Filemon
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Introdução
Introdução
Capítulo 1
Uma introdução à carta a Filemom
A carta de Paulo a Filemom é pequeno no tamanho mas não no conteúdo. Esta é a mais breve entre as cartas que formam a coletânea paulina e consiste apenas em 335 palavras no grego original.
Embora alguns estudiosos a considerem a única carta particular de Paulo que temos, o contexto nos deixa claro que Paulo a endereça também a Áfia, Arquipo e à igreja que se reunia na casa de Filemom.
Ela é endereçada a um homem leigo. Está completamente ocupada com um incidente da vida doméstica. Talvez tenha sido uma das inumeráveis cartas pessoais do apóstolo escritas a seus amigos e irmãos para resolver questões pessoais.
A autoria da carta
A autoria paulina desta carta é consenso praticamente unânime entre os estudiosos.
Por três vezes Paulo afirma que, ao escrever essa carta, é um prisioneiro (v. 1,9,23) e está sob algemas (v. 10,13). Alguns pensam que se trata de sua prisão em Éfeso ou Cesareia. As evidências, porém, favorecem a tese de que Paulo escreveu Filemom quando de sua primeira prisão em Roma.
Esta carta mostra de forma eloquente o caráter compassivo de Paulo. Ele é um homem cheio de compaixão por uma pessoa que passa por aflição, e está disposto a fazer tudo que esteja ao seu alcance para ajudar, mesmo que lhe custe alguma coisa (v. 19).
O tempo e o lugar da composição da carta
O tempo e o lugar em que a carta a Filemom foi escrita coincidem com a data e o lugar da composição das cartas aos Colossenses, Filipenses e Efésios. Os estudiosos discutem se esta prisão aconteceu em Éfeso, Cesareia (At 24.27) ou Roma (At 28.30,31).
O destinatário da carta
Essa carta é endereçada a Filemom, e também à igreja que se reúne em sua casa (v. 2). Assim, a carta nos apresenta uma família comum de uma pequena cidade da Frígia, no vale do Lico. Quatro membros são mencionados por nome: o pai, a mãe, o filho, e o escravo.
Havia uma igreja que se reunia na própria casa de Filemom (v. 2). Essa família não apenas pertencia a Cristo, mas estava a serviço de Cristo. A casa deles não apenas havia sido transformada pelo poder do evangelho, mas estava a serviço do evangelho. Eles não apenas faziam parte da igreja, mas também abrigavam a igreja em sua própria casa.
A realidade da escravidão no império romano
A escravidão era parte integral do mundo antigo. Toda sociedade estava edificada sobre ela. No império romano havia mais de sessenta milhões de escravos no primeiro século. A sociedade vivia sob forte tensão e medo de uma rebelião desses escravos, por serem eles maioria absoluta. Por essa razão, sobretudo, os escravos eram extremamente oprimidos.
William Barclay diz que um escravo não era uma pessoa; era uma ferramenta viva. Qualquer senhor de escravo tinha o direito de vida e de morte sobre seus escravos. Tinha poder absoluto sobre eles.
O propósito da carta
Paulo escreve esta carta para enviar Onésimo, o escravo fugitivo, agora convertido a Cristo, de volta ao seu senhor. O evangelho tinha lhe dado liberdade espiritualmente, mas não o dispensava de seus deveres sociais. O evangelho não removeu os escravos de seus deveres, mas quebrou suas algemas espirituais e os libertou para uma nova vida em Cristo.
A tónica desta carta é o perdão. Filemom deveria perdoar aquele a quem Deus já havia perdoado. Filemom não deveria punir aquele por quem Cristo já havia sido castigado na cruz. Filemom deveria receber como a um filho o escravo que o havia desonrado.
Ralph Martin diz que a petição de Paulo a Filemom para perdoar Onésimo era um pensamento revolucionário em contraste com o tratamento contemporâneo de escravos fugitivos.
O nome “Onésimo” na língua grega significa “útil, proveitoso”. Porém, em certo momento Onésimo se tornou inútil a Filemom, mas agora lhe é útil (v. 11).
Capítulo 2
Vidas transformadas, relacionamentos restaurados
(Fm 1–25)
O cristianismo não é apenas um sistema de doutrinas; é, sobretudo, relacionamento, com Deus e com o próximo. Essa carta é um manual de relacionamento. Trata de amor, perdão, restituição e reconciliação. Embora essa tenha sido escrita há quase vinte séculos, seus ensinos continuam vivos, atuais e absolutamente oportunos.
Paulo estava preso em Roma, quando o escravo Onésimo, depois de furtar a seu senhor (v. 18), fugiu para Roma, “o esgoto comum de toda a miséria e vício do mundo antigo”.
Seu propósito possivelmente era esconder-se no meio da multidão. Em vez de ficar incógnito na capital do império, entrementes, foi parar exatamente na mesma prisão onde estava o veterano apóstolo.
David Stern é da opinião de que Onésimo, o escravo fugitivo, tinha ido procurar refúgio em Paulo, na cidade de Roma, entretanto não se encontrava preso. Caso as autoridades o tivessem capturado, não o teriam encarcerado, mas o devolvido a seu senhor, conforme exigência da lei.
Entre algemas, Paulo o levou a Cristo (v. 10). Imediatamente, o problema pendente veio à tona. Na mesma prisão com Paulo estava Epafras (v. 23), fundador da igreja de Colossos (Cl 1.7), que se reunia na casa de Filemom (v. 2). Certamente, Epafras conhecia pessoalmente Onésimo e sua situação. Embora Onésimo tenha se tornado uma pessoa muito útil a Paulo na prisão (v. 11), servindo-o em suas algemas por causa do evangelho (v. 13), o apóstolo resolve enviá-lo de volta a seu senhor (v. 12).
Por lei, o senhor tinha permissão de executar um escravo que se rebelasse, mas Filemom era cristão e, como tal, estava diante de um dilema: Se perdoasse a Onésimo, o que os outros senhores e escravos pensariam? E, se o castigasse, de que maneira isso afetaria o seu testemunho? Essa carta é escrita para ajudar Filemom a resolver esse dilema.
Paulo expressa seu profundo afeto por Onésimo antes de enviá-lo a Colossos. Diz a Filemom que o escravo, agora convertido, é “[…] o meu próprio coração” (v. 12) e um “[…] irmão caríssimo” (v. 16). Filemom deveria recebê-lo com as mesmas honras que receberia o próprio apóstolo (v. 17).
O remetente da carta (v. 1)
Paulo se apresenta como o autor dessa carta. Há evidências externas e internas que comprovam a sua autoria. Embora mencione Timóteo num gesto de fidalguia e consideração, a carta é pessoal. Timóteo não é coautor da carta. Paulo escreveu toda a carta na primeira pessoa. Timóteo era como um filho para o velho apóstolo. Tornou-se seu assistente e emissário, viajando com ele e algumas vezes para ele. Paulo não precisa se apresentar como apóstolo, uma vez que escreve para um filho na fé e colaborador.
Bem sabemos que no tempo de Paulo o nome do remetente era colocado no começo da carta e não no fim, como fazemos hoje. Paulo escreveu treze epístolas. Algumas delas foram escritas durante suas viagens e outras ele escreveu da prisão. Algumas cartas foram escritas para resolver problemas existentes nas igrejas, enquanto outras se destinavam a ensinar as doutrinas do glorioso evangelho. Quando sua autoridade apostólica era questionada, Paulo sempre se apresentava como apóstolo. Para seus amigos, Paulo se identificava apenas como servo de Cristo. Nessa carta a Filemom, Paulo apenas se denomina “[…] prisioneiro de Cristo Jesus” (v. 1).
É importante enfatizar que Paulo se identifica como prisioneiro de Cristo Jesus. Ele está preso a Cristo por fé e compromisso, e também preso numa prisão romana por crer em Jesus Cristo e lhe ser leal (At 28.30). “Prisioneiro” indica as condições adversas sob as quais ele trabalha. Levando em conta o propósito da carta – inspirar graça e perdão em Filemom por Onésimo –, as circunstâncias deploráveis de Paulo tornam as dificuldades de Filemom como nada.
Lightfoot é da opinião que Paulo omite a credencial do seu apostolado propositadamente, uma vez que a finalidade dessa carta é solicitar em nome do amor, e não dar ordens (v. 8,9). Como poderia, então, Filemom resistir aos rogos de seu pai espiritual, já velho e encerrado em uma prisão?
Fritz Rienecker diz que a frase “de Cristo Jesus” expressa a quem Paulo pertencia, e indica que a sua carta não deveria ser considerada uma carta particular, mas uma mensagem. Isto obrigaria as pessoas que a recebessem a obedecer-lhe.
João Calvino é da opinião que as cadeias a que Paulo foi atado por causa do Evangelho eram os adornos ou insígnias dessa embaixada que ele desempenhava para Cristo. Por conseguinte, o apóstolo as menciona com o fim de afirmar sua autoridade, não porque tivesse medo de ser desprezado, mas porque ia defender a causa de um escravo fugitivo, e a parte principal da carta era uma súplica de perdão.
Vale destacar que Paulo não atribui sua prisão à perseguição dos judeus ou romanos, nem mesmo à orquestração do diabo. O apóstolo entendia que a soberania de Cristo governava plenamente sua vida. Por isso, olhava para a sua prisão como uma agenda divina, e não como uma maquinação dos homens ou ação maligna. Paulo, de fato, era um embaixador em cadeias. Durante algum tempo do seu ministério ficou preso e teve sua liberdade restringida, mas jamais a Palavra de Deus esteve algemada.
Lutero disse acertadamente que todos nós somos Onésimos. Todos nós éramos escravos do pecado. Todos nós andávamos errantes. Todos nós estávamos perdidos e fomos achados. Estávamos condenados e fomos libertos. Estávamos mortos e recebemos vida. Nossa salvação não é resultado do nosso mérito, mas pura expressão da graça. Nada somos, nada temos, nada merecemos. Porém, Deus, por sua graça nos amou, nos alcançou, nos libertou, nos transformou e nos adotou como seus filhos amados, membros de sua bendita família.