiando que Ele está no controle e que seus planos são perfeitos."

A Ação - Fé em Meio à Incompreensão (Habacuque 1.3-4)

Prosseguindo no diálogo intenso de Habacuque com Deus, vemos o profeta confrontando a aparente inatividade de Deus diante da injustiça. Em meio a este cenário, Habacuque busca manter sua fé, apesar da incompreensão e do caos ao seu redor.
A Fé desafiada em Tempos Difíceis: Habacuque expressa um sentimento que muitos de nós conhecemos bem: a luta para manter a fé firme quando o mundo ao nosso redor parece estar em desordem total. Ele observa a violência, o conflito e a lei sendo ignorada, e isso testa a sua fé. Somos testados e levados a pensar que o mal presente é culpa de Deus, enquanto na maioria das vezes são consequências da nossa desobediência.
Confiança Inabalável: Tempos difíceis nos desafiam a necessidade de uma fé robusta e inabalável, mesmo em face de grandes dificuldades. A nossa fé não se baseia nas circunstâncias que nos cercam, mas em quem Deus é e em Suas promessas imutáveis. Mesmo quando não entendemos os caminhos de Deus, nossa fé nos chama a confiar em Seu caráter e em Sua palavra.
Como aplicamos isso em nossa vida? Significa que, mesmo nos momentos mais escuros, devemos nos apegar à verdade de que Deus é bom, justo e soberano. Nossa fé é testada, mas também fortalecida, quando escolhemos confiar em Deus apesar das circunstâncias. Habacuque nos ensina que não é preciso ter todas as respostas para ter uma fé sólida; nossa fé é fortalecida justamente quando escolhemos confiar em Deus, mesmo quando as respostas não são claras.
Em Habacuque 1.3-4, vemos um homem de Deus lutando para conciliar sua fé com a realidade ao seu redor. Esta passagem nos desafia a fazer o mesmo: a manter nossa fé em Deus, mesmo quando enfrentamos incompreensão e incerteza. A nossa fé se torna mais profunda e significativa quando aprendemos a confiar em Deus, não apenas em tempos de paz e clareza, mas especialmente nos momentos de luta e confusão.

A Resposta - A Resposta de Deus e Nossa Resposta

Após Habacuque apresentar suas angustiantes perguntas a Deus, aguarda-se uma resposta. Este momento de expectativa é crucial, não apenas para o profeta, mas também para nós, enquanto refletimos sobre como reagimos à resposta de Deus, ou à sua aparente falta, em nossos momentos de crise.
Aguardando a Resposta de Deus: Habacuque nos coloca em uma posição de espera. Ele fez suas perguntas; agora, ele aguarda. Esta espera é carregada de tensão, mas também de fé. Estar disposto a esperar por Deus é um ato de fé em si, reconhecendo que Seus caminhos e tempos são superiores aos nossos.
Espera Ativa: Isso significa não apenas aguardar passivamente a resposta de Deus, mas buscar ativamente entender e aplicar Sua vontade em nossas vidas, mesmo quando não temos todas as respostas. Somos encorajados a viver nossa fé de maneira ativa, buscando a Deus e servindo aos outros, mesmo enquanto esperamos.
Então, como isso se aplica a nós? Significa que, enquanto aguardamos a orientação e a intervenção de Deus em nossas lutas, devemos continuar a viver de acordo com Seus princípios, servindo aos outros, cultivando nossa vida espiritual e buscando sabedoria nas Escrituras. Não é um tempo de inatividade, mas um tempo de ação fiel e confiante
Este tópico nos lembra que, mesmo no meio de perguntas sem respostas e em tempos de incerteza, somos chamados a confiar ativamente em Deus. Habacuque não recebe uma resposta imediata, mas sua disposição de esperar reflete uma confiança profunda na fidelidade e soberania de Deus. De maneira semelhante, somos chamados a manter nossa fé, a agir de acordo com essa fé, e a confiar que Deus, em Sua sabedoria e tempo perfeitos, responderá.

Conclusão

Gostaria de concluir essa mensagem, nesta passagem desafiadora em Habacuque, te lembrando das etapas da jornada do profeta - da angústia à espera, do questionamento à fé. Habacuque nos ensina que é natural questionar, duvidar e até mesmo sentir-se frustrado diante das injustiças do mundo e do aparente silêncio de Deus. Nos trazendo lições valiosas.
Honestidade nas Dúvidas: Aprendemos com Habacuque que trazer nossas dúvidas a Deus é um ato de fé. Deus acolhe nossas perguntas e anseios.
Confiança na Soberania de Deus: Mesmo quando não entendemos os caminhos de Deus, somos chamados a confiar em Sua soberania, sabendo que Ele está no controle de todas as coisas.
Fé em Meio à Incompreensão: A fé verdadeira resiste mesmo diante da incompreensão. Ela não exige respostas imediatas, mas descansa na natureza e promessas de Deus.
Espera Ativa: Estamos chamados a uma 'espera ativa', vivendo nossa fé de maneira prática e intencional, enquanto aguardamos a resposta e orientação de Deus.
Então, à medida que nos deparamos com nossas próprias lutas e incertezas, sejamos encorajados pelo exemplo de Habacuque. Que possamos questionar, sim, mas que essas perguntas nos conduzam a uma fé mais profunda e robusta. Que possamos esperar em Deus, não passivamente, mas ativamente vivendo nossa fé. E, acima de tudo, que nossa confiança na soberania e bondade de Deus seja fortalecida, mesmo em meio às circunstâncias mais desafiadoras.
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