Irai-vos e não Pequeis
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Lidando com a ira
26 Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira, 27 nem deis lugar ao diabo.
Introdução
“- Mulher mata o marido e faz sopa dos ossos”, era o que eu ouvia quando criança dos vendedores de jornais que ficavam no sinaleiro da cidade do Recife. Uma forma de atrair compradores para os seus jornais. Mas mesmo que essa mensagem seja mentira, a violência que vemos em nosso país é alarmante. O Brasil registrou 47.503 homicídios ao longo de 2021, equivalente a 130 mortes por dia. Foram registradas 1.902 mortes de mulheres no primeiro semestre de 2023, aumento de 2,6% em relação às mortes ocorridas no ano anterior. Vivemos num mundo marcado por pessoas iradas.
A ira é uma atributo de Deus que Ele compartilha com o homem. Deus é um Deus amoroso, mas também é um Deus de ira. “A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça” (Rm 1.18). A ira de Deus é sempre razoável, santa e justa, entretanto, são raras as vezes em que a ira do homem se assemelha a ira divina. A ira do homem é na maioria das vezes, uma ira pecaminosa.
Precisamos nos lembrar que a nossa ira é manifestada na presença de Deus. Deus vê e avalia nossa ira, que, quando é pecaminosa, fica sujeita a Seu juízo negativo. Conforme Jesus declarou: "qualquer que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento" (Mt 5.21-22, NVI; cf 1 Jo 3.15).
S.I.:
A ira é uma atitude comum em você?
Você entende a sua ira como sendo uma ira pecaminosa ou justa?
Como você consegue chegar a essa conclusão?
Quais as ações que você tem tomado para resolver o problema da ira?
Você ignora esse comportamento como sendo algo natural?
Como esse comportamento tem aberto espaço para que Satanás atue na tua vida?
Proposição: a ira do homem não o deve levar a pecar, mas a buscar a resolução do problema para que o diabo não tire vantagem da situação.
s.t.: A respeito da ira, GOSTARIA DE DIVIDIR OS NOSSOS DOIS VERSÍCULOS EM TRÊS PARTES:
A EMOÇÃO - É possível que um cristão fique irado
Ele pode ser levado à ira - “A ira é uma resposta de juízo moral negativo contra um mal percebido da pessoa por inteiro” (A resposta do Evangelho às questões do coração, p.269). Perceba que:
a ira é uma resposta, ou seja, uma atividade.
É uma reação da pessoa por inteiro, com isso estamos dizendo que "envolve nossa cognição, afeições, vontades e corpo. Ainda que, às vezes, seja chamada de "emoção", a ira abrange mais do que um componente emotivo. Nossas crenças e motivações executam um papel ativo e formativo nessa reação”.
E, por fim, a ira responde a algo que percebemos que nos ofende. Ofende porque atinge nossas crenças ou desejos. Trata-se de um juízo moral que fazemos acerca de algo que valorizamos.
A ira é algo esperado daqueles que não compactuam com o mal e que amam a Deus e desejam glorificá-Lo. “Devemos ceder-nos ao excesso de ira por ofensas pessoais; mas que seja o zelo pela glória de Deus o que inflame nossa ira”.
Os pais são chamados a não provocar os filhos à ira. É possível que alguém leve um cristão a ficar irado.
Existem quatro tipos de ira. Vamos olhar para as quatro, mas nos deter na ira pecaminosa:
A ira de Deus - Nosso pecado merece o juízo de Deus (51 7.11; Is 34.2; Jo 3.36; Rm 1.18), mas a morte substitutiva de Cristo, que carregou nosso pecado, foi portando a ira que o cristão merecia. A justa ira de Deus e o nosso pecado se encontram na cruz (Rm 3.21-26; 1Pe 2.24; 3.18).
A ira de Jesus - Veja a ira justa de Jesus em ação em Mc 3.1-6. Jesus encontrou um homem com a mão atrofiada em um dia de sábado. Os fariseus se opuseram à intenção do Senhor de curar o homem. Em resposta, Jesus olhou irado para eles (v. 5). Observe as três marcas da ira justa em funcionamento aqui:
Jesus percebeu precisamente o pecado deles, de não amar o homem e de rejeitar Seu próprio senhorio sobre o sábado.
Jesus não trouxe a ofensa para Si - pense nas várias formas por meio das quais os líderes judeus mentiram e falaram sobre ele, zombaram dele, chamaram-nos de glutão e de bêbado, machucaram-no, colocaram uma coroa de espinhos na sua cabeça e o crucificaram. Todavia, ele não expressou ira. Mas aqui os fariseus se opuseram a sua missão ministerial como Messias escolhido por Deus (cf. 2.12,27-28).
Jesus manteve um domínio próprio controlado pelo Espírito. Manteve o foco, sem dar vazão à raiva. Ele não precisou sair enfurecido para recuperar a compostura. Pelo contrário, fez a vontade de Deus e curou o homem da mão atrofiada.
A ira justa dos homens piedosos - como a de Moisés (Êx 32.19-20), de Saul (1Sm 11.1-6), de Jônatas (1Sm 20.33-34) e do salmista (Sl 119.52-54, 103-104,113-116, 127-128, 135-137, 139, 157-159, 162-164). Agora, como saber se a minha ira é justa?
A ira justa reage a um pecado real, não contra alguém inconveniente para conosco ou que viola nossas preferências pessoais.
A ira justa tem o foco em Deus e em Seu reino, Seus direitos e Seus interesses, não no reino, direitos e interesses pessoais de alguém. Ela é centrada em Deus, não na pessoa.
A ira justa se expressa de maneiras piedosas e controladas. Não grita, não demonstra raiva descontrolada, nem se afunda em autocomiseração. Não ignora, não despreza, nem se retrai em relação às pessoas. O lamento, a alegria e a obediência semelhantes aos de Cristo a permeiam.
A ira justa produz um ministério piedoso: ela defende o oprimido, busca justiça para as vítimas, repreende transgressores e busca o arrependimento, a reconciliação e a restauração.
A ira pecaminosa do homem em geral - Em termos da expressão de ira pecaminosa, algumas pessoas revelam sua ira:
através de palavras duras ou de ações ferinas e destrutivas - algo que muitos personagens bíblicos demonstram e para cujo perigo o livro de Provérbios (Pv 12.18; 14.16-17, 29-30; 15.1, 18; 16.32; 19.11, 19; 22.24-25; 25.28; 29.11, 22), Jesus (Mt 5.21-26) e o apóstolo Paulo (Ef 4.29-32) alertaram repetidas vezes.
Outras pessoas expressam sua ira de forma mais fria, evitando ou se distanciando do ofensor (Lc 15.25-30).
Outras ainda guardam sua ira, agindo normalmente por fora, mas retendo internamente pensamentos e atitudes de ira (Lv 19.17; 1 Co 13.5) que podem levar a atitudes externas.
Situações em que alguém pode ser levado à justificar a sua ira pecaminosa:
maus-tratos passados ou modelos ruins (abusos no passado, origem em famílias disfuncionais, pais irados, abandono etc.);
fracassos no presente causados por outros (necessidades não satisfeitas, expectativas frustradas, direitos percebidos negados etc.);
pressões situacionais (exigências do trabalho, desafios com a educação de filhos, trânsito, sogros e cunhados etc.);
influências do mundo (amigos ímpios, mentiras da mídia social, tendências culturais pecaminosas etc.);
o diabo (os assim chamados espíritos territoriais, demônios da ira etc.)
fatores físicos (doenças, lesões, desequilíbrio hormonal, drogas ilegais, desnutrição etc.).
“O fatores de calor são importantes, significativos e influenciadores, mas não causadores, determinantes ou finais. Agora, se não pelos fatores acima, de onde vem a ira pecaminosa? Tiago responde: “De onde vêm as discussões e brigas em seu meio? Acaso não procedem dos prazeres que guerreiam dentro de vocês? Querem o que não têm, e até matam para consegui-lo. Invejam o que os outros possuem, lutam e fazem guerra para tomar deles. E, no entanto, não têm o que desejam porque não pedem. E, quando pedem, não recebem, pois seus motivos são errados; pedem apenas o que lhes dará prazer (Tg 4.1-3, NVT).
Tiago ligou a ira humana a nossos desejos pecaminosos. Então, como os demais pecados, a ira vem do coração. A ideia defendida por ele é simples, porém profunda: você não consegue o que quer, então você fica irado. De fato, o coração irado declara: "Eu quero o que quero, quando quero. E quando quero, é melhor que esteja ali. Se você não me der o que quero, ficarei irado com você". Conforme observa Paul Tripp: "Tiago nos encoraja a examinar nossos desejos porque essa é a única forma de compreender nossa ira. O desejo repousa na base de qualquer sentimento, palavra ou ação de ira’". IMAGEM DO TRONO E DOS DESEJOS ALINHADOS EMBAIXO DO TRONO COM ESCADAS.
2. A RESOLUÇÃO - Ele não pode pecar quando se irar
Envolve intenção - não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira, nem deis lugar ao diabo
A intenção de não pecar
O que ele precisa fazer pra que isso aconteça?
Reconhecer a Fonte de Sua Ira. Conforme observamos, a ira não é causada por dificuldades passadas ou atuais, mas por um coração exigente. Sendo assim, peça ao seu aconselhado que anote incidentes de ira identificando:
a situação (quem, o quê, onde e quando);
seu comportamento (o que disse, fez, sentiu);
suas crenças e motivações (o que pensou ou quis, especialmente desejos que se tornaram reivindicações), e
como Deus queria que ele reagisse diferentemente.
Arrepender-se Tanto no Coração quanto no Comportamento. A unidade de contexto mais ampla de Tg 3.13-4.12 fornece múltiplas figuras de arrependimento de um coração humilde sobre os seguintes pecados:
inveja e ambição egoísta (3.14-16);
desejos controladores, incluindo aqueles expressos na oração centrada na pessoa (4.1-3);
adultério espiritual, amizade com o mundo (4.4);
participar com o Diabo naquilo que ele deseja realizar (4.7); e
brincar de Deus (4.11-12) julgando o próximo; essa é a raiz mais atroz da ira pecaminosa.
O arrependimento do coração deve, por sua vez, produzir arrependimento comportamental sobre as inúmeras formas pelas quais revelamos ou sob as quais escondemos nossa ira pecaminosa. Precisamos orientar nosso irmão a se dominar, a confessar a Deus e a abandonar sua ira.
Reajustar o Foco em Deus e em Sua Graça, em Sua Provisão e nas Promessas em Cristo. Para aquele que se arrepende, Deus oferece as seguintes promessas: "ele dá maior graça [...]. Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes [...). Chegai-vos a Deus, e ele se achegará a vós outros [...] Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará" (Tg 4.6, 8, 10).
Substituir a Ira Pecaminosa por Atitudes e Ações Cristãs. E necessário trabalhar o despojar e o revestir:
Oração, aprender a pedir a Deus humildemente, com um coração submisso, por coisas boas que legitimamente desejamos, sem exigir nada (Fp 4.6-7; Tg 4.3).
Contentamento, mesmo que as bênçãos desejadas não venham e que as pessoas não nos deem aquilo que queremos (Fp 4.10-13).
Paciência, tolerância e perdão para com aqueles que nos provocam (Pv 19.11; Mt 18.21-35; Ef 4.-12, 31-32; Cl 3.12-14).
Domínio próprio quando somos tentados a reagir com ira (Gl 5.22-23; Pv 16.32; 25.28; 29.11).
Ouvir e falar piedosamente, aprendendo a comunicar de forma cristã com aqueles que têm a tendência de nos provocar (Êx 2.23-25; Pv 12.18; 15.1; 18.13; Ef 4.29).
Pacificação bíblica e resolução de conflitos, aprendendo a lidar com nossos conflitos de maneiras não iradas (Mt 5.9; Rm 12.18; Ef 4.3).
Ministério cristão para com aqueles que, por vezes, merecerem o contrário (Mc 10.45; Jo 13.1-5; Fp 2.1-4).
A intenção de se apressar
A orientação de Deus na Sua Palavra é que o cristão não dê descanso aos seus olhos até que a sua ira tenha sido tratada. O sol não deve se por sobre a nossa ira. Existe alguma ira? Ela precisa ser tratada a nível de coração.
A urgência do próprio pecador. Ele precisa ter cuidado com o autoengano. Não justificar a sua ira como sendo justa, quando é pecaminosa. Procure pessoas piedosas e converse sobre a sua ira, deixe-se confrontar. Confesse a Deus a sua ira, busque o Seu perdão e ajuda para mudar. Peça a Deus para cultivar a ira piedosa em você, mas a não alimentar nenhum tipo de ira pecaminosa.
Urgência da igreja. Ela precisa agir ajudando o iracundo a lidar com o seu pecado. Como podemos ajudar o um irmão a identificar e a expor as exigências que causam ira?
Primeiramente fazendo uma autoanálise;
Pedindo pedindo perdão a Deus pelos meus próprios pecados;
Tirando a trave do meu próprio olho para ver claramente para ajudar o meu irmão com o seu cisco;
Orando por sabedoria de Deu;
Conversando em amor com meu irmão, usando palavra brandas que desviam a ira;
Fazendo perguntas para que ele avalie se a sua ira é justa ou pecaminosa e, se sendo justa, se ele está agindo corretamente ou pecaminosamente (as quatro situações: PECARAM CONTRA MIM E AGI CORRETAMENTE / PECARAM CONTRA MIM E AGI PECAMINOSAMENTE / PEQUEI CONTRA ALGUÉM E AGI CORRETAMENTE / PEQUEI CONTRA ALGUÉM E AGI PECAMINOSAMENTE)
A intenção de vigiar - para não dar ocasião ao diabo. A falta dessa ação nos leva a terceira palavra:
3. A Degradação - A ira abre portas para satanás
O cristão e sua incompatibilidade
O cristão e sua permissividade
Toda vez que o cristão é levado a se irar e não trata o coração para lidar bem com a sua ira, seja ela justa ou pecaminosa, ele corre um risco muito grande de dar espaço para a sabedoria demoníaca e a ação demoníaca.
O cristão pertence a Cristo, espera-se dele atos de amor e de pacificação, mesmo que com firmeza. A ira ou o ódio, é compatível com o caráter do maligno e não de Cristo. Não há comunhão entre Cristo e o Maligno, nem entre a luz e as trevas ou entre o cristão e o incrédulo. Alimentar a ira no coração é caminhar na direção da divisão da igreja, da morte da reputação e da destruição do perdão. Roubar, matar e destruir são ações do diabo e não de um filho(a) de Deus.
Em 1João 5.18 lemos que “aquele que nasceu de Deus, Deus o guarda e o Maligno não o toca”, mas aqui nós vemos que é possível que o próprio cristão pode fornecer uma oportunidade para o diabo. Novamente, seu ensino e sua ação. Tiago fala sobre dois tipos de sabedoria, vejamos:
13 Quem é sábio e tem entendimento entre vocês? Que o demonstre por seu bom procedimento, mediante obras praticadas com a humildade que provém da sabedoria. 14 Contudo, se vocês abrigam no coração inveja amarga e ambição egoísta, não se gloriem disso, nem neguem a verdade. 15 Esse tipo de “sabedoria” não vem dos céus, mas é terrena; não é espiritual, mas é demoníaca. 16 Pois onde há inveja e ambição egoísta, aí há confusão e toda espécie de males. 17 Mas a sabedoria que vem do alto é antes de tudo pura; depois, pacífica, amável, compreensiva, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial e sincera. 18 O fruto da justiça semeia-se em paz para‡ os pacificadores (NVI,Tg 3.13–18).
Basta o tempo em que todos nós vivíamos sendo guiados e dominados pelo príncipe da potestade do ar, pelo espírito que, agora, atua nos filhos da desobediência. Se antes éramos filhos da desobediência e da ira, hoje somos filhos de Deus, salvos e transformados pela maravilhosa graça de Cristo. Hoje, somos filhos de Deus, e, por isso, guiados pelo Espírito de Deus. Quem se deixa dominar pelo Espírito demonstrará o fruto do Espírito: “amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio” (Gl 5.22,23).
Conclusão:
Talvez nenhum problema assole mais as pessoas do que a ira. Trata-se de uma tendência universal, prevalecente em todas as culturas, experimentada por cada geração. Ela permeia a sociedade e influencia nossos relacionamentos mais íntimos. A ira é um fato nesse mundo caído. Graças a Deus que nos transforma por meio da Sua graça e nos dá conhecimento de Cristo que é manso e humilde.
Cristo se indignou com o mal deste mundo, nós também devemos nos indignar. Mas Cristo venceu este mundo e nós também devemos vencer. Cristo irou e não pecou, nós, com a ajuda do Senhor, podemos nos irar e não pecar. Ele nos deixou a Sua Palavra, a Sua igreja, o Seu Espírito para nos ajudar. Vamos refletir sobre as nossas emoções, agirmos com firme resolução de apressar para não pecar, a fim de não entrarmos numa situação de degradação, dando lugar ao diabo.
Termino citando as palavras do apóstolo Paulo: “29Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem.30E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção.31Longe de vós, toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda malícia.32Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou (Ef 4.29–32).