SANTOS COMUNS – Pág. 11-16
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1. A igreja de Corinto era um exemplo típico de grande balbúrdia moral e teológica. Os crentes eram orgulhosos e rebeldes; toleravam a indecência, processavam uns aos outros, vangloriavam-se da liberdade em Cristo, exageravam na ceia do Senhor e estavam equivocados quanto aos dons espirituais e confusos sobre a ressurreição dos salvos. Contudo, Paulo chama essa turma de “santos”. I Coríntios 1:2
1.1. Devido ao uso corrente, é normal o significado das palavras mudar com o tempo. Hoje não chamaríamos aqueles atrapalhados de Corinto de santos; talvez pudéssemos chamar de mundanos, carnais ou imaturos, porém nunca de santos. Na tradição católica, santidade é conferição postumária aos cristãos de caráter e realizações excepcionalmente notáveis.
1.2. Parece que, no decorrer da história da Igreja, quase todos os apóstolos originais, incluindo Paulo, receberam o título de santo. Igrejas católicas, principalmente, levam seus nomes: Igreja São Judas Tadeu, Igreja São João Batista. Até Matias, escolhido para o lugar de Judas, tem igreja em sua honra.
1.3. Hoje, fora da Igreja Católica Romana e das tradições ortodoxas, o termo santo é raramente usado. Em geral, nos casos em que ainda é usado, descreve uma pessoa (quase sempre idosa) de caráter particularmente virtuoso. Um neto talvez diga: “Se existe alguém santo neste mundo, é minha avó.”
2. Então, como é que o apóstolo Paulo pode chamar os desnorteados crentes de Corinto de santos?
2.1. Na verdade, essa parece ser a forma de tratamento favorita de Paulo. Ele a usa em várias de suas cartas e vive chamando os cristãos de santos. Romanos 1:7; 16:15; I Coríntios 1:2; II Coríntios 1:1
3. Paulo pode se referir aos cristãos comuns, até mesmo aos desordeiros de Corinto, como santos?
3.1. A resposta encontra-se no significado da palavra, do modo como é usada na Bíblia. O termo grego que traduz santo é hagios, e refere-se não ao caráter da pessoa, mas ao estado de ser.
3.2. O significado literal é “separado para Deus”. Nesse sentido, cada cristão – até mesmo o mais simples e imaturo – é santo. Na realidade, em I Coríntios Paulo se dirige “aos santificados em Cristo Jesus, chamados para serem santos”. (1:2)
3.3. Talvez nos surpreendamos com o uso que Paulo faz aqui do termo santificados, que geralmente associamos com o viver santo. Todavia, as palavras santificado e santo têm a mesma raiz no grego. O santo simplesmente é alguém santificado. Embora soe estranho, poderíamos reescrever a saudação de Paulo literalmente como “aos separados em Cristo Jesus, chamados para serem separados.”
4. Separados para quê? Seria melhor perguntar: “Separados para quem?”
4.1. A resposta é: “para Deus”. Todo cristão verdadeiro foi separado ou reservado por Deus para Deus. Em outra carta, Paulo descreve nosso Senhor Jesus Cristo como aquele que se entregou por nós para nos redimir de toda maldade e purificar para si um povo todo seu, dedicado às boas obras. Tito 2:14
4.2. Em I Coríntios 6:19,20, Paulo afirma que não somos de nós mesmos, pois fomos comprados por preço. Juntos, esses dois versículos nos ajudam a entender o significado bíblico de santo. Santo é alguém que Cristo comprou com seu sangue na cruz e separou para si mesmo como sua propriedade.
5. O que significa ser separado ou reservado?
5.1. Significa que cada novo cristão foi separado por Deus para Deus a fim de ser transformado à imagem de seu Filho, Jesus Cristo. Nesse sentido, todo cristão é santo – uma pessoa que foi separada de um modo errado de viver e reservada para Deus, a fim de glorificá-lo cada vez mais à medida que sua vida é transformada.
5.2. No sentido bíblico do termo, santidade não tem a ver com realizações nem com perfeição de caráter, mas com o estado de ser – uma condição inteiramente nova de viver gerada pelo Espírito de Deus. Atos 26:18 e Colossenses 1:13
5.3. Nosso comportamento não nos torna santos. Somos feitos santos unicamente pela ação sobrenatural imediata do Espírito Santo que realiza essa mudança profunda em nosso íntimo para que, de fato, nos tornemos novas criaturas em Cristo. II Coríntios 5:17 e Ezequiel 36:26
6. Seria bom que a história terminasse aqui, porque os dois últimos tópicos sugerem que santo é alguém que não peca mais. Quem dera! Todo mundo sabe que não é bem assim.
6.1. Pelo contrário, se formos bastante honestos, confessaremos que pecamos o tempo inteiro em pensamentos, palavras e ações. Até mesmo nossas melhores atitudes são manchadas por motivos impuros (misturados) e por uma vivência imperfeita. A igreja tumultuada de Corinto é a maior evidência de que nós, os santos, pecamos demais em nossas atitudes e ações.
6.2. O motivo dessa desconexão entre o que Deus aparentemente prometeu e o que experimentamos em nosso viver está em Gálatas 5:17. É por esse motivo que Pedro nos incentiva a nos abster dos desejos carnais. I Pedro 2:11
6.3. Então, apesar de II Coríntios 5:17 e Ezequiel 36:26 falarem sobre a mudança definitiva que sempre ocorre no íntimo de cada novo convertido, o resultado visível dessa mudança não é instantâneo e absoluto; é progressivo e contínuo nesta vida.
6.4. E a consciência dessa luta interna contra o pecado não deverá jamais ser usada como desculpa para atitudes erradas. Pelo contrário, devemos ter sempre em mente que somos chamados a viver separados para Deus. Embora o termo santo basicamente descreva nossa nova fase como pessoas separadas para Deus, ele traz em si a ideia da responsabilidade de vivermos como santos no dia a dia.
7. Nesse sentido existe conduta imprópria a um santo. E a consciência de que somos santos nos refrearia na hora de agirmos de forma errada. Por exemplo ao fofocar ou ficar impaciente ou com raiva, iríamos nos lembrar de que essa conduta é inapropriada a um santo.
7.1. Vamos mais além! A Bíblia tem uma palavra específica para a conduta imprópria de um santo: pecado. E essa conduta imprópria de um santo abrange uma variedade de maus comportamentos. Envolve de fofoca e adultério, de impaciência a assassinato. Claro que o pecado tem graus de seriedade, mas em última análise, pecado é pecado. É uma conduta inapropriada para santos.
7.2. No entanto, um dos nossos problemas é que não nos vemos como santos – com a responsabilidade de vivermos como santos, conforme nossa nova condição – e também não achamos que práticas como fofoca e impaciência sejam pecado.
7.3. Pecado é o que os não salvos fazem. Não vacilamos em qualificar de pecado a conduta imoral e antiética da sociedade como um todo. No entanto, não pensamos da mesma forma quanto ao que eu chamo de “pecados aceitáveis pelos santos.”
7.4. Na verdade, nós, como a sociedade em geral, vivemos em estado de negação de nosso pecado. Tratemos semana que vem do pecado e de nossa insistência em negar que ele existe em nosso viver.