Na arena dos desejos - Tg 1.12-18

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Intro

Na última semana fomos desafiados por Tiago a perceber que quando as provações vem, devemos recebê-las com a alegria, e trilhar o caminho do crescimento em meio as provas.
Pois Deus as envia a fim de provar nossa fé, nos fazendo crescer em perseverança e maturidade.
Mas além de sermos provados, também passamos por tentações.
Tiago deseja nos ensinar pelo menos quatro verdades sobre a tentação.

Primeira, tentação sempre está presente. v.13a

Ninguém está imune a ela. Ele não diz "se" alguém for tentado, mas "quando".
À semelhança das provas às quais nossa fé é submetida, as tentações são inevitáveis.
Não existem vacinas espirituais, nem garantias que nos livrem delas, nem rotas alternativas para escapar das armadilhas colocadas em nosso caminho.
Ninguém que esteja lendo estas palavras está imune nem é inocente.
Um monge idoso dentro de um mosteiro não está menos vulnerável às tentações do que um jovem dentro de um shopping center.
Um cristão que ora enfrenta tentações tanto quanto quaisquer outras pessoas, por mais bem-sucedidas que sejam.

Segundo lugar, Deus nunca é a fonte da tentação. v.13b

Qual a origem dela, a quem posso atribuir meus pecados e deslizes?
São perguntas pertinentes:
Dentre os filósofos, um deles chamado Jean-Paul Sartre, disse que o inferno são os outros.
Ele quis dizer que o que sofremos e os nossos pecados, por assim dizer, tem como culpado os outros.
Essa filosofia, com certeza não teve origem na cabeça de Sartre, mas no coração de Adão e Eva, e eles nem eram filósofos.
Quando Deus repreendeu a Adão por seu pecado, a resposta deste foi: “A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi.”
E quando ele repreendeu a Eva por sua ação, ela respondeu: “A serpente me enganou, e eu comi.
Adão disse: "Não me culpe, culpa a Eva." Eva, "Não me culpe; culpa a serpente" (Gênesis 3:12-13). O homem sempre foi um perito em culpar os outros.
E assim nasceu a cobiça.
Gênesis 3.6 (NVI)
Quando a mulher viu que a árvore parecia agradável ao paladar, era atraente aos olhos e, além disso, desejável para dela se obter discernimento, tomou do seu fruto, comeu-o e o deu a seu marido, que comeu também.
Qualquer pastor com muito ou pouco tempo de ministério, pode dizer que já ouviu de tudo em seu gabinete, mas talvez não possa dizer que recebeu alguém que disse, preciso de ajuda com meu coração cobiçoso.
Como crentes até tratamos do assunto, mas sempre em terceira pessoa, é sempre uma resposta sartreana, o problema são os outros.
Deus não está envolvido com a tentação nem mesmo de forma indireta.
A bondade e a santidade absolutas de Deus são a garantia da veracidade da declaração de Tiago.
Ser santo significa ser separado do mal, correto e irrepreensível. A santidade tem dois lados: a incapacidade de ser afetado pelo mal e a incapacidade de causar o mal.
Para Deus, modelo absoluto de santidade, ambos os lados se aplicam. Tiago diz que Deus não pode ser tentado, assim como também não tenta. Ele é santo!

Terceira verdade, a tentação sempre busca um desejo desenfreado. v.14-15.

Em 1.14, Tiago afirma que a tentação tem origem em algum tipo de desejo.
No mesmo versículo, ele afirma com clareza que cada um é "tentado por seu próprio mau desejo, sendo por este arrastado e seduzido".
O termo arrastado faz parte do vocabulário de pesca e significa atrair com isca.
Assim, uma isca é colocada em nossa vida — algo externo. A isca em si não é pecado.
O problema é que bem no fundo de nosso coração surge uma espécie de fome, a vontade de morder a isca o desejo, a cobiça.
Somos tentados pela atuação direta de nosso próprio desejo, a culpa pelos nossos erros, é nossa.
Deus não é nem remotamente responsável pela tentação, nem mesmo de forma indireta, mas nosso desejo é a causa direta do pecado.
Na verdade, não podemos colocar a culpa nem na isca que nos atraiu!
Dietrich Bonhoeffer, teólogo alemão retrata com grande clareza o processo da tentação:
Em nossos membros, jaz latente uma repentina e violenta inclinação ao desejo. Com força irresistível, o desejo domina a carne. De imediato, acende-se um fogo secreto e imperceptível. A carne é incendiada e tomada pelas chamas. Não interessa se o desejo é de natureza sexual, se é ambição, ou vaidade, ou sede de vingança, ou vontade de ter fama e poder, ou ganância por dinheiro ou, finalmente, aquele estranho sentimento que nos leva a desejar a beleza do mundo, da natureza. A alegria em Deus está prestes a se apagar em nós, e começamos a buscar a alegria na criatura. Nesse momento, Deus deixa de ser real para nós, e somente o desejo em relação à criatura continua sendo real; a única realidade é o Diabo. Satanás não nos leva a ter ódio de Deus, mas a esquecê-lo.
Em suma, em 1.14 temos os ingredientes indispensáveis à tentação: uma isca externa atraente e um desejo interior.
Quando esses dois elementos se juntam a uma vontade que cede à tentação, o resultado é desastroso, conforme vemos em 1.15.
James 1:15 NVI
Então esse desejo, tendo concebido, dá à luz o pecado, e o pecado, após ter se consumado, gera a morte.
A palavra (concebido (syllambano) é usada literalmente no contexto do nascimento de uma criança.
No contexto da passagem, Tiago está frisando a ideia de que a concepção da tentação acontece pela junção de dois elementos necessários - o objeto da tentação e o desejo interior.
Inicia-se assim um ciclo que, seguindo sua trajetória, resulta no ato pecaminoso.
O rei Davi ilustra com extrema clareza o que lemos em Tiago 1.14-15.
Enquanto seu exército estava na batalha, Davi ficou em Jerusalém, ocioso e perambulando pelo palácio (2Sm 11.1).
Se ele estivesse acompanhando o exército, como de fato deveria estar, sua queda vertiginosa na imoralidade teria sido evitada.
Mas em vez de ir à guerra e literalmente lutar no campo de batalha, Davi travou uma batalha espiritual contra seus próprios desejos e perdeu. Tudo começou de um jeito meio inocente.
Enquanto andava pelo terraço do palácio, os olhos do rei flagraram uma mulher tomando banho (2Sm 11.2).
Essa visão acidental não era um pecado em si. Mas, junto com seus desejos incontroláveis, aquele olhar despretensioso rapidamente se transformou em uma contemplação intencional. Davi viu que ela era "muito bonita" (2Sm 11.2).
O objeto de sua contemplação e seus desejos internos conceberam uma poderosa tentação à qual poucos homens na posição de Davi poderiam resistir.
À semelhança de alguém que cai em um alçapão, o salto que Davi deu da tentação para o pecado foi tão veloz quanto fogo em mato seco.
O pecado de Davi não terminou com o adultério.
Sua imoralidade transformou-se em tentativas desesperadas de encobrir seu ato e, no final, foi responsável por duas mortes — a morte de Urias e a morte de seu filho, fruto daquela aventura pecaminosa (2Sm 11.5-12.14).
Começando com um desejo e terminando em morte, Davi é um exemplo perfeito de que quando a tentação encontra-se com um coração cobiçoso, nascerá uma nova criança, que se chamara pecado e que levará a morte.
O que é mais assustador no pecado de Davi é que ele foi cometido por "um homem segundo o seu coração de Deus" (1Sm 13.14).
Entenda bem a sequência de eventos. Quando somos levados por alguma coisa que nos atrai, entramos na arena dos desejos.
Quando permitimos a presença contínua da tentação, acabamos pecando. E quando o pecado é mantido sem que haja arrependimento, ele resulta em morte, (1.15).
O pecado, aquele monstruoso filho da depravação, passa pelas fases de concepção, desenvolvimento, nascimento, crescimento e finalmente leva à morte. Esse é o "ciclo da morte" causada pelo pecado.
Vamos nos deter um pouco na palavra "morte" em 1.15.
Às vezes, as pessoas podem passar pela morte física como consequência do pecado, a exemplo daquelas infectadas com doenças causadas por pecados de natureza sexual ou as que igualmente têm morte prematura como resultado do alcoolismo ou da dependência de drogas.
No entanto, Tiago não pode estar se referindo em 1.15 principalmente à morte física resultante da tentação e do pecado.
Se fosse assim, todos nós estaríamos mortos em questão de dias. Não conseguiríamos sobreviver.
Mas Tiago também não está se referindo à morte espiritual eterna, já que ele está falando a crentes.
Paulo diz que somos salvos pela graça por meio da fé e não pelas obras (Ef 2.8-9). "Não há condenação alguma para os que estão em Cristo Jesus" (Rm 8.1).
Mas se Tiago não está falando da morte física nem da morte espiritual como consequência do pecado, de que a morte ele está falando?
É neste ponto que vale a pena levar em conta o contexto judaico da passagem.
No pensamento dos judeus, era comum considerar a morte uma trajetória e não tanto um destino.
Estar "morto" era muitas vezes uma referência a uma qualidade de vida sofrível e não a algo como deixar de existir.
Proverbs 12:28 NVI
No caminho da justiça está a vida; essa é a vereda que nos preserva da morte.
Proverbs 13:14 NVI
O ensino dos sábios é fonte de vida, e afasta o homem das armadilhas da morte.
Os cristãos judeus afirmavam que as pessoas estavam no caminho da vida (andando com Cristo pelo Espírito) ou no caminho da morte (andando mergulhada em seus desejos).
Os que andam na morte já perderam os sinais da vitalidade espiritual, assim como vão se perdendo as lembranças que temos dos amigos que nunca mais vimos.
Mas como podemos vencer as tentações e não cair na cilada da cobiça?

A quarta verdade, a tentação floresce no terreno do engano(1.16).

James 1:16 NVI
Meus amados irmãos, não se deixem enganar.
De forma abrupta, Tiago passa a descrever a tentação, o pecado e suas consequências com um mandamento claro: "Meus amados irmãos, não vos enganeis".
Os encantos da tentação chegam sob muitas formas e em momentos diferentes.
Não permitam que seus pensamentos se desviem da verdade e sigam pelo caminho do engano e da falsidade.
Não se deixe enganar, achando que seu coração não é tão cobiçoso assim;
Não se deixe enganar achando que vai ser só um beijinho, um gole, uma olhadinha...
Não se engane, prazeres momentâneos não são melhores do que dádivas eternas.
O processo da tentação começa na mente e nos coração, por isso, precisamos fazer todo o possível para encarar os fatos, aplicar a verdade e prever as consequências de nossos atos pecaminosos.
A tentação tem como base de seus argumentos ideias enganosas e falsas promessas. Não acredite nelas.

Como se manter firme frente as tentações e não ceder aos desejos desenfreados?

Depois de pintar um expressivo retrato dos fatos da tentação, nos dois últimos versículos Tiago chama a atenção de seus leitores para a fonte da benção de Deus.
James 1:17 NVI
Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, que não muda como sombras inconstantes.
Vejamos o argumento de Tiago de forma completa, como dizia Calvino.
Se há mal, eu sou o culpado, se há experiência de dádiva e benção, vem de Deus o criador.
É importante entender isso para vencermos a tentação.
Por que normalmente pensamos que se há mal, a culpa é do outro, da circunstância, de Deus que me fez assim, mas quando há bem, logo estufamos o peito, e dizemos, viu como eu sou bom, como faço tudo certinho, como ando de forma correta.
Se você age assim, você não entendeu o evangelho, você continuará a nutrir maus desejos em seu coração.
Por que toda bondade, toda expressão de beleza, santidade, transformação vem de Deus.
Se somos capazes de perseverarmos na arena dos desejos desenfreados, isso vem do Senhor, somente do Senhor.
Por isso, nossa vitória, não está em usar nossas forças para vencer os maus desejos, pois nós somos a fonte deles, precisamos de uma fonte de bondade externa a nós, precisamos da dádiva que vem do Pai da luzes, o Senhor.
Não confundamos o processo e a ordem das coisas.
Depois de apontar para a base da nossa vitória e firmeza frente as tentações e maus desejos.
Ele parece dizer algo estranho e com tons diferentes do que estamos tratando até aqui.
James 1:18 NVI
Por sua decisão ele nos gerou pela palavra da verdade, a fim de sermos como que os primeiros frutos de tudo o que ele criou.
Parece confuso, pois Tiago começa falando de tentação, cobiça, da consequência do pecado que traz morte, depois de dádiva, e agora fala da palavra.
Mas, não é difícil conectar os pontos.
De toda boa dádiva e de todo dom perfeito que podemos receber do Senhor.
Acredite, o mais importante é sermos resgatados de uma realidade onde vivemos para satisfazer nossos maus desejos para nos tornarmos os primeiros frutos da criação de Deus por meio de sua poderosa palavra.
A Grande dádiva que vem do Senhor Deus, o Pai das luzes, não é a boa vida que levamos, os bens que adquirimos, a família que construimos.
A grande dádiva que recebemos é ter nascido de novo e ter se tornado os primeiros frutos de um novo povo, gerado não para a morte como consequência dos maus desejos. Mas gerados para a vida eterna por meio da palavra da verdade.
Deus escolheu salvar você e a mim, por sua decisão, ele escolheu o meio para nos transformar de homens e mulheres cobiçosos, mergulhados em seus maus desejos, em gente que nasceu do poder da palavra do evangelho.
Somos gerados pela escritura.
Se você quer vencer seus maus desejos, ame a palavra, se você quer deixar de trilhar uma caminho de morte para ter em si a vida de Cristo, creia na palavra e seja gerado por ela.
Como pessoas nascerão de novo, como nossos filhos conhecerão a Cristo, se não nos apegarmos a palavra da verdade?
A grande dádiva do Senhor é revelar-se por sua bendita e santa palavra.
Mas sabe o que é melhor de tudo nessa dádiva, é que esta palavra se fez carne e habitou entre nós.
Essa palavra tem nome, tem corpo, é a maravilhosa dádiva de Deus para transformar nosso coração cobiçoso, em um coração novo, como os primeiros frutos da nova criação.
Sabe como Deus faz isso, enviando Jesus Cristo, a palavra verdadeira, a palavra da verdade, e quando nos encontramos com ele, as cobiças são tratadas, os desejos são satisfeitos, as fomes do nosso coração são saciadas.
Que possamos nos encontrar hoje, aqui e agora, com aquele que é a grande dádiva de Deus, Jesus Cristo, a palavra verdadeira, aquele que nos gera para uma vida plena e satisfeita nEle.
SDG
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