Êxodo 11.1-10

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O autor divino/humano salienta a vitória do povo de Deus que é anunciada através do sentenciamento divino de seus inimigos.

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"São estes os nomes..." (Êx 1.1).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
A narrativa preparatória para a execução do último portento do SENHOR, através do qual julga os egípcios e liberta seu povo, os filhos de Israel, é registrada. Como analisado na seção anterior, após as reiteradas tentativas do Faraó de obstruir o plano do Deus dos hebreus de dar glória ao seu nome, o próprio monarca antecipa sua condenação, ao expulsar de sua presença o único intercessor que sempre se colocou entre ele e Deus, suplicando ao Todo-poderoso que as pragas cessassem: Moisés (cf. 10.28-29).
A partir disso, a narrativa do presente capítulo é iniciada com a comunicação divina de que "ainda mais uma praga trar[ia] sobre Faraó e sobre o Egito" (v.1) sendo está a última, e portanto, a mais intensa manifestação do juízo do SENHOR sobre os algozes do seu povo, que culminaria com a libertação dos filhos de Israel da casa da servidão.
O caráter peculiar da narrativa consiste no anúncio da última praga, como sendo o cumprimento da primeira ameaça feita por Deus contra Faraó. No capítulo 4, ao instruir Moisés quanto qual era o édito divino que deveria ser direcionado ao rei do Egito, o SENHOR afirma:
Êxodo 4.22–23
Dirás a Faraó: Assim diz o Senhor: Israel é meu filho, meu primogênito. Digo-te, pois: deixa ir meu filho, para que me sirva; mas, se recusares deixá-lo ir, eis que eu matarei teu filho, teu primogênito.
A ameaça do SENHOR contra o filho do Faraó consiste na exposição do intento divino de terminantemente destruir a rebeldia do rei contra os planos redentivos de YHWH. Segundo visto à luz da análise do capítulo 4, os primogênitos dos faraós eram aqueles por meio dos quais a linhagem e dinastia eram estabelecidas e continuadas. O rompimento da linha sucessória causaria a ruptura na estabilidade governamental. Noutras palavras, Deus estava preparando-se para aniquilar o reinado do atual Faraó, atacando a progênie sua e de todo o seu povo. A morte dos primogênitos significava a morte de todo o Egito.
Como desde o início da saga, o "duelo" entre Deus e o Faraó ocorre a fim de que somente um dos tronos seja estabelecido como o verdadeiro reino sobre toda a terra, e principalmente, sobre os filhos de Israel. Diante disso, a última das pragas se encarregará de sacramentar a realidade de que somente YHWH é Rei: enquanto que Faraó terá seu reino destruído, o trono divino subsistirá para sempre, e o símbolo disso será a libertação de seu povo, que, posto à salvo de sua ira (i.e. da morte dos primogênitos (tema do próximo capítulo)), lhe enaltece como povo livre da escravidão.
Em face dessas considerações, o texto de Êxodo 11.1-10 sintetiza como tese central a declaração da soberania do SENHOR na Redenção do seu povo: a morte como arauto do Rei.
Elucidação
Tal como concluiu a seção anterior (cf. 10. 21-29), Moisés registra no início da presente perícope, a menção divina quanto a execução de seu último ato de julgamento contra Faraó e o Egito (v.1a). O encaminhamento derradeiro desta última praga demarca também, segundo introduzido, a conclusão da saga redentiva de libertação dos filhos de Israel. Quando, pela última vez, Deus ferir Faraó, "então, vos deixará ir daqui; quando vos deixar, é certo que vos expulsará totalmente (v. 1b).
Grande parte dos elementos que compõem a presente seção, remontam aos primeiros momentos de revelação do SENHOR ao próprio Moisés; ocasião em que o plano redentivo fora publicado. Por exemplo, no capítulo 3 o SENHOR, fazendo o profeta compreender o modo como libertaria os filhos de Israel da escravidão (i.e. "por mão forte" (cf. 3.19)), enfatiza também que
Êxodo 3.21–22 (ARA)
(…) dar[ia] mercê a este povo aos olhos dos egípcios; e, quando sairdes, não será de mãos vazias. Cada mulher pedirá à sua vizinha e à sua hóspeda joias de prata, e joias de ouro, e vestimentas; as quais poreis sobre vossos filhos e sobre vossas filhas; e despojareis os egípcios.
A simetria do cumprimento de tal promessa em 11.2, quando o povo recebe a ordem de pedir tais riquezas aos egípcios por ensejo do anúncio da última praga, reforça o clima de expectativa de que a libertação estava para acontecer. A promessa de despojamento dos egípcios, se compreendida em amplo espectro (principalmente dentro do contexto do cumprimento da aliança abraâmica), não deveria surpreender os filhos de Israel, tendo em vista que, referencialmente, foi o que ocorreu com os três patriarcas originadores do povo.
Há muito tempo, Abraão, quando também refugiou-se da fome no Egito, despojou o rei que viveu em seu contexto, e saiu dessa terra com grandes riquezas, tendo inclusive o SENHOR punido com pragas o Faraó em exercício por causa de sua ofensa contra Sarai (cf. Gn 12.10-20), ocorrendo o mesmo quando o patriarca habitou temporariamente em Gerar (cf. Gn 20.1-18). Isaque, também na terra de Gerar "enriqueceu-se [...], prosperou, ficou riquíssimo" (cf. Gn 26.13), superando em bens os próprios habitantes locais (cf. Gn 26.16). Por fim, Jacó, em Padã-Arã, terra do irmão de sua mãe, apesar da opressão que dele sofrera, "se tornou mais e mais rico; teve muitos rebanhos, e servas, e servos, e camelos, e jumentos" (cf. Gn 30.43).
O povo de Israel, ao ouvir a ordem de que pedissem bens aos egípcios, lembrando-se da promessa de que sairiam da terra do Egito com riquezas, despojando seus algozes, deveriam perceber que verdadeiramente o tempo de sua libertação havia chegado, como afirmado. Sair com riquezas e bens da terra do Egito, era não somente um demonstrativo de que o SENHOR lhes providenciaria sustento durante sua peregrinação pelo deserto até a Terra Prometida, mas de que ele os favoreceu com sua graça libertadora/redentora, ratificando novamente sua aliança.
Diante disso, a sequência narrativa salienta a comunicação da última praga, desta vez sem a condicional. Isto, ligado à cena que encerra o capítulo 10, ratifica a iminente destruição por vir.
Ao longo da saga das pragas, Moisés, ao chegar-se ao monarca egípcio, expunha ao Faraó a condicional de exigência divina para libertação do seu povo. Se Faraó não atendesse o pedido, então YHWH estenderia seu braço para feri-lo. Nada obstante, desta vez, o profeta inicia sua fala expondo que à meia-noite, o SENHOR passaria pelo meio do Egito, ferindo de morte todos os primogênitos dos egípcios (cf. vv.4-5). A ênfase mencionada consiste no fato de Moisés estar novamente na presença do rei do Egito, apesar de ter sido banido da corte, sob juramento de morte. Faraó havia dito que se Moisés visse seu rosto novamente, certamente morreria, mas a morte que anunciou, na verdade, seria executada contra ele mesmo. Nos versículos 5 e 6 o autor registra a comunicação do sentenciamento divino através do profeta:
Êxodo 11.5–6 ARA
E todo primogênito na terra do Egito morrerá, desde o primogênito de Faraó, que se assenta no seu trono, até ao primogênito da serva que está junto à mó, e todo primogênito dos animais. Haverá grande clamor em toda a terra do Egito, qual nunca houve, nem haverá jamais;
Segundo introduzido, a morte do primogênitos seria a mais terrível e intensa manifestação do juízo divino contra Faraó e o Egito, pois a descendência daquele povo seria (representativamente) morta, o que implicando na destruição da própria nação, e como fator demonstrativo dessa realidade, Deus executará a praga sem fazer distinção de condição social ou de qualquer outra ordem. Mathew Henry, reproduzindo as palavras do SENHOR quanto a abrangência de sua ação julgadora através desta última praga, afirma que nem “o príncipe estava tão alto ao ponto de não ser alcançado, nem o escravo tão baixo ao ponto de não ser notado” (HENRY, 1997). A morte preanunciada por Faraó em sua ameaça contra Moisés, viria sobre todo o seu povo, sem excessões, destruindo sua dinastia, o que seria o demonstrativo cabal da prevalência do trono e reinado de YHWH sobre ele e sobre todos os povos da terra.
Por outro lado, o fator distintivo que também vem sendo salientado ao longo de toda a saga, é novamente reforçado. O braço de YHWH, que se estende para ferir o Egito, protegerá seu povo, pondo-o à salvo, como consta no versículo 7:
Êxodo 11.7 ARA
porém contra nenhum dos filhos de Israel, desde os homens até aos animais, nem ainda um cão rosnará, para que saibais que o Senhor fez distinção entre os egípcios e os israelitas.
A proteção de YHWH sobre seu povo, encaminhando-o à redenção/libertação da casa da servidão, também seria um fato memorável. Ao separar seu povo dos egípcios, o Deus dos hebreus estava asseverando sua condição como Senhor, pois após o derramamento da praga, os próprios oficiais de Faraó, inclinar-se-ião perante Moisés, “dizendo: sai tu e todo o povo que te segue” (v.8), e esse ato de inclinar-se após a execução da praga, enfatiza a submissão dos oficiais de Faraó ao SENHOR, reconhecendo-o (ainda que tenham sido forçados a isso) como único soberano.
Não somente as pragas, mas o próprio povo de Israel, foi usado como instrumento do SENHOR na glorificação de seu nome sobre o Faraó e o Egito. Os adversário, contemplando a destruição causada pela mão poderosa de YHWH, reconheceriam que somente Deus é Rei, e finalmente, poriam em liberdade os filhos de Israel.
Por fim, a conclusão da seção, encerra a temática do anúncio da morte como prelúdio para a libertação dos hebreus, repetindo/antecipando a expressão que fora empregada para ensejar os portentos seguintes:
Êxodo 11.9–10 ARA
Então, disse o Senhor a Moisés: Faraó não vos ouvirá, para que as minhas maravilhas se multipliquem na terra do Egito. Moisés e Arão fizeram todas essas maravilhas perante Faraó; mas o Senhor endureceu o coração de Faraó, que não permitiu saíssem da sua terra os filhos de Israel.
O versículo 9, segundo a intenção exortativa do autor, pode ser entendido como uma expansão da menção feita reiteradas vezes quanto a postura contumaz do Faraó, que é mencionada na sequência; qual seja, de que Faraó não ouviria o profeta "como o SENHOR tinha dito". Tal expressão servia para demonstrar a gana divina de que por meio do endurecimento do coração do monarca egípcio, Deus realizaria seus sinais, exatamente como agora é registrado pelo autor.
Embora Moisés e Arão tenha feito aquilo que lhes foi ordenado, isto é, comunicar o édito divino e realizar o sinais que o autenticava, a perícope termina com o palco sendo montado para a execução do último flagelo que recairia sobre o Egito. O SENHOR endureceria o coração do rei e tornaria a fazer com que Faraó se colocasse debaixo de sua ira, para que sua glória fosse novamente publicada.
Transição
O anúncio da morte dos primogênitos reforça o princípio da soberania do SENHOR na salvação do seu povo, mediante o julgamento dos que se rebelaram contra Deus, afligindo Israel. Entretanto, esse aspecto do plano redentivo, reserva uma noção especial que remonta, como amplamente frisado, o estabelecimento da aliança abraâmica. O despojamento dos inimigos em favor dos filhos de Deus, é reprisado na narrativa do Êxodo, relembrando aquilo que ocorreu com os patriarcas.
A salvação daquele que foi agraciado por Deus (Abraão/Isaque/Jacó/Israel), sendo escolhido para ser alvo de seu amor, inclui a sobressalência deste em detrimento dos que desejam oprimi-lo, e isso é tão inextrincavelmente ligado ao plano divino de glorificação de seu nome, que a reversão do processo implica diretamente no êxito da vontade do SENHOR de fazer seu nome excelso sobre toda terra.
Os filhos de Israel, ao pedirem objetos de prata e ouro aos seus vizinhos egípcios, estavam despojando-os (cf. 3.22). Por analogia, tendo em vista o uso do êxodo como paradigma para a história redentiva mais ampla que abarca todo o povo de Deus ao longo das eras até a consumação dos tempos, a intenção do autor divino/humano é que o presente texto seja lido como um modelo para a história em curso.
A igreja, vendo-se oprimida pelo mundo que rebela-se contra Deus, resistindo reconhecê-lo (tal como fez Faraó) como Soberano, pouco a pouco vai logrando êxito sobre seus inimigos. Enquanto que o anúncio da morte é publicado, a igreja, resistindo a aflição, prospera, obtendo paulatinamente o cumprimento da promessa de herdar a terra de sua peregrinação, ou seja, todo o mundo, sendo este o local do estabelecimento e publicação do Reino de Deus em seu Messias, Cristo Jesus.
A partir da ótica canônica, a cena registrada em Êxodo 11.1-10 é escatologicamente representativa: os inimigos do povo de Deus, tendo o SENHOR os julgado, inclinam-se diante do Mediador (cf. v.8), através do qual a glória divina foi publicada, em sinal de sua derrota e reconhecimento da majestade divina na salvação/libertação de seu povo. Frente a isso, o texto aponta para a seguinte aplicação à igreja hoje:
Aplicação
O julgamento iminente que o SENHOR executará contra os ímpios, culminará com a redenção do povo de Deus que, a partir do modo como Deus fruirá seu plano, fará com que a igreja herde as bençãos da aliança, mediante o despojamento de seus algozes.
Desde o final do capítulo 10, a mensagem autoral do texto sagrado, encerra a promessa da brevidade com que o julgamento divino dos ímpios acontecerá. Ampliando a compreensão da igreja, o presente texto enfatiza que esse julgamento além de ser derradeiro, ocasionará a vitória da igreja sobre seus adversários.
Enquanto o mundo mantém-se rebelde contra Deus, recusando reconhecê-lo como único rei sobre toda terra, o cenário mundial está sendo preparado para o momento em que a glória do SENHOR brilhará, aniquilando seus adversários, tal como foi no passado, quando Moisés avisou a Faraó e seus oficiais que a próxima praga a ser executada no Egito seria a última.
Ainda que não aparente, a igreja está sendo preparada para despojar o mundo. No passado, Israel saiu do Egito portanto grandes riquezas; por ocasião do retorno de Cristo, os ímpios serão banidos do Reino, ao passo que o povo de Deus desfrutará das benesses da Terra Prometida, isto é, todo o cosmos.
O fator distintivo também deve ser realçado a fim de ser ratificado na mente daqueles que aguardam sua redenção. Os capítulos 11 e 12 explicitam o quadro de separação entre os dois povos envolvidos como modelos do que ocorre na história da redenção em amplo espectro: para um (os egípcios) a morte é anunciada como sentença final; para o outro (hebreus, no capítulo 12) a redenção é publicada mediante o grande livramento.
Conclusão
O mundo tem ouvido a repetição das palavras ditas por Deus a Moisés (i.e. “ainda mais uma praga trarei sobre Faraó e sobre o Egito” v.1) que anunciam a morte, ao passo que a igreja se apropria da benção prometida ao patriarca Abraão: “também eu julgarei a gente a que têm de sujeitar-se; e depois sairão com grande riquezas” (Gn 15.14). A morte do mundo prenuncia a vitória do povo de Deus.
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