Êxodo 13.17-22

Série expositiva no Livro do Êxodo  •  Sermon  •  Submitted   •  Presented
0 ratings
· 20 views

O autor divino/humano enfatiza o cuidado, proteção e provisão de Deus em favor de seu povo, a fim de exortar este à perseverar na confiança no SENHOR que o guiará ao cumprimento de sua promessa de o conduzir à Terra Prometida.

Notes
Transcript
"São estes os nomes..." (Êx 1.1).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
O avanço narrativo intermediário entre o capítulo 12, no qual é descrito a execução da última praga, e o capítulo 14, onde se lê o episódio que desfecha a saída dos filhos de Israel da terra do Egito, é concluído com uma menção especial que serviria para reforçar aos hebreus, sua condição como povo escolhido por Deus para ser propriedade peculiar sua, e portanto, alvo de seu amor e graça.
Após ter comunicado a determinação do imperativo memorial que consistia na observação de dois ritos (a saber, a festa dos pães asmos e a dedicação dos primogênitos (cf. vv. 1-16)), Moisés exorta o povo à confiança no SENHOR ao longo de seu trajeto de peregrinação, mediante a observação de seu cuidado amoroso. As evidências elencadas na seção como atestado disso vão desde a escolha divina da rota a ser percorrida, até a manifestação física da presença de Deus em forma de nuvem e coluna de fogo, mediada pela menção ao juramento feito pelo povo à José, tendo este crido que "Deus [os] visitar[ia]” (cf. Gn 50.24-25; v. 19).
O SENHOR, que com mão poderosa e braço estendido, tirou o povo da casa da servidão, não os deixaria só em seu caminho rumo à terra prometida aos patriarcas. O autor ressalta o amor divino demonstrado pelo cuidado de YHWH em preocupar-se com que as dificuldades enfrentadas ao longo do percurso feito por Israel, não o fizesse retroagir em seu desejo de seguir o Deus de seus pais (v.17 "para que, porventura, o povo não se arrependa, venda a guerra, e torna ao Egito"). Deus revelara-se não somente o Senhor que os libertou da escravidão, mas agora também como aquele que zela por seu povo, a fim de que chegue são e salvo à terra prometida.
Compreendendo os desdobramentos textuais, o texto de Êxodo 13.17-22 assimila como tese central a contemplação do cuidado paternal do SENHOR.
Elucidação
As duas seções deste capítulo assumem um tom retrospectivo em relação à execução da última praga do SENHOR contra Faraó e o Egito. No versículo 3, e agora no versículo 17, Moisés faz menção ao momento em que os filhos de Israel deixaram o Egito; fato já salientado anteriormente, no capítulo 12, quando o autor seguiu o fluxo dos fatos sequenciais ao último ato de julgamento divino (cf. 12.37, 51).
Tal observação ressalta a preocupação do autor em retomar a narração daqueles eventos, a partir de uma ótica que esclareça determinados princípios aos filhos de Israel, como foi o caso, segundo já introduzido, do imperativo memorial em relação a obra redentiva.
No que concerne à presente subseção, o autor destaca aos hebreus que a mão de YHWH mostrou-se poderosa não somente para os livrar da casa da servidão, mas também para conduzi-los, em segurança, à peregrinação que farão até que cheguem à terra prometida a Abraão, Isaque e Jacó. Três evidências são elencadas, circunscrevendo a mesma tônica: o SENHOR cuida do seu povo: 1) ao guiá-los por uma rota que, pelo menos inicialmente, não os expusesse ao perigo da guerra, e com isso, ao desânimo, retornando ao Egito (vv.17-18); 2) ao relembrar os hebreus que estão saindo do Egito por ocasião da visitação do SENHOR (vv.19-20), como predita por José, usado na narrativa como um símbolo do cuidado divino para com Jacó e a semente de Abraão (cf. Gn 50.19-21); e 3) ao indicar que o próprio SENHOR caminhou com seu povo (vv.21-22), provendo a proteção e provisão de que necessitavam para que cumprissem a jornada.
Cada um desses pontos deve ser analisado pormenorizadamente, a fim de que a ênfase final seja assimilada.
1. O SENHOR guia seu povo por um caminho seguro (vv.17-18).
A preocupação do autor em fazer com que seus leitores/ouvintes compreendam o princípio maior do cuidado e amor divino para com o povo de Israel, perpassa pela demonstração detalhada do sentimento do próprio YHWH para com seu povo. O tom de narração onisciente fornece acesso à mente de Deus, quando preocupou-se em fazer com que Israel percorresse uma jornada segura até o lugar prometido, como registra o versículo 17:
Êxodo 13.17b.
(…) Deus não o levou pelo caminho da terra dos filisteus, posto que mais perto, pois disse: Para que, porventura, o povo não se arrependa, vendo a guerra, e torne ao Egito.
A dimensão do zelo divino é expressa segundo as próprias palavras do SENHOR. Ao ter seguido por um caminho mais longo, Israel não fora prejudicado, como muitos poderiam supor, ou ainda, que Deus agira indiferentemente para com aqueles que tirou da terra do Egito; muito pelo contrário, o Altíssimo agiu de maneira a resguardar a integridade do povo, livrando do caminho que, se o tomasse, os faria deparar-se com uma dificuldade que os poderia levar a desistir de seu curso, preferindo retornar ao lugar que representava sua ruína.
Moisés, ao relembrar esse episódio aos filhos de Israel, ressalta que até mesmo a rota trilhada pelo povo foi provida por Deus para seu bem-estar. O caminho que fizeram desde o Egito foi cuidadosamente preparado pelo SENHOR, não para o mal, mas para o bem, a fim de que não fossem assediados pelo temor das adversidades.
Esse cuidado íntimo é intensificado pelo autor, ao usar uma referência antiga, mas que reforçava com igual pujança o zelo de YHWH por seu povo: José.
2. O SENHOR cuidaria de seu povo, à exemplo do que fez no passado (rf. José) (vv.19-20).
No versículo 19 o autor menciona que “levou consigo os ossos de José” (v.19), mas, antes de isso indicar apenas o cumprimento da promessa feita pelos irmãos deste de que levariam seus ossos à terra prometida, também traz a memória toda a narrativa envolvendo Jacó e seus filhos num momento peculiar de sua história.
Por ocasião da morte de Jacó, os irmão de José, arrependidos do mal que fizeram a este, tendo vendido-o como escravo ao Egito, temeram que ele tentasse vingar-se, apresentando um pedido de retratação. Todavia, a perspectiva assumida por José enfatiza o exato oposto do que supunham seus irmãos. Ao interpretar todo o percurso feito desde que fora vendido aos ismaelitas, e por estes a Potifar, até chegar a ser governador do Egito, José afirma:
Gênesis 50.19–21
Respondeu-lhes José: Não temais; acaso, estou eu em lugar de Deus? Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer, como vedes agora, que se conserve muita gente em vida. Não temais, pois; eu vos sustentarei a vós outros e a vossos filhos. Assim, os consolou e lhes falou ao coração.
Num período de grande fome que assolara a terra (cf. Gn 41.56), José foi um instrumento divino para que Jacó, seus filhos, e toda a gente que com ele estava, fossem abrigados no Egito, onde havia mantimentos (cf. Gn 42.2). O cuidado paternal do SENHOR para com a descendência de Abraão mostrou-se infalível, e Moisés relembra os filhos de Israel desse momento histórico, a fim de que creiam no mesmo princípio. Tal como Jacó e seus filhos foram salvos da fome, Deus providenciaria que seu povo fosse suprido de suas necessidades.
Foi no contexto em que José expôs sua compreensão do plano divino de manter em vida Jacó e seus irmãos, que ele fez o pedido citado por Moisés no versículo19. Assim, a referência a que o autor remete a memória dos filhos de Israel, lhes assegura não somente o cuidado no que tange ao trajeto percorrido, mas que o SENHOR lhes proveria sustento. Além disso, o último ponto do trecho enfatiza que todo esse cuidado e atenção divinos em favor do povo não seria feito à distância ou de maneira indireta; o próprio Deus, através de uma nuvem e de uma coluna de fogo, caminharia com seu povo, como sinal de sua proteção e provisão.
3. A presença cuidadora de YHWH: a nuvem e a coluna de fogo como sinais do zelo divino (vv.21-22).
Não sendo bastante aludir que tanto o trajeto como a própria história apontavam para a benção providente de YHWH em favor do povo, Moisés complementa e finaliza a seção apontando para a própria presença divina em seu meio, na forma de um cuidado especial.
Durante a peregrinação do povo, a despeito de seus fracassos em guardarem a Lei do SENHOR, ou das vicissitudes ou intempéries das circunstâncias (entendidas assim do ponto de vista humano), “nunca se apartou do povo a coluna de nuvem durante o dia, nem a coluna de fogo durante a noite” (v.21). Como dito, esses elementos não eram manifestações indiretas do cuidado divino, mas como o próprio autor salienta, “o SENHOR ia adiante deles” (v.22); isto é, a nuvem e o fogo eram teofanias constantes, que revelavam a perene presença de Deus.
O SENHOR havia tirado seu povo com o objetivo de, este, longe da escravidão a qual foram submetidos, que infligia sobre eles o empecilho de relacionarem-se com Deus, desfrutarem de sua presença em comunhão plena. Agora, a caminho de Canaã, isto é, da terra que fora jurada a seus pais, o próprio YHWH faz questão de que sua presença seja o meio através do qual serão, em segurança, guiados até lá.
A nuvem e o fogo lhes acalentavam o coração com a certeza de que Deus jamais os abandonaria, sendo selos da promessa de que ao chegarem lá, não mais precisariam de proteção ou luz: Deus mesmo estaria no meio deles, cumprindo assim sua promessa.
Transição
Cuidado, provisão e proteção; estes três princípios são o foco para onde o autor bíblico direciona a atenção do povo de Deus a fim de que percebessem o amor divino por eles.
O trajeto de peregrinação dos filhos de Israel, sempre fez parte dos planos de Deus, bem como todas as circunstâncias que os conduziriam ao momento em que desfrutariam da benção de Deus na terra prometida.
O autor divino/humano direciona a igreja de Deus a compreensão do mesmo princípio, através das exortações feitas por Moisés ao povo no passado. O trajeto a ser percorrido pela igreja também reserva perigos: inimigos que pelejarão contra; contextos desfavoráveis e um ambiente hostil à presença da igreja: o mundo. Todas essas coisas são realidades presentes em nosso tempo, e nos acompanharão até que cheguemos aos limites da Terra Prometida.
Contudo, em que pese tudo isso, o caráter retrospectivo da passagem não deve ser perdido de vista. Moisés, juntamente com o povo, por meio do texto, está olhando para trás, para o momento em que, saindo do Egito: 1) foram guiados pelo SENHOR por uma rota mais segura; 2) sob a promessa de serem supridos como foram no passado em seus ancestrais, e 3) protegidos do calor e da escuridão do deserto. Se até este ponto o SENHOR cuidou de seu povo, o que o faria assumir uma postura diferente no futuro? A benção divina jamais se apartará da igreja, até o momento em que verão a consumação da promessa divina: “eu habitarei com meu povo” (Êx 25.8).
Em vista disso, o texto de Êxodo 13.17-22 direciona a seguinte aplicação ao povo de Deus hoje:
Aplicação
O povo de Deus deve confiar que o SENHOR está com sua igreja, a qual, tendo pago um alto preço por seu resgate, ama ao ponto de supri-la com todos os indicativos que lhe apontam o fato de que nunca lhe faltará o cuidado, a proteção e provisão enquanto estiver em sua peregrinação rumo à Canaã Celestial.
A síntese que Moisés direcionou ao povo por meio desta passagem, consiste numa demonstração clara de que Deus está com a descendência de Abraão, e jamais se apartará dela. Assim, cada crente; cada eleito do SENHOR, tendo sido resgatado pelo sangue de Cristo, sendo filho de Deus, recebe do Pai a promessa de que seu cuidado paternal, sua provisão infalível e sua proteção constante, serão benefícios que o acompanharão ao longo de todo o seu trajeto nesse mundo.
Não raro, nosso coração corrompido nos faz duvidar exatamente dessas coisas. Esquecemo-nos tanto dos benefícios da cruz, quanto das experiências que tivemos nesse mundo, isto é, dos tantos momentos nos quais Deus demonstrou seu amor por nós, suprindo nossas necessidades, livrando-nos de perigos (muitos dos quais não tínhamos qualquer noção), ou se fazendo presente, afastando de nós aquilo que ameaçava infligir algum sofrimento.
Em nota, a Bíblia de Estudo Herança Reformada, sintetizando a passagem, registra:
O Senhor está com seu povo. A nuvem de glória era uma revelação pública a todo o povo da presença e da vontade de Deus, similar à revelação da Escritura, dada a igreja, na qual os crentes veem a glória de Cristo. Cristo assegura aos crentes que Deus está com eles, dirige-os e enche-os de reverência pela sua glória (Bíblia de Estudo Herança Reformada, 2018, p. 106).
Tanto a nuvem quanto a coluna de fogo (elementos que aglutinam o significado de todos os exemplos anteriores, presentes no texto) eram indicativos passageiros, ou no mínimo, que tinham menos glória (apesar de sua visibilidade) do que o penhor do amor do SENHOR outorgado na Nova Aliança. Não vemos mais uma nuvem sobre nós, ou uma coluna de fogo, mas temos, dentro de nós, a presença do Espírito de Cristo, aquele que todos os dias nos lembra do infinito amor de Deus por seu Filho, manifesto em nossa redenção.
Conclusão
O autor bíblico registra no texto, tanto uma informação exortativa quanto uma promessa: “Nunca se apartou do povo a coluna de nuvem durante o dia, nem a coluna de fogo durante a noite” (v.22). Assim, jamais se apartará o amor do Deus Triuno por seu povo, que para sempre verá o cuidado, provisão e proteção lhe cercar.
Related Media
See more
Related Sermons
See more